Dor
De Dicionário de Poética e Pensamento
1
- "Crê-me, em qualquer parte resta ainda uma alegria. A dor autêntica entusiasma. Quem penetra a sua encontra-se acima. E é magnÃfico que somente na dor cheguemos a sentir corretamente a liberdade da alma" (1).
- Referência:
- (1) HÖLDERLIN, Friedrich. Hipérion ou O eremita da Grécia. Trad. Marcia C. de Sá Cavalcante. Petrópolis: Vozes, 1994, p. 137.
2
- "Uma das situações que mais evidenciam a indigência da existência é a experiência da dor. A dor é uma sensação indizÃvel que se inaugura colada à condição corporal. Ela aparece permeada pelo medo, o medo da dor. A dor não se limita ao corpo. Ela pertence à existência" (1).
- Referência:
- (1) POMPEIA, João Augusto. "Corporeidade". In: Rev. Daseinsanlyse, No. 12, 2003, p. 36.
3
- "E a dor é que não estamos à altura de nossa perfeição, e quanto à nossa beleza, nós mal a suportamos" (1).
- Referência:
- (1) LISPECTOR, Clarice. A maçã no escuro. Rio de Janeiro: José Ãlvaro, 1970, p. 252.
4
- A dor está ligada ao verbo grego páskho, que compõe diferentes palavras em que alegria e dor estão ligadas da mesma forma que paixão e compaixão; empatia e simpatia; apatia e antipatia.
5
- O tema da dor que aparece no poema de Fernando Pessoa "Autopsicografia" é, sem dúvida, fundamental. Esse é um tema recorrente nas variadas experiências de pensamento. Aparece em Jó, Cristo, Sócrates e, sobretudo, na experiência de pensamento do sagrado de SiddhÄrtha Gautama, o Buda. É também o tema central ou motriz do romance de Hermann Hesse: Sidarta.
6
- "A dor é parte do amor e precisamos aceitar isso. A dor pode deixá-lo com raiva ou torná-lo mais incondicional em seu amor. A dor pode destruir o inimigo do amor, a cobrança. A dor é aquela arma que o amor tem a fim de se livrar da cobrança interior. A dor é inevitável, mas o sofrimento é opcional" (1).
- Referência:
- (1) SRI SRI RAVI SHANKAR. "A dor é inevitável, mas o sofrimento é opcional". Entrevista à jornalista Celina Machado. In: O Globo, Quarta-feira, 14.12.2016, 1o. Caderno, p. 36.
7
- “A dor é o rasgo do dilaceramento. A dor não dilacera, porém, espalhando pedaços por todos os lados. A dor dilacera, corta e diferencia, só que ao fazer isso arrasta tudo para si, reunindo tudo em si†(1).
- Referência:
- (1) HEIDEGGER, Martin. A caminho da linguagem. Trad. Márcia Sá Cavalcante Schuback. 4. e. Petrópolis: Vozes, 2008, p. 21.
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- "Socrates: Digo que em nós, seres vivos, quando a harmonia sofre uma ruptura, ocorre simultaneamente uma desintegração em nossa natureza e o nascimento da dor" (1).
- Referência:
- (1) Platão. Filebo. In: Diálogos de Platão IV. Trad. Edson Bini. São Paulo: Edipro, 2009, p. 213. Filebo, 31 d.
9
- "Como médico conheci o valor mÃstico do sofrimento" (1).
- Referência:
- (1) ROSA, João Guimarães. "Diálogo com Guimarães Rosa". In: COUTINHO, Eduardo (org.). Guimarães Rosa. Coleção Fortuna CrÃtica, 2. e. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1991, p. 62-97.
10
- "Diversas disciplinas tratam do sentir e da dor como conhecimento. Porém, a dor e o sentir como identidade e diferença só se manifestam no poietizar do poeta. É que a poiesis é o logos enquanto entre. Poietizar é entrear" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Interdisciplinaridade poética: o entre". Revista Tempo Brasileiro: Rio de Janeiro: Interdisciplinaridade: dimensões poéticas, 164, jan.-mar., 2006, p. 29.
11
- É muito difÃcil dizer o que é dor, porque faz parte de nossas emoções. E estas são modos de ser e experienciar-se muito ricas, e que exigem outras palavras para dizê-las, como, por exemplo: sofrimento, tristeza, angústia, desespero, solidão, mágoa...
12
- "Socrates: Digo que em nós, seres vivos, quando a harmonia sofre uma ruptura, ocorre simultaneamente uma desintegração em nossa natureza e o nascimento da dor...Se, todavia, a harmonia é recuperada e a natureza reintegrada, digo que ocorre o nascimento do prazer, se é que me é permitido expressar-me com o mÃnimo de palavras e a máxima brevidade sobre matérias de suma importância" (1).
