Humano

De Dicionrio de Potica e Pensamento

1

"Depois que Ulisses fora dela, ser humana parecia-lhe agora a mais acertada forma de ser um animal vivo" (1).


Referência:
(1) LISPECTOR, Clarice. Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres. Rio de Janeiro: José Olympio, 4. e., 1974, p. 167.

2

"A originalidade do ser humano é aquela em que o que ele é não é tudo que ele pode. Para ser um ser humano, ele tem de poder ser mais do que o que ele é" (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "O corpo, a terra e o pensamento". In: CASTRO, Manuel Antônio de (org.). Arte: corpo, terra e mundo. Rio de Janeiro: 7Letras, 2008, p. 69.

3

"O pensar se faz uno pelo seu encaminhamento em direção à unidade. Por isso é preciso aprender a pensar, e é por isso que o pensamento não é, por mera dejeção orgânica. O homem, assim, é aquele que, por excelência, habitando a linguagem, propriamente é capaz de fazer esse percurso em direção à unidade. O homem pensa. O homem se articula na simplicidade do pensar, do encaminhamento para a vigência da unidade, do ser, do que ele já é, e ainda não é, do simples e do complexo. Há, no entanto, seres que compõem realidade não menos que o homem, esses seres não deixam de ser, mas não podem percorrer esse encaminhamento para a unidade. Eles são, mas não pensam" (1).


Referência:
(1) JARDIM, Antonio. "Os caminhos da técnica". In: ---. Música: vigência do pensar poético. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 55.

4

" - Para mim o ser humano é uma tremenda criação...Um pensamento inconcebível. No ser humano existe tudo, do mais elevado até o mais baixo. O homem é a imagem de Deus e Deus existe em tudo. E assim o ser humano foi criado, mas também os demônios, os santos, os profetas, os artistas, os iconoclastas. Tudo existe lado a lado. É como se fossem desenhos gigantes mudando o tempo inteiro. Da mesma maneira devem existir inúmeras realidades. Não apenas a realidade que percebemos com nossas obtusas sensibilidades, mas um tumulto de realidades arqueando-se uma em cima da outra, por dentro e por fora. É só o medo e o puritanismo que nos levam a acreditar em limites. Não existem limites. Nem para pensamentos nem para sentimentos. A ansiedade é que estabelece limites " (1).


Referência:
(1) BERGMAN, Ingmar. Sonata de outono. Fala da personagem Eva.

5

A linguagem é o próprio tempo/pensamento se manifestando. Estamos sempre a caminho do pensamento porque ele é a grande questão que a tudo envolve e movimenta. A questão se manifestando é a linguagem enquanto pensamento e verdade. Nós somos radicalmente linguagem no sentido de que somos seres da linguagem. Não é o ser humano que fala, mas a linguagem e quando ela se constitui em nosso a caminho de pensamento aí, então, estamos realizando o que nos constitui originariamente: o humano. Humano não é o que o ser humano faz. É quando ele se deixa tomar pelo ser que o constitui. Se o ser humano quer determinar por sua ação a realidade, ele se perde e se inumaniza, porque pretende ser fundamento do agir. E não há fundamento sem o fundar, que é o vigorar do ser. O humano é o próprio do ser humano. E o próprio é o que lhe foi dado como destino para ser realizado. Só o ser destina. O humano é o destinado do ser no ser humano.


- Manuel Antônio de Castro.

6

"Sem liberdade não há o humano, pois este é o ser humano se pensando no seu sentido de existir e morrer. É por isso que não nos limitamos a um código genético, presente em todos os seres vivos. Viver é fácil, difícil é deixar-se tomar pelo motivo de viver e morrer: a liberdade. A liberdade de ser, não do querer subjetivo" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio. "Apresentanção". In: TAVARES, Renata. Do silêncio à liberdade: Uma aprendizagem ou O livro dos prazeres. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2012, p. 13.

