Heidegger

De Dicionário de Poética e Pensamento

Tabela de conteúdo

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"Os escritos de Heidegger não compõem um corpo de textos para uma exegese erudita, mas uma voz que nos interpela no sentido de por em movimento nossa própria reflexão. A entrada na dimensão de pensamento sinalizada por sua obra exige paciência e coragem. Exige a disponibilidade em abrir mão de hábitos cristalizados, de respostas familiares, enfim, de toda pretensão de segurança e controle. Nos põe diante do desfio de repensar a identidade do homem e o sentido do ser; nos interpela a aprender um pensar que se põe à escuta do sentido de nosso tempo" (1).


Referência:
(1) UNGER, Nancy Mangabeira. "Heidegger e a espera do inesperado". Rio de Janeiro: Editora Tempo Brasileiro. Revista Tempo Brasileiro: Interdisciplinaridade dimensões poéticas, 164, Jan.-mar. 2006, 179.

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"Para Heidegger, a ação humana não pode mudar a compreensão do ser que é vigente hoje, nem acelerar o advento de uma nova compreensão. Mas a preparação para este advento diz respeito a uma espera ativa. Nesta espera, a forma mais alta de ação é a de um pensar que se põe à escuta do sentido de nosso tempo. O entendimento ainda não é a escuta. A escuta é um entendimento que exige o esforço, a devoção, o recolhimento do pensamento" (1).


Referência:
(1) UNGER, Nancy Mangabeira. "Heidegger e a espera do inesperado". Rio de Janeiro: Editora Tempo Brasileiro. Revista Tempo Brasileiro: Interdisciplinaridade dimensões poéticas, 164, Jan.-mar. 2006, 180.

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"Vemos no pensamento de Heidegger a copertença entre aprender a esperar e aprender a pensar. Se aprender a esperar é uma ascese, uma disciplina, o dom da [[espera favorece uma possibilidade de experienciarmos a essência do homem enquanto abertura e correspondência com o ser. Aquele que espera, espera o que não tem. Se o tivesse, não precisaria esperar, mas pode esperar porque de alguma maneira pertence àquilo que espera. Aprender a esperar é uma das modalidades de aprender a pensar" (1).


Referência:
(1) UNGER, Nancy Mangabeira. "Heidegger e a espera do inesperado". Rio de Janeiro: Editora Tempo Brasileiro. Revista Tempo Brasileiro: Interdisciplinaridade dimensões poéticas, 164, Jan.-mar. 2006, 180.

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"Não é de estranhar porque consideramos Heidegger um poeta, um poeta do pensamento e da prosa, um poeta poetando o ato de pensar, um poeta do questionar. E os poetas, com um sexto sentido, mais aguçado, portadores de uma sensibilidade, quiçá, extra-sensorial, captam, percebem o atemporal, o além-do-tempo; além do horizonte, tais grandes poetas são seres-águias que enxergam bem mais longe do que a medianidade geral das demais aves-pessoas" (1).


Referência:
(1) ROCHA, Antônio Carlos Pereira Borba. "Diálogo com Chuang Tzu, hoje". In: Revista Tempo Brasileiro, 171 - Permanência e atualidade da Poética. Rio de Janeiro, out.-dez., 2007, p. 165.

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"O senso comum tem a tendência de excluir ou um ou outro, ou o feio ou o bonito, o alto ou o baixo etc. O pensamento originário propõe os dois ao mesmo tempo e automaticamente nenhum; e antes de pensarmos em niilismo, negativismo, derrotismo, vemos aí a presença do “entreâ€. Heidegger foi muito feliz nesta tradução do “entreâ€, pois vemos na questão do Entre-ser [Em alemão: Dasein], uma compreensão, uma vivência tipicamente recomendada por Chuang Tzu" (1).


Referência:
(1) ROCHA, Antônio Carlos Pereira Borba. "Diálogo com Chuang Tzu, hoje". In: Revista Tempo Brasileiro, 171 - Permanência e atualidade da Poética. Rio de Janeiro, out.-dez., 2007, p. 168.

