Obra de arte

De Dicionário de Poética e Pensamento

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Caminhar nas e com as questões dá o mesmo trabalho de limpar, arar, semear, plantar o terreno e esperar a firme, mas lenta maturação do semeado para sua eclosão no e com o tempo propício. A semente para amadurecer precisa de três instâncias: a semente como tal, o terreno, o tempo de maturação. Notamos que a ação do homem - o trabalho - apenas agencia o que já tem ação em si mesmo, mas pelo ordenamento (legein) lhe dá sentido. Isso é o mesmo que questionar e aprender, porque quem medra enquanto aprender é o que se é, a vida que se recebeu. Desse trabalho surge o formar do que chega a desabrochar (infelizmente muitas sementes e seres humanos estiolam antes disso tudo acontecer), mas também a forma das obras de arte (e dos utensílios) e do próprio ser humano, que são indissociáveis, sendo impossível haver forma sem o triplo agir (trabalho em sentido amplo), onde se inclui e é necessário incluir o agir da natureza / physis, acima apresentado. Portanto, nada tem a ver com formalismos técnicos. Pelo contrário, é o que os gregos denominavam morphe, a presença da forma enquanto presença do agir e realizar-se. É nesse sentido que a obra de arte é aquela onde se faz presente não apenas uma forma, mas onde nesta vigora o próprio agir enquanto presença do sentido. Se considerarmos que a forma, de alguma maneira, introduz o limite, a presença enquanto sentido projeta o agir da obra para além do limite. É isso a morphe, em sentido grego.


- Manuel Antônio de Castro
Ver também:
*Morphe
*Arte

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As questões da realidade e do humano são a fonte de todo e qualquer mundo, enquanto destinar-se do sentido do ser. Há diferenças, sim, mas estas dizem respeito não a um novo ser humano, mas a uma explicitação mais ampla e a aspectos diferentes daqueles tematizados e manifestados em épocas e obras anteriores. Devemos sempre considerar as obras de arte como grandes expedições de descoberta de paisagens novas da realidade naquilo que ela tem de essencial. Como jamais podemos separar a realidade da essência do humano, sendo esta uma doação dessa mesma realidade para que seja manifestada pelo próprio do ser humano, podemos afirmar que essas novas paisagens da realidade, que surgem da profundeza das obras de arte, nos encaminham para uma compreensão diferente da realidade.


- Manuel Antônio de Castro

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Obra de arte é o mundo acontecendo como inesperado ou sentido do nada criativo.


- Manuel Antônio de Castro

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"No utensílio, a forma é a sua finalidade. Como a obra de arte não tem finalidade nem funcionalidade, ela não tem forma. Presencia, desvela a realidade, que não cessa de velar-se, retrair-se. À presencialização da realidade no que ela é sendo é o que se chama telos, ou seja, a realidade se dando em sentido enquanto realização (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Obra de arte: presença e forma". In: ------. Leitura: questões. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 221.

5

"A moral tende ao estático e estabelecido, ao sistema auto-referenciado. É bem o contrário da ética, onde o essencial é o poético. Não há ético sem poético e não há poético sem ético. E é isso que desde sempre se denominou obra de arte, se pusermos em primeiro lugar o que a palavra “obra†diz, aliás, o mesmo que poético no grego: o que age, o que faz acontecer, o que realiza. É necessário pensar a essência do agir, horizonte onde nos aparece a condição humana" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O humano, o poético e a contracultura". In: www.travessiapoetica.Blogspot.com.

6

"O estudo e classificações das obras de arte ficaram submissas à tradição retórico-gramatical, num conhecimento historiográfico de formas e influências sócio-culturais, segundo as diferentes épocas. Com isso, prevaleceu a concepção da língua como código e da obra de arte – enquanto discurso – como organismo" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Obra de arte, vocabulário e mundo". In: ------------. Leitura: questões. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 249.

7

"Cada obra de arte é uma semente pronta a eclodir, se mergulhada na terra fértil do diálogo (dia-logos). O diálogo, como fala sagrada e escuta, é o tempo propício [kairós] para a eclosão da dzoe / Vida, que subjaz na semente, que é a obra de arte" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Obra de arte, vocabulário e mundo". In: ------------. Leitura: questões. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 251.