7

“Para um grego, esquecer não é um processo dentro do sujeito. Esquecer é um acontecimento ontológico em que o homem se realiza, na medida em que os descobrimentos e revelações lhe encobrem sua própria realização. Isto significa: o homem também se vela para si mesmo sempre que consegue revelar-se num empenho de ser e desempenho de não ser. Para realizar-se, o homem tem tanto de esquecer como de recordar. É o sentido de a coruja ser o animal-totem da sabedoria humana”, (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Martin Buber". In:---. Filosofia grega - uma introdução. Teresópolis: Daimon Editora, 2010, p. 52.

8

"Ser humana não era um mundo de dores pré-definidas, mas a abertura para a grandeza inestimável do silêncio e do mistério. E, nesta abertura, havia o prazer profundo de tocar o infinito e sentir a beleza do humano do homem" (1).


Referência:
(1) TAVARES, Renata. Do silêncio à liberdade - Uma Aprendizagem ou O livro dos prazeres. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2012, p. 107.

9

"Não use a palavra "Deus". Diga Santidade. Há santidade em todas as pessoas. Santidade humana. Todo o resto são atributos, disfarce, manifestação e truque. Não se pode decifrar ou capturar a santidade humana. Ao mesmo tempo... é algo que podemos pegar. Algo tangível que dura até a morte. O que acontece depois é escondido de nós. Apenas os poetas, músicos e santos... é que podem descrever aquilo que podemos apenas discernir: o inconcebível. Eles viram, conheceram, compreenderam... não totalmente, mas de modo fragmentado. Para mim é um conforto pensar na santidade humana" (1).


Referência:
(1) Ingmar Bergman. No filme A ilha de Bergman, de Marie Nyreröd. Bergman escolhe essa fala de um bispo, personagem do seu filme com Liv Ulmann, Confissões privadas, para dizer, sinteticamente, o que ele pensa a propósito dos temas religiosos de seus filmes.

10

Em Platão, todos os diálogos movem-se sempre na procura da compreensão do humano enquanto essência da verdade e esta como a essência do humano. É que a essência da verdade é a verdade da essência e, portanto, do humano. Foi sempre uma questão de pensamento. Nesse horizonte, o humano jamais pode ser reduzido a um conceito generalizante ou mesmo a um gênero (masculino ou feminino). Inclui-os sem se reduzir a eles.


- Manuel Antônio de Castro.

11

"Viver é muito perigoso... Querer o bem com demais força, de incerto jeito, pode já estar sendo se querendo o mal, por principiar. Esses homens! Todos puxavam o mundo para si, para o concertar consertado. Mas cada um só vê e entende as coisas dum seu modo" (1).


Referência:
(1) ROSA, João Guimarães. Grande sertão: veredas. Rio de Janeiro: José Olympio, 1968, p. 16.

12

"O humano é o ético como medida do que cada um é, pois o ético é a medida do ser em tudo que somos e não somos" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O humano, o poético e a contracultura". In: www.travessiapoetica.Blogspot.com.

13

"A eclosão do que seja o ser humano já acontece sempre no destinar-se da verdade do sentido do ser" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A globalização e os desafios do humano". In: Revista Tempo Brasileiro, 201/202 - Globalização, pensamento e arte. Rio de Janeiro, abr.-set., 2015, p. 12.

14

"Com isso, deixamos de lado a representação corriqueira do que seja habitar. De acordo com essa representação, habitar continua sendo simplesmente um modo do comportamento humano, dentre tantos outros. Trabalhamos na cidade e habitamos fora. Empreendemos uma viagem e habitamos ora aqui, ora ali. Nesse sentido, habitar é sempre apenas a posse de um domicílio. Quando Hölderlin fala do habitar, ele vislumbra o traço fundamental da presença humana. Ele vê o "poético" a partir da relação com esse habitar, compreendido nesse modo vigoroso e essencial" (1).


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. "...poeticamente o homem habita...". Trad. Marcia Sá Cavalcante Schuback. In: -----. Ensaios e conferências. Tradução de Emmanuel Carneiro Leão, Gilvan Fogel, Marcia Sá Cavalcante Schuback. Petrópolis R/J: Vozes, 2001, p. 161.

