Pensar

De Dicionrio de Potica e Pensamento

1

"Sabemos que pensar vem de pensum, particípio passado do verbo péndere. Significa, portanto, pendido, pendurado. Formou-se, já em latim, o substantivo pensum, que diz, em sentido derivado, a tarefa, o encargo e, em sentido próprio, a quantidade de fio de lã que se pendura para a tarefa de tecer e fiar, durante a luminosidade de um dia... A concentração da articulação da tecelagem remete sempre, de alguma maneira, para além dos fios, para a tessitura, para a totalidade de integração que a tessitura realiza em silêncio" (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "O pensamento a serviço do silêncio". In: SCHUBACK, Márcia Sá Cavalcante (org.). Ensaios de filosofia. Petrópolis/RJ: Vozes, 1999, p. 246.

2

Pensar é interpretar. Mas isto jamais diz uma ação de quem interpreta como o determinante do pensar. Todo interpretar é um abrir-se para o vigorar do que em nós provoca e convoca uma escuta. Dessa maneira, todo interpretar é sempre um vigorar no "entre", pelo qual medimos nossa condição a partir do que somos e não-somos, na vigência do sentido do ser. O que sempre no pensar advém é o sentido do que somos. Isso é interpretar.


- Manuel Antônio de Castro

3

"Construir e pensar são, cada um a seu modo, indispensáveis para o habitar. Ambos são, no entanto, insuficientes para o habitar se cada um se mantiver isolado, cuidando do que é seu ao invés de escutar um ao outro. Essa escuta só acontece se ambos, construir e pensar, pertencem ao habitar, permanecem em seus limites e sabem que tanto um como outro provêm da obra de uma longa experiência e de um exercício incessante." (1)


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. "Construir, habitar, pensar". In: ---. Ensaios e conferências. Trad. Emmanuel Carneiro Leão, Gilvan Fogel e Marcia Sá Cavalcante Schuback. Petrópolis: Vozes, 2001, p. 140.

4

"O pensar poético é o pensar se manifestando realização concreta, por uma modalidade de fazer, tal como diz o verbo poiéo. Nessa manifestação, realizando, se dis-põe ao desvelamento. Por sua vez, nesse desvelamento não há certeza, há dinâmica. Sua concretude advém precisamente da ausência de certeza e da vigência de uma dinâmica. O pensar é apresentado como o pensar que pensa realizando, diferentemente de uma modalidade de pensar que se realiza como cumulação de abstrações, como informações coligidas para se apresentarem, no mais das vezes, como simulacro de alguma realização externa a esse mesmo pensar. O pensar vigente como desencadeador de realidade é o que faz com que o desvelar se pronuncie." (1)


Referência:
(1) JARDIM, Antonio. Música: vigência do pensar poético. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 33.

5

"Pensar não é raciocinar. É mais. É deixar-se atravessar pelo a-ser-pensado, pelo não saber de todo conhecer. Portanto, pensamento não é a mesma coisa que conhecimento, embora sejam o mesmo. Para o pensamento, o desafio é pensar o conhecido, pensando-o na sua proveniência. É, no dito poético, deixar advir o não-dito" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Interdisciplinaridade poética: o 'entre'". In: Revista Tempo Brasileiro. Rio de Janeiro: número 164, jan.-mar. 2006, p. 13.


Ver Também:
*Esperar

6

"Deixar dizer o que é digno de se pensar significa - pensar. Escutando o poema, pensamos desde a poesia. Desse modo, é a poesia, é o pensamento." (1)


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. "A palavra". In: A caminho da linguagem. Trad. Márcia Sá Cavalcante Schuback. Petrópolis: Vozes, 2003, p. 188.

7

"Pensar não é só saber, é também e em igual intensidade não-saber. Quando se pensa não se pretende saber. Quando se pretende saber não se pensa. É esse o sentido mais profundo do pensamento socrático expresso na célebre frase: oîda hóti ouk oîda, sei que não sei. Pensar significa fazer um empenho tanto no sentido de compreender cada palavra presente neste tema uma a uma, como compreender o seu interrelacionamento." (1)


Referência:
(1) JARDIM, Antonio. Música: vigência do pensar poético. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 158.

