Esquecimento

De Dicionário de Poética e Pensamento

Tabela de conteúdo

1

Esquecimento só é possível porque vigoramos na memória como algo que é ontológico e não apenas epistemológico e psicológico. No campo da arte, para os gregos a memória (Mnemosine) é a mãe das Musas. Estas cantam o passado, o presente e o futuro. Dessa maneira esquecimento diz não só o que passou, mas muito mais o que no passado vigora como possibilidade do futuro. Dessa maneira, o esquecimento é muito mais o que ainda não se manifestou, mas vigora como possibilidade de realização. Com isso não há oposição entre passado e presente, nem entre essência e aparência. Na e pela Memória tudo persiste, porque ela é a unidade, ou seja, a identidade das diferenças.


- Manuel Antônio de Castro


- Ver também esquecer.

2

"Para e no sagrado é estranha e inadmissível a distinção de superior e inferior. E é então que ele se distancia cada vez mais, um distanciamento que consiste, em verdade, no seu esquecimento e perda de sentido. O esquecimento do ser, do sentido do que somos, é o esquecimento do sagrado. Que é a arte hoje senão o testemunho pungente desse esquecimento? Assim se pensa. Mas não seria a verdadeira arte o testemunho vigoroso da presença constante do sagrado, pois não é a essência da arte o sagrado? Quanta obra de arte vazia, tentando, inutilmente, preencher esse esquecimento pelo jogo fútil e mirabolante das formas técnicas. Mas ainda serão essas obras obras de arte? Não serão meros jogos formais que fazem a alegria e fortuna dos donos de galerias?" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A presença constante do sagrado". In: https://travessiapoetica.blogspot.com.br/ postado em 23 de fevereiro de 2017.

3

"Próprio ao esquecer é retrair-se para si mesmo e alcançar o sulco de seu próprio encobrir-se. Os gregos fizeram a experiência do esquecimento, lethe, como destino de encobrimento" (1).


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. "Aletheia". In: -------. Ensaios e conferências. Petrópolis / RJ: Vozes, 2002, p. 233.

4

"Porque podemos escutar só o outro logos, o dos entes, o da fala da língua. Então, nessa redução e esquecimento, ela se torna o mais perigoso dos bens, porque só há um bem, um penhor em nossas ações, o ser que se dá: linguagem. Nesse bem maior e com esse bem maior só nos podemos comunicar se na e em toda comunicação formos mais: testemunharmos o que somos: linguagem / ser, poiesis / ethos" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. Linguagem: nosso maior bem. Série Aulas Inaugurais. Faculdade de Letras, UFRJ, 2o. sem. / 2004, p. 27.
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