15

" No caso da palavra "super-homem", precisamos de cara afastarmo-nos de todas as entonações falsas e provocadoras de confusão e de desvio que soam para a opinião habitual. Com o nome "super-homem", Nietzsche precisamente não se refere à superdimensionalização do homem até hoje vigente. Ele também não pensa uma espécie de homem que descarta o humano e que faz da arbitrariedade nua e crua a lei e da fúria titânica, a regra. Tomando, antes, a palavra em sentido literal, o super-homem (Über-mensch) é o homem que vai para além do homem até hoje vigente, tão-só e sobretudo para trazer, e aí ratificar, este homem para a sua essência ainda pendente ou por vir. Uma anotação para o Zaratustra diz (XIV, 271): "Zaratustra não quer perder nenhum passado da humanidade - fundir tudo" "(1).


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. "Quem é o Zaratustra de Nietzsche". Trad. Gilvan Fogel. In: ------. Ensaios e conferências. Petrópolis / RJ: Vozes, 2002, p. 91.

16

"A essência do ser humano é a sua referência ao ser. Daí não poder ficar determinada pelo instrumental ditado seja lá por qual sistema for. Nesse sentido de disciplina e sistema, a dança é o não-conhecimento porque é o não-sistema, porque é o livre dar-se e manifestar-se do que cada um já desde sempre é. Dança é sempre travessia, história, obra. E obra é o que opera. Opera o quê? A educação do humano pelo deixar vigorar o seu princípio constitutivo. Aqui está a questão. O princípio constitutivo do humano é o estético ou o poético? Dança não pode ficar reduzida a vivências estético-sentimentais, a um espetáculo para os olhos ou prazeres dos sentidos" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. “Aprender com a dança: fluxos e diálogos poéticos”. In: TAVARES, Renata (org.). O que me move, de Pina Bausch – e outros textos sobre dança-teatro. São Paulo: LibersArs, 2017, p. 82.

17

"Pensa-se que destino é o que a razão, fonte do livre agir do ser humano, não podia determinar nem controlar. Pela visão racionalista, o destino se opõe à liberdade humana. No existir o ser humano deve-se dar livremente a sua essência, o seu genos enquanto seu quinhão. Nessa visão, a existência precede e determina a essência. O existir enquanto o como é deve determinar livremente o que é. O homem não tem um destino, dá-se um destino. Esta foi a utopia moderna, esquecida dos ensinamentos do mito de Édipo" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Poético-ecologia". In: Manuel Antônio de Castro, (org.). Arte: corpo, mundo e terra. Rio de Janeiro: 7Letras, 2009, p. 26.

18

"Numa sociedade complexa, que demanda mais adequação às suas funções, a não-correspondência a tais funções pode ser catastrófica. Esse é geralmente um dos lados bem recebidos e desejados do desenvolvimento cibernético. Nesse sentido, portanto, o ciborgue é uma ampliação das possibilidades do humano. O que antes não era possível para quem perdeu um braço agora é possível. Embora não apague a dor da perda do braço, reverte a da perda da função. Então, o importante aqui é a função".


Referência:
(1) LIRA, André. "O ciborgue frente ao real". In: Revista Tempo Brasileiro: globalização, pensamento e arte, 201/202, abr.-set.,2015, p. 79.

19

"E quanto a Watson, o computador da IBM que promete ser muito mais eficiente do que médicos no diagnóstico e tratamento de doenças? Ele agrega as informações e referências de inúmeros artigos e livros científicos. Ele não pensa, tampouco faz pesquisa científica, apenas relaciona informações. Em última instância, é a compreensão da inteligência em torno do pensamento humano: coletar e relacionar informação. Estará o robô servindo como instrumento para servir os médicos a melhorarem a saúde dos seus pacientes, como querem seus proponentes? Ou estará o robô substituindo o médico, cada vez mais desobrigado de olhar para, de cuidar e pensar seu paciente?" (1).


