Entre

De Dicionário de Poética e Pensamento

1

O entre, ao nos projetar nos interstícios da liminaridade, se desdobra em duas facetas. A primeira é a tensão. Esta indica a questão da harmonia como tensão de opostos, mas onde estes opostos de alguma maneira se manifestam, ora se dando um, ora se dando outro. Enquanto tensão de opostos na manifestação do entre como harmonia, é que podemos falar de complementaridade. Por exemplo, dia e noite, onda e partícula, mito e rito, masculino e feminino, apolíneo e dionisíaco etc. A segunda faceta é a disputa. Esta já indica o entre na sua radicalidade, onde não há complementaridade, porque esta sempre se refere à ordem do manifestável. Na disputa há muito mais do que tensão. Nela comparece o próprio abismo. Seu exemplo fundamental é vida e morte. Não dá para saber o que é morte. Ninguém voltou para dizer a sua experienciação. Nela, não há complementaridade nenhuma, pois esta, em-si, se funda na negação. Já a disputa funda a tensão, mas não o contrário, porque tal fundar é abismal. É a morte. Outro exemplo é mundo e terra. Outro é nada e ente. Outro é silêncio e voz. Enfim, é o vazio e a teia. Por mais que a teia se expanda, tanto mais o vazio a concerne, cerca, funda e se retrai. O pensamento oriental fala de dezoito modos do vazio. Há, portanto, aí, uma disputa e não simplesmente uma tensão. Na disputa, o próprio entre se vê engolfado pelo nada. É o silêncio misterioso de Édipo no final da tragédia "Édipo em Colona". Para entender o engolfar do entre pelo nada, é necessário ter em mente que o entre é a própria presença do nada em seu mistério. No fragmento 123: phýsis krýptesthai phileî, de Heráclito, a phýsis manifestada pode ser onda e/ou partícula, mas o krýptesthai, não. Este é abismal, o silêncio que funda e possibilita toda voz, toda presença, toda manifestação.


- Manuel Antônio de Castro
Ver também:
*Rede

2

"Somente no âmbito do esforço é que o homem se esforça por 'méritos'. Somente assim ele consegue tantos méritos. Mas justamente nesse esforço e por esse esforço concede-se ao homem levantar os olhos para os celestiais. Não obstante esse levantar os olhos percorra toda direção acima rumo ao céu, permanece no abaixo da terra. Esse levantar os olhos mede o entre céu e terra. Esse entre possui uma medida comedida e ajustada ao habitar do homem. Chamaremos de dimensão a medida comedida, aberta através do entre céu e terra" (1).


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. "... poeticamente o homem habita...". In: Ensaios e conferências. Petrópolis, Vozes, 2002, p. 172.


Ver também:
*Horizonte
*Liminaridade
*Limite

3

A questão da medida surge naturalmente ao homem pelo simples fato de que ele se experiencia como homem na medida da sua liminaridade. Mas se há - e há - liminaridade, qual a sua medida? Na realidade, a questão colocada diz do próprio do ser humano. E perguntar pela medida da liminaridade, ou seja, do próprio do ser humano, é perguntar pelo "entre". Este, como medida, radica na dupla tensão de distância e proximidade e de humanos e divinos e de Céu e Terra. É nesse sentido de tensão que o entre é medida.


- Manuel Antônio de Castro

4

O entre preside a mais radical dimensão do real, isto é, do ser e não-ser. Certamente, ele está claro no fragmento 123 de Heráclito: Phýsis krýptesthai phileî - A phýsis ama velar-se, em que o entre corresponde ao phileî, pois significa: ama, ou seja, o apropriar-se do que é próprio. O amor é o vigor do entre.


- Manuel Antônio de Castro

5

No desenvolvimento da complexidade do entre é necessário pensar a sua referência à mediação e à medida. Para isso é necessário relacionar o entre ao caminho, ao método, na medida em que como entre, método se torna mediação e medida, mas, é claro, onde a medida não vem do método como pretende a metodologia, mas do ser/real que, como poíesis (o vigor do poético) se faz e dá como medida de verdade e não-verdade do ente.


