Platonismo

De Dicionário de Poética e Pensamento

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"Entretanto, não se pode confundir platonismo com Platão. Platonismo são as travessias de questionamento de Platão, transformadas em respostas, muitas vezes canônicas, as quais, repetidas ao longo dos séculos, instauraram uma tradição. Diferentemente do que se costuma interpretar das passagens de A República (Politéia), em que Platão fala da arte como mímesis do mundo sensível, em O Banquete (Symposion) ele nos diz que a arte é a disputa entre tó ón (o que é) e tó mé ón (o que não é). Platão é plural, estava em pleno vigor da questão do Ser, e se abriu para o silêncio da arte como questão. Mas, quando se começa a repetir Platão, tomando suas respostas por acabadas, surge o platonismo" (1).


(1) FERRAZ, Antônio Máximo. "Arte e verdade: a mímesis como criação da realidade". In: Revista Tempo Brasileiro, Dialética em questão II. Rio de Janeiro, 194, jul.-set., 2013, p. 146.

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"O que é o Ser para a experiência grega, mítica, arcaica? O Ser se “manifesta como numinoso e na qual [experiência grega arcaica] o universo não é senão um conjunto não-enumerável de teofanias†(Torrano, 1992: 74)(1). Tudo sendo teofanianuminosa é importante entender que tanto “‘faculdades mentais’†de Zeus como os atributos constitutivos da natureza mesma de Zeus [...] são Divindades com esfera de existência e de atribuições própria†(Torrano: 1992, 76). A experiência filosófica de Ser, sobretudo a partir de Platão e Aristóteles, e mais tarde com o platonismo e aristotelismo, empobrece a riqueza do pensamento mítico.
"Na verdade, o pensamento mítico, servindo-se de figuras não-conceituais, de imagens concretas e ideações plásticas, servindo-se de relatos e de fábulas (i.é, disto em que se constituem propriamente os mythoi e os hieroi lógoi, os “mitos†e os “relatos sagradosâ€), coloca em seus próprios termos [...] o problema da relação entre a Alteridade e a Ipseidade. Zeus é ele-Mesmo e o Outro; o Outro é tanto o Outro quanto é o Mesmo [...] A Alteridade coincide com a Ipseidade tanto quanto dela difere: o Outro é o Mesmo (coincide com o Mesmo) tanto quanto é – na referência ao Mesmo – o Outro (difere de si Mesmo) (Torrano: 1992, 77)" (2) "(3).


Referências:
(1) TORRANO, Jaa. O sentido de Zeus. São Paulo: Iluminuras, 1996.
(2) TORRANO, Jaa. O sentido de Zeus. São Paulo: Iluminuras, 1996.
(3) CASTRO, Manuel Antônio de. "Ulisses e a Escuta do Canto das Sereiasâ€. In: -----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 165.

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"A ligação do pensamento heraclitiano com o mítico é muito importante, porque a filosofia inaugurada com os sofistas e com o platonismo se esmera em combater os mitos e o pensamento mítico. E nisso esquecem a questão fundamental para o sentido do ser humano: a questão do destino. Neste esquecimento se inscreve a afirmação de Protágoras: O homem é a medida de todas as coisas. Numa posição completamente diferente afirma o pensador Platão: O sagrado/deus é a medida de todas as coisas. O pensador não apreende theos como o fundamento causal que ele se tornará depois. Só aparentemente se afasta do mítico, uma vez que ele não cessa de se servir dos próprios mitos. O afastamento de Platão é muito mais em relação aos ritos retóricos e vazios, que deram lugar à presença viva e atuante do eidos como doação de possibilidades sempre inaugurais. Não é sem motivo que no mito da caverna a plenitude ainda vem da luz, ou seja, Zeus originário. O pensamento de Platão, originário, torna-se doutrina nos platonismos. E com ela fenece o vigorar do pensamento, pois este é sempre questão" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Ulisses e a Escuta do Canto das Sereiasâ€. In: -----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 169.
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