Referência:
(1) LIRA, André. "O ciborgue frente ao real". In: Revista Tempo Brasileiro: globalização, pensamento e arte, 201/202, abr.-set., 2015, p. 82.

20

"As evidências inquestionáveis que acontecem na dobra tensional de ser e essência do ser humano são:
1ª. Todo ser humano é uma doação presentificadora da phýsis;
2ª. Toda cultura é manifestação da phýsis, enquanto o efetivar-se das possibilidades do humano do ser humano.
Estas duas evidências inquestionáveis nos colocam diante de duas questões em tensão ou dobra permanente: phýsis e ser humano, onde a cultura, como lugar do acontecer dessa tensão, tanto se refere à phýsis quanto se refere ao ser humano. Sem essa referência poética não há cultura nem o humano de todo ser humano se manifesta. Há cultura onde houver sentido e vigorar da linguagem. As diferenças culturais se fundam no acontecer do sentido do ser enquanto linguagem. Tal fundar dá-se e constitui a essência do agir do ser humano. O ser humano torna-se humano quando se experincia no horizonte do sentido do ser e na medida em que habita a linguagem, casa do ser" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. " Phýsis e humano: a arte”. In: -----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 263.

21

"Não é a cultura que faz o homem nem ela se opõe à phýsis. Se o homem, parece, está referenciado à cultura, na verdade, pela cultura o homem se referencia à phýsis. Isso fica, de novo, evidente pelo fato de que diante do enigma e mistério da phýsis, o ser humano não só cultiva, mas, sobretudo e em primeiro lugar, ele cultua. O culto na e pela cultura já evidencia que tudo provém dela porque nela se funda: o ser humano, o cultivado, a cultura e o culto. Nesta evidência não é a identidade cultural que faz o ser humano nem ele se dá essa identidade, mas o ser humano manifestando na cultura a phýsis, manifesta-se como humano e, manifestando-se como humano, eleva a phýsis ao seu grau máximo de realização (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. " Phýsis e humano: a arte”. In: -----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 264.

22

"O uso de um órgão/parte do corpo humano para descrever um aspecto metafísico é uma prática comum no mundo inteiro. Os textos e símbolos do Antigo Egito são vastamente permeados com este entendimento de que o homem (no todo e em partes) é a imagem do Universo (no todo e em partes)" (1).


Referência:
(1) GADALLA, Moustafa. "O Ser Humano". In: ------. Cosmologia egípcia - o universo animado. Trad. Fernanda Rossi. São Paulo: Madras Editora, 2003, p. 95.

23

"Todo o mito (toda travessia humana) gira em torno da fala e da escuta" (1). Todo mito é uma experienciação poética da travessia humana, pois todo mito se tece e entretece em torno da alguma questão ou algumas questões. É nestas que todo ser humano realiza a sua travessia.


- Manuel Antônio de Castro.


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Ulisses e a Escuta do Canto das Sereias”. In: -----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 157.

24

"O universal do paradigma também gera uma diferença, pois diz respeito tanto à verdade de uma época, quanto à verdade de cada identidade cultural. A questão do universal sempre foi não apenas uma questão lógica e epistemológica, mas essencialmente ontológica e é nesta que se deve pensar o humano" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A globalização e os desafios do humano". In: Revista Tempo Brasileiro, 201/202 - Globalização, pensamento e arte. Rio de Janeiro, abr.-set., 2015, p. 19.

25

"É necessário retomar o ético de todo conhecimento, na medida em que este tem, necessariamente como medida ontológica e princípio de realização, o humano. O que está faltando é se pensar com radicalidade a essência do agir em tudo, sobretudo no educar do ser humano, uma vez que fazer ainda não é ser. E só na vigência deste se age essencialmente. Não basta fazer é necessário ser o que se faz" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A globalização e os desafios do humano". In: Revista Tempo Brasileiro, 201/202 - Globalização, pensamento e arte. Rio de Janeiro, abr.-set., 2015, p. 24.