- Referência:
- (1) Platão. Filebo. In: Diálogos de Platão IV, trad. Edson Bini. São Paulo: Edipro, 2009, p. 213. Filebo, 31 d.S.
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- "...uma boa definição do próprio prazer, tal como Epicuro o concebe. O prazer, como bem principal e inato, não é algo que deva ser buscado a todo custo e indiscriminadamente, já que às vezes pode resultar em dor. Do mesmo modo, uma dor nem sempre deve ser evitada, já que pode resultar em prazer" (1).
- Referência:
- (1) LORENCINI, Ãlvaro e CARRATORE, Enzo del. In: Epicuro. Carta sobre a felicidade (a Meneceu). Trad. e Apresentação de Ãlvaro Lorentini e Enzo Del Carratore. São Paulo: Editora UNESP, 2002, p. 16.
14
- "O anseio é a dor da proximidade do distante" (1)
- Referência:
- (1) HEIDEGGER, Martin. "Quem é o Zaratustra de Nietzsche". Trad. Gilvan Fogel. In: ---. Ensaios e conferências. Petrópolis / RJ: Vozes, 2002, p. 93.
15
- "Não é o parto que causa a dor. A dor é o uno se fazendo diversidade, a mulher se fazendo diferença do eu que é ela e do tu que é seu filho. Aqui há diferença e identidade" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Poético-ecologia". In: Manuel Antônio de Castro, (org.). Arte: corpo, mundo e terra. Rio de Janeiro: 7Letras, 2009, p. 20.
16
- "Na mulher, o corpo influi na normalidade da vida mais do que o do homem; porém, ao contrário, esse comportamento frequente faz com que a mulher, não doente, domine mais seu corpo do que o homem. Daà o estranho fenômeno de que a mulher resista à grande dor e à miséria fÃsica melhor que o homem e, em contrapartida, seja mais comedida em entregar-se aos prazeres excessivos, daà a surpreendente eurritmia e comedimento na postura feminina, no compasso e contenção em seus gestos, um não sei quê de recolhido e contenção que tem o corpo da mulher" (1).
- Referência:
- (1) ORTEGA Y GASSET, José. "Como nos vemos a nós. A mulher e seu corpo". In: Obras Completas de José Ortega y Gasset, 6. e. Madrid: Revista de Occidente, 1964, Tomo VI (1941-1946), p. 162.
17
- "Sabe, existem dores no mundo, grandes dores, que até agora nem eu nem você sentimos como fome e destruição, e muitas coisas desse tipo. Mas existe uma dor que é enorme também: a dor de ser abandonada. É uma dor de solidão muito profunda, uma dor que machuca" (1).
- Referência:
- Liv & Ingmar - Uma história de amor. Documentário dirigido por DHEERAL AKOLKAR. Narrado por Liv Ullmann, 2013.
18
- "...todo conhecimento grego se funda na possibilidade de ver. Ao destruir a visão, Édipo renega, explode, simbolicamente, o conhecimento humano, que se revela limitado, finito, aparente, causador de dor e, portanto, culpado. O ato do trágico rei é o máximo de sofrimento humano, mas também de sua purificação: é a catarse" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "As faces do trágico em Vidas Secas". In: ---. Travessia Poética. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1977, p. 75.
19
- "Porque ela estava sentindo a grande dor. Nessa dor havia, porém, o contrário de um entorpecimento: era um modo mais leve e mais silencioso de existir. Quem sou eu? perguntou-se em grande perigo. E o cheiro do jasmineiro respondeu: eu sou o meu perfume" (1).
- Referência:
- (1) LISPECTOR, Clarice. Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres. Rio de Janeiro: José Olympio, 4. e., 1974, p. 157.
20
- "O problemático para o ser humano consiste no fato de que faz da dobra essencial um duplo e, assim, acha que pode determinar a essência do agir pelo seu querer manifesto na sua vontade. Isso é impossÃvel. Daà seu desamparo, dor e sofrimento, seus desvios e descuidos, na condução das possibilidades de realização da sua vida, de seu próprio, até se abrir para o acontecer do sentido do ser, a necessidade que o chama em tudo que faz e não faz, pensa e não pensa, é e não-é" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Liberdade, vontade e uso de drogas". In: ----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 269.
21
- "Como mortais, nossa liberdade é necessidade ontológica. A separação entre vida e morte causa a dor que advém de nossos limites. A sua integração nos lança na verdadeira liberdade, aquela necessidade de vivermos a vida como sentido e não simplesmente como vivências. Trata-se de ser o que se sente" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Liberdade, vontade e uso de drogas". In: ----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 276.
22
- "Filosoficamente, o drama de Sófocles [Édipo Rei] afirma que a dor é constituinte básico da natureza humana. Só através da dor, o homem encontra a sua verdade mais profunda e liberta-se das culpas que o atormentam" (1).
