Noite

De Dicionário de Poética e Pensamento

1

"A Noite como substĂąncia do tempo Ă© tranquila e tem lugar no repouso. No repouso os seres manifestam as caracterĂ­sticas dos seus elementos. A Noite oferece a diretriz, pois ela figura como uma norma de procedimento que traça o seu poder. Ela tem o seu princĂ­pio, ela serve como base, tem seu papel fundamental no seu domĂ­nio. Tem o poder de manifestar ao pronunciar, na sua força noturna. A Noite tem a dimensĂŁo de mundo, a capacidade de reinar e rigorosamente comandar a existĂȘncia" (1).


ReferĂȘncia:
(1) GROETAERS, Elenice. A poética da noite em Vinicius de Moraes. São Paulo: Scortecci, 2007, p. 56.

2

"A noite Ă© uma grande demora" (1).


ReferĂȘncia:
(1) ROSA, João Guimarães. Grande sertão: veredas, 6. e. Rio de Janeiro: José Olympio, 1968, p. 157.

3

"P - Para a criança no Homem, a noite permanece a aproximadora / costureira (NÀherin) das estrelas.
E - Ela junta sem costura, bainha, nem linha.
I - Ela Ă© a costureira / aproximadora porque sĂł trabalha com a proximidade" (1).


ReferĂȘncia bibliogrĂĄfica:
(1) HEIDEGGER, Martin. Serenidade. Lisboa: Instituto Piaget, s/d, p. 69.

4

"A noite nĂŁo Ă© o silĂȘncio apĂĄtico. Nela a vida latente tem todas as vozes da realidade se realizando em silĂȘncio. A noite Ă© o silĂȘncio em sua concentração mĂĄxima de fala. É tanta fala que nĂŁo temos ouvidos para ouvir. SĂł a loucura ou desrazĂŁo calma e acolhedora abre nossos ouvidos para a musicalidade da noite. Musicalidade Ă© promessa de patĂȘncia na latĂȘncia. Esta Ă© a potĂȘncia de toda obra de arte" (1).


ReferĂȘncia:
(1) CASTRO, Manuel AntĂŽnio de. "Passado". In: ------. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 258.

5

".................................
Vem, Noite, antiquĂ­ssima e idĂȘntica,
Noite Rainha destronada,
Noite igual por dentro ao silĂȘncio, Noite
Com as estrelas lantejoulas rĂĄpidas
No teu vestido franjado de Infinito.
............................." (1).


Trata-se aí do início de um Excerto de uma Ode dedicada à Noite. Todo o poema é uma profunda e poética reflexão sobre a Noite. Sugere-se a leitura de todo o poema, que tem uma grande unidade no todo, com belíssimas metåforas.


- Manuel AntĂŽnio de Castro.
ReferĂȘncia:
(1) CAMPOS, Álvaro (HeterĂŽnimo). "FicçÔes de interlĂșdio". In: PESSOA, Fernando. Obra PoĂ©tica . Rio de Janeiro: Aguilar, 1965, p. 311.

6

"HĂĄ a ideia circular do acontecer do dia e da noite. NĂłs mesmos estamos essencialmente ligados a essa dobra da vida. Em verdade, nunca sabemos quando termina o dia e começa a noite. Fernando Pessoa, no belĂ­ssimo poema “Vem, Noite, antiquĂ­ssima e idĂȘntica” (1) (1965, 311), tematiza essa dobra essencial. HĂĄ, nesse sentido, um retorno do mesmo, uma aparente repetição das estaçÔes e, em um plano mais profundo, do nascer e morrer. Este vigorar incessante jĂĄ lança todo ser humano e toda cultura na questĂŁo do permanecer e mudar, do universal no universo. Nisso consiste o tempo do cĂ­rculo-mĂ­tico" (2).


ReferĂȘncia:
(1) PESSOA, Fernando. Obra poética. Rio de Janeiro: Aguilar, 1965, p.311.
(2) CASTRO, Manuel AntĂŽnio de. "Época e tempo poĂ©tico". In: ---. Leitura: questĂ”es. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 292.

7

"Segundo a tradição celta, as formas mais sagradas de sabedoria provĂȘm do reino dos ancestrais - o mundo dos mortos. Isso explica por que atĂ© o Sol brilhante faz seu trajeto descendente, Ă  noite, atĂ© o reino sombrio de Donn. O Sol Ă© a fonte de toda a vida, e seu movimento entre o mundo dos vivos, durante o dia, e o mundo dos mortos, durante a noite, determina o ritmo do tempo" (1).


ReferĂȘncia:
(1) HOOD, Juliette. O livro celta da vida e da morte. Trad. Denise de C. Rocha Delela. SĂŁo Paulo: Editora Pensamento, 2011, p. 19.

8

"O permanecer da noite Ă© a possibilidade do mudar do dia. O mudar do dia Ă© a possibilidade do permanecer da noite, porque esta nĂŁo pode permanecer sem o dia ser mudança. A mudança do dia Ă© a permanĂȘncia da noite. A permanĂȘncia da noite Ă© a mudança do dia. NĂŁo podemos nunca apreender e aprender a permanĂȘncia como o que se tornou estĂĄtico. A permanĂȘncia nĂŁo Ă© estĂĄtica nem dinĂąmica, porque nĂŁo Ă©. Vigora. Acontece. O acontecer Ă© o vigorar que se presenteou em sentido. O sentido Ă© a vigĂȘncia da linguagem do ser. O vigorar jamais pode tornar-se apenas devir. Ser devir Ă© estar sendo. O ser nunca estĂĄ sendo, sĂł sendo no estar. Apenas o sendo pode e deve estar sendo. O sendo Ă© o estar que vigora no permanecer e mudar. SĂł o sendo permanece e muda, torna-se, Ă© devir, aparecer e desaparecer, parecendo no estar" (1).


ReferĂȘncia:
(1) CASTRO, Manuel AntĂŽnio de. "Passado". In: ----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 259.
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