Belo

De Dicionrio de Potica e Pensamento

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O que "belo" significava para os gregos nada tem a ver com o estético ou formal. Está fundamentalmente ligado à ordem, manifestação onde vigora a Beleza e o Bem, de que nos fala o pensador Platão. A leitura sofística de Platão, isto é, o platonismo, não se guia mais pela questão em que se move o pensar do Platão pensador. Eis o que nos diz Jaa Torrano:
"Belavoz é a mais importante das Musas, porque ela é que acompanha os reis venerandos (vv.79-80). A voz é bela não porque seja agradável e requintada, é bela não por características que consideraríamos formais, mas por este poder, compartilhado por reis e poetas, de configurar e assegurar a Ordem, por este poder de manutenção da Vida e de custódia do Ser. O cantor servo das Musas é o guardião do Ser, os reis, alunos de Zeus, são os mantenedores da Ordem (do Cosmos), a ambos por igual patrocina e sustenta Belavoz - Bela, por seu poder influi decisivamente nas fontes do Ser e da Vida, pela sua pertinência às dimensões do mundo e ao sentido e totalidade da Vida" (1).


- Manuel Antônio de Castro
Referência:
TORRANO, Jaa. "Introdução". In: HESÍODO. Teogonia. São Paulo: Iluminuras, 1992, pp. 37-38 (1).

2

"O fundar que faz o amor acontecer enquanto belo não é o próprio amor, pois o acontecer se dá no amor acontecendo enquanto belo. Porém, o acontecer é que, como tal, funda o acontecer do amor e não é o amor acontecendo enquanto belo que funda o acontecer. O belo só será belo se for, e não enquanto uma qualidade do sujeito" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Fundar e fundamentar". In: Pensamento no Brasil, v.I - Emmanuel Carneiro Leão. SANTORO, Fernando e Outros, Org. Rio de Janeiro: Hexis, 2010, p. 218.

3

"As ações, enquanto tais, não são com efeito, nem boas nem más. Por exemplo: o que estamos fazendo neste momento, como seja beber, cantar, falar, nada disto é em si mesmo belo, mas torna-se belo de acordo com a maneira como o fazemos. Se o fizermos segundo as regras do honesto e do justo, torna-se belo; se o fizermos contrariamente à justiça, torna-se feio. O mesmo podemos afirmar de Eros, pois que nem todo Eros é em si mesmo belo e louvável, mas de torna belo quando nos leva a amar segundo as regras do belo" (1).


Referência:
(1) PLATÃO. O Simpósio ou Do Amor. Tradução Revista e Notas: Pinharanda Gomes. Lisboa: Guimarães Editores, 1986, p. 34. Discurso de Pausânias.

4

"Na realidade, a gramática está estreitamente ligada à retórica e esta se guiava por interesses econômicos e formais, fazendo do logos humano o seu fundamento e interpretando a linguagem como língua, tornando-se esta um instrumento político de tomada do poder e de convencimento das mentes dos cidadãos. É a publicidade de hoje. Platão, diante dessa prática, escreve o diálogo Fedro, onde ataca o formalismo retórico e propõe, em seu lugar, a dialética. Nesta, a linguagem e seu uso são determinados pela ideia de Bem, fazendo do discurso algo de Belo" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. Linguagem: nosso maior bem. Série Aulas Inaugurais. Faculdade de Letras, UFRJ, 2o. sem. / 2004, p. 18.
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