- Referência:
- (1) ÉDIPO. In: Mitologia, volumes: 1, 2, 3. São Paulo: Abril Cultural, Editor Victor Civita, 1973, v. 3, p. 548.
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- "... quanto mais alegre a alegria, mais pura é a tristeza nela adormecida. Quanto mais profunda a tristeza, mais a alegria que nela repousa nos convoca. Tristeza e alegria tocam e jogam uma com a outra. O jogo que afina tristeza e alegria entre si, aproximando a distância e distanciando a proximidade, é a dor. Por isso, tanto a alegria mais intensa como a tristeza mais profunda são, cada uma a seu modo, dolorosas. A dor encoraja, no entanto, o ânimo dos mortais de tal modo que é da dor que eles recebem a sua gravidade. A gravidade sustenta os mortais em todas as suas oscilações no repouso de sua essência, de seu vigor" (1).
- Referência:
24
- "O nada é fonte de tudo que é, assim como o silêncio é a fonte de toda fala. Por isso mesmo o nada nos aparece como a morte. Porém, sem esta não há posição para o vivente. Nada é vida. Vida é morte. Todo mal e dor é da nossa condição de humanos finitos. Desse modo o maior mal e a maior dor é a distância do Nada. E o maior bem e plenitude é sua proximidade" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Ulisses e a Escuta do Canto das Sereiasâ€. In: -----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 169.
25
- "A dor deve nos aproximar do que somos e nos levar ao encontro de algo maior" (1).
- Referência:
- (1) ROSSI, Padre Marcelo. "Ressurreição de Lázaro". In: ---.Ãgape. São Paulo: Editora Globo, 2015, 30 reimpressão, p. 75.
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- "O grito de dor de Édipo, arrancando os olhos, tem mais sentido do que mil tratados de psicologia e filosofia. É algo muito mais profundo do que as classificações de dor fÃsico-psicológicas ou sentimentais, alógicas ou fonéticas. A voz, no grito de dor de Édipo, é o pathos abissal da linguagem abissal" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Poético-ecologia". In: Arte: corpo, mundo e terra. CASTRO, Manuel Antônio de (org.). Rio de Janeiro: 7Letras, 2009, p. 32.
28
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Poético-ecologia". In: Arte: corpo, mundo e terra. CASTRO, Manuel Antônio de (org.). Rio de Janeiro: 7Letras, 2009, p. 33.
29
- "O grito de dor de Édipo, arrancando os olhos, leva à plenitude de sentido, porque o leva à Cura de todas as procuras de afirmação da negação do que lhe fora destinado" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Poético-ecologia". In: Arte: corpo, mundo e terra. CASTRO, Manuel Antônio de (org.). Rio de Janeiro: 7Letras, 2009, p. 33.
30
- "Aos 60 anos, Millôr Fernandes dizia que estava na "idade do condor". Com dor na lombar, com dor no joelho..." (1).
- Referência:
- (1) MOTTA, Nelson. Crônica: "DORES E ALÃVIOS". In: O GLOBO, "Segundo Caderno", p. 2, Sexta-feira 21.6.2024.
31
- "A maturidade oferece a opção da sabedoria de aprender na dor ou ser derrotado por ela, seja no corpo ou nos sentimentos. O sofrimento pode ensinar ou destruir uma pessoa. O ressentimento, sentir de novo dores já vividas e passadas, é um dos mais inúteis e nocivos sentimentos. Guardar memórias dolorosas e revivê-las em sua tristeza, ou em sua raiva, ou em sua injustiça, é uma das maiores armas de meu maior inimigo, o que melhor me conhece, o que sabe meus pontos vulneráveis: eu mesmo" (1).
- Referência:
- (1) MOTTA, Nelson. Crônica: "DORES E ALÃVIOS". In: O GLOBO, "Segundo Caderno", p.2,Sexta-feira 21.6.2024.
32
- "Dor-de-cotovelo não se cura em balcão de bar, mas ler poesia empodera, você passa a ser uma pessoa que vale a pena - azar de quem te deixou. Enxugue as lágrimas e, se voltar para o balcão do bar, repare no milagre: sua aura intelectual fará mais por você do que o hálito da cachaça" (1).
- Referência:
- (1) MEDEIROS, Martha. Crônica: "LITERACURA". In: O GLOBO, Revista Ela, 23 de Junho, 2024, p. 11.
33
- "A melhor maneira de multiplicar um prazer é dividi-lo. A melhor maneira de acalmar uma dor também" (1).
- Referência:
- AGUALUSA, José Eduardo. Crônica: "PATINS COR-DE-ROSA". In: O GLOBO, Segundo Caderno, sábado, 12-10-2024, p.6