- Manuel Antônio de Castro

6

Entre pressupõe sempre duplicidade e ambiguidade, pois essa palavra diz exatamente da radicalidade ser e ente. "A linguagem é, portanto, o que prevalece e carrega a referência do homem com a duplicidade entre ser e ente. A linguagem decide a referência hermenêutica" (1).


- Manuel Antônio de Castro
Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. "De uma conversa sobre a linguagem entre um japonês e um pensador". In: ____. A caminho da linguagem. Petrópolis: Vozes, 2003, p. 97.

7

"Vou agora te contar como entrei no inexpressivo que sempre foi a minha busca cega e secreta. De como entrei naquilo que existe entre o número um e o número dois, de como vi a linha de mistério e fogo, e que é linha sub-reptícia. Entre duas notas de música existe uma nota, entre dois fatos existe um fato, entre dois grãos de areia por mais juntos que estejam existe um intervalo de espaço, existe um sentir que é entre o sentir - nos interstícios da matéria primordial está a linha de mistério e fogo que é a respiração do mundo, e a respiração contínua do mundo é aquilo que ouvimos e chamamos de silêncio" (1).


Referência:
(1) LISPECTOR, Clarice. A paixão segundo G.H.. 3. ed. Rio de Janeiro: Sabiá, 1972, p. 117.

8

"O entre é a vida acontecendo e apropriando-se do que lhe é próprio, constituindo-se no originário de toda dis-posição" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Interdisciplinaridade poética: o 'entre' ". In: Revista Tempo Brasileiro, Rio de Janeiro, 164: 7/36, jan.-mar., 2006, p. 11.

9

"Entre provém do pré-verbo e da preposição latina in. Em primeira instância, in tem os sentidos de em, dentro e sobre, tanto do ponto de vista espacial como temporal. Ele, poeticamente, diz, por isso mesmo, lugar. E assim tanto indica movimento como estado físico ou moral" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Interdisciplinaridade poética: o 'entre'". In: Revista Tempo Brasileiro, Rio de Janeiro, 164: 7/36, jan.-mar., 2006, p. 17.


10

"O entre é a abertura constitutiva e originária do ser-humano. Essa abertura se dá na metafísica, pois só o ser humano é radicalmente metafísico, no sentido de ser no ser humano que a phýsis se dá como entre em sua ambiguidade radical. Na metafísica, a phýsis se dá originariamente como esse enigmático entre (metá), horizonte poético-ontológico de todo ser humano" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Interdisciplinaridade poética: o 'entre'". In: Revista Tempo Brasileiro, Rio de Janeiro, 164: 7/36, jan.-mar., 2006, p.19.


11

"O entre é o próprio núcleo de todo agir humano, é o horizonte que faz do ser humano homem humano" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Interdisciplinaridade poética: o 'entre'". In: Revista Tempo Brasileiro, Rio de Janeiro, 164: 7/36, jan.-mar., 2006, p.20.

12

"Não obstante esse levantar os olhos percorra toda direção acima rumo ao céu, permanece no abaixo da terra. Esse levantar os olhos mede o entre céu e terra. Esse entre possui uma medida comedida e ajustada ao habitar do homem" (1).
O entre é a própria essência do ser humano, pois aí se decide o que ele é e como é, o que ele é e não é, isto é, vigorar no entre é descobrir-se na liminaridade, no horizonte, na clareira. Esse entre se torna a essência essencial do ser humano, pois ele está entre céu e terra, "pois o homem habita em medindo o 'sobre esta terra' e o 'sob o céu'. Esse sobre e esse sob se pertencem mutuamente. Esse seu imbricamento é uma medição que o homem está sempre a percorrer, sobretudo porque o homem é como o que pertence à terra" (2).


- Manuel Antônio de Castro


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. "... poeticamente o homem habita... ". In: Ensaios e conferências. Petrópolis: Vozes, 2002, p. 172.
(2) Idem, p. 175.

