Voz

De Dicionrio de Potica e Pensamento

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Diversos animais emitem sons, mas só o homem emite voz. A voz só é voz pela vigência da linguagem. Por isso, também é a partir da voz que podemos falar do som dos animais, que podemos falar dos animais, que podemos, enfim, falar das coisas, dos entes. Ora, é a partir da linguagem que o real se manifesta como mundo.
A voz não é compreendida como phoné, mas como Logos, ou seja, como voz que gera um sentido ético-poético. É, porém, essencial compreender que os sons que os animais produzem são próprios, são deles e não uma criação do homem ao manifestá-los como sentido. É pelo vigorar da physis tanto nos animais como nos homens que há sons e voz. A physis/ser se dimensiona como logos no homem e só no homem é que ela mesma se dá e manifesta como som e voz ao mesmo tempo. A voz se faz sentido no homem, abrindo as possibilidades das criações da música e esta vigindo se dá nos ritmos. Em todo falar humano, por ser voz, há ritmo, musicalidade. E nas poesias esse ritmo da voz se presenteia como algo constitutivo no e pelo sentido de toda emissão de voz. Qual é o sentido dos sons para quem os emite não nos é dado saber, mas os sons são. Porém, não se pode nem se deve dicotomizar som e voz. O sentido do som se vela para o homem na mesma dimensão em que o sendo se dissimula, esgueira e subtrai. É o mistério da physis / ser.


- Manuel Antônio de Castro
Ver também:
* Bardo

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O que é isto – o dizer? O que é isto – a voz? A palavra latina vox (voz, em português) liga-se à "...raiz indo-européia *wek.*, que indica a emissão de voz com todas as forças religiosas e jurídicas..." (1) (no sentido do “jus dicere” divino). Daí vem o sentido poético e originário do que é denso, consistente, que perdura, porque provém do sagrado, a vigência da realidade. Sem esta voz não há fala humana, pois não há linguagem nem sentido, não há mundo, não há, enfim, o humano. A voz do poeta, do aedo, é a voz do sagrado. Claro que se entende aí por “forças” o que é portador de sentido, de verdade, de acontecer, de ético, de mundo. São a dynamis e enérgeia aristotélicas.


- Manuel Antônio de Castro
Referência:
(1) Cf. ERNOUT E MEILLET. Dictionnaire etymologique de la langue latine. Paris: Éditions Klincksieck, 1979, p. 754.

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"Da Escuta e da Não-escuta do canto das Sereias se faz a nossa travessia poética. Ulisses não é apenas astucioso, é sábio. Mas onde a sabedoria em meio à sociedade da comunicação e do consumo? O apelo originário para ser, ontem, hoje e sempre, como muito bem diz o mito, nos advém no Canto das Sereias. Cada um tem que assumir a sua travessia poética pela Escuta da fala da voz do silêncio" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Ulisses e a Escuta do Canto das Sereias”. In: -----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 181.
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