8

"O pensar é a dimensão que nos permite compreender a realidade para além de um somatório de realizações, bem como é o que nos permite, agindo, estar para além da dimensão do agir que se constitui a partir do agir e que leve apenas a uma modalidade de agir. Pensar é, na verdade, uma modalidade de radicalização do agir, isto é, é o agir levado à sua radicalidade, à sua raiz, ao seu fundamento, é, portanto, o agir que não se esgota, não se gasta, na ação." (1)


Referência:
(1) JARDIM, Antonio. Música: vigência do pensar poético. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 162.

9

"Pensar é não-saber. Quem sabe não pensa. Quem pensa não sabe. É que pensar cumpre sempre um desempenho de libertar-se de programações" (1).


(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "A sociedade do conhecimento: passes e impasses". In: Revista Tempo Brasileiro, Sociedade do conhecimento: passes e impasses, 152, jan.-mar., 2003, p. 17.

10

"O pensar não pode nunca erradicar os mistérios, na medida em que se nutre precisamente deles. A palavra mistério é proveniente do verbo grego mýo, e quer dizer concentrar-se, encerrar-se no âmago, recolher-se no íntimo. Mistério, portanto, nos fala de um determinado tipo de movimento, um movimento que se projeta em direção à origem, ao fundamento, à própria dinâmica do ser. O pensar, portanto, é a possibilidade de acolher o mistério não só como integrante de si mesmo, mas também da realidade." (1)


Referência:
(1) JARDIM, Antonio. Música: vigência do pensar poético. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 170.

11

"O pensar não é uma vigência excrescente. Ou seja: pensar não se dá por inércia. O pensar enquanto pensar, o pensar que pensa, que cuida e que vela a unidade, faz de si unidade, concentra-se."
"Pensar é uma modalidade própria de acionamento do real. Se hoje é possível se fazer esse acionamento de modo abstrato, isto é, retirando-se a densidade do real, não quer por isso dizer que tenha sido sempre deste modo. Na verdade não é talvez mais possível se saber de que modo, quando e onde o real passou a ser acionado, quase que exclusivamente, por meio da vigência da abstração." (1)


Referência:
(1) JARDIM, Antonio. Música: vigência do pensar poético. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 177.

12

"O pensar não é o outro do concreto. Ao contrário, é pelo pensar que o concreto vige para além, ou para aquém, de si mesmo, do mesmo modo que é pelo concreto que o pensar vige enquanto realização. Pensar e concreto se com-põem. Pensar não é a vigência da abstração. Pensar é um dos modos de concreção da possibilidade." (1)


Referência:
(1) JARDIM, Antonio. Música: vigência do pensar poético. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, pp. 177-8.

13

Sentença - III.
"... to gar auto noein estin te kai einai" (1). "...pois o mesmo é pensar e ser" (1).


Referência:
(1) PARMÊNIDES. Sentença III, (Trad. Sérgio Wrubleswski). In: Os pensadores originários - Anaximandro, Parmênides, Heráclito. Petrópolis / RJ: Vozes, 1991, p. 44 / 45.

14

"O saber do bardo constitui, em última instância, a possibilidade do pensar poético. Isto é fazer presente, é apresentar. O pensar poético é a vigência de uma modalidade de pensar comprometido com a presença em que o pronunciar é apresentação do que é presente. A presença é sempre presença substantivamente presente. O sentido só se dá mediante esta presença." (1)


Referência:
(1) JARDIM, Antonio. Música: vigência do pensar poético. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 191.

15

Pensar diz, portanto, não definir nem conceituar, mas o abrir-se para o aprender a pensar o que é digno de ser pensado. Isso é a travessia: dobra desdobrando-se, sempre inauguralmente. Toda dobra desdobrando-se é um contínuo discernir, isto é, um pensar no desvelado o velado, nas vivências do vivente a sua fonte, a vida.


- Manuel Antônio de Castro.

16

Pensar é o saber que se sabe ser por estar vigorando na linguagem.


