Bem

De Dicionrio de Potica e Pensamento

1

Bem é o engendramento do que é pelo Belo. Será então um belo que nada tem a ver com o estético, mas é a vigência do que é.


- Manuel Antônio de Castro
Ver também:
* Mal

2

"Na e com a libertação da liberdade, o homem nunca deixa de apostar no Bem. Por isso é que o Bem se dá e só se dá no apelo e como apelo de libertação. Aqui Bem não diz bons costumes, nem as normas da moralidade, nem valor de um ou para um sujeito, mas origem e fonte de ser. O Bem se recomenda, como desafio de conquista da liberdade numa luta sem tréguas pela libertação. Bem e liberdade coincidem, por provirem e conviverem numa mesma aposta ontológica de uma realização criadora em tudo que se faz e/ou se deixa de fazer. Neste nível de empenho radical, fazer já é ser e ser já inclui fazer. Pois na condição humana, ser e ter jogam o mesmo jogo, o jogo de uma incessante libertação" (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "O Édipo em Píndaro e Freud". In: Filosofia contemporânea. Teresópolis: Daimon Editora, 2013, 63.

3

"Quando pergunto pergunto pelo “é”: se é e o que é. Se pergunto assim, então posso fundamentalmente perguntar por tudo. Porém, o perguntar não é só um exercício do saber, pois se já soubesse tudo nem mais poderia perguntar. O perguntar é também um exercício do querer, enquanto tendo para o perguntado e quero atingi-lo e exercê-lo pelo saber. O tender e o querer, no entanto, supõem que o seu objeto seja algo para o qual se possa tender e o qual se possa querer. Mas perguntar eu só posso se já anteriormente sei, não só que o perguntado pode ser sabido, mas também se posso tender a ele para tentar sabê-lo mais e mais. Ora, se posso perguntar, sem mais, por tudo, isto supõe que tudo não somente é inteligível, mas também que tudo pode ser objeto da tendência, do querer, do meu espírito, ou seja, que tudo, além do ser inteligível é também “apetecível”. Ora, o que é apetecível ou objeto de uma tendência em vista da auto-realização chamamos de “bem”. Portanto, tudo o que é, enquanto é, é bom. “Omne ens est bonum”. O “bom” é, portanto, uma propriedade transcendental do ente (1)".


Referência:
(1) HUMMES, o.f.m. Frei Cláudio. Metafísica. Mimeo. Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963. Depois tornou-se Bispo e hoje é Cardeal. Já faleceu.

4

"Talvez desilusão seja o medo de não pertencer mais a um sistema. No entanto, se deveria dizer assim: ele está muito feliz porque finalmente foi desiludido. O que eu era antes, não era bom. Mas era desse não-bom que eu havia organizado o melhor: a esperança" (1).


Referência:
LISPECTOR, Clarice. A paixão segundo GH, 3. e. Rio de Janeiro: Sabiá, 1964, p. 10.

5

"No princípio de tudo a ação. O agir humano é empenho e conquista de ser, é percepção e vivência de não ser na experiência de vir a ser. O homem não faz apenas bem e /ou mal as coisas que faz. Ele faz também um bem e/ou um mal a si mesmo e aos outros. Mas em tudo que venha a fazer e/ou deixar de fazer lhe chega sempre um convite radical, o convite de fazer o bem e evitar o mal. É neste sentido que, na dinâmica de todo agir humano, vive um tríplice apelo: fazer bem, fazer um bem, fazer o bem. Assim, a ética, em que mora todo agir dos homens, consiste em fazer o bem e evitar o mal em tudo." (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "O Édipo em Píndaro e Freud". In: -----. Filosofia contemporânea. Teresópolis/RJ: Daimon Editora, 2013, p. 63.

6

"O mal ou o bem, estão é em quem faz; não é no efeito que dão" (1).


Referência:
(1) ROSA, João Guimarães. Grande sertão: veredas. 6. e. Rio de Janeiro: José Olympio, 1968, p. 77.

7

" : - "Mano velho, tu é nado aqui ou de donde? Acha mesmo assim que o sertão é bom? ..." Bestiaga que ele me respondeu, e respondeu bem; e digo ao senhor:
" : - Sertão não é malino nem caridoso, mano oh mano!: - ... ele tira ou dá, ou agrada ou amarga, ao senhor, conforme o senhor mesmo" (1).


