Educar

De Dicionário de Poética e Pensamento

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Educar é mais do que o formar. É o manifestar o caminho que a cada um foi doado e, assim, chegar a ser o que já é, isto é, nosso próprio. Esse caminho de vida se torna a narrativa de apropriação do próprio. É o educar poético-originário. A palavra educar diz isso: ex-ducere, verbo latino,onde ex diz uma abertura de libertação, de possibilidades de se tornar livre. E ducere diz conduzir. Portanto, e-ducar é o incessante conduzir para o livre aberto, o não-limitado, pois nossa condição humana de viventes nos joga nos limites das nossas diferenças.


Manuel Antônio de Castro

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Educar, em sentido essencial, é o aprender a pensar, como estado de espírito (nóus) em que vive todo pensador. O pensador não é um mediador, não é um mero transmissor. Acredita na medida da mediação que é todo educar.


Referência:
CASTRO, Manuel Antônio de. "Ser e estar". In: Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 20.

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Formado do latim, e-ducar diz ducere, conduzir, levar, e ex-, ek-,ec-,ecs-, para fora. Para fora, para onde? O sentido originário de ex- é ontológico, prévio ao espaço e tempo. Fundado no ser, que não é, vigorando, manifesta tempo e espaço. Não pode ser reduzido a uma categoria gramatical que indica espaço, significando, portanto, o levar, por exemplo, para fora de uma sala ou para um crescimento numérico e cronológico, restrito a limites, somente possíveis em tempo e espaço já determinados. O ex- é o sem limites do livre aberto, da clareira, da iluminação e da liberdade ontológica.


- Manuel Antônio de Castro

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"Interessa-nos pensar de que maneira a poética da dialética pode ser pensada num diálogo com o "educar poético-originário", com o educar que propõe uma "aprendizagem de desaprender" a repetir os conceitos e definições que nos são impostos diariamente por diversos caminhos dentro e fora do espaço acadêmico" (1).


- Referência:
(1) GUIDA, Angela. "A poética da dialética". In: Revista Tempo Brasileiro, 192: Dialética em questão I. Rio de Janeiro, jan.-mar., 2013, p. 48.

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"No fundo, somente há o verdadeiro e único educar, quando se leva cada um a se apropriar do humano que é com o humanos, isto é, do que lhe é próprio ou simplesmente do que é, segundo a fala poético-originária de Píndaro: Chega a ser o que és: aprendendo (2) " (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Eduardo Portella, o professor". In: Quatro vezes vinte - Eduardo Portella - Depoimentos. Rio de Janeiro, Academia Brasileira de Letras, 2012, p. 38.
(2) PINDARE. Phytiques. Trad. André Puech. Paris: Belles Lettres, 1922, p. 56: " Genoi oios essi manthon... ".

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"E [Eduardo Portella] pensa em tempo integral para poder levar todo ser humano a pensar, fazendo do educar um permanente ensaio de aprendizagem do pensar, tarefa hoje cada vez mais difícil e rara, porque o midiático monta uma cena obscena, onde predomina o dispersivo, o circunstancial, o ralo e passageiro da estesia da espetáculo estético. Nessa encenação virtual, o estético é mais importante do que o poético, com a evidente perda do ético. Só o poético, numa permanente ensaio de acerto e erro, de risco de perda e ganho, se funda no ético" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Eduardo Portella, o professor". In: Quatro vezes vinte - Eduardo Portella - Depoimentos. Rio de Janeiro, Academia Brasileira de Letras, 2012, p. 39.

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"Os professores formados para a funcionalidade, seguros do seu saber formal ou ideológico, temem, uns, por insegurança, outros, pela segurança do poder da doutrinação, o questionamento do pensar, a capacidade de pensar dos jovens, sempre inaugural e originária. É necessário parar de educar para o doutrinar funcional e decorar acumulativo, e educar para o pensar, questionar, diferenciar, escutar e dialogar. Só assim se conquista o diferenciar da libertação" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Fundar e fundamentar". In: Pensamento no Brasil, v. I - Emmanuel Carneiro Leão. SANTORO, Fernando e Outros, Org. Rio de Janeiro: Hexis, 2010, p. 217.

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Desde sempre, o educar vem sendo sustentado por uma cultura com três dimensões: a da produção, que acontece mediante a dinâmica do tempo; a da transmissão, que acontece mediante ritos, narrativas ou técnicas que passam de geração para geração, preservando a memória cultural; a da reprodução, na qual é conservado o que já foi conquistado no tempo.