- Manuel Antônio de Castro.

17

"Vez por outra um curioso me pergunta sobre as horas que separo para pensar... Sei não... Talvez as horas de insônia, ou debaixo do chuveiro, ou numa viagem de carro ou avião... O pensamento não se anuncia. Ele simplesmente vem. Todas as vezes que tentei marcar hora para pensar, as ideias me fugiram" (1). Esta pequena observação do articulista se torna essencial diante de uma tradição filosófica que identifica pensamento como raciocínio e construção lógica de sistemas, de filosofias, de obras filosóficas. Estas ligadas pela tradição milenar ao ócio, à preguiça, por oposição ao negócio (nec-otium), o não ócio, o filósofo profissional, aquele dependente do aprendizado da disciplina filosofia. Disso se criou uma oposição falsa entre classe dominante e dominada, pois só os da classe dominante se podiam entregar ao ócio, porque sobreviviam da exploração dos que trabalhavam. Todo ser humano, independente de condição social, é pensador. Basta deixar o pensamento acontecer em sua vida, faça o que fizer, estiver onde estiver. Pensar não é raciocinar, é deixar-se tomar pelo ser que já se é, pois o que se é são as possibilidades de chegar a ser. E isso é pensar, sem ligação com o aqui e agora circunstancial.


- Manuel Antônio de Castro


Referência:
(1) ALVES, Rubem. O espaço e o tempo do pensamento. In: Jornal Folha de São Paulo, 26-07-2011, C2, cotidiano.

18

Pensar é cuidar da paixão de viver, é sentir o sentido da paixão de viver. Lançados no rio da vida, esta se torna questão, pois é no pensar que a questão se torna o desafio do pensar, do experienciá-la enquanto paixão. Cuidar é, essencialmente, deixar eclodir no pensar apaixonado um figurar da vida.


- Manuel Antônio de Castro.

19

Pensar é deixar advir ao espelho o que se dá a ver das coisas e não vemos. Daí a necessidade de pensar, pois elas nos aparecem habitualmente nas imagens já constituídas, ou seja, nos conceitos ou tintas com que nos pintaram os sentidos, no dizer de Caeiro. É o aparecer aparente sem o ser, presente nos conceitos e representações. Pensar é nos deixarmos tomar pelo que elas são na luz que as faz inaugurais: ser no aparecer. Pensar é ver o que se dá a ver no vigorar da luz e julgamos que vemos. E não vemos. Torna-se necessário o pensar: sermos tomados pela luz na re-flexão, no especular. Especular é pensar.


- Manuel Antônio de Castro

20

Pensar é experienciar na música o vigorar do silêncio, no limite o não-limite de tudo o que é e está sendo, no horizonte o não-visível, no próprio o Outro de si mesmo e dos outros, no passado o futuro, na história o acontecer do [[nada]], nas obras de arte a arte e todas as artes, na finitude e solidão o humano de toda a humanidade, no instante a eternidade, na paixão a impossibilidade de identidadecompleta de eu e tu. Isso não acontece sem dor.
Pensar é a unidade do simples e do complexo. É desdobrar a dobra de pensar e ser, de amar e ser, de viver e morrer, de nada e tudo, do nada de tudo, do tudo de nada, de energia irradiante e ser. É deixar vigorar o mistério nas experienciações de pensar, [dizer, sentir, crer, conhecer e ser.


Referência:
CASTRO, Manuel Antonio de. “Ser e estar”. In: Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 62.

21

Pensar é deixar eclodir e se realizar em cada um e em cada conjuntura o sentido da realidade, sempre inaugural e não-causal, porque a realidade da linguagem e a linguagem da realidade são o mesmo (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Fundar e fundamentar". In: Pensamento no Brasil, v.I. Emmanuel Carneiro Leão. Rio de Janeiro: Hexis, 2010, p. 217.

