Felicidade

De Dicionrio de Potica e Pensamento

1

"Na maior parte das vezes, a nossa felicidade ou infelicidade não deriva da vida propriamente dita, mas do sentido que lhe damos. Dediquei minha vida a tentar explorar esse sentido" (1).
Como cada um recebeu um projeto de vida, o que somos para ser, justamente ligado a essa procura de sentido, só a sua realização nos pode tornar felizes. Quando esse sentido não é procurado e não se torna o motivo de nosso viver, necessariamente surge a infelicidade.


- Manuel Antônio de Castro.
Referência:
(1) PAMUK, Orhan. A maleta de meu pai. São Paulo: Cia. das Letras, 2007, p. 66.

2

"De onde eu tinha tirado essa ideia de que a felicidade é que media a qualidade da vida de uma pessoa?" (1).
A felicidade da vida está na medida ou a medida está na felicidade? Por que esta pergunta em torno da medida? Não podemos esquecer que era a hybris - desmedida - que trazia a infelicidade e a desgraça, lançando a pessoa no mais profundo sofrimento. Por isso, em nossa vida toda ação ética tem como fundo a justa medida. Assim sendo, a medida se torna para o ser humano em seu agir e viver a questão decisiva. A presença mais efetiva da medida está na morte. Esta, em última e primeira instância, é a medida do sentido. Mas não há morte sem vida (zoé, em grego). É nesse sentido que eros e thanatos são para nós, mortais, a fonte de todas as grandes experienciações. Neste horizonte percebe-se bem como é importante diferenciar experiência e experienciação. Nesta está presente sempre um sentido ético de realização, de procura da felicidade e não simplesmente de novos conhecimentos.


- Manuel Antônio de Castro.
Referência:
(1) PAMUK, Orhan. A maleta de meu pai. São Paulo: Cia. das Letras, 2007, p. 66.

3

"... Apenas na solidão pode-se descobrir que o diabo não existe. E isto significa o infinito da felicidade. Esta é a minha mística" (1).


Referência:
(1) Entrevista com Guimarães Rosa, conduzida por Günter Lorenz no Congresso de Escritores Latino-Americanos, em janeiro de 1965 e publicada em seu livro: Diálogo com a América Latina. São Paulo: E.P.U., 1973. Acessada no site: www.tirodeletra.com.br/entrevistas/Guimarães Rosa - 1965.htm, p. 10.

4

"Não procuro o prazer, procuro a felicidade, o prazer sem a felicidade não é prazer" (1).


Referência:
(1) KUNDERA, Milan. A insustentável leveza do ser. São Paulo: Círculo do livro, s/d., p. 174.

5

Felicidade é a harmonia e unidade de cada um, em seu mundo próprio, nos diferentes e contínuos embates com nossos limites, enquanto sentido e verdade como travessia de vida. O ser feliz nos presenteia a felicidade.


- Manuel Antônio de Castro

6

"Desse modo, a filosofia é útil tanto ao jovem quanto ao velho: para quem está envelhecendo sentir-se rejuvenescer através da grata recordação das coisas que já se foram, e para o jovem poder envelhecer sem sentir medo das coisas que estão por vir; é necessário, portanto, cuidar das coisas que trazem a felicidade, já que estando esta presente, tudo temos, e, sem ela, tudo fazemos para alcançá-la" (1).


Referência:
(1) EPICURO. Carta sobre a felicidade (a Meneceu). Trad. e Apresentação de Álvaro Lorencini e Enzo Del Carratore. São Paulo: Editora UNESP, 2002, p. 21.