Referência:
(1) ROSA, João Guimarães. Grande sertão: veredas. 6. e. Rio de Janeiro: José Olympio, 1968, p. 394.

8

"Aristóteles abre o Primeiro Livro da Ética com as palavras: pasa práxis agathou tinos ephiesthai: em toda ação vive um empenho por algum bem" (1).
Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "O problema da Poética de Aristóteles". In: -----. Aprendendo a pensar II. Petrópolis R/J: Vozes, 1992, p. 156.

9

"Zeus, na sua união com Thêmis (Lei Ancestral, Ordem) gera a Ordenação interior de seu reinado, a Ordem em todos os seus aspectos, pois dessa união nascem suas filhas Hôrai e Môirai, que dosam e regram a distribuição de bem e de mal. Isto é possível porque de uma outra união, com Mêtis (sapiência, saber e sabedoria), ele incorpora toda a sabedoria, que lhe assegura um poder sobre o imprevisível, pois com Mêtis ele conhece o bem e o mal, cambiante e instável como a natureza do mar, onde todos, como eternos Ulisses, fazemos a caminhada de travessia" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Ulisses e a Escuta do Canto das Sereias”. In: -----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 163.

10

"Apesar de tu seres absoluta e supremamente justo, também és benigno com os maus, justamente porque és total e supremamente bom. Serias, pois, menos justo, se não fosses benigno com os maus. De fato, é assaz mais justo aquele que é bom para com os bons e com os maus do que aquele que é bom apenas com os bons. E aquele que é bom, punindo e perdoando aos maus, é melhor que quem os pune apenas" (1).


Referência:
(1) ANSELMO, Santo. Proslógio. In: Os Pensadores. Santo Anselmo - Abelardo. São Paulo: Abril Cultural, 2. e., 1979, p. 107.

11

"Mas aquilo que tem partes não é uno, e, sim, composto e distinto de si mesmo e pode-se fracionar, ou na realidade ou pelo ato do pensamento. Porém, isso não se pode afirmar de ti, que és o ser do qual não se pode pensar nenhuma coisa melhor" (1).


Referência:
(1) ANSELMO, Santo. "Cap. XVIII - Como nem em Deus nem na sua eternidade, que é ele mesmo, há pates". In: Proslógio. Coleção: Os Pensadores. Santo Anselmo - Abelardo. São Paulo: Abril Cultural, 2. e., 1979, p. 115.

12

"Que esse Bem é, ao mesmo tempo, e igualmente, o Pai, o Filho e o Espírito Santo, e que, necessariamente, os três são uma unidade que é o total e sumo Bem" (1).
Na Trindade Nada falta porque é o Nada Criativo. Por isso, é o Total e Sumo Bem.


- Manuel Antônio de Castro.
Referência:
(1) ANSELMO, Santo. "Cap. XXIII - Que esse Bem é, ao mesmo tempo, e igualmente, o Pai, o Filho e o Espírito Santo, e que, necessariamente, os três são uma unidade que é o total e sumo Bem" (1). In: Proslógio. Coleção: Os Pensadores. Santo Anselmo - Abelardo. São Paulo: Abril Cultural, 2. e., 1979, p. 118.

13

"As ações, enquanto tais, não são com efeito, nem boas nem más. Por exemplo: o que estamos fazendo neste momento, como seja beber, cantar, falar, nada disto é em si mesmo belo, mas torna-se belo de acordo com a maneira como o fazemos. Se o fizermos segundo as regras do honesto e do justo, torna-se belo; se o fizermos contrariamente à justiça, torna-se feio. O mesmo podemos afirmar de Eros, pois que nem todo Eros é em si mesmo belo e louvável, mas de torna belo quando nos leva a amar segundo as regras do belo" (1).


Referência:
(1) PLATÃO. O Simpósio ou O do Amor. Tradução Revista e Notas: Pinharanda Gomes. Lisboa: Guimarães Editores, 1986, p. 34. Discurso de Pausânias.


