Homem

De Dicionrio de Potica e Pensamento

1

"Muitas são as coisas estranhas, nada, porém, há de mais estranho do que o homem" (1).


Referência:
(1) SÓFOCLES. Antígona. Trad. do grego para o alemão Martin Heidegger, do alemão para o português Emmanuel Carneiro Leão. In: ---. Introdução à Metafísica. 2. e. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1969, p. 170.

2

"... jagunço não passa de ser homem muito provisório" (1).


Referência:
(1) ROSA, João Guimarães. Grande sertão: veredas. 6. e. Rio de Janeiro: José Olympio, 1968, p. 313.

3

"Protágoras (em grego antigo: Πρωταγόρας; Abdera, c. 490 a.C. — Sicília, c. 415 a.C.[1]) foi um sofista da Grécia Antiga, célebre por cunhar a frase:
"O homem é a medida de todas as coisas, das coisas que são, enquanto são, das coisas que não são, enquanto não são."


Referência:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Prot%C3%A1goras

4

"O homem gosta de acreditar-se senhor da sua alma. Mas enquanto for incapaz de controlar os seus humores e emoções, ou de tornar-se consciente das inúmeras maneiras secretas pelas quais os fatores inconscientes se insinuam nos seus projetos e decisões, certamente não é seu próprio dono. Estes fatores inconscientes devem sua existência à autonomia dos arquétipos" (1).


Referência:
(1) JUNG, Carl G. "A alma do homem". In: JUNG, Carl G e Outros. O homem e seus símbolos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, Tradução Maria Lúcia Pinho, s/d, p. 83.

5

"Deus quere, o homem sonha, a obra nasce " (1).


Referência:
(1) PESSOA, Fernando. "O infante". In: Obra Poética - Mensagem. Rio de Janeiro: Aguilar, 1965, p. 78.

6

O platonismo, ao fundar a metafísica na essência, funda o mito do homem ocidental, porque reduz o on ao lógos, enquanto razão, e o eidos a ideal, delimitando conceitualmente a essência do agir à tékhne, enquanto técnica e fazer. Na medida em que delimita o logos pelo eidos e o eidos pelo logos, acaba por delimitar o alcance da essência do agir no logos do eidos e ao eidos neste logos. Este alcance da essência do agir delimita a metafísica e, nela e por ela, a essência do homem, havendo um esquecimento do sentido do ser. É nesse sentido que ele funda o homem metafísico. E este, na medida em que exclui a poíesis como éthos e sophós, determina a essência do agir do homem a partir de e como tékhne, fazer racional. Por isso, como afirma Heidegger em "A questão da técnica": a técnica é um meio para um fim e a técnica é uma atividade do homem. O que não está pensado aí é em que consiste a essência desse agir humano, dessa atividade do homem. A técnica, como ação do homem, é ética, sim, mas qual a medida dessa ação? É ela fundada no éthos? O éthos, a episteme ethiké, dizem respeito ao comportamento do homem, a todo comportamento, isto quer dizer: ao seu agir, aos seus empenhos e desempenhos, às suas ações. Mas qual é o penhor das ações do homem, de todos os empenhos e desempenhos? Esta é a questão no e do âmbito do ethos. Mas quando se coloca a questão não se trata mais simplesmente dos empenhos e desempenhos ou performance, trata-se, na verdade, da essência dos empenhos e desempenhos, ou seja, da essência do agir. Ela é, portanto, a questão das questões, porque nela se decide a essência do homem, na medida em que agindo e pelo agir ele é o que é. Na essência do agir se decide o seu ser. O platonismo se decidiu pela essência do homem como ser metafísico, porém, um tal ser surge da decisão metafísica. E esta se decide numa cisão. Nela não se cinde apenas o sensível do inteligível. Ele cinde o ser do ser dos entes pelo silenciamento e esquecimento da clareira e do duplo velamento. Porém, jamais podemos confundir o platonismo com o pensamento fundador do pensador Platão.


- Manuel Antônio de Castro

7

A construção do homem e sua afirmação ao longo do trajeto da cultura ocidental é variada e pode ser entendida em dois momentos: 1) o homem como manifestação do GENOS mítico; 2) O homem como resultado da instituição do mito do homem, gerando uma dicotomia depois aprofundada e radicalizada pela metafísica. Este mito do homem, a partir da metafísica, se transforma em Paideia e humanismo, nas diversas construções: romano, cristão, renascentista e moderno. Dentro deste caminho, temos que ressaltar as diferentes interpretações do Logos e o papel nuclear do judaísmo e do cristianismo, sobretudo a partir de Santo Agostinho, depois continuado pela Escolástica, pelo Renascimento via versão germânica e que recebe o seu coroamento em Hegel. Mas há também duas outras vias. A via romana-francesa-italiana, mais ligada a uma tradição filosófica-literária e que terá em Descartes e em Voltaire uma vertente racional. E há ainda a vertente de Vico que será retomada pelo romantismo alemão e que diz respeito a uma visão da história única. O que aqui é sugerido tem de ser visto levando em conta o livro de José Ferrater Mora (1). Fica a questão: Como interpretar na Pós-modernidade a visão hegeliana e a visão da ilustração francesa (Voltaire)? Estas visões transformaram-se em ideologias que a queda da União Soviética pôs em crise. E aí surgem duas novas vertentes. 1) a questão da escrita como suporte e representação; 2) a questão da técnica ou da Pós-modernidade. Como pensar hoje questão do homem? Pensando o humano do homem. O humano não provém do homem, mas do ser do homem. Por isso, a questão é maior do que o homem, pois nela e por ela, o homem pode chegar a ser sua essência humana, seu próprio.


- Manuel Antônio de Castro
Referência:
(1) MORA, José Ferrater. Quatro visiones de la história universal. Madrid: Alianza Editorial, 1982.

8

"O homem não é um ente ao lado de outros entes, nem é o sujeito por quem estão determinados os entes. O Ser brilha no homem e este torna-se, pois, a abertura onde se desdobra a verdade dos entes. É no homem que os entes são o que são, através do Ser que brilha nele. No brilhar, o homem se essencializa e o Ser é como Ser. A luz que brilha no homem e a verdade dos entes por ele manifesta se dá pela dinâmica de estruturação do Ser" (1). "A Essência da História é a dinâmica dessa estruturação" (2).


Referências:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. O acontecer poéticoA história literária. Rio de Janeiro: Antares, 1982, p. 59.
(2) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Sobre o Humanismo". In: ..... . Aprendendo a pensar. Petrópolis: Vozes, 1977, p. 130.

9

"O ser humano é questão porque é o ser do entre vida E morte, saber E não-saber, querer E não-querer, agir E não-agir, dizer E não-dizer, ser E não-ser" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Interdisciplinaridade poética: o 'entre'". In: Revista Tempo Brasileiro, 164, jan.-mar. 2006, p. 20.

10

"O horizonte radical do ser humano é que ele não vive para depois conhecer. Não. Viver para ele é já desde sempre conhecer. Este projeto poético-ontológico do empenho de viver com o conhecer é que faz do ser humano o [[livre] desempenho em que diuturnamente se empenha. Não é um projeto que possa acontecer ou não, nem que resulte do empenho de conhecer através da consciência. Tal projeto se doa na intuição originária" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Interdisciplinaridade poética: o 'entre' ". In: Revista Tempo Brasileiro, Rio de Janeiro, 164: 7/36, jan.-mar., 2006, p. 24.

11

Compreender o homem dentro do mundo mítico (no mito do mundo) é vê-lo em sua essência constitutiva.