8

"Tudo é reduzido a causas porque tudo é reduzido a funções dentro do sistema e as próprias funções estão em função, dentro do sistema, das finalidades do sistema, que se torna, então, o fundamento, o horizonte a partir do qual julgamos tudo e classificamos tudo. É dentro dessa estruturação que determinamos cada sendo ou melhor cada “coisaâ€, cada “utensílio†e cada “obra de arteâ€. Mas será que a obra de arte se reduz a um sistema de relações causais e funcionais? Não. Isso diz a Estética, produto do fundamento racional. A Poética, vigência do ser no sendo, da obra enquanto operar da verdade, diz o vigorar do fundar" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Fundar e fundamentar". In: Pensamento no Brasil, v.I - Emmanuel Carneiro Leão. SANTORO, Fernando e Outros, Org. Rio de Janeiro: Hexis, 2010, p. 213.

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"Toda obra de arte é originária. Ela não é a-temporal. Pelo contrário, é o tempo em sua densidade máxima, porque na obra de arte acontece poeticamente o tempo da memória. É isso o que nos diz a palavra originário. A dificuldade em compreender e apreender o originário de toda obra de arte decorre de que nosso olhar já está, a priori, armado com algum suporte ou paradigma estético-formal ou ideológico intervencionista, para achar a sua função ou para classificá-la" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. “A menina e a bicicleta: arte e confiabilidadeâ€. In: ------. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 281.

10

"O operar das obras de arte, como dobra de phýsis e humano, radica sempre além e aquém de todo humanismo" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. " Phýsis e humano: a arteâ€. In: -----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 264.

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Para compreender e apreender o que é o olhar, o melhor caminho é pensar a diferença ontológica entre olhar e ver. Concretamente, um exemplo clássico pode nos fazer pensar essa diferença: quando Édipo, o famoso personagem do mito de Édipo, pensado por Sófocles em sua famosa obra Rei Édipo, tinha olhos não penetrara e nem vira os caminhos de seu destino. É que o olho é funcional, faz parte do nosso organismo que diz respeito ao olhar, não necessariamente ao ver, pois foi quando arrancou os olhos que passou a ver na luz da verdade os caminhos e descaminhos do seu destino. O olho diz respeito aos sentidos, a visão diz respeito ao sentido. Não basta olhar, é necessário ver. E é nesta distinção fundamental que os gregos pensaram a essência da aletheia, desvelamento ou verdade. Por isso, este diz respeito à manifestação do sentido do destino. E é nesse horizonte que se diferencia radicalmente a verdade da obra de arte e a verdade funcional da lógica, que fundamenta a ciência fundada na razão.


- Manuel Antônio de Castro.

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"A obra de arte é o acontecer poético-apropriante da verdade, é o pôr-se em obra da verdade. Um tal acontecer acontece sempre na disputa de Terra e Mundo. Na obra de arte nunca temos um suporte coisal que suporte o artístico, temos a verdade como disputa de Terra e Mundo" (1)


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Apresentação". In: HEIDEGGER, Martin. A origem da obra de arte. Trad.Idalina Azevedo da Silva e Manuel Antônio de Castro. São Paulo: Edições 70, 2010, p. XIII.

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Geralmente emprega-se a palavra numinoso quando se quer nomear algo referente ao sagrado. Numinoso origina-se da palavra latina: Numen, numinis. Tem diversos significados (1). Exemplos: ordem, vontade, permissão, vontade divina, onipotência divina, divindade, estátua de uma divindade, poder divino, inspiração divina, oráculo, majestade. Num ditado famoso fica bem evidente o poder e a vontade divinos: " Nihil sine Dei numine geritur: Nada se faz sem a vontade divina. Vontade implica poder. Porém, não podemos confundir o poder e a vontade das forças divinas com o poder e a vontade da razão humana, da consciência humana. Essa diferença é essencial para compreender todo o poder do Destino e a impotência humana diante dele. Este jamais significa uma força cega e do acaso. Acontece que o alcance do poder da vontade humana fundada na razão é impotente para alcançar o âmbito do poder e da vontade divinos. Na literatura, um exemplo clássico é o personagem Édipo, da tragédia de Sófocles: Rei Édipo. Estas observações são importantes para compreendermos o alcance e limites da psicanálise, sobretudo a freudiana, que se fundamenta no poder da razão humana somente. Por isso Jung, mais aberto ao mistério da alma humana ou psique, criará o conceito de arquétipo. Diante disso tudo, só podemos afirmar o poder das obras de arte e o seu mistério. Qualquer teoria racional que as queira abarcar, classificando-as, se torna limitada e insuficiente. Por isso, é essencial se pensar uma Poética, no lugar de uma mera Estética racional e conceitual, que se mova somente nas questões e não nos conceitos racionais.


- Manuel Antônio de Castro.
Referência:
(1) KOEHLER, Pe. H., S.J. Dicionário Escolar Latino - Português. Porto Alegre, Editora Globo, 1957, p. 543.

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Conforme é tratado por Fritjof Capra no filme O ponto de mutação/O caminho do pensamento, vamos ter uma profunda transformação com o advento da Modernidade, porque se parte para uma outra concepção do universo. Este deixa de ser uma criação divina, sujeita às suas leis. Há leis, sim, mas de outra natureza. Como elas são enigmáticas trata-se de descobrir essas leis da natureza, para dominá-la, submetê-la ao fazer do ser humano, sua vontade e razão. Surge aí a ideia de possibilidade de intervenção do ser humano, descobrindo cada lei que rege o universo, a natureza. Não é que ele queira ser um criador, embora esta ideia depois se torne a dominante na arte, através da imaginação, ainda concebida racionalmente.


- Manuel Antônio de Castro.

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" - Sócrates - Assim é, meu caro Fedro! Todavia, acho muito mais bela a discussão destas coisas quando se semeiam palavras de acordo com a arte dialética, uma vez encontrada uma alma digna para receber as sementes! Quando se plantam discursos que se tornam auto-suficientes e que, em vez de se tornarem estéreis, produzem sementes e fecundam outras almas, perpetuando-se e dando ao que os possui o mais alto grau de felicidade que um homem pode atingir!" (1).
A obra de arte e de pensamento é uma semente que procura e espera a alma fértil para nascer, crescer e dar frutos. Essa é a essência da obra de arte. E essa é a dialética pensada essencialmente, como nos diz o pensador Platão.


- Manuel Antônio de Castro
Referência:
(1) PLATÃO. Fedro. 5. e. Trad. Pinharanda Gomes. Texto grego estabelecido por Léon Robin, Paris, Les Belles Lettres, 1966. Lisboa: Guimarães Editores, 1994, p. 125, 276 e.

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"Os melhores de todos os discursos escritos são os que têm por fim servir de memorandos aos que conhecem tais discursos e somente nas palavras cujo fito é a instrução, assim se gravando na alma, sobre o que é justo, belo e bom, somente nessas encontramos uma perfeição digna dos nossos esforços. Apenas estes discursos, e só estes, merecem o nome de filhos legítimos do orador, primeiro, porque ele mesmo os gerou sob a força da inspiração, segundo, porque são capazes de gerar, nas almas dos outros homens, irmãos que se mostrem dignos da família de que descendem. Quanto às demais espécies de discursos, tanto tu, Fedro, como eu, bem podemos desprezar..." (1).


Referência:
(1) PLATÃO. Fedro. 5. e. Trad. Pinharanda Gomes. Texto grego estabelecido por Léon Robin, Paris, Les Belles Lettres, 1966. Lisboa: Guimarães Editores, 1994, p. 127, 278.

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As questões como questões fazem parte de toda cultura e a precedem e não dependem da sua sofisticação em elaborações conceituais. Porém, o próprio de toda questão é ser simples e complexa ao mesmo tempo. Dessa maneira as questões sempre podem aparecer em novas dimensões que elas já têm, mas cabe a nós ampliá-las, uma ampliação que não determina a questão, apenas a densifica. Em si as questões não mudam e nem são modificadas nem diminuídas ou ampliadas. Como somos finitos, precisamos das respostas para ir abarcando cada vez mais a questão em toda a sua simplicidade e riqueza. O horizonte desta riqueza é o infinito. Esse é o desafio de toda obra de arte. Por isso toda obra de arte é um enigma.


- Manuel Antônio de Castro.

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Cada ente, enquanto ser humano, na sua diferença ontológica, ocupa uma posição na realidade e ele recebeu possibilidades absolutamente positivas que fazem com que ele seja o que ele é e não outro, ou seja, um próprio. São possibilidades tão dinâmicas que jamais chegamos a conquistá-las em toda a sua riqueza. Daí o desafio de nos conhecermos no que somos. Por isso, a racionalidade moderna não pode jamais reduzir o ser que cada um é ao determinado por um modelo, mesmo de diferentes teorias, sociais ou psicológicas. Pelo contrário, há a matriz/’’’matrix’’’ (ser) que nos torna inesgotáveis. E é dessa riqueza inesgotável que nos falam as obras de arte. E é por isso que para cada um o viver se torna uma tarefa poética. As obras de arte são como velas onde se concentra uma enorme energia que precisa ser acesa/lida para que a leitura as transforme em chamas que nos iluminam, mas iluminam no sentido de chegarmos a nos conhecermos e libertarmos.


- Manuel Antônio de Castro.

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Quando perguntamos, perguntamos de dentro e só aparentemente queremos conhecer o que está fora. Não e mil vezes só isso não. As perguntas mais essenciais dizem respeito ao que é preciso descobrir dentro de nós. Nós somos um verdadeiro continente desconhecido. E todo perguntar é, quando essencial, um querer adentrar esse nosso continente desconhecido, esse próprio que cada um recebe, que é o que recebemos para ser ao nascer. Em Grande sertão: veredas, Rosa diz explicitamente isso: só pergunta e dialoga é mesmo para se conhecer melhor. E isso é a essência de toda obra de arte. Ela integra fora e dentro e nos joga no fundo de nós mesmos, de onde surgimos transfigurados. Toda as grandes obras da Modernidade fazem este percurso, que é muito encoberto pelas preocupações externas e ditas sociais. Está na hora de desmascarar isso e penetrar fundo nesse mundo interior, o a-ser-descoberto. É nesse sentido que surge a Física quântica e a obra de Caeiro, Freud e Proust, Musil. Infelizmente isso foi desviado e perdido pela atenção para a disputa da forma e conteúdo. Um desvio onde se perde o rumo do sentido do ser e, portanto, do ser humano (1).


- Manuel Antônio de Castro.

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A obra de arte manifesta o sentido do próprio ser, fazendo com que a realidade advenha ao sentido e instituindo mundo. E o próprio artista manifesta dimensões essenciais do próprio ser humano, daí a importância da arte na vida das pessoas, pois o artista deixa de ser alguém simplesmente individual e que se serve da inspiração. O lugar do artista no todo da realidade enquanto mundo é essencialmente misterioso, pois a criação do enredo e dos personagens e os valores que os guiam no seu agir transcendem tanto o eu do personagem ou dos personagens quanto o eu do artista ou do autor. O genial diretor de cinema Ingmar Bergman tematiza isso muito bem em dois famosos filmes: Infiel e Depois do ensaio. São muitas as questões neles colocadas quanto às criações das obras, aos personagens e ao próprio enredo. Qual o verdadeiro limite entre os valores e vida do artista e do personagem que ele representa?


- Manuel Antônio de Castro.

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"O homem assim é um ente-presente-a-si-mesmo, ou seja, um espírito. Porém, se o homem compreende a si mesmo a partir do horizonte do ser ilimitado, significa que ele está aberto a este horizonte. E estando aberto a este horizonte o homem deve ser capaz igualmente de compreender os outros entes à luz do ser ilimitado" (1).
É esta abertura para o horizonte do ser que torna o ser humano propriamente humano, pois ele funda seu agir nesta abertura. E é esta abertura que o caracteriza como espírito. Desse modo toda obra de arte se funda na abertura do sentido do ser em que age o ser humano.


- Manuel Antônio de Castro

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"E as obras mítico-poéticas ou obras de arte? Aí havia um impasse. Não eram revelação nem a palavra de Deus ou palavra divina. Então o que eram? Pois, em princípio, nada poderia vir senão por ação divina. Este é um espinho que sempre causou profunda dor à verdade teológica, uma vez que, por exemplo, os diálogos de Platão, em muitos aspectos, são mais ou tão profundos e complexos do que aquilo que se diz nas próprias obras religiosas. O jeito foi cristianizar a tradução dos diálogos e platonizar as obras religiosas. Isso acontece até hoje" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Leitura e Crítica". In: ---------. Leitura: questões. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 124.