26

"Se globalização é rede, há necessidade para o humano de uma rede poética. Será mais uma rede na feira das redes ou ela se propõe ser mais do que uma entre outras tantas redes? O que nessa rede está em rede? Quando dizemos rede poética não estamos já pensando a essência da rede, se ela por ser poética for ontológica? É o grande desafio: pensar o que nos dá o sentido de existir. O que nos leva a constituir uma rede poética não são os humanismos, nem mais um humanismo, mas o que em todo ser humano o constitui como próprio: é o humano de todo ser humano. Eis o motivo que move a rede poética" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A globalização e os desafios do humano". In: Revista Tempo Brasileiro, 201/202 - Globalização, pensamento e arte. Rio de Janeiro, abr.-set., 2015, p. 25.

27

Todos sabemos que Platão desenvolveu seu pensamento escrevendo quase exclusivamente diálogos. Nisso, era movido por algum motivo muito forte, não sendo jamais uma questão de gênero, de estilo literário ou de opção estética, muito menos metodológico, o que nos indica que neles o que está em questão é o próprio caminhar como trajetória de compreensão do que seja o humano e sua verdade, enquanto processo de realização, libertação e consumação. Todos os diálogos movem-se sempre na procura da compreensão do humano enquanto essência da verdade e esta como a essência do humano. É que a essência da verdade é a verdade da essência e, portanto, do humano. Foi sempre uma questão de pensamento" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Dialética e diálogo: A verdade do humano". In: Revista Tempo Brasileiro, 192, Dialética em questão I. Rio de Janeiro, jan.- mar., 2013, p. 12.

28

"Pelo perguntar o homem está sempre adiante dele mesmo: o homem que pergunta radicalmente é o homem trágico: as respostas não o esgotam nem o definem: evidenciam o humano" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "As faces do trágico em Vidas Secas". In: -----. Travessia Poética. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1977, p. 73.

29

"...Não é possível obter um pouco de clareza e transparência a seu respeito se não se tomarem a autenticidade e suas manifestações pela radicalidade de tudo que é humano. Enquanto se persistir em enfrentar os desafios da autenticidade, supondo simplesmente que já se sabe o que é o humano do homem e já se sabe o que se sabe, pelo fato de ser homem e se pertencer à humanidade, a verdadeira questão e o desafio essencial ficarão sempre para trás, às costas de qualquer esforço de elaboração" (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "A autenticidade e a morte". In: -------------. Filosofia contemporânea. Teresópolis (RJ): Daimon Editora, 2013, p. 133.

30

"Se a questão tem o homem, ela se dá no homem. Há, pois uma tensão, entre o homem como ente e o humano do homem que faz do homem um entre, aquele que sendo ente é ente aberto para o Ser-Tao. Nessa abertura que faz do homem um entre-ser, o humano consiste na demanda do ser, realizável dentro do ser como Tao. Tao é uma misteriosa palavra chinesa que, entre outros sentidos, assinala a caminhada dos caminhos nos quais e pelos quais o humano do homem vem a ser o que é no como enquanto Tao do Ser: o Ser-Tao, Veredas" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. “Grande ser-tao: diálogos amorosos”. In: SECCHIN, Antônio Carlos et alii. Veredas no sertão rosiano. Rio de Janeiro: 7Letras, 2007, p. 143.

31

" - Qual o aprendizado que se pode tirar do isolamento? ".
- Aquilo que já sabíamos e havíamos esquecido: somos um só corpo, com todo o planeta. Não existe nada nem ninguém separado. Somos a vida da Terra em transformação e pertencemos à espécie humana. Não importa se seus olhos são redondos ou puxados, se a cor da sua pele é clara ou escura, onde você nasceu, que língua fala" (1).


Referência:
(1) "O vírus faz lembrar que somos todos humanos". Entrevista dada pela Monja Coen - Líder espiritual - à jornalista Maria Fortuna. In: O Globo, Segundo Caderno, 19-03-2020, p. 1.