- Manuel Antônio de Castro
Referência:
TORRANO, Jaa. O sentido de Zeus. São Paulo: Iluminuras, 1996, p. 19.
Ver também:
*Medida
*Fonte
*Ação
*Humano
*Ser humano

12

"Fazer um homem é criá-lo, e 'criar' não é imaginação, é correr o grande risco de se ter a realidade' (1).


Referência:
(1) LISPECTOR, Clarice. A paixão segundo G.H. Rio de Janeiro: Rocco, 2009, p. 19.

13

"A vida, o homem, não é coisa nenhuma, nenhum algo, mas tão-somente o aberto à necessidade de fazer ou preencher um modo de ser – um oco, um buraco..." (1)


Referência:
(1) FOGEL, Gilvan.Que é filosofia?Filosofia como exercício de finitude. Aparecida-SP: Ideias & Letras, 2009, p. 62.

14

O que é o homem? É um mistério como a realidade é um mistério. E este nos oferece muitas vias para aviar o saber o que é o homem. A pergunta extrai sua força e vigor, tem origem nas questões. Sem questão não há pergunta. Por isso, podemos caracterizar o ser humano como sendo aquele que faz perguntas. E há outro "ente" que pergunte? Não.


- Manuel Antônio de Castro

15

Ontológica e socialmente, o ser humano é um ente junto a outros entes. Ou como os gregos diziam, ontologicamente, é uma sin-ousia. Porém, algo o distingue em suas possibilidades doadas pelo ser, em seu próprio. E por isso pode acontecer o educar. Ele é um sendo entre o limite e o não-limite: entre-ser. Enfim, é um ser sendo na vigência do sentido do ser, que funda a referência de pensamento e linguagem/palavra.


- Manuel Antônio de Castro

16

"Um homem: realização de que a Linguagem cuida e cultiva" (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Leitura órfica de uma sentença grega". In: -------. Aprendendo a pensar II. Petrópolis: Vozes, 1992, p. 143.

17

“Para um grego, esquecer não é um processo dentro do sujeito. Esquecer é um acontecimento ontológico em que o homem se realiza, na medida em que os descobrimentos e revelações lhe encobrem sua própria realização. Isto significa: o homem também se vela para si mesmo sempre que consegue revelar-se num empenho de ser e desempenho de não ser. Para realizar-se, o homem tem tanto de esquecer como de recordar. É o sentido de a coruja ser o animal-totem da sabedoria humana”, (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. Filosofia grega - uma introdução. Teresópolis: Daimon Editora, 2010, p. 52.

18

"O homem é o mais temporal dos seres, pois é o único ser vivo cuja vida a dinâmica do tempo determina. Reúne na unidade de cada instante possibilidades por vir e cursos já percorridos" (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Ciência, fé e teoria na filosofia". In: Revista TB, Rio de Janeiro, 186: 125/132, jul.-set., 2011, p. 129.

19

Na realidade, a desconstrução do mito do homem passa pela desconstrução do poder da consciência. Ver, do ponto de vista historiográfico Bárbara Freitag (1) e, do ponto de vista ontológico, a discussão em torno da identidade e diferença, que já remonta a Parmênides no fragmento III ("pois o mesmo é pensar e ser") (2), quando referencia o mesmo (autò) como o núcleo da identidade e diferença, ou seja, do ser e do perceber. Até onde podemos compreender o noein (pensar, perceber) como sendo o próprio da consciência? Não incluirá o inconsciente porque no noein advém do próprio ser? Então, desconstruir o "mito do homem" é, em verdade, libertá-lo do limite das possibilidades racionais pelo pensar e para o pensar.


- Manuel Antônio de Castro
Referências:
(1) FREITAG, Bárbara. A teoria crítica ontem e hoje. São Paulo: Brasiliense, 1986.
(2) PARMÊNIDES. Os pensadores originários. Petrópolis: Vozes, 1991, p. 45.

20

"Você é mulher; eu, o homem. Este é o mundo e cada um é obra de tudo" (1)


(1) Fala do poeta, no filme O ponto de mutação, direção de Bernt Capra, baseado no livro de Fritjof Capra: O ponto de mutação.

21

"...penso desta forma: cada homem tem seu lugar no mundo e no tempo que lhe é concedido. Sua tarefa nunca é maior que sua capacidade para poder cumpri-la. Ela consiste em preencher seu lugar, em servir à verdade e aos homens. Conheço meu lugar e minha tarefa; muitos homens não conhecem, ou chegam a fazê-lo quando é demasiado tarde. Por isso, tudo é muito simples para mim, e só espero fazer justiça a esse lugar e a essa tarefa. Veja como o meu credo é simples. Mas quero ainda ressaltar que credo e poética são uma mesma coisa" (1).


Referência:
(1) Entrevista com Guimarães Rosa, conduzida por Günter Lorenz no Congresso de Escritores Latino-Americanos, em janeiro de 1965 e publicada em seu livro: Diálogo com a América Latina. São Paulo: E.P.U., 1973. Acessada no site: www.tirodeletra.com.br/entrevistas/Guimarães Rosa - 1965.htm, p. 11.

22

"Não é a cultura que faz o homem nem ela se opõe à phýsis. Se o homem, parece, está referenciado à cultura, na verdade, pela cultura o homem se referencia à phýsis. Isso fica, de novo, evidente pelo fato de que diante do enigma e mistério da phýsis, o ser humano não só cultiva, mas, sobretudo e em primeiro lugar, ele cultua. O culto na e pela cultura já evidencia que tudo provém dela porque nela se funda: o ser humano, o cultivado, a cultura e o culto. Nesta evidência não é a identidade cultural que faz o ser humano nem ele se dá essa identidade, mas o ser humano manifestando na cultura a phýsis, manifesta-se como humano e, manifestando-se como humano, eleva a phýsis ao seu grau máximo de realização (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. " Phýsis e humano: a arte”. In: -----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 264.

23

"O homem é um dom da linguagem. Ela é o sagrado, não no sentido de qualquer religião institucionalizada, mas no de ser um dom que, como tal, excede o homem, a ele cabendo acolhê-lo, guardá-lo e retribuí-lo. O homem jamais poderá definir a linguagem, muito menos como um instrumento, porque ele está dentro dela, jamais fora, como se ela fosse um objeto à disposição do afã metodológico e instrumental do sujeito. A linguagem acontece, se dá, se manifesta a partir do silêncio que ela essencialmente é, e se destina no homem para que ele, a partir da ação originária da própria linguagem, habite poeticamente o real, no vigor da poiesis, como instância da construção de sentido" (1).


(1) FERRAZ, Antônio Máximo. "A i-nominada essência da linguagem". In: DOLZANE, Harley Farias. I nome nada [poesia]. Belém: Instituto de artes do Pará, 2012, p. 183.


24

"A liberdade só se dá como conquista, a liberdade só existe como empenho de libertação, a liberdade só se presenteia no pulo e como pulo do nada. Somente à medida em que nos lançarmos neste pulo é que existiremos como homens" (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Heidegger e a questão da liberdade real". In: O que nos faz pensar - Homenagem a Martin Heidegger. Rio de Janeiro: Cadernos do Departamento de Filosofia da PUC-RIO, v. 1, out. de 1996, p. 58.