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"A diferença de Hegel quanto ao pensamento de Heidegger é uma diferença sutil. Para Hegel, o processo dialético tanto na História quanto no sujeito (tanto no espírito subjetivo quanto no espírito objetivo) constitui uma dialética trancada. Ela entra e alcança a sua plenitude. E então só pode se dar a repetição do mesmo processo. Ela começa a se desfazer da sua riqueza para voltar novamente a se fazer. É um ciclo trancado. Para Heidegger, a dialética é sempre aberta. Nós não sabemos o mistério que estabelece a possibilidade de andamento do ritmo dialético e ele nunca termina. Está sempre em aberto. É o que nos diz o verbo latino hiare, abrir-se, de onde vem hiatos, hiato, hiância, em português. Para Heidegger, o movimento em qualquer nível que seja: no real, na natureza, na vida, na consciência, na cultura, na história, é sempre aberto. Nunca se tranca. Nunca termina" (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Dialética: entre o fechado e o aberto". Revista Tempo Brasileiro: Dialética em questão II. Editora Tempo Brasileiro, Rio de Janeiro, jul.-set., 2013, 194, p. 8.

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"4a.Heidegger procede a toda uma releitura da trajetória da filosofia ocidental, interpretando-a no horizonte do pensamento e da poesia. Isso torna as reflexões sobre arte extremamente complexas e inovadoras;
5ª. Seus ensaios se afastam completamente do vocabulário elaborado pela metafísica para tratar das obras de arte. Se o leitor não se colocar nessa nova postura e horizonte, todo o novo modo de revivificar a arte se tornará muito difícil" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. “Heidegger e as questões da arteâ€. In: Manuel Antônio de Castro, (org.). Arte em questão: as questões da arte. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 12.

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"Outra ultrapassagem do pensamento de Sartre se verifica em Heidegger quanto à questão de que a liberdade tem ou não tem uma lei interna que ela tem de seguir para se realizar: em Sartre, a liberdade é puro projeto sempre totalmente vazio de direção prefixada, em Heidegger, a liberdade radica no ser e significa estar aberto ao ser. E, por isto, realizar-se como livre significa realizar-se em direção ao ser, com a conseqüência de que o ser se torna a norma necessária interna da liberdade. Significa isto que, enquanto em Sartre não há norma do agir humano, mas, ao contrário, é moral somente aquilo que escolho livremente, seja o que for, em Heidegger, só é moral a ação que escolhe em direção ao ser. Em Heidegger o próprio ser se torna norma absoluta da liberdade. Temos assim em Heidegger realmente uma liberdade que tem um sentido, e, mais ainda, que encerra todo o sentido de vida humana como a um tender a uma sempre maior aproximação do ser infinito e absoluto" (1).


Referência:
(1) HUMMES, o.f.m. Frei Cláudio. Metafísica. Mimeo. Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963. Depois tornou-se Bispo e hoje é Cardeal.

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"Cada texto poético não é como tal um ente ao lado do que propriamente é um ente, p. ex., algo dotado de código genético ou funcionalidade, como sendo isto ou aquilo, este ou aquele utensílio. Então os textos, melhor, as obras, que são obras porque operam, se constituem de imagens-questões. Por exemplo, “Campoâ€, no ensaio de Heidegger “O caminho do campoâ€, é uma Imagem-questão. Que questões essa imagem nos coloca? Aí é só começar a pensar. E então podemos ligar "campo" a lugar, a mundo, a Terra, a Céu, aos mortais, aos imortais" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. “Heidegger e as questões da arteâ€. In: Manuel Antônio de Castro, (org.). Arte em questão: as questões da arte. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 20.

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"As questões se fazem presentes nos mitos e nas obras de arte como imagens-questões. Ler e interpretar os mitos e as obras de arte consiste, numa dimensão de aprendizado, apreender as questões que eles manifestam. O itinerário do pensamento de Heidegger, por influência de Hölderlin, levou-o ao vigor do pensamento mítico-poético. Porém, a questão inaugural em Heidegger é sempre a mesma: o Dasein e o sentido do Ser" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. “Heidegger e as questões da arteâ€. In: Manuel Antônio de Castro, (org.). Arte em questão: as questões da arte. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 21.

