Atributo

De Dicionário de Poética e Pensamento

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O que significa ser heideggeriano, deleuziano, gramsciano? Uma cópia, uma imitação, uma reprodução, uma repetição do que alguém disse? Mas será que podemos fazer tudo isso, a não ser formalmente, sem auto-iluminação, ressonância e referência? Pode ocorrer isso, sim, e é o mais frequente. Pensar dá trabalho porque é um conviver em escuta diuturna e noturna com as questões. É um fazer/fazer-se (poíesis) da palavra (lógos): saber/sabedoria. Aprendizado/aprendizagem. A questão do atributo também pode ser vista de uma maneira mais direta quando fazemos uma reflexão sobre a questão da identidade e da diferença. Ela se inscreve na profunda reflexão dos gregos sobre o ón, quando examinam esse ón enquanto "o que é" e "o como é". Tudo isso redundou na questão da proposição, onde "o como é" se dá nos adjetivos, nas qualidades, nos predicativos. Mas então tais qualidades devem ser a manifestação do que cada um já é e "o como é" deve refletir o apropriar-se do que é próprio. Nisto consiste a identidade. Então ser heideggeriano, deleuziano, gramsciano etecetera, como se entende normalmente, é uma alienação, porque seria ser guiado no que cada um é por algo que vem de fora, por um copiar e apropriar-se de algo que vem de outro. Seria reduzir-se a um atributo acidental. Por isso é essencial diferenciar esses atributos acidentais dos atributos essenciais.


- Manuel Antônio de Castro
Ver também:
*Diálogo

2

Tradicionalmente a filosofia diferenciou os atributos em: essenciais e acidentais. Atributo essencial é aquele atributo que faz parte do que é, é ontologicamente. Por isso, a Escolástica para marcar esta dimensão ontológica do atributo essencial usa o verbo latino: "convertuntur", que significa: são cambiáveis, conversíveis entre si, equivalem-se. Por exemplo: Ser e uno "convertuntur". Dizer ser ou uno é a mesma coisa. Os atributos essenciais são: uno, verdadeiro, bom e belo. Já o atributo acidental é algo que diz respeito a alguém ou algo específico ou até a uma espécie, mas que não é constitutivo, não é ontológico, não é essencial. Por isso mesmo, os atributos acidentais são infindos e podem comparecer ou não em determinado ser, isto é, determinado sendo. É claro que para aquele que é portador de tal ou tal atributo acidental é muito importante, mas não decisivo para o que ele é, isto, aquilo que decide seu ser, não é constitutivo de sua essência. Em geral, a maior importância está em contribuir e fazer aparecer o que cada um é, muitas vezes determinando escolhas e decisões. Em verdade, deveríamos ver e até apreciar e julgar as pessoas pelos seus atributos essenciais e não acidentais. O atributo acidental influencia, mas não decide o ser, até porque tais qualidades ou atributos podem ter para alguém muita importância ou importância relativa ou até nenhuma em seu modo de agir e valorizar. Em geral, poderíamos distinguir: os valores morais dependem de determinada cultura e época. Já os essenciais não. E poderíamos então falar de valores éticos. A ética, ao contrário da moral, diz respeito aos valores que constituem cada ser humano essencialmente.


- Manuel Antônio de Castro

3

Artístico é um atributo de algo que seja essencialmente obra de arte ou onde a arte se faça presente. É um atributo essencial que se diferencia de atributos que digam respeito a algo meramente racional, ou seja, acidentais, onde o racional e o passageiro predominem. Igualmente se diferencia de algo meramente epistemológico, pois no artístico deve vigorar o poético ou ontológico, daí ser essencial. No artístico sempre se faz presente além do afetivo também o pensamento. Por isso é essencialmente algo ou obra onde se faça presente a arte, na medida em que esta sempre diz respeito ao propriamente poético ou humano em sua essência.


- Manuel Antônio de Castro.

4

"As classificações atributivas nos enganam quanto a isso, porque se baseiam em conceitos abstratos. Eles são úteis para a classificação e manipulação atributivo-funcional, mas irreais em relação à dinâmica e diferença e diversidade da realidade" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O próprio como possibilidades". In: ----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 130.
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