25

"O soma [ corpo ] de que fala Platão passou a ser entendido – enquanto organismo – como um ente composto de matéria e forma, como qualquer utensílio é constituído. Porém, quando Platão reflete sobre a obra, jamais a pensou no horizonte de um utensílio, com seus aspectos formais e materiais (causas material e formal) ou com seus aspectos de finalidade funcional e utilitária (causa final), tanto melhor quanto for a sua funcionalidade, incluída aí a eficiência funcional estética. A concepção da linguagem e do próprio ser humano como social parte deste horizonte funcional e sistêmico. E é justamente o contrário: tanto a linguagem como o ser humano (e um coincide com o outro) são seres dialogais. A essência originária do homem e da linguagem é o logos (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Obra de arte, vocabulário e mundo". In: ------------. Leitura: questões. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 250.


26

"O homem não é só um ser simplesmente finito. O homem é o mais finito dos seres, porque, na finitude, ele sente sempre o infinito do nada, mesmo em toda pretensão, escamoteada, de ser infinito. É na finitude sem fim do nada que afirma, em tudo que faz e/ou deixa de fazer, o infinito. Por isso, todo nome, que dá, é sempre um pseudônimo" (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "O sentido do pseudônimo". In: -----. Aprendendo a pensar III. Teresópolis/RJ: Daimon Editora, 2017, p. 121.


27

"Desde a criação o homem é, portanto, o denominador universal do ser de tudo que é. Apenas para ele mesmo não encontrou seu nome próprio. É por isso que todo nome dado ao homem e a seus modos de ser não é próprio, é sempre pseudônimo" (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "O sentido do pseudônimo". In: -----. Aprendendo a pensar III. Teresópolis/RJ: Daimon Editora, 2017, p. 122.


28

"A ciência não apenas apresenta o aspecto científico, propriamente dito, no sentido da descoberta e descrição da natureza, mas também a posição que o homem ocupa na natureza" (1).


Referência:
(1) PRIGOGINE, Ilya. "Estaremos às vésperas de um terceiro humanismo". In: Revista Tempo Brasileiro - Cultura, ciência e técnica, 168, jan.-mar., 2007, p. 5.


29

O homem aparece como diferença de identidade e diversidade, na medida em que ele já pertence e vige na identidade / diversidade. Mas estas se fazem pre-sentes na diferença enquanto apelo e escuta, ou, como diz Heidegger, como vigilância. Daí denominar os poetas e pensadores vigias do Ser.


- Manuel Antônio de Castro


30

" No caso da palavra "super-homem", precisamos de cara afastarmo-nos de todas as entonações falsas e provocadoras de confusão e de desvio que soam para a opinião habitual. Com o nome "super-homem", Nietzsche precisamente não se refere à superdimensionalização do homem até hoje vigente. Ele também não pensa uma espécie de homem que descarta o humano e que faz da arbitrariedade nua e crua a lei e da fúria tiânica, a regra. Tomando, antes, a palavra em sentido literal, o super-homem (Über-mensch) é o homem que vai para além do homem até hoje vigente, tão-só e sobretudo para trazer, e aí ratificar, este homem para a sua essência ainda pendente ou por vir. Uma anotação para o Zaratustra diz (XIV, 271): "Zaratustra não quer perder nenhum passado da humanidade - fundir tudo" "(1).


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. "Quem é o Zaratustra de Nietzsche". Trad. Gilvan Fogel. In: ------. Ensaios e conferências. Petrópolis / RJ: Vozes, 2002, p. 91.


31

“Os mortais são os homens. Chamam-se mortais porque podem morrer. Morrer diz: ser capaz da morte como morte. Somente o homem morre e, na verdade, somente ele morre continuamente, ao menos enquanto permanecer sobre a terra, sob o céu, diante dos deuses" (1).


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. "Construir, habitar, pensar". Trad. Marcia Sá Cavalcante Schuback. In: Ensaios e conferências. Petrópolis: Vozes, 2001, p. 130.


32

"Para os antigos egípcios, o homem, como um Universo em miniatura, representa as imagens de toda a criação" (1).


Referência:
(1) GADALLA, Moustafa. "O Ser Humano". In: ------. Cosmologia egípcia - o universo animado. Trad. Fernanda Rossi. São Paulo: Madras Editora, 2003, p. 91.

33

"Para os antigos egípcios, o homem era a personificação das leis da criação e, assim, as funções e processos fisiológicos das várias partes do corpo eram vistas como manifestações das funções cósmicas. Os membros e os órgãos tinham uma função metafísica, além de seu objetivo físico. As partes do corpo eram consagradas a um dos neteru (princípios divinos), que aparecem nos registros egípcios históricos recuperados" (1).


Referência:
(1) GADALLA, Moustafa. "O Ser Humano". In: ------. Cosmologia egípcia - o universo animado. Trad. Fernanda Rossi. São Paulo: Madras Editora, 2003, p. 91.

34

"Por outro lado, qualquer pessoa pode seguir os caminhos da reflexão à sua maneira e dentro de seus limites. Por quê? Porque o Homem é o ser (Wesen) que pensa, ou seja, que medita (sinnende) (1).


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. Serenidade. Lisboa: Instituto Piaget. Trad. Maria Madalena Andrade e Olga Santos, s/d., p. 14.

35

"O sofrimento e a alegria, o ser afetado, tomado por uma força, são relações com o ser. Mas no mundo do voluntarismo absoluto em que a técnica o mergulha, o homem não sente mais a dor, ou a sente de modo somente passivo, e, portanto, ressentido e reativo. É principalmente em sua indiferença frente às consequências destrutivas da técnica, que o "funcionário da técnica" mostra sua insensibilidade e seu extremo fechamento, pois nele, o mais angustiante é sua incapacidade de se angustiar" (1).


Referência:
(1) UNGER, Nancy Mangabeira. "Heidegger e a espera do inesperado". Rio de Janeiro: Editora Tempo Brasileiro. Revista Tempo Brasileiro: Interdisciplinaridade dimensões poéticas, 164, Jan.-mar. 2006, 179.


36

"Tudo que for limitado pela forma, aspecto, som, cor,
Chama-se objeto.
Entre todos eles, só o homem
É mais do que um objeto.
Embora, como os objetos, possua ele forma e aspecto,
Não se limita pela forma. Ele é mais.
Não pode atingir a não-forma.
Quando está ele além da forma e aspecto,
Além 'deste', ou 'daquele',
Onde a comparação
Com outro objeto?
Onde o conflito?
O que pode servir de obstáculo?
Ele ficará em seu lugar eterno
Que é o não-lugar" (1).


Referência:
(1) MERTON, Thomas. A via de Chuang Tzu, 9. e. Petrópolis: Vozes, 1999, p. 137.


37

"É um fato notório que o corpo feminino está dotado de uma sensibilidade interna mais viva que a do homem, isto é, que nossas sensações orgânicas intracorporais são vagas e como que surdas comparadas com as da mulher. Neste fato vejo eu uma das raízes de onde emerge, sugestivo, gentil e admirável, o esplêndido espetáculo da feminilidade" (1).


Referência:
(1) ORTEGA Y GASSET, José. "Como nos vemos a nós. A mulher e seu corpo". In: Obras Completas de José Ortega y Gasset, 6. e. Madrid: Revista de Occidente, 1964, Tomo VI (1941-1946), p. 161.