22

Pensar não é raciocinar, estabelecer um determinado conhecimento manifesto num conceito com valor universal restrito ao âmbito que ele abarca e ao qual diz respeito enquanto determinado conhecimento. Pensar é experienciar o ser sendo o que somos. No experienciar chegamos a ser o que conhecemos. Se, para o conhecimento, o grande desafio está em conhecer o desconhecido, para o pensamento, o desafio é pensar o conhecido para além dos seus limites. Todo pensamento só pensa o já pensado no e pelo não pensado, o não-limite e universal concreto. Neste sentido, o já pensado é o que há de mais escondido e velado no e pelo conhecimento que gera dialeticamente. Se, para o conhecimento, esclarecer está em levar o obscuro para o claro, no pensamento se dá o contrário, esclarecer é levar o claro para o escuro, desmascarando o já sabido, ao revelar o não sabido, onde o tirar e pôr máscaras é um jogo dialético da própria realização da realidade em real, em que este é o conhecido e a realidade é o mistério do nada acontecendo nesse dar-se e retrair-se das realizações.


- Manuel Antônio de Castro

23

"A arte de pensar é dada por um modo extraordinário de sentir e escutar o silêncio do sentido, nos discursos das realizações. No pensamento não somos apenas enviados a remissões e referências. Não está na semântica ou na sintaxe a originariedade do pensamento. Uma paixão mais originária do que toda semântica ou qualquer sintaxe , a paixão do sentido, toma posse de nosso ser e nos faz viajar por dentro do próprio movimento de referir, de remeter, de enviar" (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. Posfácio. In: HEIDEGGER, Martin. Ser e tempo. Trad. Márcia Sá Cavalcante Schuback. 2. e. Petrópolis: Vozes, 2006, p. 551.

24

"O pensar não tem nem pode ter, necessariamente, sistema. O pensar não tem nem pode ter, necessariamente, ordem. O pensar não tem nem pode ter, necessariamente, regularidade. O pensar não tem nem pode ter, necessariamente, juízo. Enfim, o pensar não julga e não pode ser julgado exclusivamente a partir de uma ordem racional." (1)


Referência:
(1) JARDIM, Antonio. Música: vigência do pensar poético. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, pp. 168-9.

25

"Vivendo, os homens vão experimentando a paixão de viver e aprendendo com esta experiência. Pensar é a disciplina, a ascese e o ordenamento desta paixão” (Leão, 1997: 145) (1). "Pensar é cuidar da paixão de viver, é sentir o sentido da paixão de viver. Lançados no rio da vida, esta se torna questão, pois é no pensar que a questão se torna o desafio do pensar, do experienciá-la enquanto paixão. Cuidar é, essencialmente, deixar eclodir no pensar apaixonado um figurar da vida" (2).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Definições de filosofia". In: Rio de Janeiro, Revista Tempo Brasileiro, 130/131, 1997.
(2) CASTRO, Manuel Antônio de. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p.229.

26

"O pensar não julga. Pensa. O pensador quando assume o risco o assume inteiramente e não tem por que querer se justificar a priori ou a posteriori. Todo pensar que pensa é um risco, onde sempre se arrisca o tomar uma posição, a posição e risco da não-verdade da verdade e da verdade da não-verdade" (1).


Referência:
CASTRO, Manuel Antônio de. "Ser e estar". In: -------. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 20.

27

"Pensar é o acontecer poético do mesmo e enquanto o mesmo, sem jamais originar coisas iguais" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Época e tempo poético". In: ---------. Leitura: questões. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 282.

28

"O tema central na filosofia grega, começando com Parmênides e Górgias nos concerne a pensar o que não é. Pensar, portanto, consiste em uma relação com a coisa sobre a qual a pessoa pensa. No entanto, nenhuma relação pode acontecer se o que é relatado não acontece. Podemos, às vezes, pensar o que não existe. E isso é a loucura. Uma vida tão solipsista que acaba por afastar-se completamente da realidade" (1).


Referência:
(1) FRECHEIRAS, Marta Luzie de Oliveira. "Intencionalidade, memória e reminiscência em Aristóteles". In: Revista Tempo Brasileiro - Interdisciplinaridade: dimensões poéticas, 164. Rio de Janeiro: jan.-mar. 2006, p. 38.

