Consciência

De Dicionrio de Potica e Pensamento

Tabela de conteúdo

1

A consciência como questão remete para a epistemologia e, no que diz respeito à verdade, para adequação. Esta é a relação lógico-conceitual entre enunciado e enunciação, onde o vigorar do que é e está sendo (aletheia) fica esquecido e obstruído pela luz da razão conceitual. Tal esquecimento mostra os limites da consciência que só sabe o que sabe (cum-scire) e nunca sabe o que não vê, pois limita-se epistemologicamente (epistastai) ao que pode ser visto. A consciência diz respeito ao saber e não e jamais ao não-saber de todo saber, ao não-ver de tudo que vê, pois não pode se abrir para o que, dando-se a ver, se retrai, se oculta, se vela: o ser, sendo e não-sendo, dando-se e retraindo-se, pondo-se e depondo-se, sendo no aparecer das aparências e no desaparecer do não-ser, pois o ser foi, é e será sempre o vigorar do nada. O que a consciência sabe do nada? Deste modo, o que nos coloca em contato com esta questão é o pensar e não apenas o saber da razão, da consciência, se definida apenas pela razão, como é tradicional. Pensar é ser o que recebemos para ser. É nesse mesmo horizonte que se diferenciam as traduções de Logos como pensamento e razão.
O que a consciência sabe de si mesmo? Não será apenas a fala do silêncio? Mas esta é silêncio e não fala... eis o mistério da consciência. Esta aparece em todo o seu vigor de questão quando tentamos apreender o inconsciente e a realidade que se faz presente e atua nos sonhos. Em nossa vida os sonhos são reais. O que eles dizem e como dizem é que é inconsciente para nós em seu sentido. É este sentido que a psicanálise junguiana procura. Por isso Jung propõe o arquétipo.


- Manuel Antônio de Castro


Conferir também:
* aletheia
Se o leitor quiser aprofundar esta temática, sugerimos:
HEIDEGGER, Martin. "Aletheia". In: --------. Ensaios e conferências. Trad. Márcia Sá Cavalcante Schuback. Petrópolis: Vozes, 2002.
----------------------------. Parmênides. Trad. Sérgio Mário Wrublevski. Petrópolis: Vozes, 2008.

2

"Um outro exemplo da idade moderna de criação da razão e da consciência é de Kant, cogitans objectum me objectum, da Analítica dos Princípios. Pensando o objeto que não sou eu, mas que se opõe a mim e por isso é “ob-jecto”, descubro que sou eu que penso o objeto oposto a mim. Essa oposição não é tão radical assim. Por isso, isso é o que constitui a consciência. Sem essa experiência de não ser radical, de não ser por exclusividade e exclusão radical a diferença entre sujeito e objeto; por isso é que há a possibilidade da consciência, que pode se tornar qualquer coisa, sem violar e deturpar a diferença" (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Idea, Eidos". Conf. proferida na UERJ, em 2005.

3

Heidegger pensa o sentido e pensamento, e o distingue de consciência e conhecimento. "O alemão sinnan, sinnen, pensar o sentido, diz encaminhar na direção que uma causa já tomou por si mesma. Entregar-se ao sentido é a essência do pensamento que pensa o sentido. Este significa mais do que simples consciência de alguma coisa. Ainda não pensamos o sentido quando estamos apenas na consciência. Pensar o sentido é muito mais. É a serenidade em face do que é digno de ser questionado. No pensamento do sentido, chegamos propriamente onde, de há muito, já nos encontramos, embora sem tê-lo experienciado e percebido. No pensamento do sentido, encaminhamo-nos para um lugar onde se abre, então, o espaço que atravessa e percorre tudo que fazemos ou deixamos de fazer" (1).


- Manuel Antônio de Castro
Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. "Ciência e pensamento do sentido". In:---. Ensaios e conferências. Petrópolis: Vozes, 2002, p. 58.

4

"A consciência, para ser consciência, funda-se no pré-ver e não na razão. Do verbo latino re-flectere formou-se o substantivo re-flexio, reflexão, o que diz a volta sobre si mesmo. Examinando a pergunta concreta do perguntador sobre si mesmo, podemos notar que cada ser humano, ao ser sempre essencialmente um perguntador, em primeira instância, ele se pro-jeta para fora dele mesmo, na procura de realizar-se nas mais diferentes finalidades, seja com o outro, seja com as coisas. Somente num segundo momento ele é re-flexivo, isto é, retorna sobre si, quando então sabe e sabe que sabe (sabe o outro e sabe a si mesmo), dando-se conta do que ele realmente é, caminhando em sentido inverso à prospecção, reconhecendo-se em seu agir, em seu fazer ou operar. Mas a possibilidade de retornar reflexivamente a mim mesmo pressupõe que desde sempre eu era-presente-a-mim-mesmo, caso contrário eu nem poderia questionar, não saindo (prospeccionando) nem voltando a mim (re-fletindo, especulando)" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O ser, o agir e o humano". In: ---------. Leitura: questões. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 37.