38

"A relativa hiperestesia das sensações orgânicas da mulher faz com que seu corpo exista para ela mais que para o homem o seu. Nós, homens, normalmente, esquecemos nosso irmão corpo; não sentimos que o temos, a não ser com o muito frio ou com o muito calor da extrema dor ou do extremo prazer. Entre nosso eu puramente psíquico e o mundo exterior não parece se interpor nada. Na mulher, pelo contrário, é solicitada constantemente a atenção pela vivacidade de suas sensações intracorporais: sente a toda hora seu corpo como interposto entre o mundo e seu eu, leva-o sempre diante de si, ao mesmo tempo como um escudo que defende ou prenda vulnerável. As consequências disto são claras: toda a vida psíquica da mulher está mais fundida com seu corpo que a do homem; quer dizer, sua alma é mais corporal - porém, vice-versa, seu corpo convive mais constante e estreitamente com seu espírito; quer dizer, seu corpo está mais tomado pela alma. Ocasiona, com efeito, na pessoa feminina um grau de penetração entre corpo e espírito muito mais elevado que na do homem. No homem, comparativamente, costumam ir cada um por seu lado; corpo e alma sabem pouco um do outro e não são solidários; pelo contrário atuam como irreconciliáveis inimigos" (1).


Referência:
(1) ORTEGA Y GASSET, José. "Como nos vemos a nós. A mulher e seu corpo". In: Obras Completas de José Ortega y Gasset, 6. e. Madrid: Revista de Occidente, 1964, Tomo VI (1941-1946), p. 161.


39

"Porém, a conexão, peculiarmente estreita, entre alma e corpo, que caracteriza a mulher, mostra seus mais claros efeitos no sagrado recinto do amor. Se compararmos homens e mulheres de tipo médio, normais, de igual educação e cercados do mesmo ambiente social, logo salta à vista sua diferente atitude diante do erotismo. É normal que o homem sinta desejos de prazeroso arrebatamento carnal para com mulheres que não despertam em sua alma o menor afeto. Por assim dizer-lo dispõe a seu corpo para que cumpra os ritos do amor carnal, com total ausência de seu espírito" (1).


Referência:
(1) ORTEGA Y GASSET, José. "Como nos vemos a nós. A mulher e seu corpo". In: Obras Completas de José Ortega y Gasset, 6. e. Madrid: Revista de Occidente, 1964, Tomo VI (1941-1946), p. 163.


40

"Na mulher, o corpo influi na normalidade da vida mais do que o do homem; porém, ao contrário, esse comportamento frequente faz com que a mulher, não doente, domine mais seu corpo do que o homem. Daí o estranho fenômeno de que a mulher resista à grande dor e à miséria física melhor que o homem e, em contrapartida, seja mais comedida em entregar-se aos prazeres excessivos, daí a surpreendente eurritmia e comedimento na postura feminina, no compasso e contenção em seus gestos, um não sei quê de recolhido e contenção que tem o corpo da mulher" (1).


Referência:
(1) ORTEGA Y GASSET, José. "Como nos vemos a nós. A mulher e seu corpo". In: Obras Completas de José Ortega y Gasset, 6. e. Madrid: Revista de Occidente, 1964, Tomo VI (1941-1946), p. 162.


41

"Trata-se de pensar (na poético-ecologia) a sociedade em rede e a Terra como uma grande teia poética, a teia da vida. Porém, não há como pensar essa teia poética sem repensar o lugar do homem centrado na subjetividade moderna. As contradições e consequências desta – para a sobrevivência da Terra e do próprio Homem – lançam o desafio de pensar o humano do homem em novos parâmetros de convivência entre si e com a própria Mãe-terra, tendo como horizonte inequívoco o seu esgotamento e até sua possível destruição. Sem a Mãe-terra ainda haverá o homem?" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Apresentação". In: Manuel Antônio de Castro, (org.). Arte: corpo, mundo e terra. Rio de Janeiro: 7Letras, 2009, p. 11.


42

"Como assevera Mirandola, “pela agudeza dos sentidos, pelo poder indagador da razão e pela luz do intelecto”, o homem é o “intérprete da natureza” (1998, p. 49) (1). Em meio a todos os seres, só o homem interpreta. O interpretar está inscrito em seu ser: é porque o homem pode interpretar as coisas de diferentes maneiras que ele é livre" (2).


Referência:
(1) MIRANDOLA, Giovanni Pico Della. Discurso sobre a dignidade do homem. Trad. Maria de Lurdes Sirgado Ganho. Lisboa, Edições 70 , 1998, p. 49.
(2) FERRAZ, Antônio Máximo. "O homem e a interpretação: da escuta do destino à liberdade". In: CASTRO, Manuel Antônio de e Outros (Org.). O educar poético. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2014, p. 103.


43

"Ser interpretação não é uma escolha que dependa da vontade humana. Ao contrário, esta condição ontológica já lhe foi destinada para que seja o que é: homem, um ser que interpreta, e que por isso é livre. Paradoxalmente, sua liberdade é destino" (1).


Referência:
(1) FERRAZ, Antônio Máximo. "O homem e a interpretação: da escuta do destino à liberdade". In: CASTRO, Manuel Antônio de e Outros (Org.). O educar poético. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2014, p. 103.


44

"O homem tanto é o céu, o mar, a terra e as criaturas que ele vê quanto não é. Tanto é o outro com quem dialoga – inclusive o outro de si mesmo – quanto não é. Por força de reunião da linguagem que nele se manifesta e encontra abrigo, tanto o que ele é, em sua identidade, quanto o que não é, em suas diferenças, nele se inscrevem. Ele é o eu e é também o outro" (1).


Referência:
(1) FERRAZ, Antônio Máximo. "O homem e a interpretação: da escuta do destino à liberdade". In: CASTRO, Manuel Antônio de e Outros (Org.). O educar poético. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2014, p. 103.


45

"O arbítrio – isto é, a liberdade de agir – foi-lhe entregue por uma ação anterior a qualquer outra que possa ou venha a praticar. Esta ação anterior, do entre que o configura como interlúdio, está na origem do homem. Não é, portanto, ele que originariamente a pratica, mas a ele se dirige, até para que possa agir" (1).


Referência:
(1) FERRAZ, Antônio Máximo. "O homem e a interpretação: da escuta do destino à liberdade". In: CASTRO, Manuel Antônio de e Outros (Org.). O educar poético. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2014, p. 104.


46

"Neste sentido, por nele agir para que possa agir, a ação do entre é destino. Este entendido não como o previamente escrito que tornasse o homem um títere, e, sim, como o envio do que nele se destina. O homem é o destinatário da liberdade que o destino lhe envia, aviando-o para a travessia da existência" (1).


Referência:
(1) FERRAZ, Antônio Máximo. "O homem e a interpretação: da escuta do destino à liberdade". In: CASTRO, Manuel Antônio de e Outros (Org.). O educar poético. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2014, p. 104.


47

"Não foi o homem que se colocou, por seu livre arbítrio, por sua vontade, no entre do interlúdio. Ele já foi lá colocado desde sempre, senão não seria homem, mas um outro ser. Este entre nele se destina para que seja o que é: um interlúdio entre a liberdade que nele se destina e o destino de nele se dar a liberdade" (1).


Referência:
(1) FERRAZ, Antônio Máximo. "O homem e a interpretação: da escuta do destino à liberdade". In: CASTRO, Manuel Antônio de e Outros (Org.). O educar poético. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2014, p. 104.


48

"O uso de um órgão/parte do corpo humano para descrever um aspecto metafísico é uma prática comum no mundo inteiro. Os textos e símbolos do Antigo Egito são vastamente permeados com este entendimento de que o homem (no todo e em partes) é a imagem do Universo (no todo e em partes)" (1).


Referência:
(1) GADALLA, Moustafa. "O Ser Humano". In: ------. Cosmologia egípcia - o universo animado. Trad. Fernanda Rossi. São Paulo: Madras Editora, 2003, p. 95.

49

"Para o Deus, tudo é belo e bom e justo. Os homens, porém, tomam umas coisas por injustas, outras por justas" (1).