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"O mito e a arte de Sófocles nos trazem a mais profunda reflexão sobre a questão sempre atual da essência da Polis e do exercício do poder, que ela necessariamente implica. Essa questão também será um dos temas centrais da obra de Platão, não pelo viés dos políticos e suas demagogias, mas pela junção essencial que há entre saber e poder. Qual novo “Édipoâ€, Platão vai experimentar a mesma travessia dele. É o que ele nos mostra na “Sétima cartaâ€. Acreditando mais em Platão que em Sófocles, também Heidegger irá amargar as contradições do exercício do poder da Polis. Presente nestes três gênios, o enigma maior da essência do saber e do sentido do agir" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. “Heidegger e as questões da arteâ€. In: Manuel Antônio de Castro, (org.). Arte em questão: as questões da arte. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 24.

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"Nós só somos o que somos no âmbito, densidade e dimensão das questões. Mas há uma aprendizagem – não há outro método senão os caminhos de Hermes. A aprendizagem de Hermes é a experienciação do verbo. Pois Hermes, em sua etimologia, significa verbo. E verbo é ação. É importante guardar que o agir do verbo, que é a physis, o ser, o real se manifestando, os gregos chamaram poiesis. Mas em que consiste a essência e sentido do agir do real, da physis? Todos sabemos que Hermes é o mensageiro dos deuses. A nós, mortais, cabe escutar a sua voz ou a voz de Mnemósine através das Musas. É neste sentido que proponho as questões da arte na obra de Heidegger. Outras escutas podem achar outros caminhos. Eles serão sempre bem-vindos" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. “Heidegger e as questões da arteâ€. In: Manuel Antônio de Castro, (org.). Arte em questão: as questões da arte. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 29.

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"Pela produção e contínuas referências às obras dos grandes pensadores, no século vinte, Heidegger foi talvez o pensador que mais profundamente leu, conheceu e pensou as grandes obras de todos os filósofos e pensadores ocidentais, centralizando-se, sem dúvida, nos seus fundadores: os pensadores originários, Platão e Aristóteles. O que daí resultou ainda não pode ser devidamente entendido (E algum dia o será? Ele fez uma leitura original, originária e inaugural de escuta, provocando e convocando a novas escutas) nem avaliado, uma vez que suas obras ainda estão sendo publicadas. E elas não podem ser tomadas em bruto, pois, como o próprio Heidegger faz frequentemente com os autores sobre os quais escreve, é um detalhe, uma nota não notada, que traz indícios essenciais" (1).
Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. “Heidegger e as questões da arteâ€. In: Manuel Antônio de Castro, (org.). Arte em questão: as questões da arte. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 30.

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"Todos sabemos que Heidegger é um pensador. Mas nele, para além das peripécias biográficas, há um percurso de pensamento extremamente complexo. E ele é essencial para entendermos como e em que dimensão as questões da arte se entrelaçam com as questões de pensamento" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. “Heidegger e as questões da arteâ€. In: Manuel Antônio de Castro, (org.). Arte em questão: as questões da arte. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 30.

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"O pensador, educado no catolicismo, é mandado para o seminário para estudar teologia. E então o bispo o presenteia com um livro recém-publicado, de Franz Brentano: O sentido múltiplo do ser em Aristóteles. Esta leitura desperta nele a questão que o acompanhará por toda a vida e é a espinha dorsal de suas obras: o sentido do ser. Sobre o ser sempre se escreveu muito. E sobre o sentido do ser? Qual é o sentido do ser? Isso implica o sentido do agir em cada um, o sentido da ação. Por isso, não se trata de um ser que seria o substrato abstrato e conceitual dos entes ou o nome para uma divindade abstrata, um ser supremo, criador distante. Também não se trata do ser lógico, fundamento da subjetividade, de um eu-profundo, a ideia absoluta, seja ideal, seja material. O ser compreendido dessas maneiras constitui o percurso onto-teo-lógico da filosofia ocidental (“Identidade e diferençaâ€, Abril Cultural, Os pensadores, Heidegger,1979). O que seria o sentido do Ser? Essa é a questão a ser pensada, a questão esquecida, o esquecimento do sentido do ser" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. “Heidegger e as questões da arteâ€. In: Manuel Antônio de Castro, (org.). Arte em questão: as questões da arte. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 30.