32

"Ecologia é uma questão. A questão é maior do que o homem. No questionar não é o homem que questiona. É a questão que nos questiona. Para questionar é preciso dialogar. O diálogo é uma questão. No dialogar não é o homem que dialoga. É o logos que nos dialoga" (1).
Devemos compreender que o homem só se torna humano na medida em que deixa nele vigorar a questão.


- Manuel Antônio de Castro
Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Poético-ecologia". In: Manuel Antônio de Castro (org.). Arte: corpo, mundo e terra. Rio de Janeiro: 7Letras, 2009, p. 16.

33

"Disto podemos concluir também que quanto mais se desenvolver no homem a capacidade de perguntar, mais humano ele se torna, mais ele se realiza como homem, mais ele se humaniza" (1).


Referência:
(1) HUMMES, o.f.m. Cláudio. Metafísica. Mimeo. Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963. Depois tornou-se Bispo e hoje é Cardeal.

34

"Desta finitude do espírito humano nasce a tensão típica do homem. O homem tem sede do infinito, embora nunca possa superar totalmente sua finitude. O espírito finito, enquanto é espírito, exerce a si mesmo e ao outro sob a luz e no horizonte do ser infinito, o qual lhe está fundamentalmente aberto e lhe dá precisamente o ser espírito, o condiciona como espírito. Mas como finito, o espírito humano deve sempre de novo recomeçar em direção ao infinito, deve perguntar sempre mais avante pelo sentido de ser ilimitado e por isto também pelo sentido dos entes finitos e de si mesmo, pois somente se fosse capaz de atingir plena e perfeitamente o sentido do ser ilimitado poderia através dele determinar plena e perfeitamente o sentido dos entes, pois estes recebem todo o seu sentido a partir do sentido do ser ilimitado. Todavia, o ser ilimitado é infinito e por isto, como tal, inacessível totalmente ao espírito finito. Temos, portanto, os termos da tensão existencial humana: de um lado, o homem foi criado para o infinito porque ele é espírito e espírito significa exercer-se e exercer os outros sob a luz e no horizonte do infinito. E, de outro lado, este infinito, nunca lhe é dado totalmente, porque ele mesmo não é infinito, mas apenas tem uma abertura ao infinito" (1).


Referência:
(1) HUMMES, o.f.m. Frei Cláudio. Metafísica. Mimeo. Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963. Depois tornou-se Bispo e hoje é Cardeal.

34

"Desta finitude do espírito humano nasce a tensão típica do homem. O homem tem sede do infinito, embora nunca possa superar totalmente sua finitude. O espírito finito, enquanto é espírito, exerce a si mesmo e ao outro sob a luz e no horizonte do ser infinito, o qual lhe está fundamentalmente aberto e lhe dá precisamente o ser espírito, o condiciona como espírito. Mas como finito, o espírito humano deve sempre de novo recomeçar em direção ao infinito, deve perguntar sempre mais avante pelo sentido de ser ilimitado e por isto também pelo sentido dos entes finitos e de si mesmo, pois somente se fosse capaz de atingir plena e perfeitamente o sentido do ser ilimitado poderia através dele determinar plena e perfeitamente o sentido dos entes, pois estes recebem todo o seu sentido a partir do sentido do ser ilimitado. Todavia, o ser ilimitado é infinito e por isto, como tal, inacessível totalmente ao espírito finito. Temos, portanto, os termos da tensão existencial humana: de um lado, o homem foi criado para o infinito porque ele é espírito e espírito significa exercer-se e exercer os outros sob a luz e no horizonte do infinito. E, de outro lado, este infinito, nunca lhe é dado totalmente, porque ele mesmo não é infinito, mas apenas tem uma abertura ao infinito" (1).


Referência:
(1) HUMMES, o.f.m. Frei Cláudio. Metafísica. Mimeo. Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963. Depois tornou-se Bispo e hoje é Cardeal.

35

"Ser feliz é procurar e deixar vigorar o ético. Trata-se, então, do ético-poético e não de meros valores morais instituídos e repetidos como modelo. É no ético-poético que acontece o humano, fonte de toda felicidade. E dele não há modelo, porque cada ser humano é sempre um próprio irrepetível" (1).