Referência:
(1) HERÁCLITO. Fragmento 102. In: Os pensadores originários - Anaximandro, Parmênides, Heráclito. Trad. Emmanuel Carneiro Leão. Petrópolis: Vozes, 1991, p. 85.


50

"É dado a todos os homens conhecer-se a si mesmos e pensar" (1).


Referência:
(1) HERÁCLITO. Fragmento 116. In: Os pensadores originários - Anaximandro, Parmênides, Heráclito. Trad. Emmanuel Carneiro Leão. Petrópolis: Vozes, 1991, p. 89.


51

" Ethos anthroupou daimon " - "A morada do homem, o extraordinário"(1)


Referência:
(1) HERÁCLITO, frag. 119. Trad. Emmanuel Carneiro Leão. In: Os pensadores originários - Anaximandro, Parmênides, Heráclito. Petrópolis: Vozes, 1991, p. 91.


52

"A vigília do Homem que, refletindo, vem a ser poeta e artista, o leva a defrontar-se com sua trilogia: Esquecimento, Sono e Morte, por intermédio do dom da Poesia, a ele outorgado pelas Musas, filhas da Memória. A deusa Memória, ordenadora do Caos, preservando a Verdade do eixo sagrado, surgirá como a medida ontológica do Cosmos, posto que seu atributo é reter o desvelado do qual o Homem participa, dirigindo-o rumo à recordação do essencial, continuamente à espera de ser repensado" (1).


Referência:
(1) BEAINI, Thais Curi. A Memória, Medida Ontológica do Cosmos. São Paulo: Palas Athena, 1989, p. 15.


53

"... palavras terríveis de Zeus acerca do ser humano:
Nada mais desgraçado que o homem entre todos os seres
que respiram e se movem sobre a terra.
(Il. XVII, 446-447)" (1).
Esta é um passagem da Ilíada, de Homero.


- Manuel Antônio de Castro
Referência:
(1) BRANDÃO, Junito de Souza. Mitologia Grega, vol. I. Petrópolis/RJ: Vozes, 1986, p. 143.

54

"Então, que grande perigo se aproxima? Então a máxima e mais eficaz sagacidade do planeamento e da invenção que calculam andaria a par da indiferença para com a reflexão, para com a ausência total de pensamentos. E então? Então o Homem teria renegado e rejeitado aquilo que tem de mais próprio, ou seja, o facto de ser um ser que reflete. Por isso, o importante é salvar essa essência do homem. Por isso, o importante é manter desperta a reflexão" (1).


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. Serenidade. Lisboa: Instituto Piaget. Trad. Maria Madalena Andrade e Olga Santos, s/d., p. 26.


55

"No entanto, aquilo que é verdadeiramente inquietante não é o fato de o mundo se tornar cada vez mais técnico. Muito mais inquietante é o fato de o Homem não estar preparado para esta transformação do mundo, é o fato de nós ainda não conseguirmos, através do pensamento que medita, lidar adequadamente com aquilo que, nesta era, está realmente a emergir" (1).


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. Serenidade. Lisboa: Instituto Piaget. Trad. Maria Madalena Andrade e Olga Santos, s/d., p. 21.


56

"Terra e Sol em suas diferenças são o mesmo enquanto fonte de vida. São a mulher E o homem, se doando, se integrando no que cada um é. Como obra de arte acontecemos enquanto Entre-ser [Dasein], Ser-com [Mitsein] e Ser-no-mundo [In-der-Welt-sein](1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Interdisciplinaridade poética: o entre". Revista Tempo Brasileiro: Rio de Janeiro: Interdisciplinaridade: dimensões poéticas, 164, jan.-mar., 2006, p. 34.

57

"Falamos porque falar nos é natural. Falar não provém de uma vontade especial. Costuma-se dizer que por natureza o homem possui linguagem. Guarda-se a concepção de que, à diferença da planta e do animal, o homem é o ser vivo dotado de linguagem. Essa definição não diz apenas que, dentre muitas outras faculdades, o homem também possui a de falar. Nela se diz que a linguagem é o que faculta ao homem ser o ser vivo que ele é enquanto homem. Enquanto aquele que fala, o homem é: homem. Essas palavras são de Wilhelm von Humboldt. Mas ainda resta pensar o que se chama assim: o homem" (1).


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. "A linguagem". In: ----. A caminho da Linguagem. Trad. Marcia Sá Cavalcante Schuback. Petrópolis (RJ): Vozes; Bragança Paulista (SP): Editora Universitária São Francisco, 2003, p. 7.

58

"J - A amplidão é aquela falta de limite que se mostrou na palavra ku, o vazio do céu.
P - Assim, enquanto andarilho da mensagem de desvelamento da duplicidade, o homem seria também o andarilho dos limites do ilimitado.
J - Nestas andanças, ele procura o mistério do limite...
P - mistério que não se pode guardar senão no termo que determina sua essência" (1).


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. "De uma conversa sobre a linguagem...". In: ----. A caminho da Linguagem. Trad. Marcia Sá Cavalcante Schuback. Petrópolis (RJ): Vozes. Bragança Paulista (SP): Editora Universitária São Francisco, 2003, p. 107.


59

"O inanimado tem daimon, isto é, tem uma dinâmica que nunca se deixa controlar totalmente. Não quer dizer que a técnica e a ciência não devam controlar o homem, mas devam controlar o mineral, o vegetal, o animal. Não. A técnica e a ciência não podem controlar nenhuma realização e nenhuma realidade. E é essa inacessibilidade ao controle de qualquer realidade que, no homem, se chama daimon, mas Aristóteles diz que se chama genos timeotaton: o gênero mais elevado, isto é, o modo de ser a estrutura mais elevada do real" (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "O corpo, a terra e o pensamento". In: Arte: corpo, mundo e terra. CASTRO, Manuel Antônio de (org.). Rio de Janeiro: 7Letras, 2009, p. 71.


60

"Se corpo é sempre já corpo humano ou corpo do homem, de cara, isso quer dizer: quando corpo se dá, homem já se deu, já aconteceu. Se assim é, precisamos começar perguntando por homem – o que é o homem? Como se faz, como se dá sua humanidade? Assim sendo, sem uma mínima consideração / compreensão a respeito do homem, não avançamos com o problema do corpo" (1).


Referência:
(1) FOGEL, Gilvan. "Notas sobre o corpo”. In: Arte: corpo, mundo e terra. CASTRO, Manuel Antônio de (org.). Rio de Janeiro: 7Letras, 2009, p. 37.


61

"Por isto, Feuerbach quis primeiro dar a seu livro 'Essência do cristianismo, o título “Conhece-te a ti mesmo”, pois sua finalidade é de revelar ao homem sua verdadeira essência, para dar-lhe em si mesmo. Para tanto, porém, seria necessário abater o Deus da consciência cristã. Era este, afinal, o único pensamento que Feuerbach quis deixar à humanidade: a necessidade de superar a alienação religiosa e mostrar em que ela consiste: “Não faço questão de deixar depois de minha morte na memória da humanidade nada senão meu pensamento fundamental”. “O fim de meus trabalhos é de fazer dos homens não mais teólogos, mas antropólogos, de levá-los do amor a Deus ao amor dos homens, das esperanças do além ao estudo das coisas desta terra” (1).


Referência:
(1) HUMMES ofm, Dom Cláudio (Hoje Cardeal). "Os hegelianos de esquerda". In: ----. História da Filosofia.
Curso proferido em 1964 em Daltro Filho, (hoje cidade Imigrantes), RS, em 1964.

