Possibilidade
De Dicionário de Poética e Pensamento
1
- Há a tendência a pensar o Ser como a possibilidade, bem na linha de Aristóteles e da dýnamis, embora não se tematize essa dýnamis em toda a sua complexidade. Heidegger faz alusão ao real como possÃvel no posfácio a "A coisa".
- Diz: "Ser não se contrapõe, de forma alguma, ao não-mais-ser e ao ainda-não-ser. Tanto o não-mais-ser como o ainda-não-ser pertencem ao vigor do ser. A própria metafÃsica, de algum modo, já intui um pouco disso na sua tão pouco compreendida doutrina das modalidades. Segundo a doutrina metafÃsica das modalidades, ao ser pertence não só a realidade e necessidade como também possibilidade" (1).
- O essencial é voltar a Parmênides e pensar a phýsis como: on, me-on, dóxa e noein. Neste sentido, falar de real é sempre pensar o apelo do ser enquanto o ter-sido já desvelado velando-se: alétheia, lógos, phýsis. Ou o fragmento 123 de Heráclito: phýsis krýptesthai phileî: a excessividade poética apropria-se no nada excessivo. Devemos, pois, distinguir a possibilidade do on e a possibilidade do krýptesthai, do nada excessivo, ou seja o nada criativo.
- Referência:
2
- "Os eruditos formais e acomodados preferem guiar-se pelo conforto da memória acumulativa e repetitiva do já produzido. O possÃvel enquanto possÃvel não nos é obscuro? E, no entanto, é a fonte de toda realização na claridade da luz" (1). O erudito não formal é justamente o que pensa e, pensando, deixa-se tomar pelo inaugural, pelo originário, de tal maneira que ser erudito é ser tomado pela sabedoria do que sempre nos convida a pensar: é ser pensador, poeta.
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Eduardo Portella, o professor". In: Quatro vezes vinte - Eduardo Portella - Depoimentos. Rio de Janeiro, Academia Brasileira de Letras, 2012, p. 41.
3
- "O que gostaria de explicar rapidamente, é que chegamos a uma visão da racionalidade que entende o clinamen, que entende o possÃvel, no qual as leis no qual as leis da natureza não expressam a certeza, mas, sim, possibilidades, no qual o futuro permanece aberto, no qual o futuro não é oferecido" (1).
- Referência:
- (1) PRIGOGINE, Ilya. "Estaremos às vésperas de um terceiro humanismo?" In? Revista Tempo Brasileiro. Rio de Janeiro, 168, jan.-mar., 2007, p.8.
4
- "A unidade é, portanto, um poder querer porque é um querer poder. A unidade se constitui de possibilidade de para possibilidades. Todos os passos e escolhas de nossa vida já nos foram dadas como possibilidades de realizá-las, mas elas não extinguem as nossas possibilidades. Pelo contrário, perdem sua mera circunstancialidade entitativa e se tornam o ativar de novas possibilidades para continuar nossos passos e escolhas. Somos essencialmente não um algo, mas possibilidades" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A gota d’água e o mar". In: -----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 242.
5
- "É isso que queremos constatar ao afirmar que não somos nós que temos as questões, mas são elas que nos têm. E nos têm pelo simples fato de que é a Vida que nos tem e não nós que a temos. Quando nascemos significa isso: receber uma vida. Cada um de nós recebe uma vida e, com ela, as possibilidades. Receber vida: receber possibilidades. Essas possibilidades não são algo já estabelecido, caso contrário não seriam possibilidades" (1). Mas, enigmaticamente, elas já constituem o nosso destino, a nossa Moira.
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A gota d’água e o mar". In: -----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 243.
6
- Possibilidade de é a própria condição de possibilidade de, seja de ser, seja de saber, mas onde o ser já nos foi dado e o saber é o a-ser-conquistado enquanto o a-ser-sabido. É isso que Sócrates não cessa de pedir às pessoas em seu viver cotidiano.
7
- a chance de darmos a volta por cima
- depois de todas as tristezas da vida
- é a coisa mais linda que eu já vi (1)
- Referência: