Espaço

De Dicionrio de Potica e Pensamento

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"Espaço é algo espaçado, arrumado, liberado, num limite, em grego péras. O limite não é onde uma coisa termina mas, como os gregos reconheceram, de onde alguma coisa dá início à sua essência. Isso explica por que a palavra grega para dizer conceito é horismós, limite. Espaço é, essencialmente, o fruto de uma arrumação, de um espaçamento, o que foi deixado em seu limite" (1).


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. "Construir, habitar, pensar". Trad. Marcia Sá Cavalcante Schuback. In: Ensaios e conferências. Petrópolis: Vozes, 2001, p. 134.

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Pelo domínio dos conceitos científicos, onde domina a percepção de tudo que nos cerca e constitui o universo, o espaço ficou reduzido a um significado dominante, perdendo-se seu sentido mais profundo, o humano, que precede toda e qualquer determinação conceitual da ciência. Preceder diz aí possibilitar esses conceitos, sem que eles abarquem toda a realidade. É o caso muito importante em nossa vida de algo fundamental: o espaço. Este em seu sentido originário, manifestação do humano no vigorar da physis é lugar, é habitação. Diz Heidegger: "Aquilo em que uma coisa devém é o que chamamos 'espaço'. Os gregos não possuem nenhuma palavra para dizer 'espaço'. Isso não é mero acaso. Fizeram a experiência do que é 'espacial' não a partir da extensio mas do lugar (topos), como chora. Chora não significa nem lugar nem espaço e sim o que é tomado e ocupado pelo que está em si mesmo. O lugar pertence à própria coisa em si mesma. As diversas coisas, cada uma tem seu lugar próprio" (1). O espaço como lugar torna-se algo que vigora a partir do próprio. Então a questão do espaço é a questão do próprio. O que é o próprio?


- Manuel Antônio de Castro


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. Introdução à metafísica. Trad. Emmanuel Carneiro Leão. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1969, p. 94.

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"Aristóteles nomeia aquilo que nós chamamos de espaço com dois nomes diferentes [em grego]: Topos e chora. Topos é o espaço que um corpo ocupa imediatamente. Este espaço ocupado pelo corpo foi inicialmente configurado pelo corpo (soma, em grego). Este espaço tem os mesmos limites que o corpo. Uma observação a este propósito: o limite não é, para os gregos, aquilo pelo qual alguma coisa cessa e toma fim, mas aquilo a partir de onde alguma coisa começa, por onde ela tem seu acabamento. O espaço ocupado por um corpo, topos, é o seu lugar" (1).


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. Remarques sur art - sculpture - espace. Trad. do alemão por: Didier Franck. Paris: Rivages poche / Petite Bibliothèque, 2009, p. 18. Tradução do francês: Manuel Antônio de Castro.

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"No sentido grego, o espaço é visto a partir do corpo, como sendo seu lugar, como o que contém o lugar. Cada corpo possui, entretanto, seu - próprio - lugar, um lugar que lhe é conforme" (1).


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. Remarques sur art - sculpture - espace. Trad. do alemão por: Didier Franck. Paris: Rivages poche / Petite Bibliothèque, 2009, p. 18. Tradução do francês: Manuel Antônio de Castro.


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O tempo é uma questão. E como questão não podemos viver fora do tempo nem sem tempo. Em si, ele, não como conceito, mas como questão, é o tempo poético, o tempo do existir, fazendo-se, ou seja, o acontecer, isto é, o tempo em sua densidade máxima, porque é o tempo destinado a cada ser vivente. Tempo é Vida sendo, destinando-se em cada vivente. É o tempo do ser, em que SE dá o ser e, por isso, é inclassificável, só experienciável como tempo poético, dando-se e presentificando-se, enfim, sendo. Por isso, o tempo é a quarta dimensão do espaço, como afirmam os físicos. Porém, tal tempo não é o tempo tripartido (somente cronológico), porque o tempo tem também uma quarta dimensão: é a linguagem (1). Esta é o tempo poético. E pensá-lo é a Poética. Se o tempo é a quarta dimensão do espaço e a linguagem a quarta dimensão do tempo, a linguagem é o fundar de tempo e espaço. Esse fundar é o fundamentar o lugar. Lugar ou campo é mundo. A linguagem é mundo e sentido, porque o mundo é a quarta dimensão da linguagem. Como o leitor percebe, torna-se imprescindível a leitura do ensaio de Heidegger abaixo indicado, onde apreendemos estas ideias.


- Manuel Antônio de Castro
Referência:
1) Cf. HEIDEGGER, Martin. "Tempo e ser". In: ______. Os pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1979, pp. 255-72.

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"O espaço sendo espaço é o tempo acontecendo. Daí o tempo ser a quarta dimensão do espaço. As três outras dimensões do espaço são: comprimento, largura e altura. Toda proposição é ao mesmo tempo uma proposição espacialposição – e uma proposição temporalpro-, que diz o vir à frente, o acontecer do tempo" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Espelho: o perigoso caminho do auto-diálogo". Ensaio não publicado.

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"A história não pode, portanto, ser vista só na sua dimensão horizontal, porque não há horizontalidade sem verticalidade. O inverso também é verdadeiro. A sucessão linear (temporal) manifesta a espacialidade dos fatos, enquanto inscrição do paradigma (para-: ao lado de; -digma: manifestação). O paradigma permite-nos apreender espacialmente os diferentes fatos assinalados ordenadamente (-tagma) entre si (syn-), enquanto manifestação temporal. O espaço é a configuração temporal. Projetamo-nos temporalmente para nos percebermos espacialmente" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Paradigma e identidade". In: ------. Tempos de Metamorfose. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1994, p. 190.

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"O “lugar” como abertura já diz o que se dá enquanto sentido e verdade. É neste encaminhamento que apreendemos a realidade enquanto espaço e tempo, ou seja, o sentido e sua verdade ética-erótica, dimensões essenciais do sentido. Sentido, verdade e mundo, que são a linguagem atuando, fundam o espaço e o tempo, que possibilitam diferentes posições e perspectivas" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O ler e suas questões”. In: ------------. Leitura: questões. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 20 .
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