13

O estudo do entre é fundamental, sobretudo para ver - a arte não só trabalha com o ver mas também com o ouvir e com o movimento enquanto dança - o alcance da questão ocidental por excelência: a epistemologia. Ele aparece na situação fundamental, que consiste em "estudar a relação entre um objeto e o observador". Como podemos ver, as teorias e estudos se limitam a determinar essa relação. Há também a referência ora optando pelo objeto ora pelo observador, contudo nunca se pensa o entre. Este entre jamais fica reduzido à percepção. E é nesta que se concentram os estudos. Contudo, é esse entre que irá determinar o alcance dos métodos e, consequentemente, o do conhecimento. Trata-se, em última instância, da questão da diánoia, da entre-percepção (1).


- Manuel Antônio de Castro


Referência:
(1) Cf. HEIDEGGER, Martin. De l' essence de la vérité. Paris: Gallimard, 2001.


14

"O ser humano não pode suportar a liberdade absoluta; tal liberdade o leva ao caos. Se fosse possível para um homem nascer com a liberdade absoluta, seu primeiro dever, se ele desejasse ser útil sobre a terra, seria de circunscrever esta liberdade. O homem é capaz de suportar o trabalho somente numa arena fixa, circunscrita" (1).


Referência:
(1) KAZANTZAKIS, Nikos. Testamento para El Greco. Rio de Janeiro: Artenova, 1975, p. 326.

15

"Já que se há de escrever que, pelo menos, não se esmaguem com palavras as entre-linhas" (1).


Referência:
(1) LISPECTOR, Clarice. Texto publicado numa montagem artística de fotos com textos de Clarice, sem indicação da fonte.

15

O homem sabe e não sabe o que ele mesmo é. Temos nesta afirmação a essencialização do "entre". O que é o "entre"? Ele não é. Vigora e nisso consiste sua essencialização. O "entre" é, ao mesmo tempo, a afirmação e negação do princípio de identidade, da contradição, do fundamento. E o que sobra? Nada, ou seja, o "entre" enquanto princípio que gera e vigora em todos os sendos e atributos, sem a eles se reduzir. Deixar o Nada vigorar como princípio, eis o grande desafio da essencialização da linguagem em que o ser humano vem a ser.


- Manuel Antônio de Castro

16

"É que o homem só se realiza na presença. Presença é uma abertura que se fecha e, ao se fechar, abre-se para a identidade e diferença na medida e toda vez que o homem se conquista e assume o ofício de ser, quer num encontro, quer num desencontro, com tudo que ele é e não é, que tem e não tem. É esta presença que joga originariamente nosso ser no mundo" (1). A presença ao ser originariamente uma abertura que se fecha e abre, ininterruptamente, notamos como ela é um "entre", uma hiância, onde acontece o livre ser as possibilidades que todo entre projeta. Dessa maneira a presença somente se torna presença, que podemos também compreender como o que se dá enquanto desvelamento, na medida em que já vigora num retraimento. Portanto, toda presença é um acontecer da verdade no sentido grego de a-letheia. Por isso toda presença é um estar sendo enquanto manifestação do que se retrai e vela.


- Manuel Antônio de Castro


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. Posfácio. In: HEIDEGGER, Martin. Ser e tempo. Trad. Márcia Sá Cavalcante Schuback. 2. e. Petrópolis: Vozes, 2006, p. 557.

17

"Liminaridade significa aí o estar jogado num projeto de realização do que é a partir do ser. Na liminaridade o agir do ser-humano, e só é agindo, sendo poético, encontra o seu vigor e seu horizonte no ser. Seu agir é, pois, algo entre o agir do ser que nele opera (obra/verdade/poíesis) e o seu agir, enquanto desvelo do que ele é. Essa dupla poíesis é que é o paradoxo, o entre. Ser, então, para o ser-humano é estar e ser entre, permanentemente. Ele é, queira ou não queira, um entre-ser, porque é um ser-do-entre. Realiza-se sempre na e a partir da liminaridade de ón/ente E einai / ser." (1)


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Interdisciplinaridade poética: o 'entre' ". In: Revista Tempo Brasileiro. Rio de Janeiro: n. 164, jan.-mar. 2006, p. 25.