5

"Os [[budistas consideram que o espírito está sempre desperto. A consciência e a compaixão são sua natureza [essência]. Para descobri-la e saboreá-la plenamente, o Buda ensinou diversos métodos de meditação. Sejam quais forem as práticas que nós utilizamos, todas são destinadas a aumentar a nossa atenção e nossa consciência despertada, a reforçar nosso sentimento de paz interior, bem como a melhorar nossa capacidade de lidar com nossas emoções" (1).


Referência:
(1) PANLOP RINPOCHÉ, Dzogehen. "Apêndice I - Instruções para a prática da meditação", p. 338. In: ------. Buda rebelde - sobre o caminho da libertação.Traduzido do americano por Philippe delamare. Marabout. Belfon, um Departamento de Place des éditeurs, 2012, para a tradução francesa. Tradução do francês para o português de Manuel Antônio de Castro.

6

"Toda questão é e não é, sabe e não sabe. Acontece que a questão não é algo que a consciência põe. Pelo contrário, nós somos postos na e pela questão, pois já vivemos e nascemos, amamos e morremos, e nos movemos na questão como unidade e vigorar de tudo que é e se sabe, se dá e se retrai, enquanto linguagem, isto é, sentido do ser. A questão não é posta pela pergunta do eu, do sujeito. O eu é que é posto pela questão. Por exemplo, para perguntar, já tenho que estar vivendo, me experienciando no vigorar do tempo" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Espelho: o perigoso caminho do auto-diálogo". Ensaio não publicado.

7

"Num primeiro contato, a diferença entre um e outro estaria na distinção entre consciência-inconsciente de um lado e a existência e referência de outro. A comunhão entre ambos estaria na maneira de lidar no procedimento com que se trataria a consciência e a existência num e noutro caso" (1). (Observação: "...um e outro..." refere-se a Binswanger e Freud)


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Análise da Existência humana em Binswanger". In: -----. Filosofia contemporânea. Teresópolis/RJ: Daimon Editora, 2013, p. 70.

8

"Em Husserl é pela intencionalidade que a consciência está sempre passando do fenômeno para a fenomenologia. Há, pois, uma distinção entre fenômeno e fenomenologia e a intencionalidade da consciência serve de ponte de ligação. Sem consciência intencional não se dá fenomenologia" (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Análise da Existência humana em Binswanger". In: -----. Filosofia contemporânea. Teresópolis/RJ: Daimon Editora, 2013, p. 69.

9

"Pela abertura que o homem tem ao horizonte ilimitado do ser, ele é capaz até certo ponto de sobrevoar a si mesmo como posto e fundamentado no ser. Assim o homem se sabe a si mesmo e sabendo-se se possui a si mesmo. Está presente e transparente a si mesmo, torna-se luminoso a si mesmo. É isto que se chama auto-consciência. Enquanto este saber de si mesmo é condicionado pela abertura ao horizonte do ser ilimitado do qual vem a luz que ilumina o sujeito a si mesmo, este mesmo sujeito deverá ser capaz de dar-se conta também dos outros entes que não são ele mesmo, mas que também estão postos no horizonte do ser ilimitado. Ou melhor, através da abertura que o homem tem para o ser ilimitado, a luz atinge também os entes que não se identificam com o sujeito. E assim o sujeito se dá conta também deles como entes, compreende-os a partir da luz que vem do ser. É isto o que se chama de consciência do objeto. Ou seja, a consciência daquilo que não é o próprio sujeito consciente, aquilo de que o homem se dá conta, além de si mesmo. Assim o homem não apenas está presente a si mesmo, mas também está presente ao outro, está junto ao outro, dá-se conta do outro" (1).
Na medida em que cada um é um próprio ele se torna sempre um outro, do qual jamais poderemos ter consciência completa. Mas esta nem de nós mesmos temos, isto é, nossa auto-consciência está sempre em caminhada. E varia de ser humano para ser humano. Essa caminhada tem de ser contínua e sempre teremos novas dimensões para descobrir. A esse processo de descoberta se denomina muito apropriadamente: iluminação.


- Manuel Antônio de Castro.
Referência:
(1) HUMMES, o.f.m. Frei Cláudio. Metafísica. Mimeo. Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963. Depois tornou-se Bispo e hoje é Cardeal.

10

"Ora, exercício do ser como ser é agir. Assim devemos dizer do Espírito absoluto e divino que ele também é agir na sua plenitude de perfeição. Além disto vimos que exercício do ser como ser é ser consciente, é consciência. Portanto, também ao Ser absoluto devemos atribuir uma consciência perfeitíssima, plena e infinita" (1).


Referência:
(1) HUMMES, o.f.m. Frei Cláudio. Metafísica. Mimeo. Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963. Depois tornou-se Bispo e hoje é Cardeal. Já faleceu.
Ferramentas pessoais