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"Fiel à questão do esquecimento do sentido do Ser, empreende ao longo de sua vida acadêmica um estudo minucioso e metódico das obras dos grandes pensadores do ocidente. Com uma diferença: não se guia pelas classificações tradicionais e sistêmicas da história da filosofia. Pelo contrário, critica esse aglomerado historiográfico linear, baseado em classificações sem uma espinha dorsal e por isso sem sentido. E tem sempre em vista a questão para ele inaugural, mas esquecida. Nada fica fora do seu questionamento, inclusive as próprias conceituações em que se estruturam as diferentes leituras da história da filosofia. Seu itinerário é elucidativo, extremamente rico, mas não linear: quanto mais avança, mais recua. Começa com Platão e chega a Husserl (embora já convivesse com Husserl e Aristóteles desde o começo. O que quero mostrar é o itinerário de pensamento, não necessariamente a ordem das leituras), mostrando depois a estrutura onto-teo-lógica da filosofia ocidental. Na aula inaugural de 1929: “O que é metafísica?â€, a pesquisa incessante do esquecimento do sentido do Ser já o tinha conduzido à questão do “Nadaâ€, mas que nada tem a ver com o niilismo da modernidade" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. “Heidegger e as questões da arteâ€. In: Manuel Antônio de Castro, (org.). Arte em questão: as questões da arte. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 31.

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"Este itinerário de recuo até o mito, para mais avançar na questão inaugural do esquecimento do sentido do Ser, tem consequências importantes para o tema que nos interessa: as questões da arte em Heidegger:
1º. Reúne mito, poesia e pensamento;
2º. Redige nessa altura os principais ensaios em torno da arte;
3º. Centraliza-se nas questões essenciais para o pensamento e para a arte: Ser, “coisaâ€/res, linguagem, verdade, tempo, memória, destino, poesia, mundo, Terra, Céu etc.;
4º. Relê em novas dimensões, impulsionadas pelo mito, a poesia e o pensamento, a questão fundamental e permanente do sentido do Ser ou Real" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. “Heidegger e as questões da arteâ€. In: Manuel Antônio de Castro, (org.). Arte em questão: as questões da arte. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 32.

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"Insistindo na questão do esquecimento do sentido do Ser, Heidegger põe toda a filosofia em questão. Mas esse questionar não significa um excluir ou tentar superar os sistemas anteriores, para pôr em seu lugar uma nova verdade e um novo sistema ou, no caso da arte, uma nova estética. Não. Ele se mantém firme sempre nas questões a serem pensadas, no a-se-pensar. Este não cabe jamais nos conceitos nem em algum sistema. Os leitores profissionais de filosofia querem de qualquer maneira rotulá-lo e classificá-lo. No fundo, ler Heidegger é se abrir para as questões, para o a-se-pensar" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. “Heidegger e as questões da arteâ€. In: Manuel Antônio de Castro, (org.). Arte em questão: as questões da arte. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 34.

19

"Alguns estudiosos e leitores, sem aderirem ao pensamento, passaram a usar o novo “vocabulário†de Heidegger, mas sem mudança dos conceitos para o pensamento e o que ele implica. Usavam a “palavra nova†continuando a pensar como antes. O exemplo mais citado por Heidegger diz respeito à “verdadeâ€. Esta é uma questão central para o mito, o pensamento e a arte (cf. o enigma sobre verdade que a esfinge propõe a Édipo)" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. “Heidegger e as questões da arteâ€. In: Manuel Antônio de Castro, (org.). Arte em questão: as questões da arte. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 34.