14

"A aposta do Bem pelo Bem traz consigo o apelo de vir a ser nas ações o que já se é e não se é no ser que se tem e não se tem. Por outro lado, a urgência da libertação implica e traz consigo o desafio do Bem e do Mal. Percorrer o curso de libertação próprio desta urgência supõe apostar na criação do inesperado que alimenta de esperança toda espera. Radicalmente, nenhuma ética se reduz à prescrição de normas, nem está apenas no cumprimento do dever. Toda prescrição e todo dever já chegam sempre tarde. São um evento temporão" (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "O Édipo em Píndaro e Freud". In: -----. Filosofia contemporânea. Teresópolis/RJ: Daimon Editora, 2013, p. 64.

15

"A realidade, enquanto linguagem e sentido, é o que denominamos: mundo. No amar e quando amamos vigoramos em nosso amor no mundo, isto é, tudo entra no âmbito do sentido, da linguagem, pois sem esta não há sentido, unidade e musicalidade. Amar, portanto, é sempre deixar acontecer mundo e sentido, unidade e musicalidade. Amar como verbo é o deixar vigorar o sentido musical do ser. E é sempre no horizonte de mundo e sentido que acontece verdade, unidade, beleza, bem" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Amar e Ser". In:------. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 317.

16

"O nada é fonte de tudo que é, assim como o silêncio é a fonte de toda fala. Por isso mesmo o nada nos aparece como a morte. Porém, sem esta não há posição para o vivente. Nada é vida. Vida é morte. Todo mal e dor é da nossa condição de humanos finitos. Desse modo o maior mal e a maior dor é a distância do Nada. E o maior bem e plenitude é sua proximidade" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Ulisses e a Escuta do Canto das Sereias”. In: -----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 169.

17

"Então do que deve falar uma Aula Inaugural? Sem dúvida nenhuma, do que é Inaugural. Esta palavra tem muitos significados. Contudo, o que o inaugural inaugura deve ser a questão desta Aula. Escolhi uma questão: a linguagem como nosso maior bem. Mas é disso que justamente Heráclito trata: nosso maior bem é a sabedoria e ela é a linguagem. Mas ela não se pode ensinar, só se pode apreender e compreender como escuta. Por isso, não me escutem, mas auscultem e escutem o Logos. É o que Heráclito nos diz (1): Escutando não a mim, mas o Logos, é sábio concordar que tudo é um " (2).


Referências:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. Linguagem: nosso maior bem. Série Aulas Inaugurais. Faculdade de Letras, UFRJ, 2o. sem. / 2004, p. 5.
(2) HERÁCLITO, Frag. 50. In: Os Pensadores Originários: Anaximandro, Parmênides, Heráclito. Trad. Emmanuel Carneiro Leão. Editora Vozes: Petrópolis / RJ, 1991.

18

"Na realidade, a gramática está estreitamente ligada à retórica e esta se guiava por interesses econômicos e formais, fazendo do logos humano o seu fundamento e interpretando a linguagem como língua, tornando-se esta um instrumento político de tomada do poder e de convencimento das mentes dos cidadãos. É a publicidade de hoje. Platão, diante dessa prática, escreve o diálogo Fedro, onde ataca o formalismo retórico e propõe, em seu lugar, a dialética. Nesta, a linguagem e seu uso são determinados pela ideia de Bem, fazendo do discurso algo de Belo" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. Linguagem: nosso maior bem. Série Aulas Inaugurais. Faculdade de Letras, UFRJ, 2o. sem. / 2004, p. 18.

19

"... a questão do finito só aparece como finito, essencial e inapelavelmente, como sendo ente e ser, ou seja, finito e infinito. Disto resulta que, fundamentalmente, o que somos, somos sempre como língua e linguagem, somos sempre como eu e outro, somos sempre como co-letividade originária, somos sempre como proximidade, onde esta é a memória infinita vigorando. E, como tal, diz respeito a cada um, ao outro, ao presentificado, ao presentificável, a todos os povos. Queiramos ou não, a linguagem é o nosso maior bem. Em que sentido? No da identidade e diferença em relação ao que cada um é, ao ser de cada um, ao ser dos seres. A linguagem é o nosso maior bem, porque é ethos. Ethos é a morada, Casa do Ser: nosso maior bem" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. Linguagem: nosso maior bem. Série Aulas Inaugurais. Faculdade de Letras, UFRJ, 2o. sem. / 2004, p. 23.
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