62

"Se a questão tem o homem, ela se dá no homem. Há, pois uma tensão, entre o homem como ente e o humano do homem que faz do homem um entre, aquele que sendo ente é ente aberto para o Ser-Tao. Nessa abertura que faz do homem um entre-ser, o humano consiste na demanda do ser, realizável dentro do ser como Tao. Tao é uma misteriosa palavra chinesa que, entre outros sentidos, assinala a caminhada dos caminhos nos quais e pelos quais o humano do homem vem a ser o que é no como enquanto Tao do Ser: o Ser-Tao, Veredas" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. “Grande ser-tao: diálogos amorosos”. In: SECCHIN, Antônio Carlos et alii. Veredas no sertão rosiano. Rio de Janeiro: 7Letras, 2007, p. 143.

63

A paixão de Cristo, o filme (1), essa obra-prima, se nos apresenta assim em tempos de indigência espiritual e consumismo, de fundamentalismos e banalização da violência, como um sinal manifestador do sentido do humano e do sagrado, das contradições fundamentais do homem, em sua liminaridade, em todos os tempos e culturas. E não foi, é e será sempre isso a arte? Uma presença que reconduz os homens para as questões essenciais que o constituem e se tornam sua razão de viver e morrer?


- Manuel Antônio de Castro.
(1) Filme de Mel Gibson, 2004.

64

É necessário pensar a construção do homem a partir do mito. Isto pode ser visto no estudo de Jaa Torrano (1). Quando trata das três fases e três linhagens dos deuses, ele nota que o homem moderno é concebido em duas tendências: ou subjetividade psicológica, ou através das leis estabelecidas pela ciência que podem ser naturais, sociais, econômicas, culturais etc (2). É nessa tensão que se dá a personalidade. Esta vem de persona, máscara. Há aí uma construção do homem de cunho metafísico, baseada na aparência e no falso, a persona, ou seja, que parece ser, mas não é, desempenha um papel, isto é, uma personagem. Também é uma construção do homem baseada na de-cisão do agir do homem, onde a ação do homem tem seu fundamento na subjetividade e sua vontade, em seu querer. Mas não é isso o que mito diz. O homem e sua construção, para o mito, advêm na Moîra. Mas o que é Moîra? Diz Torrano: "uma antiga expressão com que os gregos designaram a Fatalidade fosse Moîra ou Moírai; lote ou lotes: embora essa expressão fosse suscetível de receber e concebesse uma ideação antropormófica, fica claro neste nome Moîra que a Fatalidade de modo algum era concebida como uma transcendência (hyperousía), mas como imanente (parousía). A Fatalidade, Moîra, é a condição constitutiva do próprio ser em que ela se exprime, e não uma imposição que se exercesse sobre o ser a que ela acompanhasse. Essa distinção é da maior importância para percebermos o quanto o pensamento arcaico é concreto, isto é, centrado na parousía: ele tende com a sua maior força para a presença, o ser para ele se dá como presença" (3). Essa presença é alétheia (4). Moîra e alétheia, enquanto apropriação do que é próprio (5), se dá na medida em que todo ente, cada deus, está na "proximidade das origens" (6), "mas origens como as fontes permanentes e elementos constitutivos da vida" (7). Porém, é importante compreender que vida é entendida aí como dzoé e não como bios.


- Manuel Antônio de Castro
Referências:
(1) TORRANO, Jaa. "O mundo como função de musas". In: HESÍODO. Teogonia. São Paulo: Iluminuras, 1992, p. 49.
(2) Idem, p. 51.
(3) Idem, p. 52.
(4) Idem, p. 51.
(5) Idem, p. 52.
(6) Idem, p. 54.
(7) Idem, p. 54.
Cf. também HEIDEGGER, Martin. Heráclito. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 1998. E LEÃO, Emmanuel Carneiro. Aprendendo a pensar II. Petrópolis: Vozes, 1992, p. 130 ss.
Ver também:
*Céu
*Terra
*Éros
*Kháos

65

"O mais ativo que o homem pode ser não é, portanto, no trabalho, quando faz alguma coisa, e, sim, no empenho com que se dedica a criar seu modo de ser e a inventar o perfil de sua fisionomia. Os demais seres vivos vivem a sua vida e nada mais. Só o homem vive com o Nada, isto é, sobrevive à vida em sua vida. O homem é, assim, o Único ser vivo que, para viver, não lhe basta viver, tem de empenhar-se por criar vida. É convidado constantemente a assumir a responsabilidade de cuidar da vida, de dedicar-se a viver" (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "O esquecimento da memória". In: -----. Filosofia contemporânea. Teresópolis / RJ: Daimon Editora, 2013, p. 78.

66

"Deus quere, o homem sonha, a obra nasce " (1).


Referência:
(1) PESSOA, Fernando. "O infante". In: Obra Poética - Mensagem. Rio de Janeiro: Aguilar, 1965, p. 78.

67

"A presença constante, nas teorizações sobre o cômico, dos dois aspectos em que o homem é encarado - espírito e corpo - levou-nos a considerar que em si tal oposição é parcial. O homem é um todo, em que tais aspectos não são antitéticos, não se somam nem se justapõem. Além do mais, no fundo, haveria três facetas, que, para facilitar a compreensão, chamaríamos de círculos ou esferas: o corporal, o intelectual e o espiritual. As diferentes manifestações do lúdico, do riso - o humor, o cômico, o satírico, a ironia, o burlesco, etc. - surgiriam da predominância maior ou menor de um desses círculos ou esferas, em seu inter-relacionamento. Daí a impossibilidade de definições que satisfaçam, porque a sua mutabilidade contínua e gradativa conjugação das esferas não permite a fixação de limites ou de definições" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O lúdico e o humano". In: ------. Travessia Poética. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1977, p. 50.

68

"Assim o ser - como horizonte fundamental e original sabido e não-sabido ao mesmo tempo - deve constituir para o homem um mistério original, fundamental e como tal, inesgotável. Nunca meu saber poderá compreender exaustivamente o horizonte do ser. Por isto nunca se esgotará minha capacidade de perguntar e ao mesmo tempo minha necessidade de perguntar pelo ser dos entes. A pergunta pelo ser é essencial ao homem, expressão de sua essência: o homem é o perguntador simplesmente, é quem pode e deve simplesmente perguntar, é quem pergunta pelo ser, é quem pode e deve simplesmente perguntar pelo ser - esta é sua essência, vista através do prisma do exercício da pergunta, como típico exercício do sentido do ser do homem pelo homem mesmo. Karl Rahner (2) diz: “O homem existe como pergunta pelo ser.” " (1).


Referência:
(1) HUMMES, o.f.m. Cláudio. Metafísica. Mimeo. Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963. Depois tornou-se Bispo e hoje é Cardeal.
(2) Karl Rahner, cf. seu livro “Geist in Welt”: Espírito no Mundo.

69

"Lembra-te, ó homem, que és pó e ao pó hás de voltar" (1)


Referência:
(1) BÍBLIA, Livro do Gênesis 3, 19.

70

"... até os tempos modernos o homem não ocupava, na filosofia, um lugar que o destacasse radicalmente dos demais entes mundanos. O mesmo esquema metafísico fundamental servia para a explicação de todos os entes da realidade. Todos eram considerados igualmente como entes e como tais obedeciam às mesmas leis da “essência”. Cada qual tinha a sua essência, que indicava o que ele era e como se diferenciava dos demais. Esta essência era definitiva e rígida desde o início, de tal forma que o ente podia agir somente segundo esta essência dentro dos limites de sua essência. Assim cada ente tinha a sua lei interna: o ser necessariamente era fiel à sua essência. O homem não escapava a isto" (1).


