Distância
De Dicionário de Poética e Pensamento
Tabela de conteúdo |
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- "Jamais a proximidade será a realização de todas as possibilidades. Nunca haverá uma anulação da distância nem uma plenitude total na proximidade, simplesmente porque é impossÃvel tanto a distância total quanto a proximidade total" (1).
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. Amar e ser. In: ------. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, 307.
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- Distância e proximidade se fundam no paradoxo do entre. É que toda diferença se dá num entre. Na relação do leitor com a obra, essa proximidade e distância é concreta. Então devemos afirmar a distinção fundamental pela qual a primeira condição para haver o diálogo é que haja em primeiro lugar o autodiálogo e a auto-escuta. Se ainda não sei o que sou, mas procuro, daà a proximidade, como saber o que sou e não sou em relação ao outro?, daà a distância. A condição para eu apreender e escutar o outro é eu me procurar e escutar continuamente, no estar sendo o que sou: proximidade e distância.
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- "O vigorar da inclusão é que faz a proximidade e distância tornarem-se sempre presentes no amar e não parecer no aparecer. É o dar-se da união amorosa. Só há aparência do aparecer quando há o esquecimento do sentido do ser, porque o aparecer se move no plano dos entes. E estes nunca podem fundar ser, porque só este é vigorar, acontecer. Amar é acontecer" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. Amar e ser. In: -----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 308.
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- "Não é possÃvel haver medição sem dois pontos distantes entre si. Essa distância (dia-stare, o entre-estar) diz respeito à totalidade do Universo, que é infinita e é inimaginável, segundo a FÃsica Clássica. É o Todo. Já na FÃsica Quântica a distância é a fronteira entre a extensão e o vazio, isto é, o Nada" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. Época e tempo poético. In: ----. Leitura: questões. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 278.
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- "Com a linguagem, dá-se algo muito estranho: ela faz lembrar o começo precisamente quando apresenta uma diferença, um desdobramento do começo. A palavra só pode ser referência a uma coisa porque traz para a proximidade as coisas, lembrando, ao mesmo tempo, que elas continuam sendo distantes. Como o dia não consegue apagar a noite, a palavra e todo o seu mundo de aproximações não consegue apagar as distâncias, os limites a partir dos quais ela se pronuncia. E é até por isso que toda palavra pede explicações, de que nenhuma palavra consegue ser final. Uma palavra só poderia ser final se conseguisse apagar todo vestÃgio de distanciamento, de limite, de infinição. Uma palavra só poderia ser final se o dia fosse eterno e apagasse para sempre a noite" (1).
- Referência:
- (1) SCHUBACK, Márcia Sá Cavalcante. Para que lÃngua se traduz o Ocidente?. In: O que nos faz pensar. Homenagem a Martin Heidegger. Rio de Janeiro: Cadernos do Departamento de Filosofia da PUC-RIO, nº 10, out. 1996, v. I, p. 62.
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- Quem pergunta é porque já quer (saber) e este querer não nos vem de nossa vontade, mas do ser/saber (em Parmênides: einai/noein) que nos foi doado e o qual tendemos já desde sempre a realizar completamente, mas porque somos limitados nunca conseguimos de maneira completa, pois nele não mais poderia haver saber e não-saber. Daà surge a dialética enquanto procura incessante de proximidade e distância, de completude e falta, de sentido e não-sentido, de verdade e não-verdade, onde um tal não não indica falta, mas o que já se tem e tem demais e nunca cabe em nossos limites. Por isso, dentro deles só fazemos nos entregar incessantemente à procura da plenitude para a qual tendemos por sermos e não-sermos, e jamais como uma decisão de nossa vontade, que só aparentemente é que quer.
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- "Tristeza pertence à renúncia, desde que tomemos a renúncia em seu peso mais próprio. Esse é o não recusar-se ao mistério da palavra, mistério que é a condição das coisas.
- Sendo mistério, é distante. Sendo experiência de mistério, a distância é próxima. O suporte que sustenta distância e proximidade é o não recusar-se ao mistério da palavra. Para esse mistério não há palavras, ou seja, não há um dizer capaz de trazer à linguagem a essência vigorosa da linguagem" (1).
- Referência:
- (1) HEIDEGGER, Martin. A palavra. In: ----. A caminho da Linguagem. Trad. Marcia Sá Cavalcante Schuback. Petrópolis (RJ): Vozes. Bragança Paulista (SP): Editora Universitária São Francisco, 2003, p. 187.
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- " A questão da proximidade e da distância é o grande enigma da arte, é o grande enigma da vida. Só o ser humano se sente próximo ou distante. Só o ser humano pode sentir solidão e se sente em solidão porque a distância é maior do que a proximidade. Seja como for, se não houvesse proximidade e distância não poderia haver solidão. E é pensando a proximidade e a distância que podemos pensar a verdade poética e a globalização" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. In: ---. Verdade poética e globalização". Ensaio não publicado.
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- Referência:
- (1) MEDEIROS, Martha. Crônica: Filhos Estrangeiros. In: Jornal O Globo, Revista Ela, p. 10, 5-2-2024.