Cotidiano

De Dicionrio de Potica e Pensamento

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Se, por um lado, o cotidiano é o inaugural da realidade, por outro, a preguiça natural e as tintas com que nos pintam os sentidos (Caeiro) fazem do cotidiano a mais insistente e deletéria repetição. Como as pessoas se repetem, pensando que são inovadoras! Como os valores e atitudes se repetem, pensando que estão mudando e sendo diferentes! E como é difícil se abrir para o acontecer da realidade, até porque esta é o que está sempre se realizando, sempre em realização e não e jamais o que se vê e julga já feito!
Para o ser humano, o cotidiano é a mais insidiosa armadilha para o esquecimento do que é: permanente vir a ser. A frase feita é o cotidiano se repetindo em sua banalização com ares de novidade. Nâo basta repetir e dizer o feito, é necessário no feito e já passado desentranhar o não-feito e não-pensado, fonte de todo futuro. O futuro está no passado e é este o enigma que nos desafia para chegarmos a ser o que somos, sendo sempre um devir, um cumprir nossa sina, nosso destino, que não é o feito, mas no feito o por fazer.


- Manuel Antônio de Castro


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“Ressaltando que o cotidiano é uma ventura de realidade filigranada na teia da phýsis, embora retesado num fotograma, o que dele se detém é uma fagulha mediante o ofuscante brilho do real. Portanto, o cotidiano não pode ser impresso, e sim a pausa de sua inevitabilidade, isto é, a pequena lembrança que pode desencadear toda uma complexidade de presentificações: o intercâmbio de realidades suscitadas pela imagem poética” (1).


Referência:
(1) PESSANHA, Fábio Santana. A hermenêutica do mar – Um estudo sobre a poética de Virgílio de Lemos. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2013, p. 122.
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