7

"A angústia nos corta a palavra. Pelo fato de o ente em sua totalidade fugir e, assim, justamente, nos acossar o nada, em sua presença, emudece qualquer dicção do "é". O fato de nós procurarmos muitas vezes, na estranheza da angústia, romper o vazio silêncio com palavras sem nexo é apenas o testemunho da presença do nada. Que a angústia revela o nada é confirmado imediatamente pelo próprio homem quando a angústia se afastou. Na posse da claridade do olhar, a lembrança recente nos leva a dizer: Diante de que e por que nós nos angustiamos era "propriamente" - nada. Efetivamente: o nada mesmo - enquanto tal - estava aí" (1).
De alguma maneira a angústia está ligada à nossa condição humana de finitos, ou seja, à nossa finitude, pois nesta nos defrontamos com o nada que elimina quaisquer limites e então surge a angústia diante do infinito. É que a finitude se faz presente em todo o nosso caminhar, em todo o nosso querer, em todas as nossas ações em sua essência. Como fica a nossa liberdade e o nosso conhecer? Devemos seguir Sócrates quando diz que só sei que nada sei? Certamente somente o ser humano é tomado pela angústia, pois só ele é finito e sabe que é finito diante do infinito. Como fica diante da finitude a nossa plenitude e felicidade?


- Manuel Antônio de Castro
Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. "Que é metafísica?". In: ------. Heidegger. Coleção Os pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1979, p. 40.

8

"Se a felicidade estivesse nos prazeres do corpo), deveríamos chamar felizes os bois quando encontrassem capim para comer" (1).


(1) HERÁCLITO. Fragmento 4. In: Os pensadores originários - Anaximandro, Parmênides, Heráclito. Trad. Emmanuel Carneiro Leão. Petrópolis: Vozes, 1991, p. 59.

9

"O Rei Midas se embrenha na floresta em busca de Sileno, o sábio preceptor de Dioniso. Uma angústia o move. É que nem o viver, nem o poder, nem o ter, nem o ser asseguram a felicidade. Midas pergunta a Sileno o que, então, o homem tem de fazer para ser feliz! A resposta é melancólica: Mísero mortal, athlios brotos, por que desejas sabê-lo? - O que o homem pode fazer para ser feliz é não nascer. Mas uma vez que já nasceu, só lhe resta mesmo é morrer"! (1)


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. “O Cânone da felicidade”. In: Revista Tempo Brasileiro - Aporias do Cânone, 129. Rio de Janeiro, abr.-jun., 1997, p.10.

10

"Quando nosso ser está em jogo, então trata-se fundamentalmente de sermos ou não felizes, já que a plenitude do que somos é nosso maior empenho e penhor" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. “O mito de Midas da morte ou do ser feliz”. In: ---. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 188.

11

"Viver já estamos vivendo. Morrer já estamos morrendo sempre. Viver é morrer para que morrendo vivamos. O que isso implica? Uma procura permanente e radical: ser o que não-é, ou seja, ser feliz. Onde ser feliz é ser o não-ser. Não é apenas uma negatividade positiva, é toda a positividade do ser feliz. Negatividade, fora das relações funcionais entitativas, jamais indica mal, só o bem" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. “O mito de Midas da morte ou do ser feliz”. In: ---. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 206.

12

" - O que aprendeu com clientes famosos, como Maradona e a família Kirchner?"
" - Todos nós, seres humanos, necessitamos que nos amem, que nos aceitem e que nos valorizem. Todos. Atrás de todo excesso, seja de trabalho, de amor, de dinheiro, de poder, de prestígio, de fama...atrás de cada excesso, há uma carência, alguma coisa que faltou. O único elemento que dá paz e ordem a seu cérebro é o amor. É impossível não estar feliz se houver amor de boa qualidade" (1).


Referência:
(1) PICASSO, Juan Antônio - terapeuta cogninitivo-comportamental. In: O GLOBO, p. 2, 30-11-2017. Entrevista dada a GABRIEL ROSA.

13

"Para o vivente só uma necessidade o angustia: ser vida, ser pleno e feliz. Felicidade é a plenitude acontecendo para a nossa condição de finitos. Só podemos, porém, falar em plenitude porque é essa, e só essa, que se torna a medida do que não é pleno. Satisfazer as necessidades com bens é ainda ser pleno na medida exata do bem dessa necessidade. Sentir dor e sofrimento é ainda a não satisfação da necessidade desse bem. É nesse âmbito, e só nesse, que se pode falar em mal. Sentimo-nos mal e carentes quando o que queremos como bem necessário nos é tirado" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. “O mito de Midas da morte ou do ser feliz”. In: ---. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 206.

14

"Realizar-se: eis o ser feliz" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. “O mito de Midas da morte ou do ser feliz”. In: ---. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 207.

