Transcendental

De Dicionário de Poética e Pensamento

Tabela de conteúdo

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"Dessa maneira, vivemos permanentemente nossa vida à procura, isto é, pro- para diante, para o não-limite e o livre ser. E cura, o cuidado de ser. É, dessa maneira, o atuar da libido essendi (de ser), origem da liberdade plena e do não ficar preso e limitado aos bens e prazeres da libido sentiendi (do sentir). Sem os excluir, necessita também do bem e da beleza, do compreender-se, libido sciendi (do conhecer/ do tomar consciência), do uno e do verdadeiro" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Eros, o humano e os humanismos". In: Eros, tecnologia, transumanismo. MONTEIRO, Maria Conceição e Outros (org.). Rio de Janeiro: Caetés, 2015, p. 47.

2

Falar dos transcendentais é falar de conversibilidade entre o ser e os quatro transcendentais.
Diz Cláudio Hummes: "A conversibilidade. Tudo o que é, porque e enquanto lhe convém ser, é uno, verdadeiro, bom e belo. Disto segue uma conversibilidade: tudo o que é uno, verdadeiro, belo e bom é; tudo o que é, é bom, belo, verdadeiro e uno; os graus e os modos de ser são graus e modos de unidade, beleza, verdade e bondade. A negação de unidade, beleza, verdade e bondade é negação do ser. Não é esta negação que gera o mal? No entanto, esta conversibilidade não implica que a relação dos transcendentais para com o ser seja a mesma que a do ser para com os transcendentais. O ser fundamenta os transcendentais; os transcendentais manifestam e desdobram o ser. Assim o ser tem uma prioridade ontológica – não cronológica – sobre os transcendentais" (1).


- Manuel Antônio de Castro
Referência:
(1) HUMMES, o.f.m. Cláudio. Metafísica. Mímeo. Daltro Filho/Imigrantes/RS, 1963.

3

"Aristóteles abre o Primeiro Livro da Ética com as palavras: pasa práxis agathou tinos ephiesthai: em toda ação vive um empenho por algum bem" (1). Tendo em vista a conversibilidade dos transcendentais, podemos perfeitamente dizer: em toda ação vive um empenho pelo verdadeiro; em toda ação vive um empenho pelo uno; em toda ação vive um empenho pelo belo. Pois, uno, verdadeiro, bom e belo são conversíveis. Isso é facilmente observável nas vivências de todo ser humano.


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "O problema da Poética de Aristóteles". In: -----. Aprendendo a pensar II. Petrópolis R/J: Vozes, 1992, p. 156.

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"Transcendental, diz Kant, é todo conhecimento que não trata do objeto, mas do nosso conhecimento do objeto, enquanto procura as condições apriori de possibilidade deste conhecimento" (1).


Referência:
(1) HUMMES, o.f.m. Frei Cláudio. Metafísica. Mimeo. Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963. Depois tornou-se Bispo e hoje é Cardeal.

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"Única aproximação da riqueza interna do ser, ou melhor, da estrutura interna do ser, se fez ao revelar-se o ser como agir, enquanto o agir não apenas convém a determinada forma de ser, mas a tudo quanto participa do ser e enquanto participa do mesmo. Porém, não se esgota aqui nossa possibilidade de exprimir a riqueza interna do ser, que transcende – como agir – toda e qualquer forma particular de ser e que convém necessariamente a tudo que participa do ser e enquanto participa do ser" (1).
Esta participação no ser acontece na justa medida do que lhe é próprio. E nesse próprio nos advém a questão das propriedades. Seriam estas os transcendentais. Claro que eles não poderiam se manifestar no próprio sendo senão na medida em que se fundam no ser. Porém, para nós finitos, haverá sempre a proximidade da distância e a distância da proximidade. Nesta tensão consiste a nossa travessia em direção e na volta para casa, no dizer de Rosa, volta para o ser enquanto sentido do próprio que será o sentido do ser. É no sentido do ser que nos manifestamos fundados nos transcendentais: uno, verdadeiro, bom, belo. São, portanto, atributos essenciais, sem dúvida nenhuma, e não meramente circunstanciais, pois dizem respeito a todos os sendos, naquilo que constitui a sua essência enquanto sentido. Perguntar-se pelo sentido do ser é perguntar-se pelos transcendentais.


- Manuel Antônio de Castro.
Referência:
(1) HUMMES, o.f.m. Frei Cláudio. Metafísica. Mimeo. Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963. Depois tornou-se Bispo e hoje é Cardeal.

6

Só como analogia se pode pensar o ser no âmbito dos transcendentais, pois é a questão do próprio sendo e não e jamais do ser. Por estarmos no ser é que pensamos e devemos pensar os transcendentais enquanto o sentido que nos dá sentido enquanto cada um é um próprio. Será, contudo, sempre um pensar que pensa em nossa liminaridade de seres do entre, seres metafísicos, a proximidade e a distância. Esta far-se-á presente em cada transcendental.


- Manuel Antônio de Castro

7

O ser é e não é, é verdadeiro e não-verdadeiro, belo e não-belo, bom e não-bom, justamente porque o ser é e não-é, isto é, sem o ser nenhum sendo pode ser, mas nenhum sendo é o ser. O ser é nada de ente e de tudo que lhe diz respeito, mas, de outro lado, tudo que diz respeito ao sendo só pode provir do ser. Dessa maneira, os transcendentais são a concreticidade do ser. Tal concreticidade será sempre a dobra de ser e pensar, de ser e estar. Dobra é entre-ser.


- Manuel Antônio de Castro.
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