Plenitude

De Dicionrio de Potica e Pensamento

1

Toda plenitude só é plenitude do principiar do princípio, assim como todo rio traz em sua corrente a presença da fonte. Esta ambiguidade poética é que é o tempo circular. A palavra plenitude forma-se de pleno. E esta palavra vem do latim plenus, que significa: cheio, completo, satisfeito. Porém, não podemos reduzir a plenitude a esses atributos acidentais quando se trata do ser que cada um é, do próprio. E o próprio é a permanente procura da plenitude, plena realização. Ontologicamente é uma realização plena, completa, que se dá quando, cada um naquilo que é, encontra o seu pleno e total sentido. É a sua completude. É que sentido então é sentido de ser, plena e completa realização, e não simplesmente a mera ligação às sensações e à satisfação dos sentidos. Estes não estão excluídos da plenitude e da completude, mas jamais podemos reduzi-las às meras sensações, sejam sensuais, sejam estéticas, pois, neste caso, reduzir-se-ia o ontológico (Libido essendi) ao epistemológico (Libido sciendi).


- Manuel Antônio de Castro

2

"A mente permanece instável no grande Vácuo.
Aqui, o saber mais elevado
É ilimitado. O que concede às coisas
Sua razão de ser, não pode limitar-se pelas coisas.
Assim, quando falamos em 'limites',
Ficamos presos às coisas delimitadas.
O limite do ilimitado chama-se 'plenitude' " (1).
(xxii, 6)


Referência:
(1) MERTON, Thomas. "Onde está o Tao?". In: A via de Chuang Tzu, 9.e. Petrópolis/RJ: Vozes, 1999, p. 159.

3

"O mito de Cura é o mito latino para explicar o surgimento e criação do ser humano, que não é uma criação de um Deus, mas uma plasmação ou obra de Cura, ou seja, de Eros, entendido como aquilo que nos projeta na procura poética da realização em plenitude " (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Eros, o humano e os humanismos". In: Eros, tecnologia, transumanismo. MONTEIRO, Maria Conceição e Outros (org.). Rio de Janeiro: Caetés, 2015, p. 47.

4

"Quando nosso ser está em jogo, então trata-se fundamentalmente de sermos ou não felizes, já que a plenitude do que somos é nosso maior empenho e penhor" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. “O mito de Midas da morte ou do ser feliz”. In: ---. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 188.

5

Só o sentido possibilita plenitude, a plena realização das possibilidades que todo ser humano já recebeu, ou seja, seu destino. Portanto, destino diz a morte como horizonte de possibilidade de realização do sentido da vida, que nos advém no saber inerente a todo questionar.


- Manuel Antônio de Castro

6

"Para o vivente só uma necessidade o angustia: ser vida, ser pleno e feliz. Felicidade é a plenitude acontecendo para a nossa condição de finitos. Só podemos, porém, falar em plenitude porque é essa, e só essa, que se torna a medida do que não é pleno. Satisfazer as necessidades com bens é ainda ser pleno na medida exata do bem dessa necessidade. Sentir dor e sofrimento é ainda a não satisfação da necessidade desse bem. É nesse âmbito, e só nesse, que se pode falar em mal. Sentimo-nos mal e carentes quando o que queremos como bem necessário nos é tirado" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. “O mito de Midas da morte ou do ser feliz”. In: ---. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 206.

7

"... cada momento da vida é uma oportunidade de caminhada. Está em nós não apenas olharmos, mas também vermos e pensarmos os momentos dessas oportunidades, aquilo que está para além do meramente superficial e aparente, passageiro e incompleto, pois existir é a caminhada de procura da realização da plenitude do que somos e já recebemos para ser" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A globalização e os desafios do humano". In: Revista Tempo Brasileiro, 201/202 - Globalização, pensamento e arte. Rio de Janeiro, abr.-set., 2015, p. 27.

8

"A liberdade não vem do “eu”, mas do destino do “sou”, de cada “sou”, em cada sendo um “eu”. Liberdade necessária. A plenitude acontece enquanto o pensar, que é a ascese da paixão de viver. A plenitude incorpora toda possível estesia na paixão do consumar, do levar ao sumo, onde razão, paixão e sentir são concretamente integrados, sendo um e o mesmo. Os gregos chamaram a esta realização de plenitude télos. Este é, portanto, não apenas todo agir causal. É algo além e muito mais, o levar à plenitude o que se é" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Liberdade, vontade e uso de drogas". In: ---. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 277.

9

"Em todo ato, o vigorar já vigora em sua plenitude, mas como esta não é um fim, mas uma consumação, a essência do agir tem sua medida no agir da essência, daquilo de quem recebemos nosso destino: o ser. Ser é verbo, o vigorar de todo agir. Ser então é a necessidade necessária" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Liberdade, vontade e uso de drogas". In: ---. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 277.

10

"Para os amantes o amar é a angustiante procura do sentido em tudo que sentem no mundo. O isolamento da solidão é a perda do sentido daquilo que cada um é e do mundo em que está. Mas quando há a perfeita solidão é que o sendo se deixou tomar pelo amar. A solidão amorosa é a plenitude de realização porque toda a realidade torna-se sonoridade silenciosa. O que aí quer dizer plenitude? Quando a plenitude acontece? Quando a plenitude não acontece? Notemos logo que onde houver limite e circunstâncias delimitadoras não há plenitude" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Amar e Ser". In:---. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 317.

11

"Deixar-se tomar pela plenitude exige coragem, uma entrega total e amorosa. De onde nos vem a plenitude ou por que tendemos sempre não apenas ao viver, mas ao existir em plenitude, isto é, tendemos sempre ao amar?" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Amar e Ser". In:---. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 318.

12

"Quando nosso ser está em jogo, então trata-se fundamentalmente de sermos ou não felizes já que a plenitude do que somos é nosso maior empenho e penhor" (1).


Referência:
(1) : CASTRO, Manuel Antônio de. “O mito de Midas da morte ou do ser feliz”. In: ---. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 188.

13

"Por que, então, achar que a consumação do que cada ente é, telos, em grego, deve consistir numa dissolução indiferenciante, num ser indiferenciado, se o que cada um é não lhe é dado pelos limites, mas pelo tempo-ontológico como doação do ser, que, para simplesmente ser, só pode ser a diferença das diferenças, embora se faça presente no presente com que presenteia cada ente-ser? Como se daria então a referência ser (não-mais-ente) / diferença como referência ao ser e como referência aos outros seres-não-mais-entes? Uma coisa fica clara. Cada ser-ente e cada ser-não-mais-ente é sempre uma doação do ser. Daí que o ser que doa só pode doar a partir da sua riqueza e não e jamais a partir do niilismo ou do ser como um abstração generalizante. Não é esse o ser que Heráclito nos convida a pensar sempre, quando diz: "tudo é um", indicando esse "tudo" riqueza de doação e plenitude?" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. Linguagem: nosso maior bem. Série Aulas Inaugurais. Faculdade de Letras, UFRJ, 2o. sem. / 2004, p.21
Ferramentas pessoais