29

"O pensar fundamentado na representação des-considera qualquer possibilidade de presença como decisiva para o pensar. A única presença indispensável acaba sendo a presença de suportes. A própria palavra se torna um entre outros suportes. Estes atuam como depositários da informação." (1)


Referência:
(1) JARDIM, Antonio. Música: vigência do pensar poético. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 190.

30

"Vemos no pensamento de Heidegger a copertença entre aprender a esperar e aprender a pensar. Se aprender a esperar é uma ascese, uma disciplina, o dom da [[espera favorece uma possibilidade de experienciarmos a essência do homem enquanto abertura e correspondência com o ser. Aquele que espera, espera o que não tem. Se o tivesse, não precisaria esperar, mas pode esperar porque de alguma maneira pertence àquilo que espera. Aprender a esperar é uma das modalidades de aprender a pensar" (1).


Referência:
(1) UNGER, Nancy Mangabeira. "Heidegger e a espera do inesperado". Rio de Janeiro: Editora Tempo Brasileiro. Revista Tempo Brasileiro: Interdisciplinaridade dimensões poéticas, 164, Jan.-mar. 2006, 180.

31

"Pensar diz, portanto, não definir nem conceituar, mas o abrir-se para o aprender a pensar o que é digno de ser pensado. Isso é a travessia: dobra desdobrando-se, sempre inauguralmente" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A gota d’água e o mar". In: -----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 246.

32

"O que significa pensar? Essa questão articula assim numa unidade dialética, isto é, numa unidade de integração das diferenças duas perguntas: o que é pensar? E o que nos faz pensar? Trata-se de uma questão tão fundamental, tão essencial, que opera em toda pergunta que se faça, em toda resposta que se venha a dar. Ora, só é possível saber, no sentido de sentir o sabor, do que significa pensar, pensando, vivendo, existindo. Não há outra possibilidade" (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "O que é pensar?". Conferência proferida na Academia Brasileira de Letras, em 2017.

33

"Pensar não é apenas uma atividade no cérebro de um mamífero inteligente que, de repente, descobriu o conhecimento. Pensar é ser as possibilidades próprias de realizar o que já sempre se é. Por isso, pensar não se reduz à atividade psicológica ou física do cérebro nem do indivíduo que reconduzisse o não sabido para o âmbito claro da razão e do discurso. Mas pensar é o contrário. É fazer a experiência de não se saber o que se apresenta na claridade da razão e do discurso" (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Dialética: entre o fechado e o aberto". Revista Tempo Brasileiro: Dialética em questão II. Editora Tempo Brasileiro, Rio de Janeiro, jul.-set., 2013, 194, p. 5.

34

"Pensar é a maior coragem, e a sabedoria, acolher a verdade e fazer com que se ausculte ao longo do vigor" (1).


Referência:
(1) HERÁCLITO. Fragmento 112. In: Os pensadores originários - Anaximandro, Parmênides, Heráclito. Trad. Emmanuel Carneiro Leão. Petrópolis: Vozes, 1991, p. 89.

35

"É dado a todos os homens conhecer-se a si mesmos e pensar" (1).


Referência:
(1) HERÁCLITO. Fragmento 116. In: Os pensadores originários - Anaximandro, Parmênides, Heráclito. Trad. Emmanuel Carneiro Leão. Petrópolis: Vozes, 1991, p. 89.

36

"Pensar diz respeito à essência do humano, porque nele procuramos realizar e chegar a ser as possibilidades próprias do que cada um já desde sempre é. E cada um é por uma doação do Ser, sendo, portanto, uma singularidade, irredutível a uma generalização conceitual" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Dialética e diálogo: A verdade do humano". In: Revista Tempo Brasileiro, 192, Dialética em questão I. Rio de Janeiro, jan.- mar., 2013, p. 13.

37

"O que o ver representava para o grego é o pensar para o homem ocidental a partir do Renascimento. Pensar é fundar na linguagem o agir" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "As faces do trágico em Vidas Secas". In: -----. Travessia Poética. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1977, p. 76.

