Abstração

De Dicionário de Poética e Pensamento

1

"As abstrações e os processos abstratos, na trajetória da Cultura Ocidental, têm se revelado cada vez mais predominantes enquanto tentativas de medir, identificar e representar a realidade e assim, por meio da representação, têm sido mais simulacros tanto dos mistérios quanto da erradicação dos mistérios do que, propriamente, a admissão destes como um dos constituintes de realidade.
"[...] A abstração, como diz seu próprio prefixo, ao contrário do mistério, é movimento para fora, movimento des-centrador. Em seus encaminhamentos e em seus modos de relacionamento com a realidade, a abstração realiza um movimento contrário àquele produzido pelo mistério. A abstração é des-centramento" (1).


Referência:
(1) JARDIM, Antonio. Música: vigência do pensar poético. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 173.
- Ver o verbete abstrato.

2

"A palavra abstrato vem do latim abstraho que diz do que se retira, do se apresenta idealmente ou do que se representa. Em última instância, abstrato diria de uma representação à qual não corresponde nenhum dado sensorial ou concreto. Enquanto representação, a abstração implica sempre um outro, e institui sempre uma necessidade de correspondência. O abstrato traz consigo a necessidade de se perguntar o que ele abstrai, de onde ele se retira, o que ele representa. A abstração implica também, por outro lado, a identidade enquanto operacionalizador, na medida em que não é capaz de configurar o sentido desde sua própria vigência" (1).


Referência:
(1) JARDIM, Antonio. Música: vigência do pensar poético. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, pp. 173-4.

3

"O pensar, ao se desvincular da memória, se desvincula, de certo modo, de sua própria possibilidade de relacionamento com o concreto. Além disso, ele se autonomiza, num processo de crescente abstração. Quer dizer, num movimento de sempre levar para fora, de retirar. Nesse processo, se instaura e insiste a re-presentação que passa por um percurso curioso desde a necessidade da presença do representado, até chegar a substituir completamente aquilo que deveria apenas representar" (1).


Referência:
(1) JARDIM, Antonio. Música: vigência do pensar poético. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 189.
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