Processo

De Dicionrio de Potica e Pensamento

Tabela de conteúdo

1

Para compreender o fato devemos apreendê-lo em seu acontecer, que é o acontecer da realidade. Esta não cessa de se manifestar em fenômenos, sejam históricos, sejam naturais, sejam psíquicos ou até artísticos, enfim, sejam humanos. Fenômeno é em si um processo acontecendo, se realizando. O fato indica o resultado final do processo ou fenômeno em sua realização. Todo fato é o resultado de um fazer no sentido de acontecer de tempo e ser, ou seja, da manifestação da realidade em suas realizações. Não há fato sem o agir. Muitas vezes à totalidade dos fatos denominamos real. Ao estudo do sentido desse processo que se denomina fenômeno da realidade recebeu o nome de fenomenologia. Como se pode ver, tudo se funda em processos contínuos de eclosão, ou seja, de fenômenos, na medida em que tais processos são o acontecer do sentido da realidade, enfim, da história. Enfim, real é como nos aparece a realidade realizando-se continuamente em fenômenos ou processos, ou seja, as realizações. Desse modo, falar de estrutura (algo estático) é algo impróprio, talvez melhor dizer: padrão de comportamento. E isto diz respeito a cada ser humano, seja interna, seja externamente. A energia, a força e o sentido de todo processo ou fenômeno é o que os gregos pensaram como ousia, traduzida para o latim como essentia, ou seja, em português: essência.


- Manuel Antônio de Castro

2

O próprio de todo sistema e em todo sistema é o horizonte sem horizontalidade, sem o que gera todo horizonte. O sistema é uma “matrix” sem o novo, somente origem do repetível dentro das funções já programadas, dentro de uma determinada estrutura, próprias de cada sistema. A realidade – não sistema nem real – é além de origem também originário do sempre novo, do sempre inaugural, do inesperado. E a sua manifestação acontece dentro de um processo infinito. Ela é mãe ou matriz de criatividade. O sistema, ao contrário, é modelo, paradigma, suporte, dependente das suas estruturas. A matriz do processo é sua essência, que tem como fonte infinita o ser.


- Manuel Antônio de Castro

3

"... a crítica acerba ao sistema hegeliano, feita pelos existencialistas (a começar por Kierkegaard), precisamente com a acusação de que, em Hegel, chegou ao seu auge uma filosofia do sujeito, mas em quem o homem concreto, este sujeito concreto, acabou se perdendo na identidade absoluta do sujeito infinito. No sistema hegeliano, o homem concreto e individual não tinha mais sentido como tal. Ora, diziam os existencialistas, é o homem concreto que se trata de salvar e de explicar" (1).
O ser humano faz parte essencialmente da realidade. O lugar do ser humano no todo da realidade é que se torna a grande questão. A experiência histórica, desde Esparta, é que não se pode reduzir a realidade e nela incluído o ser humano a um sistema, por mais ideal que seja, pois a realidade é e não se reduzirá jamais a um sistema, pois ela em sua essência é um processo contínuo e complexo. Esse processo é a História como Sentido do Ser.
E é como processo e no processo que cada ser humano encontra o seu sentido de realização. Ele é experienciado por cada um de acordo com seu próprio e manifestado nas obras de arte. A obra de arte inclui trabalho, sentido e existência.


- Manuel Antônio de Castro.
Referência:
(1) HUMMES, o.f.m. Frei Cláudio. Metafísica. Mimeo. Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963. Depois tornou-se Bispo e hoje é Cardeal. Já faleceu.

4

Todo ente em sua essência é um processo e, por isso, jamais pode ser reduzido a uma explicação fundada num sistema. O problema do conhecimento científico está em que ele se funda num universal abstrato, o de um sistema, ao passo que cada ente se funda no universal concreto. Por isso, todo ente, tenha as dimensões que tiver, sempre agirá dentro de um processo. Disso decorre que ele poderá continuamente estar se transformando. Um exemplo claro é o virus. Dependendo das condições que encontra pode se multiplicar ou não. Em virtude disso toda vacina terá um alcance limitado no tempo e a necessidade de periodicamente haver nova vacinação. Essa necessidade somente acaba quando o virus é erradicado.
Questão: como se erradica um virus? O virus também se essencializa no processo de contínua realização e transformação. E o que essa sobrevivência e transformação do virus tem a ver com as condições ecológicas? Essa é a questão para a ciência.


- Manuel Antônio de Castro.
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