38

"Pensar é deixar eclodir e se realizar em cada um e em cada conjuntura o sentido da realidade, sempre inaugural e não-causal, porque a realidade da linguagem e a linguagem da realidade são o mesmo" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Fundar e fundamentar". In: ------. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 102.

39

"Eis o que Sidarta aprendeu dos samanas. É aquilo que os tolos chamam de feitiço e que na opinião deles é obra dos demônios. Nada é obra dos demônios, já que não há demônios. Cada um pode ser feiticeiro. Todas as pessoas são capazes de alcançar os seus objetivos, desde que saibam pensar, esperar, jejuar" (1).


Referência:
(1) HESSE, Hermann. Sidarta. Trad. Herbert Caro. Rio de Janeiro: O Globo, 2003, p. 55.

40

"Portanto, ó Senhor, tu não és apenas aquilo de que não é possível pensar nada maior, mas és, também, tão grande que superas a nossa possibilidade de pensar-te. Com efeito, supondo que fosse possível pensar que existe um ser dessa espécie, se tu não fosses esse ser, poder-se-ia pensar uma coisa maior que tu; o que é impossível" (1).


Referência:
(1) ANSELMO, Santo. "Cap. XV - Que ele é bastante maior que aquilo que se pode pensar". In: Proslógio. Coleção: Os Pensadores. Santo Anselmo - Abelardo. São Paulo: Abril Cultural, 2. e., 1979, p. 113.

41

"Como pensar, então, o ser? Pensar o ser é o caminho que nos conduz a uma possível resposta. Não devemos, porém, superestimar o pensar, ou seja, o seu poder de formular perguntas e respostas, nem esquecê-lo. Isso se dá porque pensar significa deixar-se tomar pela questão. É deixar a realidade se manifestar enquanto sentido e verdade: mundo, linguagem" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A gota d’água e o mar". In: -----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 246.

42

O extraordinário não está fora do ordinário. Pelo contrário, ele vigora na âmago do ordinário e possibilita a sua existência, o poder ser real. Experienciar o extraordinário no ordinário é pensar. Quando pensamos, todo o ordinário se transfigura em sua existência aparente e limites.


- Manuel Antônio de Castro

43

"... viver, mais do que deixar correr a vida, deixar se levar pelas vivências e se deixar, enfim, levar por um querer da vontade, se torna uma tarefa poética incessante (tautologia) cuja dobra do que já desde sempre somos se desdobra e o ser humano se torna humano. É o pensar como experienciação da paixão de viver. Por isso, já nos disse Caeiro que “pensar é amar” (1) (2004, 98)" (2).


Referência:
(1) CAEIRO, Alberto. Poesia. In: PESSOA, Fernando. São Paulo: Cia. das Letras, 2004, p. 98.
(2) CASTRO, Manuel Antônio de. "Liberdade, vontade e uso de drogas". In: ----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 278.

44

" - Sócrates - Assim é, meu caro Fedro! Todavia, acho muito mais bela a discussão destas coisas quando se semeiam palavras de acordo com a arte dialética, uma vez encontrada uma alma digna para receber as sementes! Quando se plantam discursos que se tornam auto-suficientes e que, em vez de se tornarem estéreis, produzem sementes e fecundam outras almas, perpetuando-se e dando ao que os possui o mais alto grau de felicidade que um homem pode atingir!" (1).
A obra de arte e de pensamento é uma semente que procura e espera a alma fértil para nascer, crescer e dar frutos. Essa é a essência da obra de arte. E essa é a dialética pensada essencialmente, como nos diz o pensador Platão.


- Manuel Antônio de Castro
Referência:
(1) PLATÃO. Fedro. 5. e. Trad. Pinharanda Gomes. Texto grego estabelecido por Léon Robin, Paris, Les Belles Lettres, 1966. Lisboa: Guimarães Editores, 1994, p. 125, 276 e.

45

"Na hora do risco o pensador manifesta as potencialidades da língua, porque todo pensar traz sempre o perigo de deixar vigorar a linguagem de toda língua. Não é fácil nem é uma decisão do pensador. Acontece nele" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Ser e estar". In:------. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 20.

