Discurso

De Dicionário de Poética e Pensamento

1

"O discurso é o limiar de todo o ser humano, pois podemos tanto atentar para o "dis-" como para o "-curso", mas sem cair numa dicotomia. O "dis-" ao fazer separação estabelece os limites e, como limite, pode se entender e determinar o discurso como razão, uma medida, uma constante. Ora, o parâmetro com que se tem medido e com que se investe contra o silêncio do pensamento são as possibilidades e os re-cursos de determinado modo de ser, o modo de ser discursivo da razão e da operação. Toda dificuldade não está, pois, na obscuridade do silêncio, mas na resistência em se alterar o paradigma que até então dominou toda a compreensão a serviço do conhecimento. Considera-se, portanto, o silêncio do pensamento obscuro porque é difícil livrar-se dessa dominação discursiva da razão" (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "O pensamento do silêncio". In: SHUBACK, Márcia C. (org.). Ensaios de filosofia. Petrópolis: Vozes, 1999, p. 241.

2

"O discurso não é, pois, um fato qualquer e acidental na evolução de um mamífero inteligente. É uma atitude radical, o lugar de convergência e divergência, de concentração e difusão da Linguagem. Toda criação artística, toda produção filosófica é discurso de alguma língua. O discurso marca necessariamente o início de qualquer relacionamento com a Arte e a Filosofia" (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Arte e filosofia". In: ------: Aprendendo a pensar II. Petrópolis: Vozes, 1972, p. 241.

3

"Discursar é concorrer para ser mais originariamente a própria mortalidade, percorrendo todo o agir da comunhão de vida e morte, de vivência e mortificação. Este concurso discursivo se exerce discutindo situações e desafios, meios e afazeres, relacionamentos e emergências, em uma palavra, o concurso discursivo discute as peripécias de realização do homem no mundo. O discurso é o modo de ser que distingue o homem de todos os demais seres. No discurso e pelo discurso o homem chega a si mesmo enquanto ser-com e ser-para o outro de si e dos outros. Discursar é relacionar-se consigo e com os outros em alguma coisa no vazio deixado pela Linguagem" (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Arte e filosofia". In: Revista Tempo Brasileiro, 64, jan.-mar., 1981, p. 42.

4

"O nome palavra se forma de: pará-: entre; e ballein: jogar, lançar, ou seja, o entre-lançar. Dentro do mesmo movimento se construiu o nome discurso, pois indica o que flui, o que corre (formado do verbo latino: currere: fluir, correr) no entre (dis-). Este, se por um lado, indica algo vivo, que ocorre no tempo e como tempo, por outro, cria ao lado da ideia de per-curso, em que predomina a cronologia e a linearidade, uma certa simultaneidade na medida em que toda a rede se faz presente e ao mesmo tempo ausente (silêncio ou vazio)" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Interdisciplinaridade poética: o entre". In: Rio de Janeiro: Revista Tempo Brasileiro : Interdisciplinaridade: dimensões poéticas, 164, jan.-mar., 2006, p. 33.

5

"O discurso é o modo de ser que distingue o homem de todos os demais seres. No discurso e pelo discurso o homem chega a si mesmo, enquanto ser-com e ser-para o outro de si e dos outros. Discursar é relacionar-se consigo e com os outros em alguma coisa, no vazio deixado pela Linguagem" (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Arte e filosofia". In: ------. Aprendendo a pensar II. Petrópolis: Vozes, 1972, p. 241.

6

"O discurso pelo outro de si e dos outros constitui a atitude em que o homem constrói todos os seus comportamentos e relações. É no discurso que mostramos, esclarecemos e decidimos tanto a ação que somos, como o ser que agimos, tanto o tratamento que damos, como os dons e as pessoas que tratamos" (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Arte e filosofia". In: ------. Aprendendo a pensar II. Petrópolis: Vozes, 1972, p. 241.

7

"- Sócrates - O maior inconveniente da escrita parece-se, caro Fedro, se bem julgo, com a pintura. As figuras pintadas têm atitudes de seres vivos mas, se alguém as interrogar, manter-se-ão silenciosas, o mesmo acontecendo com os discursos: falam das coisas como se estas estivessem vivas, mas, se alguém os interroga, no intuito de obter um esclarecimento, limitam-se a repetir sempre a mesma coisa. Mais: uma vez escrito, um discurso chega a toda a parte, tanto aos que o entendem como aos que não podem compreendê-lo e, assim, nunca se chega a saber a quem serve e a quem não serve. Quando é menoscabado, ou justamente censurado, tem sempre necessidade de ajuda do seu autor, pois não é capaz de se defender nem de se proteger a si mesmo" (1).


Referência:
(1) PLATÃO. Fedro, 5. e. Trad. Pinharanda Gomes. Texto grego estabelecido por Léon Robin, Paris, Les Belles Lettres, 1966. Lisboa: Guimarães Editores, 1994, p. 122, 275 d.
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