Ideal

De Dicionário de Poética e Pensamento

Tabela de conteúdo

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A realidade é unidade de real e ideal, de real e irreal no vir-a-ser das realizações. Como unidade a realidade é um mistério que, portanto, exclui qualquer atributo. E dessa maneira não diz respeito a limites, ou seja, a entes. Não sendo ente nenhum e nem a totalidade dos entes, que podemos denominar apropriadamente real, a realidade é nada de ente, enfim, a realidade é nada criativo. A realidade funda o real, mas o real não é a realidade, pois a realidade é a possibilidade também de todo vir a ser, seja do que já se realizou em realizações, seja do que ainda não se realizou e é possível, portanto, ideal. Enfim, a realidade, embora origine os entes, não é nada de ente nem a soma de todos os entes. Caso contrário não comportaria também o ideal e até mesmo o irreal, pois este pode perfeitamente conter o que vigora, mas não é ente determinado e já realizado. Para esta questão de irreal é necessário levar em consideração, assim como para todas as distinções aqui feitas, a questão da verdade. Então, irreal pode se referir a algo que não é verdadeiro. Mas jamais podemos esquecer que verdadeiro implica o que se manifesta e o que se oculta, como bem o diz a palavra grega para verdade a-letheia.


Manuel Antônio de Castro

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"O feito não é o passado, porque o passado não é só o feito, é também o possível do não feito no feito, do realizável no realizado. Somos no presente o futuro do passado. Se o possível é no presente o futuro, sendo o que somos, então, o ideal é a essência do que somos" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Amar e ser". In: -----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 306.

3

"...ideal não é nem pode ser algo como um padrão, um modelo já feito e acabado, um arquétipo que guia nosso agir e nossas escolhas. Se ele não é nada disso, o ideal é nada. Sim, o ideal é nada criativo, fonte originária de toda possibilidade concreta. Para dizer isso, o pensador Platão usou a formulação grega em seus diálogos: tò mé ón, o que em tudo que está sendo é nada" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Amar e ser". In: -----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 306.

4

"Amar nem é doar nem receber. É não dar e nem receber para chegar a ser aquilo que já nos foi dado e recebido como possibilidade de e para possibilidade. É o ideal em obra" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Amar e ser". In: -----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 306.
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