Humanismo

De Dicionrio de Potica e Pensamento

1

"Em seu processo de elaboração, o Ocidente aciona a integração das possibilidades humanas numa estrutura que submete a seu serviço todas as estruturações possíveis da humanidade. A vida desta estrutura é a força da igualdade. No movimento de sua tendência absorvente, a estrutura ocidental se impõe como a única integração humana possível. É o humanismo. A sua verdade é una, universal, necessária. No Cristianismo está a verdade do crer, na ciência, a verdade do saber, na técnica a verdade do fazer. O agenciamento do humanismo é a História da funcionalidade, que atinge hoje o paroxismo de suas virtualidades. Pois o que vale são as funções. Tudo que preencher a mesma função se equivale. Na procura da função universal se concentram todos os esforços da modernidade" (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Poder e autoridade no Cristianismo". In: ...: Aprendendo a pensar I. Teresópolis: Daimon, 2008, p. 223.

2

Emmanuel Carneiro Leão identifica a própria história do Ocidente com a metafísica, uma metafísica que é o próprio Humanismo. Diz ele: "O agenciamento do humanismo é a História da Metafísica, que atinge sua plenitude no Espírito Absoluto" (1).


- Manuel Antônio de Castro
Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Hegel, Heidegger e o Absoluto". In: ...: Aprendendo a pensar. Petrópolis: Vozes, 1977, p. 252.

3

O mito do homem é a estrutura fundamental da cultura ocidental, daí a vigência do humanismo. Mas se a metafísica nos levou aos humanismos, a arte nos faz pensar o humano do homem. E isso não é humanismo, porque não se funda no homem, como nos mostra o mito de Édipo. Nele, exatamente, se dá a tensão entre a afirmação do humanismo e o que já desde sempre está para além do que o homem pode fazer e não fazer. Quando Édipo arranca os olhos, fonte do saber do homem, e afirma o não-saber e com ele advém a sabedoria, esta é que o torna humano. A arte manifesta esse humano, o que nos redime de todo humanismo. Ser homem humano é deixar que a sua afirmação se afirme não pela afirmação da sua vontade, mas pela aceitação ativa do destino, como fonte da sabedoria e da liberdade.


- Manuel Antônio de Castro.

4

Todo humanismo é um paradigma teórico-canônico do ser humano e da realidade que tenta, em vão, determinar totalmente em seu acontecer histórico. Se antes se julgava que o ser humano, pelas regras da razão lógica, estava preso ao determinismo religioso e social, tratava-se de libertar o ser humano dessa prisão. A receita de realidade, intervencionista e, aparentemente, libertadora, nada mais fez do que inventar um outro paradigma dentro do mesmo cânone da essência entitativa, conceitual.


- Manuel Antônio de Castro.

5

"O antropocentrismo toma dois sentidos. Por um lado, retomando a tradição clássica, reinaugura o humanismo, mas um humanismo que descobriu a subjetividade e, por isso mesmo, se oporá à emergência dos Estados Nacionais, que se baseavam no particular. Já o humanismo tem exatamente como base o sentido universal do humano, independentemente de religiões, nacionalidades e línguas...O outro sentido do antropocentrismo se fará presente pela afirmação da razão no lugar da , como paradigma da verdade: é a ciência. A ciência busca o universal através da objetividade" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Machado de Assis e a identidade Brasileira". In: ------. Tempos de Metamorfose. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1994, p. 202 e 203.

6

"Todo humanismo é uma entificação do ser. A crítica dos humanismos é a tentativa de tirar do esquecimento o sentido verbal do amar, reinstalando a questão do sentido do ser. Este vigora sempre no sendo verbal" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Amar e Ser". In: -------------. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 292.

7

"O operar das obras de arte, como dobra de phýsis e humano, radica sempre além e aquém de todo humanismo" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. " Phýsis e humano: a arte”. In: -----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 264.

8

"Por detrás de todo humanismo há uma questão maior, porque essencial e não apenas atributiva e acidental. É o desafio de pensar o humano de todo ser humano, em todas as épocas e culturas no seu ético. Como não se pode separar o humano histórico de todo e qualquer ser humano, houve a necessidade de se pensar o universal de uma maneira não apenas epistemológica, mas ontológica, isto é, onde haja uma unidade do universal com o singular e próprio, da identidade com a diferença, numa permanente dialética e diálogo" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A globalização e os desafios do humano". In: Revista Tempo Brasileiro, 201/202 - Globalização, pensamento e arte. Rio de Janeiro, abr.-set., 2015, p. 20.

9

"Mas este humanismo ateu não atribui ao homem individual o que se atribuía a Deus, mas à comunidade humana. É precisamente a religião ilusória, diz Feuerbach, que substituindo o ser coletivo da humanidade por um Deus exterior, reduz a humanidade a uma poeira de indivíduos, pois nesta perspectiva “o homem concebe espontaneamente sua essência, nele como indivíduo, em Deus como espécie; nele como limitada, em Deus como infinita”. Mas na medida em que superarmos esta alienação, sairemos de nosso individualismo para participar da comunidade humana, e então realizaremos a verdade profunda da religião que é uma lei de amor, que arranca o indivíduo de si mesmo para obrigá-lo a encontrar-se em comunhão com seus semelhantes. No fim de contas “a distinção entre humano e divino (na alienação religiosa) não é outra coisa do que a distinção entre indivíduo e humanidade” (1).


Referência:
(1) HUMMES ofm, Dom Cláudio (Hoje Cardeal). "Os hegelianos de esquerda". In: ---. História da Filosofia.
Curso proferido em 1964 em Daltro Filho, (hoje cidade Imigrantes), RS, em 1964. Faleceu no dia 4 de julho de 2022.

10

"Ruy Duarte divertiu-se a escrever um Decálogo Neoanimista. São dez mandamentos, mais um. Em todos eles se reitera a necessidade de questionar o paradigma humanista. Para Ruy Duarte o homem precisa deixar de se ver como o centro do Universo se quiser, realmente, salvar o planeta" (1).


Referência:
(1) AGUALUSA, José Eduardo. Crônica: "Só os peixes veem o mar". In: O Globo, Segundo Caderno, sábado 10-9-2022, p. 6.
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