Referência:
(1) HUMMES, o.f.m. Frei Cláudio. Metafísica. Mimeo. Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963. Depois tornou-se Bispo e hoje é Cardeal.

71

"... a doutrina da imutabilidade da essência tinha a vantagem de poder-se construir uma ciência universal, válida para todos e para todos os tempos: sempre e para todos os homens valeria que o homem é um “animal rationabilis”. Esta verdade constituía uma conquista de valor eterno e universal. Esta lei interna era também chamada “a lei natural”. Isto porque a essência era também chamada de “natureza”, em vez de falar de “essência do homem” podia-se dizer também “natureza”. Aliás, é muito significativo este termo “natureza” para indicar a essência. A primeira preocupação filosófica do homem, na história, foi a de explicar a natureza, o mundo que o rodeia, do qual ele se considerava como fazendo parte da mesma forma como todos os demais entes que o rodeavam" (1).


Referência:
(1) HUMMES, o.f.m. Frei Cláudio. Metafísica. Mimeo. Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963. Depois tornou-se Bispo e hoje é Cardeal.

72

"A natureza indicava de um lado todo o conjunto deste mundo múltiplo, mas também indicava o modo de ser de cada ente deste mundo: a natureza dos astros, a natureza da matéria, a natureza do cavalo, a natureza do homem e assim por diante. Mais uma vez se verifica que o homem era interpretado segundo o mesmo esquema metafísico de todos os demais entes mundanos: todos têm a sua natureza determinada, bem definida, dentro de cujos limites se movem. No entanto, como já dissemos, a aplicação do esquema ao homem sempre trazia consigo uma dificuldade insuperável para os antigos: a liberdade do homem. Como é que ele podia estar sujeito a uma lei natural se era livre?. " (1).


Referência:
(1) HUMMES, o.f.m. Frei Cláudio. Metafísica. Mimeo. Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963. Depois tornou-se Bispo e hoje é Cardeal.

73

"No sistema hegeliano, o homem concreto e individual não tinha mais sentido como tal. Porém, diziam os existencialistas, é o homem concreto que se trata de salvar e de explicar. Ora, o homem concreto, eu concretamente existente, não posso ser reduzido a uma definição essencial fixa de uma vez para sempre, diz o existencialismo. E isto precisamente porque o próprio do homem é o escolher" (1).


Referência:
(1) HUMMES, o.f.m. Frei Cláudio. Metafísica. Mimeo. Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963. Depois tornou-se Bispo e hoje é Cardeal.

74

"Temos assim como final da problemática do ser do homem: O homem é liberdade limitada e, como tal, ele se dá a si mesmo a sua essência, que será autêntica enquanto for escolhido em direção ao ser. E que será inautêntica enquanto for escolhida em direção inversa ao ser. Isto significa igualmente que o homem é espírito limitado, pois a característica do espírito é justamente este saber do seu próprio ser enquanto este se refere ao seu fundamento, o ser absoluto. Espírito e liberdade são dois aspetos da mesma realidade, tanto assim que um implica o outro: não há liberdade senão no espírito, e não há espírito senão livre" (1). Isso é a plena iluminação efetivada enquanto verdade e linguagem.


- Manuel Antônio de Castro.
Referência:
(1) HUMMES, o.f.m. Frei Cláudio. Metafísica. Mimeo. Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963. Depois tornou-se Bispo e hoje é Cardeal.

75

"É no homem que se dá a união de toda a realidade, embora quem seja a unidade não é o homem, mas o ser; porém, o homem é o ponto onde o ser unifica tudo, e se unifica com tudo. O homem é o mediador!" (1).


Referência:
(1) HUMMES, o.f.m. Frei Cláudio. Metafísica. Mimeo. Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963. Depois tornou-se Bispo e hoje é Cardeal.

76

"O homem de bem exige tudo de si próprio. O homem medíocre espera tudo dos outros" (Confúcio).

77

"Desta finitude do espírito humano nasce a tensão típica do homem. O homem tem sede do infinito, embora nunca possa superar totalmente sua finitude. O espírito finito, enquanto é espírito, exerce a si mesmo e ao outro sob a luz e no horizonte do ser infinito, o qual lhe está fundamentalmente aberto e lhe dá precisamente o ser espírito, o condiciona como espírito. Mas como finito, o espírito humano deve sempre de novo recomeçar em direção ao infinito, deve perguntar sempre mais avante pelo sentido de ser ilimitado e por isto também pelo sentido dos entes finitos e de si mesmo, pois somente se fosse capaz de atingir plena e perfeitamente o sentido do ser ilimitado poderia através dele determinar plena e perfeitamente o sentido dos entes, pois estes recebem todo o seu sentido a partir do sentido do ser ilimitado. Todavia, o ser ilimitado é infinito e por isto, como tal, inacessível totalmente ao espírito finito. Temos, portanto, os termos da tensão existencial humana: de um lado, o homem foi criado para o infinito porque ele é espírito e espírito significa exercer-se e exercer os outros sob a luz e no horizonte do infinito. E, de outro lado, este infinito, nunca lhe é dado totalmente, porque ele mesmo não é infinito, mas apenas tem uma abertura ao infinito" (1).


Referência:
(1) HUMMES, o.f.m. Frei Cláudio. Metafísica. Mimeo. Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963. Depois tornou-se Bispo e hoje é Cardeal.

78

"Todavia, o ser ilimitado é infinito e por isto, como tal, inacessível de modo total ao espírito finito. Temos, portanto, os termos da tensão existencial humana: de um lado, o homem foi criado para o infinito porque ele é espírito e espírito significa exercer-se e exercer os outros sob a luz e no horizonte do infinito. E, de outro lado, este infinito, nunca lhe é dado totalmente, porque ele mesmo não é infinito, mas apenas tem uma abertura ao infinito. O homem tende para o infinito, mas nunca poderá identificar-se com o infinito" (1).


Referência:
(1) HUMMES, o.f.m. Frei Cláudio. Metafísica. Mimeo. Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963. Depois tornou-se Bispo e hoje é Cardeal.

79

"O homem assim é um ente-presente-a-si-mesmo, ou seja, um espírito. Porém, se o homem compreende a si mesmo a partir do horizonte do ser ilimitado, significa que ele está aberto a este horizonte. E estando aberto a este horizonte o homem deve ser capaz igualmente de compreender os outros entes à luz do ser ilimitado" (1).
É esta abertura para o horizonte do ser que torna o ser humano propriamente humano, pois ele funda seu agir nesta abertura. E é esta abertura que o caracteriza como espírito. Desse modo toda obra de arte se funda na abertura do sentido do ser em que age o ser humano.


- Manuel Antônio de Castro

80

"O nosso ponto de partida para toda a metafísica é o homem assim como realiza o sentido do seu ser através da ação. Entre as ações humanas escolhemos a pergunta porque ela é eminentemente característica do homem" (1).


Referência:
(1) HUMMES, o.f.m. Frei Cláudio. Metafísica. Mimeo. Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963. Depois tornou-se Bispo e hoje é Cardeal.

81

"Para um grego, o bíos theoretikós, a vida de visão, sobretudo em sua forma mais refinada, o pensamento, é a atividade mais elevada. A theoría, já em si mesma e não por uma utilidade posterior, constitui a forma mais perfeita e completa do modo de ser e realizar-se do homem" (1). A construção da realidade e do homem se dá em torno de quatro tópicos: a natureza, o homem, o acontecer histórico, a linguagem. É deles que trata Heidegger ao questionar a essência da ciência. No fundo, o conhecimento, embora seja uma dimensão desses quatro núcleos, não dá conta deles.