15

síntese que realizou, ele mesmo deu a denominação de filosofia cristã. O núcleo em torno do qual gravitam todas as suas ideias é o conceito de beatitude. O problema da felicidade constitui, para Agostinho, toda a motivação do pensar filosófico. Uma das últimas obras que redigiu, a Cidade de Deus, afirma que o homem não tem razão para filosofar, exceto para atingir a felicidade " (1).


Referência:,
(1) PESSANHA, José Américo Motta (Consultor). Santo Agostinho - Vida e Obra. Confissões - De Magistro. Coleção: Os Pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1980, p. XIII.

16

"Nunca se é feliz, está-se sempre aprendendo a ser feliz, pois este é o acontecer do que já desde sempre somos em tudo que não somos e estamos sendo. Chegar a ser feliz é a perfeita solidão, o almejar ficar sendo o que se é" (1).


CASTRO, Manuel Antônio de. "Ser e pensar: o aprender". In: ... . Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 71.

17

"Só serei feliz se souber querer a essência do agir para ser. Se for no que ajo e conheço, serei feliz. Isso significa: temos muitos empenhos na vida, muitas ações, mas só uma e tão-somente uma é essencial – aquela que implica ser, ser e nada mais. Ser é, portanto, conhecer-se a partir do que já é, do vigorar do ser" (1).


Referência bibliográfica:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O mito de Midas da morte ou do ser feliz". In: ---. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 193.

18

"Só questionamos porque algo se torna o cuidado de nossa pro-cura: a) porque sabemos e não-sabemos (inteligência); b) porque queremos e não-queremos (vontade). É nessa dobra de inteligência e vontade, fundados no ser, que se dá a questão do ser feliz. A felicidade é a mais difícil e harmônica unidade de saber, querer e ser no estar sendo. Ser feliz é deixar-se tomar pela essência da musicalidade, a unidade do vigorar da realidade acontecendo" (1).


Referência bibliográfica:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O mito de Midas da morte ou do ser feliz". In: ---. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 194.

19

"A felicidade, para ser saber, tem de se mover na luz da clareira de Apolo e mergulhar como sabor na dimensão de dzoé-Dioniso, tornando-se a sabedoria da phýsis, dando-se na luz como sentido do ser. Esta é a medida do ser feliz. O sabor do saber jamais é irracional, o sabor da felicidade jamais é irracional. É apaixonado pela proximidade. Nele vigem Apolo e Dioniso, e faz de tal saber a paixão da sabedoria. A paixão e a sabedoria como Penhor dos empenhos é a felicidade. Esta não pode ser tentada, buscada, procurada a partir do saber da razão e muito menos ser julgada no seu tribunal, pelo qual tudo que não for de seu âmbito e delimitação cai na vulgaridade e superficialidade do irracional, o que não é próprio nem alcançado pela luz da razão" (1).


Referência bibliográfica:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O mito de Midas da morte ou do ser feliz". In: ---. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 201.

20

a felicidade deixou de ser novidade
esperando minha chegada
e eu envelheci
procurando a felicidade
nos lugares onde ela não morava (1)


Referência:
(1) KAUR, rupi. meu corpo / minha casa. Trad. Ana Guadalupe. São Paulo: Editora Planeta, 2020, p. 108.

21

parei de lutar contra
os sentimentos incômodos
e aceitei que ser feliz
não tem nada a ver com
se sentir bem o tempo todo
- equilíbrio (1)


Referência:
(1) KAUR, rupi. meu corpo / minha casa. Trad. Ana Guadalupe. São Paulo: Editora Planeta, 2020, p. 157.

22

"A medida da razão não pode nos determinar o caminho do ser feliz. A razão é o saber do ente esquecido do sentido do ser. A sabedoria e felicidade só podem doar-se no ente a partir do ser" (1).


Referência bibliográfica:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O mito de Midas da morte ou do ser feliz". In: ---. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 202.

23

"A busca de Deus, dizia Santo Agostinho, é busca de felicidade. O encontro com Deus é a própria felicidade" (1).


Referência bibliográfica:
(1) MENDES, Márcio. A vida no poder do Espírito Santo. 43e. Editora Canção Nova - Cachoeira Paulista, SP, Brasil, 2007, p. 21.
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