Ética

De Dicionrio de Potica e Pensamento

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Ética vem do grego ethos, fundando os valores éticos e, portanto, as ações éticas. Estas dizem respeito ao ser e seu sentido. São valores e ações ontológicas. Elas se originam do sentido de viver, de existir. A sentença 119 de Heráclito diz: Ethos anthropou daimon, que significa: "A morada do homem: o extraordinário" (1). O homem vive, existe no e a partir do extraordinário, em grego: daimon, o sagrado, o divino. Ética diz então: a essência e sentido do agir humano para cada um chegar a ser o que é, o que recebeu para ser. Há, portanto, uma diferença radical em relação à moral, embora frequentemente se usam como se fossem sinônimas essas palavras.


- Manuel Antônio de Castro
Referência:
(1) Os pensadores originários: Anaximandro, Parmênides, Heráclito. Petrópolis, Vozes, 1991. Tradução: Emmanuel Carneiro Leão e Sérgio Wrublesvski.

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"No princípio de tudo a ação. O agir humano é empenho e conquista de ser, é percepção e vivência de não ser na experiência de vir a ser. O homem não faz apenas bem e /ou mal as coisas que faz. Ele faz também um bem e/ou um mal a si mesmo e aos outros. Mas em tudo que venha a fazer e/ou deixar de fazer lhe chega sempre um convite radical, o convite de fazer o bem e evitar o mal. É neste sentido que, na dinâmica de todo agir humano, vive um tríplice apelo: fazer bem, fazer um bem, fazer o bem. Assim, a ética, em que mora todo agir dos homens, consiste em fazer o bem e evitar o mal em tudo." (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "O Édipo em Píndaro e Freud". In: -----. Filosofia contemporânea. Teresópolis/RJ: Daimon Editora, 2013, p. 63.

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Ética é chegar a ser o que já se é, ou seja, aprender na e pela experienciação do viver. É a vida não apenas vivida, mas experienciada. É o que nos ensina Píndaro, quando diz: Genoi 'óios essi mathon... (Chega a ser o que és: aprendendo).


- Manuel Antônio de Castro

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"A ética está no empenho de ser, mora no desempenho de não ser tudo que já se tem e não se tem. Na ética já estamos onde temos ainda de chegar" (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Édipo em Píndaro e Freud". In: -----. Filosofia contemporânea. Teresópolis / RJ: Daimon Editora, 2013, 64.

5

Na ética o valor (lei) não vem da relação social nem de um sistema prévio, seja ele subjetivo, seja ele social-institucional (valores ou leis morais, ideológicas, normas de conduta etc.). O valor é o acolhimento do sentido do Ser, enquanto este é o fundar do agir. É neste que se realiza o próprio de cada ser humano (só este pode ser ético), ou seja, sua essência, isto é, suas possibilidades recebidas do Ser. Ética e linguagem dizem o mesmo, porque esta se torna o horizonte da própria libertação e realização, de cada um. O horizonte jamais é o sujeito ou o sujeito o horizonte com sua razão. Nesse polemos, ( que podemos traduzir por entre, disputa, guerra), o que somos e o sentido e agir do Ser, passa a vigorar a verdade enquanto a tensão dialética de desvelamento e velamento, de sentido e forma (morphe), de solidão e liberdade, de interno e externo, de limite e não-limite. Eis aí a essência do pólemos, que podemos traduzir por:entre, disputa, guerra. O ético é o valor ontológico, não um valor subjetivo ou objetivo-moral e suas leis.


- Manuel Antônio de Castro

6

"Prescrever e dever já provêm da ética a ser conquistada e dita em toda libertação. Pois ética é sempre libertação do mal para voltar à liberdade originária do bem de ser e não ser tudo que já se é, mas de que nunca se está de posse. No engajamento ético de fazer e deixar de fazer, somos e estamos investindo pela liberdade numa libertação sem princípio, meio ou fim" (1).


Referência;
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "O Édipo em Píndaro e Freud". In: -----. Filosofia contemporânea. Teresópolis / RJ: Daimon Editora, 2013, 64.