- Manuel Antônio de Castro
Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. "Ciência e pensamento do sentido". In:......... . Ensaios e conferências. Petrópolis: Vozes, 2002, p. 45.

82

"O homem só é homem pela escuta, mas não por qualquer escuta. Para isso já nos advertia há dois mil e seiscentos anos o pensador Heráclito, no fragmento 50:
Auscultando não a mim, mas ao Lógos, é sábio concordar que tudo é um (1).
Não é ao poeta, ao compositor, ao cantor, enfim, ao homem que devemos escutar, mas ao lógos. Este é a irrupção, em nossa vida ordinária, do extraordinário, da Linguagem poética, do mito, enfim, do sagrado" (2).


Referências:
(1) HERÁCLITO. Fragmento 50. In: Os pensadores originários - Anaximandro, Parmênides, Heráclito. Trad. Emmanuel Carneiro Leão. Petrópolis: Vozes, 1991, p. 71.
(2) CASTRO, Manuel Antônio de. "Ulisses e a Escuta do Canto das Sereias”. In: -----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 152

83

"A ligação do pensamento heraclitiano com o mítico é muito importante, porque a filosofia inaugurada com os sofistas e com o platonismo se esmera em combater os mitos e o pensamento mítico. E nisso esquecem a questão fundamental para o sentido do ser humano: a questão do destino. Neste esquecimento se inscreve a afirmação de Protágoras: O homem é a medida de todas as coisas. Numa posição completamente diferente afirma o pensador Platão: O sagrado/deus é a medida de todas as coisas. O pensador não apreende theos como o fundamento causal que ele se tornará depois. Só aparentemente se afasta do mítico, uma vez que ele não cessa de se servir dos próprios mitos. O afastamento de Platão é muito mais em relação aos ritos retóricos e vazios, que deram lugar à presença viva e atuante do eidos como doação de possibilidades sempre inaugurais. Não é sem motivo que no mito da caverna a plenitude ainda vem da luz, ou seja, Zeus originário. O pensamento de Platão, originário, torna-se doutrina nos platonismos. E com ela fenece o vigorar do pensamento, pois este é sempre questão" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Ulisses e a Escuta do Canto das Sereias”. In: -----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 169.

84

"A emergência do homem e o âmbito de sua atuação e de seu lugar dentro do real – e o enigma do seu destino – são as questões que perpassam todas as culturas em todos os tempos e suas obras de arte. Note-se que a arte, na maioria das culturas, sempre esteve ligada ao sagrado e que seria, por isso mesmo, estranha aos respectivos contextos qualquer ligação com processos econômico-comerciais. E do enigma que é o sagrado lhe advêm todas as grandes questões" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. “Heidegger e as questões da arte”. In: Manuel Antônio de Castro, (org.). Arte em questão: as questões da arte. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 13.

85

" Qual é o animal (dzoion) que tem quatro pés de manhã, dois ao meio-dia e três ao entardecer? " (1).
Esse é o enigma que a Esfinge coloca para Édipo.
"A tradução metafísica da palavra grega dzoion por animal é muito pobre (Conferir o livro Heráclito de Heidegger). Dzoion é a própria vida em seu vigor como physis. Mas o que distingue este ente da physis/dzoion são os pés. Há a ligação entre o nome, a procura, o caminho, o sofrimento, o sentido do agir. Há uma ligação “entre” o andar, os pés diferentes e o tempo. Um dzoion se desdobra, manifesta no tempo com um número de pés diferentes. Este número não é gratuito. O “um/he” (identidade) de Heráclito se manifesta no andar de 2,3,4 pés (multiplicidade/panta). O enigma, como questão, contém em si a resposta e a não-resposta, porque o enigma não pode ser resolvido num conceito nem no plano do ente. Nenhuma questão pode ser resolvida, só recolocada em nova e inaugural dimensão. A questão como questão, a obra de arte como obra de arte se move sempre no “entrequestão e resposta. A resposta re-põe a questão. Só então há obra de arte e jamais conceitos" (1).
Este animal do enigma sem dúvida nenhuma é o homem, que começa engatinhando e usando as duas pernas e os dois braços, adulto usa apenas os dois pés e, finalmente, quando fica idoso precisa da bengala para poder andar. E é essa a resposta que Édipo dá à Esfinge. Porém, o homem enquanto homem continua sempre um enigma. O tempo e a História com as diferentes épocas demonstram isso completamente. Em cada época se cria uma nova resposta para o enigma que é o homem. Por isso, por mais que se pesquisem o social, o econômico e o inconsciente, sem dúvida, novas dimensões na compreensão do homem se criam. Porém, ele como homem, em seu próprio, em sua identidade, continua um enigma. Aí está o motivo pelo qual nenhum sistema social como último e único sistema resolverá o enigma e satisfará ao homem em sua essência, em seu próprio. Até porque cada ser humano é único e dotado de um próprio, diziam os antigos: essência.


- Manuel Antônio de Castro.
Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. “Heidegger e as questões da arte”. In: Manuel Antônio de Castro, (org.). Arte em questão: as questões da arte. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 26.

86

"O surgimento das duas irmãs se dá do mesmo modo: o suceder e preceder pressupõem o tempo/poiesis/linguagem. Estes aqui mostram duas coisas: um desvelamento e velamento. A estes chamou o mito Aletheia, ou seja, verdade. Mas este desvelamento e velamento constitui evidentemente a vida e a morte. Verdade, vida, morte, luz, trevas não será este o itinerário e travessia poética de Édipo, do homem? Não será este o nosso itinerário, a nossa travessia? Mas até onde ela será poética? Ou seja, até onde fazemos do viver uma experienciação de ser?" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. “Heidegger e as questões da arte”. In: Manuel Antônio de Castro, (org.). Arte em questão: as questões da arte. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 27.

87

"Eis os três tipos de homem:
Os homens de Deus, que retribuem o mal com o bem;
Os homens deste mundo, que retribuem o bem com o bem e o mal com o mal;
E os homens do demônio, que retribuem o bem com o mal" (1).


Referência:
(1) HOOD, Juliette. "Tríades de conhecimento". O livro celta da vida e da morte. Trad. Denise de C. Rocha Delela. São Paulo: Editora Pensamento, 2011, p. 113.

88

"...a revolução da técnica que se está processando na era atômica poderia prender, enfeitiçar, ofuscar e deslumbrar o Homem de tal modo que, um dia, o pensamento que calcula viesse a ser o único pensamento admitido e exercido.
"Então que grande perigo se aproxima? Então a máxima e mais eficaz sagacidade do planejamento e da invenção que calculam andaria a par da indiferença para com a reflexão, para com a ausência total de pensamentos. E então? Então o Homem teria renegado e rejeitado aquilo que tem de mais próprio, ou seja, o fato de ser um ser que reflete" (1).


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. Serenidade. Lisboa: Instituto Piaget. Trad. Maria Madalena Andrade e Olga Santos, s/d., p.26.

89

"Do mesmo modo que só podemos ficar surdos pelo fato de ouvirmos e envelhecer pelo fato de termos sido jovens, só podemos tornarmo-nos pobres-em-pensamentos ou mesmo sem-pensamentos em virtude de o homem possuir, no fundo (Grund) da sua essência, a capacidade de pensar, "o espírito e a razão", e em virtude de estar destinado a pensar. Só podemos perder ou, melhor, deixar de ter aquilo que, consciente ou inconscientemente, possuímos" (1).


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. Serenidade. Lisboa: Instituto Piaget. Trad. Maria Madalena Andrade e Olga Santos, s/d., p. 12.
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