Necessidade

De Dicionrio de Potica e Pensamento

1

"Toda necessidade é indigência" (1).
Então podemos perguntar: indigência de quê? Todo ente enquanto ente tem indigência de ser. Por isso, essencialmente, o que se é deve-se necessariamente desdobrar no como é, num duplo sentido: o do ente que já é e quer ser, necessita, tem indigência de ser. Mas toda indigência do ente também é indigência do ser enquanto é ser do ente e do ser enquanto é a diferença não só do ente mas também do ser do ente, na medida em que o ser não é, pois se fosse seria ente e não ser. Isto, em termos de indigência, origina duas pro-curas:
1ª - aquela ao nível do ente enquanto o como do ente;
2ª - aquela ao nível do ser, como o originário permanente e inesgotável de todo ente e do ser: o não-ser.
A primeira diz respeito às diferentes pro-curas que se esgotam no nível das procuras.
A segunda diz respeito à procura da Cura, o Ser enquanto Não-ser, Nada: indigência e necessidade originária. A indigência e a procura é o assinalar da liberdade. Por isso, há a liberdade ao nível da vontade, e a liberdade essencial, ao nível do Ser/Não-ser, da Cura.


- Manuel Antônio de Castro
Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. Acerca del Evento. Buenos Aires, Editorial Almagesto, 2003, p. 45; 52.

2

"Pelo próprio fato de que a pobreza não nos faz carecer de nada, temos de entrar de todo, mantendo-nos na superabundância do Ser, que supera por antecipação a todo o necessário do necessário" (1).


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. La pobreza. Buenos Aires: Amarrutu, 2006, p. 115.

3

"A todo instante de ser e não ser, sente-se a urgência de vir a ser, na libertação, a necessidade de libertar-se das e com as necessidades. Sem necessidade não se dá libertação" (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "O Édipo em Píndaro e Freud". In: ---. Filosofia contemporânea. Teresópolis/RJ: Daimon Editora, 2013, p. 63.

4

"Agir essencialmente é ser. Trata-se, portanto, de sempre procurar a essência do agir. A procura não é algo que podemos fazer ou não. É uma necessidade, mesmo que a ignoremos, pois em toda decisão já estamos previamente de-cidindo a partir da essência do agir como necessidade" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Liberdade, vontade e uso de drogas”. In: ---. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 271.

5

"Ser livre é abrir-se para a essência originária do agir, do ético-poético, do pensar. E isso inclui o que nos parece mais livre: a vontade de nosso querer. Eis porque pensar a essência do agir é pensar necessariamente a essência da necessidade e da liberdade. Não basta seguir os impulsos do querer da vontade. Só somos verdadeiramente sendo a partir de e com a essência originária: a nossa necessidade essencial" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Liberdade, vontade e uso de drogas”. In: ---. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 271.

6

"Somos livres para falar, mas não somos livres diante da linguagem, a partir da qual e só a partir da qual, necessariamente, é que podemos querer e falar. Há uma liberdade do querer ou não querer falar, mas esta liberdade radica na necessidade de sempre querermos a partir da linguagem como necessidade, mesmo quando queremos não querer" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Liberdade, vontade e uso de drogas”. In: ---. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 271.

7

"Ser é deixar-se tomar pelo vigorar do silêncio. É tomar a posição do acontecer do silêncio, isto é, a não-posição, como fonte de toda e qualquer possível posição. Há, portanto, uma liberdade do querer ou do não querer falar, mas esta liberdade radica (originariamente) na necessidade de sempre querermos a partir da linguagem como necessidade. Necessidade é, então, a necessária condição humana de ter de se deixar tomar pela medida do silêncio como sentido de todo agir" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O mito de Cura e o ser humano". In: ---. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 272.

8

"Bong Joon-Ho explora dois veios inesgotáveis da experiência humana em sociedade: a ambição e a opressão. Primeiro, o filme [Parasita] retrata magnificamente a conclusão do sociólogo francês Jean Baudrillard (1929-2007) de que "a humanidade é produto do desejo e não da necessidade" "(1).


Referência:
(1) ALCÂNTARA, Eurípedes. "Pode-se criticar o Parasita?". In: O Globo, sábado, 15-2-2020, Caderno Opinião, p. 3.

9

"A grande filósofa Agnes Heller dividiu as necessidades humanas em duas categorias: as quantitativas e alienadas; e as qualitativas e radicais. As primeira consistem nas necessidades insanas de dinheiro, poder e posse de bens; as segundas consistem em necessidades saudáveis de introspecção, amizade, amor, brincadeira e convívio" (1).


Referência:
(1) Citada por Domenico de Masi. "Ócio forçado". In: ------. O Globo, Segundo Caderno, sábado, 14-3-2020, p. 2.

10

"A mais premente necessidade de um ser humano era tornar-se um ser humano" (1).


Referência:
(1) LISPECTOR, Clarice. Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres. Rio de Janeiro: José Olympio, 4. e., 1974, p. 29.

11

"Como mortais, nossa liberdade é necessidade ontológica. A separação entre vida e morte causa a dor que advém de nossos limites. A sua integração nos lança na verdadeira liberdade, aquela necessidade de vivermos a vida como sentido e não simplesmente como vivências. Trata-se de ser o que se sente" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Liberdade, vontade e uso de drogas". In: ----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 276.

12

"Em todo ato, o vigorar já vigora em sua plenitude, mas como esta não é um fim, mas uma consumação, a essência do agir tem sua medida no agir da essência, daquilo de quem recebemos nosso destino: o ser. Ser é verbo, o vigorar de todo agir. Ser então é a necessidade necessária" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Liberdade, vontade e uso de drogas". In: ----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 277.

13

"O ser humano faz da necessidade de comer algo mais do que satisfazer a uma necessidade como os demais seres. Ele a transfigura num ato livre e criativo. Como? Fazendo do comer uma “arte” culinária. Todos os povos em todos os tempos e lugares têm uma arte culinária. Isto não está inscrito no código genético. Onde está?" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Leitura". In: ---------. Leitura: questões. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 82.
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