- Manuel Antônio de Castro.

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"É necessário retomar o ético de todo conhecimento, na medida em que este tem, necessariamente como medida ontológica e princípio de realização, o humano. O que está faltando é se pensar com radicalidade a essência do agir em tudo, sobretudo no educar do ser humano, uma vez que fazer ainda não é ser. E só na vigência deste se age essencialmente. Não basta fazer é necessário ser o que se faz" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A globalização e os desafios do humano". In: Revista Tempo Brasileiro, 201/202 - Globalização, pensamento e arte. Rio de Janeiro, abr.-set., 2015, p. 24.

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"Disto podemos concluir também que quanto mais se desenvolver no homem a capacidade de perguntar, mais humano ele se torna, mais ele se realiza como homem, mais ele se humaniza" (1).


Referência:
(1) HUMMES, o.f.m. Cláudio. Metafísica. Mimeo. Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963. Depois tornou-se Bispo e hoje é Cardeal.

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Por já vigorarmos, por tudo já vigorar no ser, ele não é fundamento de nada, porque ele simplesmente vigora, independentemente de minhas nomeações e reflexões. Ele está tão próximo, tão próximo que até já desde sempre o somos e nele somos o que somos. E, seguindo Parmênides, o mesmo é ser e saber. É este ser e saber como o mesmo que se torna a questão do educar originário. Mas nossa procura do saber do ser acaba se desviando para o saber imperfeito e limitado e não nos abrimos para o seu sentido que é o máximo de saber, porque o seu sentido é o silêncio em que ele vigora e se dá a ver e a saber. O sentido, o silêncio, o vazio são o mais presente do presente, são sempre o já vigorando e sem o qual nada se dá a saber e a ver. Em virtude de nosso limite de entre-ser temos a tendência a entificar o ser, o saber, o silêncio, o vazio, o nada.


- Manuel Antônio de Castro.

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"Educar, em seu sentido originário e radical diz ex- : para fora; e ducere: conduzir, levar. Educar é conduzir para fora, fazer desabrochar, fazer eclodir o ser humano que cada um é, e não entulhar o educando com conhecimentos externos. Para fora não indica um deslocamento espacial, mas a irrupção estruturante do vigor do ser do homem. Educar é fazer desabrochar em plenitude de liberdade o que cada ser humano é. Torna-se claro que toda ficção literária, toda literatura infantil articula o formar e o imaginar no educar. Por isso, toda ficção, toda literatura, se é verdadeiramente literatura, é educativa" (1).


Referência:
CASTRO, Manuel Antônio de. "Ficção e literatura infantil". In: ------------. Tempos de Metamorfose. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1994, p. 135.

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"Originariamente, todo educar é mítico, posteriormente se desdobrou no lógico-racional. O educar poético é dialético, nada excluindo. A sua origem mítica fica bem clara na conhecida afirmação de que Homero educou a Grécia, pois ele, em suas obras poéticas, trata de mitos. E estes são conaturais a todos os povos e culturas. Dessa maneira, as formas originárias de educar são os ritos dos mitos, daí a força das narrativas hoje e sempre, porque estas dizem respeito à narrativa da caminhada entre vida e morte do ser humano, em seu sentido e mistério" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Educar poético: diálogo e dialética". In: ..... e outros. O educar poético. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2014, p. 15.

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"Educar originou-se no verbo latino ek-ducere. Ducere significa: conduzir; e o prefixo ek-, significa: para fora, em sentido ontológico, que inclui tanto o espacial quanto o temporal, dizendo mais. É o livre aberto. Assinala, portanto, um processo ontológico pelo qual cada ser humano é levado para além dos limites, porque ontologicamente somos finitos e não-finitos. Cada um é e não-é, mas não é o ser. Eis a nossa finitude. Por isso, o educar é a caminhada dialética pela qual somos lançados no livre aberto da tensão de limite e não-limite para que aconteça o libertar" (1). Todo verdadeiro educar, como vemos, é necessariamente poético.


- Manuel Antônio de Castro.
Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Educar poético: diálogo e dialética". In: ..... e Outros. O educar poético. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2014, p. 16.

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"Todo educar, para libertar, deve ser integrador. Pensar esta integração é pensar a questão da essência do ser humano e da verdade, pois é nelas que acontece a realização de suas possibilidades, na medida em que acontece o educar" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Educar poético: diálogo e dialética". In: ..... e Outros. O educar poético. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2014, p. 17.
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