20

"Num movimento pendular e dialético de caminhada de ascensão e ao mesmo tempo de descensão, move-se numa procura do sentido do Ser a partir do homem (Da-sein/Entre-ser) concreto (presença ainda do método fenomenológico com seu lema: volta concreta às coisas e abandono dos conceitos prévios) e ao mesmo tempo e cada vez mais busca o sentido do ser humano a partir do sentido do Ser, que como nada configura o homem e o real em seu mistério mito-poético. No pendular desse ir e vir, uma palavra enigmática constitui o pêndulo sempre presente e central da obra de Heidegger: Da-sein. A tradução literal, como Ser-aí, não consegue apreender a dinâmica verbal de pensamento que ela concentra... O “Da†de Da-sein, mais do que uma relação espacial ou temporal, diz muito mais o “entre†da liminaridade (limite e não-limite), do horizonte e da clareira, em que o ser se dá retraindo-se. Da pode ser traduzido por “entreâ€, se este for pensado em toda a sua enigmática densidade. O ser humano como Da-sein é, de fato, o Entre-ser como o ambíguo Ser-do-entre" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. “Heidegger e as questões da arteâ€. In: Manuel Antônio de Castro, (org.). Arte em questão: as questões da arte. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 33.

21

"A passagem que conduz do Deus impessoal dos filósofos ao Deus pessoal do cristianismo, esta passagem considerada à luz da verdade esquecida do Sagrado é tão ilusória como a passagem que leva do humanismo da substância ao humanismo do sujeito. Heidegger lembra que a categoria de pessoa não é menos carregada das potências metafísicas de dessacralização e desumanização do que as categorias de objeto e de coisa" (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. Aprendendo a pensar I. Teresópolis: Daimon, 2008, p. 217.

22

"Na realidade, as questões da arte em Heidegger não podem ser isoladas teoricamente para depois buscar a sua aplicação. Ele as pensa e repensa continuamente tanto nos ensaios sobre arte e de pensamento como nas leituras dos grandes poetas. Se o leitor não perceber isto, vai ser muito difícil saber em que dimensões se dão e acontecem as questões da arte em Heidegger" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. “Heidegger e as questões da arteâ€. In: Manuel Antônio de Castro, (org.). Arte em questão: as questões da arte. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 35.

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"A angústia nos corta a palavra. Pelo fato de o ente em sua totalidade fugir e, assim, justamente, nos acossar o nada, em sua presença, emudece qualquer dicção do "é". O fato de nós procurarmos muitas vezes, na estranheza da angústia, romper o vazio silêncio com palavras sem nexo é apenas o testemunho da presença do nada. Que a angústia revela o nada é confirmado imediatamente pelo próprio homem quando a angústia se afastou. Na posse da claridade do olhar, a lembrança recente nos leva a dizer: Diante de que e por que nós nos angustiamos era "propriamente" - nada. Efetivamente: o nada mesmo - enquanto tal - estava aí" (1).
De alguma maneira a angústia está ligada à nossa condição humana de finitos, ou seja, à nossa finitude, pois nesta nos defrontamos com o nada que elimina quaisquer limites e então surge a angústia diante do infinito. É que a finitude se faz presente em todo o nosso caminhar, em todo o nosso querer, em todas as nossas ações em sua essência. Como fica a nossa liberdade e o nosso conhecer? Devemos seguir Sócrates quando diz que só sei que nada sei? Certamente somente o ser humano é tomado pela angústia, pois só ele é finito e sabe que é finito diante do infinito. Como fica diante da finitude a nossa plenitude e felicidade?


- Manuel Antônio de Castro
Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. "Que é metafísica?". In: ------. Heidegger. Coleção Os pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1979, p. 40.

24

A noção de ser no mundo foi desenvolvida sistematicamente pelo pensador alemão Martin Heidegger no livro Ser e Tempo (Sein und Zeit), de 1927. Na obra Heidegger desenvolve como tema fundamental a questão de repensar no itinerário do pensamento ocidental o sentido do ser, esquecida que foi pela metafísica tradicional. Porém, se fazia presente já desde os pensadores gregos, sobretudo o pensador Platão, com a obra do qual Heidegger dialoga muito.


- Manuel Antônio de Castro.


- Manuel Antônio de Castro.
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