18

"O cientista:
- No fundo a meta que perseguimos é a de encontrar aquilo que gosto de chamar de “a passagem estreitaâ€, a passagem estreita entre duas concepções diferentes do mundo: a concepção determinista, na qual não há lugar para a inovação; e a idéia de Deus fazendo um jogo de dados, o mundo aleatório, no qual não há lugar para a razão. Então, na verdade, é preciso conseguir se situar entre as duas " (1).


Referência:
(1) PRIGOGINE, Ilya. "O fim da certeza". In: MENDES, Cândido (org.). Representação e complexidade. Rio de Janeiro, Garamond Universitária, 2003, p. 64.

19

"Alberto Caieiro, o poeta-pensador, já o disse poeticamente:
"Mas isto (tristes de nós que trazemos a alma vestida!),
Isso exige um estudo profundo,
Uma aprendizagem de desaprender . (Poema XXIV)
Procuro despir-me do que aprendi,:
Procuro esquecer-me do modo de lembrar que me ensinaram,
E raspar a tinta com que me pintaram os sentidos ... (Poema XLVI)" (1)

´

Isso é enigmático porque devemos aprender para desaprender, ter para renunciar, porque só renunciando chegamos a ser o que temos, porque só podemos ter o que somos e só podemos ser o que temos. Portanto, não há uma incompatibilidade entre ter e ser. Entra aí uma terceira dimensão nesse jogo dialético entre ter e ser, e ser e ter: o desprendimento, a renúncia, porque a renúncia não tira, dá. Nesse jogo dialético se torna também claro o jogo entre identidade e diferença. A identidade nos remete para o horizonte do fundar, do ser, do nada. Já a diferença nos mostra em que consiste o próprio, (ter), que só o nada, (ser), pode fundar. Enfim, toda aprendizagem é um desaprender.
Manuel Antônio de Castro.


Referência:
(1) PESSOA, Fernando. Alberto Caeiro. S. Paulo: Cia. das Letras, 2004, p. 60, 84.

20

"Toda dobra desdobrando-se é um contínuo discernir, isto é, um pensar no desvelado o velado, nas vivências do vivente a sua fonte, a Vida. Discernir é sempre um ato corajoso e necessário de apreender e compreender, no que se dá a ver, o que se retrai e vela. Discernir é deixar-se tomar pela carência em meio à riqueza originária da realidade. Radicalmente, discernir é deixar-se tomar pela morte como medida do viver. Discernir é pensar e pensar é amar. Amar é o vigorar do entre na referência do amante e da amada" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A gota d’água e o mar". In: -----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 246.


21

"Se, um belo dia, o homem abandonar o hábito, o costume, o condicionamento de rotular, de dar nome, de nomear as coisas entre boas e más, feias e bonitas, altas e baixas, pobres e ricas, agradáveis e desagradáveis, e procurar viver neste "entre", nesse meio caminho para a libertação, estará encaminhado no entre-Caminho de que nos fala Heidegger. É justamente com esse homem que Chuang Tzu quer "conversar", dialogar..." (1). Como vemos, rotular é se pautar pelas dicotomias citadas e outras. As dicotomias ou rótulos não deixam a realidade acontecer em seu vigor originária, sempre inaugural. Eis aí uma perfeita ideia do que é dicotomia e como elas tolhem o caminho do entre, da plena realização pela iluminação e libertação. O rotular cria um pseudo-mundo. Quem é escravo do hábito, do costume, do diz-se, não pensa.


- Manuel Antônio de Castro
Referência:
(1) ROCHA, Antônio Carlos Pereira Borba. "Diálogo com Chuang Tzu, hoje". In: Revista Tempo Brasileiro, 171 - Permanência e atualidade da Poética. Rio de Janeiro, out.-dez., 2007, p. 167.