Referência:
(1) : CASTRO, Manuel Antônio de. “O mito de Midas da morte ou do ser feliz”. In: ------. ‘’Arte: o humano e o destino’’. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 186.

36

"Se o mito foi silenciado nem por isso deixou de vigorar à margem, sobretudo na terceira, comparecendo como o mítico. O mítico é a essência do humano vigorando. Em todos os tempos e culturas do mítico originaram-se todas as manifestações artísticas. Essencialmente, o humano é o artístico acontecendo" (1).


Referência:
(1) : CASTRO, Manuel Antônio de. “O mito de Midas da morte ou do ser feliz”. In: ------. ‘’Arte: o humano e o destino’’. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 187.

37

"A essência da músicaunidade de todas as Musas – é o sentido do humano acontecendo enquanto sentido de saber, querer e ser" (1).


Referência bibliográfica:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O mito de Midas da morte ou do ser feliz". In: -------. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 195.

38

"Qual é a essência da sabedoria? Ela estará radicalmente ligada ao poético e ético do humano. E este não pode ser ensinado, só experienciado. E isso as análises das obras de arte nunca podem conseguir. Nelas, destrói-se o poético e ético para se criar um conhecimento crítico objetivo-científico, resultante da análise crítica. A medida do real para a ciência tornou-se o calculável. O cálculo racional é a medida da tecno-ciência. O humano é sem medida calculável. A sua medida é outra. A sua medida é o poético" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Leitura e Crítica". In: ---------. Leitura: questões. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 131.

39

"Educar não é uma questão de escola e currículo. É uma questão de ser, de humanizar-se sendo o que recebeu para ser. O humano de todos os homens é inerente a todas as épocas, povos e suas culturas. Desde a eclosão do ser humano na vida, há educar porque ele diz respeito à eclosão de mundo, sendo indissociável da essência do ser humano e da verdade no acontecer da realidade. Educar diz respeito sempre, portanto, à realização poética do ser humano enquanto vigora na verdade do sentido do ser" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Educar poético: diálogo e dialética". In: ..... e outros. O educar poético. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2014, p. 15.

40

"A imagem-questão é a imagem-poética con-vocando-nos para a escuta das grandes questões, onde essa escuta é a condição fundamental de todo diá-logo e de todas as interpretações, enfim, de todas as leituras. Na imagem-poética comparece sempre a poiesis como vigor do sentido do agir essencial e, ao mesmo tempo, o ethos, como linguagem e sentido do ser. Na medida em que é ethos e sentido, a leitura interpretativa se torna o horizonte onde se decide a essência do ser humano, enquanto valor e sentido. Ético é o humano de todo ser humano. Por isso, de ethos se originou a ética" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Obra de arte e imagem-questão". In: ---------. Leitura: questões. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 235.

41

O Nada é o véu do Ser. A questão do humano é propriamente essa referência. Nela o ser humano se defronta com o Nada. Originariamente o ser humano já está lançado no Nada, pois seu verdadeiro realizar-se é ser o não-ser que, paradoxalmente, ele já é.


- Manuel Antônio de Castro.

42

"A arte é o meio, o caminho, a vereda que nos leva à procura do próprio de cada ser humano. Sim, é isso: são, portanto, as obras de arte - alimento para nos fazer pensar e nunca para nos doutrinar - que questionam o que é o humano, o que é a realidade e o que é o destino. HUMANO-REAL-DESTINO: essas três questões são grandes enigmas da VIDA - essa também o é - e jamais podemos reduzi-las a conceitos herméticos, aprisionantes do acontecer incessante da ARTE e do SER" (1).


Referência:
(1) CARVALHO, Taís Salbé. "João Guimarães Rosa e a criação poética". In: ---. Viajar e existir em Primeiras Estórias, de João Guimarães Rosa. São Carlos - SP: Editores Pedro & João, 2022, p. 95.
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