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Essencialmente, a ética é realizar aquilo que somos e recebemos como destino, como moira, diziam os gregos. Já a realização moral é seguir o social, o que todos fazem. Na moral não há próprio, mas padrões de comportamento e valores padronizados.


- Manuel Antônio de Castro.

8

"O desafio da ética hoje não está em transformar-se numa ética da situação. Toda ética da situação inclui uma abstração nevoenta. O desafio concreto da ética está em entregar-se toda à espera do inesperado. Uma espera que vive e vivifica a vida do pensamento" (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Ética e comunicação". In: -----. Filosofia contemporânea. Teresópolis/RJ: Daimon Editora, 2013, p. 108.

9

Todo agir essencial exige uma ética não como norma ou paradigma, mas como aprender no sentido grego de manthano, pois este diz não o aprender algo, mas o agarrar-se à essência do ser que já somos, do qual nos vem o sentido do agir. É nesse sentido que Píndaro nos ensina: "Chega a ser o que já és, aprendendo", em grego: Genoi 'óios essi mathon.... Ensinar é, pois, aprender, manthano, e não decorar algo sobre. Todo ensinar e aprender, essencialmente, somente são quando se tornam éticos.


- Manuel Antônio de Castro

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"As poéticas das obras são memória do real. Um conhecimento cultural e científico pode ser superado por outro. Em relação às obras poéticas não há, nunca houve, jamais haverá superação. Nelas e por elas se perfaz o sentido do homem, isto é, nelas o humano do homem se abre para a escuta da linguagem e o homem se faz humano, isto é, ético. Pois ethos, em grego, diz a morada da linguagem, o lugar do humano do homem" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Apresentação". In: Manuel Antônio de Castro, (org.). Arte: corpo, mundo e terra. Rio de Janeiro: 7Letras, 2009, p. 13.

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"A aposta do Bem pelo Bem traz consigo o apelo de vir a ser nas ações o que já se é e não se é no ser que se tem e não se tem. Por outro lado, a urgência da libertação implica e traz consigo o desafio do Bem e do Mal. Percorrer o curso de libertação próprio desta urgência supõe apostar na criação do inesperado que alimenta de esperança toda espera. Radicalmente, nenhuma ética se reduz à prescrição de normas, nem está apenas no cumprimento do dever. Toda prescrição e todo dever já chegam sempre tarde. São um evento temporão" (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "O Édipo em Píndaro e Freud". In: -----. Filosofia contemporânea. Teresópolis/RJ: Daimon Editora, 2013, p. 64.

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"À reunião de informações com conhecimentos sendo o que é se chama, sempre se chamou: sentido de vida. Ser sábio é dar sentido a nossas ações. Ao sentido do agir desde sempre se denominou ética. Ser sábio é ser, onde se sabe o sentido de ser" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Leitura". In: ---------. Leitura: questões. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 84.

13

"A imagem-questão é a imagem-poética nos con-vocando para a escuta das grandes questões, onde essa escuta é a condição fundamental de todo diá-logo e de todas as interpretações. Na imagem-poética comparece sempre a poiesis como vigor de todo agir essencial e, ao mesmo tempo, o ethos, como linguagem e sentido do ser. Na medida em que é ethos e sentido, a interpretação se torna o horizonte onde se decide o que somos enquanto valor e sentido. Por isso, de ethos se originou a ética" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. “Heidegger e as questões da arte”. In: Manuel Antônio de Castro, (org.). Arte em questão: as questões da arte. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 19.

14

"A imagem-questão é a imagem-poética con-vocando-nos para a escuta das grandes questões, onde essa escuta é a condição fundamental de todo diá-logo e de todas as interpretações, enfim, de todas as leituras. Na imagem-poética comparece sempre a poiesis como vigor do sentido do agir essencial e, ao mesmo tempo, o ethos, como linguagem e sentido do ser. Na medida em que é ethos e sentido, a leitura interpretativa se torna o horizonte onde se decide a essência do ser humano, enquanto valor e sentido. Ético é o humano de todo ser humano. Por isso, de ethos se originou a ética" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Obra de arte e imagem-questão". In: ---------. Leitura: questões. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 235.
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