22

"A trajetória da compreensão e conhecimento da Essência do ser humano no Ocidente será a tensão criativa e permanente de pensamento e linguagem. Dessa maneira, o próprio do ser humano é ser um sendo do "entreâ€: entre pensamento e linguagem. E entre conhecimento e língua, radicado sempre no princípio de que tudo é E não é. Neste horizonte de pensamento não se pode, de maneira alguma, reduzir o “e†a uma classificação gramatical, esquecida da sua “medida†que é a linguagem e o pensamento do Ser. Esse “e†é o aberto da liberdade de ser o que já é, enquanto possibilidade de verdade e sentido do Ser. Portanto, a liberdade não é um exercício da vontade que conhece, mas um apelo de ser no e pelo sentido da verdade do Ser. É pensando nesse princípio que o poeta Píndaro disse: “Chega a ser o que já és, aprendendo†"(1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O ser humano e seus limites". In: MONTEIRO, Maria da Conceição e Outros (org.). Além dos limites - ensaios para o século XXI. Rio de Janeiro: EDUERJ, 2013, p. 230.


23

"Os caminhos a tomar não estão fora, estão dentro do que está em crise. Achar os caminhos que estão dentro é trazer para cena a interdisciplinaridade, onde as disciplinas devem se abrir para o vigor que vigora no prefixo da interdisciplinaridade: o “inter-â€, o “entreâ€. Este não é um mero prefixo gramatical. Que “entre†é este? Ele traz o apelo da liminaridade de todo humano do homem, porque traz a possibilidade do vazio que une e reúne todos os fios e nós em que se entretecem as disciplinas como rede de conhecimentos e destino do humano do homem. A princípio, esse vazio causa estranheza e perplexidade. Como pode haver ciência do vazio, do silêncio? Mas inevitavelmente os cientistas já se defrontam com ele, embora lhe deem outro nome: caos" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Apresentação". In: Manuel Antônio de Castro, (org.). Arte: corpo, mundo e terra. Rio de Janeiro: 7Letras, 2009, p. 12.


24

"Deve (o leitor) deixar cada palavra vir com sua força poética e nela descobrirá algo maravilhoso: que a resposta, qualquer resposta, só é verdadeiramente resposta se recolocar a questão, pois somos radicalmente seres-do-entre, entre pergunta e resposta, entre vida e morte. Vivemos sempre em liminaridade, uma liminaridade em que vigora a essência originária, porque poética, pela qual tanto mais realizamos nossa finitude quanto mais, corajosamente, nos lançamos no não-finito" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Apresentação". In: Manuel Antônio de Castro, (org.). Arte: corpo, mundo e terra. Rio de Janeiro: 7Letras, 2009, p. 14.


25

"O arbítrio – isto é, a liberdade de agir – foi-lhe entregue por uma ação anterior a qualquer outra que possa ou venha a praticar. Esta ação anterior, do entre que o configura como interlúdio, está na origem do homem. Não é, portanto, ele que originariamente a pratica, mas a ele se dirige, até para que possa agir" (1).


Referência:
(1) FERRAZ, Antônio Máximo. "O homem e a interpretação: da escuta do destino à liberdade". In: CASTRO, Manuel Antônio de e Outros (Org.). O educar poético. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2014, p. 104.


26

"Neste sentido, por nele agir para que possa agir, a ação do entre é destino. Este entendido não como o previamente escrito que tornasse o homem um títere, e, sim, como o envio do que nele se destina. O homem é o destinatário da liberdade que o destino lhe envia, aviando-o para a travessia da existência" (1).


Referência:
(1) FERRAZ, Antônio Máximo. "O homem e a interpretação: da escuta do destino à liberdade". In: CASTRO, Manuel Antônio de e Outros (Org.). O educar poético. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2014, p. 104.


27

"A ação do entre do interlúdio que destina o homem a ser livre pode e deve ser considerada divina, sagrada, como sagrado é o que não tem origem no homem, mas que a ele foi doado para que cuide: o existir" (1).


Referência:
(1) FERRAZ, Antônio Máximo. "O homem e a interpretação: da escuta do destino à liberdade". In: CASTRO, Manuel Antônio de e Outros (Org.). O educar poético. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2014, p. 105.