23

"Diante de uma obra de arte permanecemos mudos e perplexos até que ela começa a vigorar, dando sentido ao tempo, desde que tenhamos os ouvidos bem abertos para o que os falatórios não dizem e os olhos que vejam o que ali não está, e já se deu, a ver em tudo o que somos. Sem renúncia ao circunstancial e acolhimento da fala do silêncio, as obras de arte não acontecem" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Passado". In: -----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 258.

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"Como os conceitos são operacionais no estabelecimento de conhecimentos universais abstratos, a filosofia não pode fundar nunca os difíceis caminhos da interpretação das obras de arte. Para atender à sua densidade em dizer o sagrado, é necessária uma abertura de compreensão de escuta da fala das obras. Esta se torna, sem dúvida, uma questão central: Em que consiste a leitura das obras de arte? Heidegger trata disso no ensaio A origem da obra de arte" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. “Heidegger e as questões da arteâ€. In: Manuel Antônio de Castro, (org.). Arte em questão: as questões da arte. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 35.

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... pois mundo nada mais é do que a realidade/physis eclodindo em sentido, isto é, mundo. E aí vem o desdobramento: a realidade eclodindo em mundo enquanto o seu próprio sentido, é a realidade eclodindo como verdade, a-letheia. Daí a ligação antiquíssima entre caos e mundo (kosmos). Ora, onde a terra eclode em mundo é na obra de arte. Por isso é no deixar vigorar a obra de arte que passamos a ver o sentido e a verdade da realidade. Daí a verdade e o sentido serem indissociáveis.


- Manuel Antônio de Castro.

26

Só nominalmente conhecemos os entes. E isso se comprova facilmente pelo fato de que nem nos conhecemos a nós mesmos, quanto mais aos outros. É aí que entram as obras de arte. Elas laboram intensa e continuamente esse penetrar e desdobrar-se, praticamente infinito, da riqueza dos entes, especialmente o ente que nós somos. Em verdade, ao sermos ente do ser somos toda a riqueza do ser.


- Manuel Antônio de Castro

27

"... a ecologia como a casa da linguagem exige radicalmente o corpo Terra-Céu-Mundo originário de Eros. Isso é o poético. Eros é o poético. O poético, sendo Eros, é a energia que cinde, é a dor paixão. Por isso, a obra de arte é mundo porque é Eros e é Eros porque é mundo. Não podemos reduzir de modo algum a obra de arte a formas de linguagem. Obra de arte é corpo-mundo enquanto reunião das diferenças de Céu e Terra, de Homem e Mulher" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Poético-ecologia". In: Arte: corpo, mundo e terra. CASTRO, Manuel Antônio de (org.). Rio de Janeiro: 7Letras, 2009, p. 20.

28

"O ser humano é a obra de arte em sua realização máxima" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A coisa em questão". Ensaio não publicado.

29

Tanto o vazio como o silêncio e o nada se fazem presentes/ausentes em todas as obras de arte. Poeticamente, à Matéria corresponde a Terra e à Forma, o Mundo.
A solução fácil da “matéria e da forma†nos torna insensíveis para o que tanto seja matéria como forma, até porque em si não existem, pois dependem das teorias e das culturas que as definem. Quando se diz que Nietzsche defende uma complementaridade do dionisíaco e do apolíneo na tragédia, não se sai ainda da dobradinha da “matéria e da formaâ€, pois numa tal “complementaridade†o vazio e o silêncio e o nada estão simplesmente silenciados, reprimidos e esquecidos.
O sair da dobradinha matéria/forma e passar a considerar e a refletir a partir do vazio/figura abre possibilidades importantes e inaugurais. Mas aí não poderemos só trabalhar com conceitos, mas dar-se-á uma dialética de conceitos e questões.


- Manuel Antônio de Castro.

30

Só nominalmente conhecemos os entes. E isso se comprova facilmente pelo fato de que nem nos conhecemos a nós mesmos, quanto mais aos outros. É aí que entram as obras de arte. Elas laboram intensa e continuamente esse penetrar e desdobrar-se, praticamente infinito, da riqueza dos entes, especialmente o ente que nós somos.


- Manuel Antônio de Castro.
Ferramentas pessoais