46

"O eu pensante não tem idade, e, na medida em que os pensadores não existem efetivamente senão no pensar, sua felicidade e infelicidade é o se tornarem velhos sem envelhecer. Com a paixão do pensar ocorre o mesmo que acontece com as outras paixões: o que habitualmente conhecemos como particularidades próprias da pessoa, cuja totalidade ordenada pela vontade produz então algo como um caráter, não resiste ao assalto da paixão que toma e, de certa forma, se apodera do homem e da pessoa." (1)


Referência:
(1) ARENDT, Hannah. Homens em tempos sombrios. São Paulo: Companhia das Letras, 1987, p. 226.

47

"Que quer que pensemos e qualquer que seja a maneira como procuramos pensar, sempre nos movimentamos no âmbito da tradição. Ela impera quando nos liberta do pensamento que olha para trás e nos libera para um pensamento do futuro, que não é mais planificação.
Mas somente se nos voltamos pensando para o já pensado, seremos convocados para o que ainda está para ser pensado" (1).


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. "O princípio da identidade". In: _____. Identidade e diferença, tradução Ernildo Stein. Vozes / Petrópolis / RJ em co-edição com Livraria Duas Cidades, São Paulo, 2006, p. 52.

48

"Pensar é experienciar na música o vigorar do silêncio, no limite o não-limite de tudo que é e está sendo, no horizonte o não-visível, no próprio o Outro de si mesmo e dos outros, no passado o futuro, na história o acontecer do nada, nas obras de arte a arte de todas as artes, na finitude e solidão o humano de toda a humanidade, no instante a eternidade, na paixão a impossibilidade de identidade completa de eu e tu. Isso não acontece sem dor.
Pensar é a unidade do simples e do complexo. É desdobrar a dobra de pensar e ser, de amar e ser, de viver e morrer, de nada e tudo, do nada de tudo, do tudo de nada, de energia irradiante e ser. É deixar vigorar o mistério nas experienciações de pensar, dizer, sentir, crer, conhecer e ser" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Ser e pensar: o aprender". In:------. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 62.

49

"O fator mais virulento e violento dessas três pragas é que elas afetam e procuram impedir o exercício e, muito mais, a experienciação do pensar. Mas o que pensar tem assim de tão importante e perigoso – num sentido inverso ao das pragas -? É que o pensar é o difícil e gratificante caminho da realização onto-poética. É uma graça que vem da renúncia, onde renunciando e só renunciando se tem mais: a posse do que nos foi dado e doado como o que nos é próprio" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio. "As três pragas do século XXI". In: Confraria - 2 anos. Rio de Janeiro: Confraria do Vento, 2007, p. 17.

50

"Quando pensamos a questão como questão, já estamos nos abrindo onto-poeticamente para a referência pensar/questionar. Como se vê, a primeira de todas as questões é o próprio questionar enquanto dado no pensar e no próprio questionar. E aí não podemos ir mais longe, isto é, a pergunta que pergunta pelo questionar não pode fundar o questionar, mas este enquanto ato que se ao e no ser humano dá-se primordial e originariamente como agir do questionar. E estes é que, ao se darem naquele que pergunta e questiona, já fundam o agir e o pensar de quem questiona no perguntar. Ou seja, simplesmente o agir e o questionar precedem e fundam o próprio ente que age e questiona" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. “Heidegger e as questões da arte”. In: Manuel Antônio de Castro, (org.). Arte em questão: as questões da arte. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 16.

51

"Do mesmo modo que só podemos ficar surdos pelo fato de ouvirmos e envelhecer pelo fato de termos sido jovens, só podemos tornarmo-nos pobres-em-pensamentos ou mesmo sem-pensamentos em virtude de o homem possuir, no fundo (Grund) da sua essência, a capacidade de pensar, "o espírito e a razão", e em virtude de estar destinado a pensar. Só podemos perder ou, melhor, deixar de ter aquilo que, consciente ou inconscientemente, possuímos" (1).


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. Serenidade. Lisboa: Instituto Piaget. Trad. Maria Madalena Andrade e Olga Santos, s/d., p. 12.
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