28

"Não é o eu ou o tu que funda o entre ou o logos, porque o logos, essencialmente, é entre-poético-ontológico. Também não há precedência de um sobre o outro, mas uma tensão concreta e poética vigorando no entre, esse entre de ser-humano (“onâ€) E ser (“einaiâ€)" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Interdisciplinaridade poética: o entre". Revista Tempo Brasileiro: Rio de Janeiro: Interdisciplinaridade: dimensões poéticas, 164, jan.-mar., 2006, p. 29.


29

"Dialogar essencialmente não é uniformizar, muito pelo contrário, é afirmar as diferenças, ou seja, tanto do eu como do tu. Mas só cada um afirmando-se como diferença é que eclode na sua identidade, no seu próprio. A identidade de todas as diferenças e diálogos é o entre, é o logos. Porém, no diálogo, há não apenas a comunicação, mas também o que na comunicação, o que no diálogo se comunica e dialoga. Àquilo que chamamos de informações e conhecimentos" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Interdisciplinaridade poética: o entre". Revista Tempo Brasileiro: Rio de Janeiro: Interdisciplinaridade: dimensões poéticas, 164, jan.-mar., 2006, p. 29.


30

"O “entre†é uma captação prévia, ou seja, é a intuição originária, é o próprio logos, de que falamos no item anterior. Então logos é mundo enquanto sentido e verdade. E, portanto, o mundo é o “entre†do Da-sein, ou seja, do Entre-ser e do ser-com ou Mit-sein. A facticidade é então a nossa condição humana de sermos Entre-ser e Ser-com. À facticidade Heidegger chamou de transcendência ou mundo" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Interdisciplinaridade poética: o entre". Revista Tempo Brasileiro: Rio de Janeiro: Interdisciplinaridade: dimensões poéticas, 164, jan.-mar., 2006, p. 31.


31

"As artes, enquanto musas, são as filhas da memória. Por isso, toda obra de arte opera o entre enquanto memória e tempo, linguagem e poiesis, onde o operar não é da obra, mas da verdade, ou seja, o entre enquanto desvelar-se e velar-se. Tal entre é o originário de mundo" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Interdisciplinaridade poética: o entre". Revista Tempo Brasileiro: Rio de Janeiro: Interdisciplinaridade: dimensões poéticas, 164, jan.-mar., 2006, p. 34.


32

"A estética não funda. Pelo contrário, é fundada pela poética, porque esta radica na essência do agir. É a essência do agir. É também o que Guimarães Rosa considera ser a travessia – uma tarefa poética – em Grande sertão: veredas. “Existe é homem humano. Travessia†(1),(1968, 460). Ela dá-se no entre de nada e tudo. Dando-se no “entreâ€, toda nossa tarefa poética, enquanto vigorar da necessidade, da liberdade e da verdade, consiste em um acontecer poético, em que no ordinário se dá o extraordinário. “A morada do homem, o extraordinário: Ethos anthropou daímon (Heráclito: 1991, 91)" (2) " (3).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Liberdade, vontade e uso de drogas". In: ----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 278.


33

"Mas não podemos pensar a Terra sem o Sol. Isso no mito pode aparecer como a reunião (logos) de Dioniso e Apolo. Aqui se dá o núcleo essencial do entre. Neste sentido/verdade, a referência é o próprio entre. Daí que a referência de Ser e ente é a referência de linguagem e língua. Mas esse e é o logos (verbo/palavra/sentido/reunião), é Hermes (mensageiro)" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. O ser e o parecer. Ensaio ainda não publicado.

34

Só como analogia se pode pensar o ser no âmbito dos transcendentais, pois é a questão do próprio sendo e não e jamais do ser. Por estarmos no ser é que pensamos e devemos pensar os transcendentais enquanto o sentido que nos dá sentido enquanto cada um é um próprio. Será, contudo, sempre um pensar que pensa em nossa liminaridade de seres do entre, seres metafísicos, a proximidade e a distância. Esta far-se-á presente em cada transcendental.


- Manuel Antônio de Castro.

35

"No limite instável, mas discernível do não-útil e do útil, do não-funcional e do funcional, está sempre um entre. Um entre misterioso que une possível e disponível, necessário e livre" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. “A menina e a bicicleta: arte e confiabilidadeâ€. In: ------. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 290.
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