Posição

De Dicionrio de Potica e Pensamento

Tabela de conteúdo

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Normalmente indicamos uma posição pelas corretas indicações de tempo e espaço. Porém, estas não são causalmente anteriores à posição. Não há posição sem o nós-mesmos, sem o próprio. Por quê? As corretas indicações circunstanciais ainda não indicam nem manifestam o que propriamente somos, o nosso si-mesmo. É que o si-mesmo precede a posição, não cronológica mas ontologicamente. E neste caso dá para perceber bem como se diferenciam o cronológico e o ontológico. A nossa posição manifesta o nosso estar, em qualquer circunstância. E o si-mesmo é o que somos em qualquer circunstância. Os dados circunstanciais indicam e manifestam estados, conscientes ou inconscientes, sociais ou psicológicos, culturais ou familiares. O estar é uma possibilidade do si-mesmo, do próprio, mas este não é determinado nem originado pelo estar e suas circunstâncias. Estas dependem das coordenadas de tempo e espaço e com elas se extinguem e mudam. Já o próprio se afirma e vigora nas e com as circunstâncias sem a elas ficar preso ou delas ficar dependente. No vigorar do que se é, do próprio, as circunstâncias são literalmente circunstanciais. É nesse horizonte que o estou não é o sou. Toda posição é circunstancial, mas o sou a funda. E nem sempre o estou é a manifestação do sou. O estou circunstancial pode ser circunstancial, o que jamais pode acontecer com o sou. É nessa tensão que se dá o autêntico e o inautêntico. O esquecimento do que somos, do que nos é próprio, pode decorrer de o estar tomar o lugar do sou. É por isso que o eu está relacionado às circunstâncias, que podem tornar-se máscaras ou aparências, na medida em que realizamos diferentes papéis ou funções. É claro, isso só acontece quando o estou é mais importante do que o sou.


- Manuel Antônio de Castro
Ver também:
O conto de Machado de Assis: "O espelho" e o conto de Guimarães Rosa: "O espelho", este no livro Primeiras estórias de Rosa.

2

"Não se pode estabelecer todo relacionamento numa posição, a não ser aceitando a multiplicidade de posições. Na multiplicidade você se coloca, assume uma posição. Sempre há o outro, o diferente, tanto o outro do outro, quanto o outro de si-mesmo, em cada posição. O outro é a diferença do próprio movimento de constituir uma diferença, uma posição. Toda posição se mantém num processo de diferenciação, já é em si-mesma um outro e traz consigo a dinâmica de diferenciação de sua proveniência" (1).
A questão da posição se torna decisiva para compreender a profundidade de uma outra questão decisiva na vida de todo ser humano e até na sucessão dialética das épocas: o diálogo. Só há diálogo verdadeiro quando se admitem posições diferentes.


- Manuel Antônio de Castro
Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "O caminho genealógico de Platão". In: --------. Filosofia grega: uma introdução. Teresópolis: Daimon Editora, 2010, p. 212.

3

"Ser é deixar-se tomar pelo vigorar do silêncio. É tomar a posição do acontecer do silêncio, isto é, a não-posição, como fonte de toda e qualquer possível posição" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O mito de Cura e o ser humano". In: --------. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 272.

4

"Explicar a fala é explicar a realidade e o mundo, enfim, a referência de ser e essência do ser humano. É a teoria da proposição. Esta, no discurso de qualquer língua, sempre se faz presente. Mas pode-se pensar a proposição sem já haver uma decisão sobre a posição? E o que tem a ver posição e fala? As teorias gramaticais e linguísticas são já desdobramentos sobre a de-cisão metafísica pelo fundamento, a respeito da referência de ser e ser humano" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O próprio como possibilidades". In: --------. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 126.

5

"Toda fala poética e de pensamento é tomar posição. Não há posição sem o silêncio, o vazio que se retrai e vela em todo posicionar-se. Por quê? No posicionar-se, o ser se dá como presença. Dá-se, retraindo-se. Acolhe, velando-se. É o amar vigorando no e a partir do enigma do mistério" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Amar e ser". In: -----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 293.

6

"Os bens respondem e correspondem às necessidades dos viventes pelo fato de estarem sendo, de ocuparem, como finitos, posições e além posições, pois cada um é um entre-ser. Toda finitude implica liminaridade. O bem responde e corresponde à necessidade do ser vida" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. “O mito de Midas da morte ou do ser feliz”. In: ------. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 206.

7

"O pensar não julga. Pensa. O pensador quando assume o risco o assume inteiramente e não tem por que querer se justificar a priori ou a posteriori. Todo pensar que pensa é um risco, onde sempre se arrisca o tomar uma posição, a posição e risco da não-verdade da verdade e da verdade da não-verdade" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Ser e estar". In:------. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 20.

8

"Mas algo se destaca de uma maneira mais intensa, quando comparado com ser e suas raízes [Aqui está se referindo ao verbo latino sedeo]. Como está em uma tensão direta com stare, o que de imediato se nota é como um e outro são identificados e diferenciados pela questão da posição. Essa questão, na formação do ser pelas raízes tradicionais e de outras línguas, surge de outra maneira. Se aqui é a tensão entre as posições, no ser, ligado à phýsis, a tensão nos advém no seu vigorar em um pólemos, como a-létheia, verdade e não-verdade. Claro que a tensão de posições entre stare e sedére também é uma disputa. Toda disputa já se faz sempre em torno da questão das posições. Portanto, essencialmente, posição, o surgir, já faz acontecer sempre a-létheia" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Ser e estar". In:------. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 52.

9

"Toda posição é posição em mudança. Esta não se resolve numa sucessividade justaposta. A justaposição de dez mil tijolos ainda não é uma casa. Esta implica mais do que as suas posições. Exige em primeiro lugar o vazio, onde eles poderão ocupar uma posição. Sem vazio não há posição. Sem silêncio não há fala nem canto. Portanto, a posição exige sempre algo prévio que possibilite fazer de dez mil tijolos não uma reunião confusa, mas uma casa: o prévio é o sentido e o mundo" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O próprio como possibilidades". In:------. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 130.

10

"Mas a fala do silêncio é mais do que relação e comunicação. São, portanto, linguagem, sentido e mundo que possibilitam as posições como posições, isto é, são as possibilidades de tempo e mundo e suas circunstâncias. Sem ser não há linguagem, sentido e mundo" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O próprio como possibilidades". In:------. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 130.
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