Razão

De Dicionrio de Potica e Pensamento

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Em relação à Escola de Frankfurt, teríamos três momentos ou três razões: 1ª) Razão crítica. Tem sua origem em Kant e marca um otimismo no poder da razão, podendo ser instrumental e emancipatória. 2ª) Razão negativa. Surge com Horkheimer e Adorno, frente à realidade moderna e ao humanismo diante da realidade da guerra, da cultura de massa. É uma perda de na razão. é aqui a palavra adequada, pois tal ainda diz uma crença na razão que faz o homem maior do que a questão, do que a realidade. 3ª) Razão comunicativa. Conceituação desenvolvida por Habermas, tenta superar o solipsismo da consciência e parte para o diálogo como fundamento do consenso. Porém, num tal diálogo nunca se dá o acontecer das diferenças, muito menos da realidade em seu desvelar e velar, em seu dar-se e guardar-se. Num tal diálogo quer-se determinar o auto-diálogo pelo diálogo comunicativo. Não se pensa o diá- de todo diá-logo nem o logos como a identidade das diferenças e a diferença das diferenças, e a identidade das identidades.


- Manuel Antônio de Castro

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"Por isso mesmo, a dialética, ao contrário da lógica formal, é capaz de incluir em seus conceitos os elementos da contradição e da transformação, e de abarcar o não-idêntico em um mesmo conceito. A razão iluminista, com sua dupla face de razão emancipatória e razão instrumental, não deixa de ser razão quando se impõe e concretiza como razão instrumental. Mas por isso mesmo gera, pelas limitações a que ela própria se condena, sua contradição, sua crítica e negação, tornando-se necessário o resgate de seu contrário, originalmente nela contido: a razão emancipatória" (1).
Adorno está polemizando com Popper. Este defende a razão lógica, puramente metodológica, ao passo que Adorno defende uma dimensão existencial. A pura razão lógica e instrumental é identificada com o positivismo, defendido por Popper. Ver como conceitos de razão: emancipatória, instrumental, lógico-formal, negativa, dialógica ou comunicativa, são variados, mas todos metafísicos, pois tais conceitos não questionam o fato de que toda razão já é um fundamento da consciência manifestado nas representações, sejam de ordem escrita ou visual, sejam de ordem do público e da publicidade (fundamento do poder moderno em oposição ao poder divino e aristocrático).


- Manuel Antônio de Castro
Referência:
(1) FREITAG, Bárbara. A teoria crítica ontem e hoje. S. Paulo: Brasiliense, 1985, p. 49.

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"O anúncio de algo como algo faz com que, no anúncio, se tome algo como algo, que algo seja tomado por algo. 'Eu tomo isto por isto', é o que diz o verbo latino reor. A capacidade correspondente de se tomar algo por algo é ratio" (1). "Tomar algo por algo é ajuizar. A essência do pensamento concebido metafisicamente reside no juízo. Esse pensamento "lógico", logikós, dimensionado pelo logos enquanto enunciado, é a essência da ratio, da razão" (2).


Referências:
(1) HEIDEGGER, Martin. Heráclito. Rio: Relume Dumará, 1998, p. 282.
(2) Idem, p. 282.


Ver também:
*Proposição

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"... pensa-se, no entanto, o lógos do homem como ratio, razão, e, portanto, como a capacidade de pensar segundo ideias, ou seja, de julgar por conceitos" (1). "Metafísica e logicamente, logos significa enunciado, juízo ou também conceito, desde que se apreenda conceito como o coágulo de uma conceituação, de um ajuizamento". (2)


Referências:
(1) HEIDEGGER, Martin. Heráclito. Rio: Relume Dumará, 1998, p. 293.
(2) Idem, p. 293.


Ver também:
* Proposição

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"Não é a razão que é condição de possibilidade do pensar e sim o contrário, a condição de possibilidade da razão é o pensar. A palavra racional tem sua origem no latim: ratio que significa cálculo, conta, proporção, medida, sistema, regularidade, ordem, regra, juízo, causa, bom senso etc. Ora, o pensar não se estabelece exclusivamente a partir das experiências enunciadas por essas atribuições. Significa: para se pensar não é imprescindível que haja cálculo, proporção, medida, sistema, regularidade, causa ou mesmo bom senso" (1).


Referência:
(1) JARDIM, Antonio. Música: vigência do pensar poético. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 168.

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"Eu não entendo mais aquilo que entendo, pois estou infinitamente maior do que eu mesma...então não me alcanço" (1).


Referência:
(1) LISPECTOR, Clarice. Texto publicado numa montagem artística de fotos com textos de Clarice, sem indicação da fonte.

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"Que é a ditadura da razão? - A ditadura da razão é exclusiva e excludente e consiste em montar um sistema universal de prestar contas e dar explicações evidentes e suficientes, coerentes e consistentes de tudo que é, de tudo que se conhece e de tudo que se faz, seja nas ações que se põem, seja nas atitudes que se tomam, seja nas omissões que se praticam" (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Heidegger e a ética". In: Revista Tempo Brasileiro, 157,Rio de Janeiro, abr.-jun., 2004. Caminhos da ética, 2004, p. 76.

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"A Escolástica medieval distinguiu no conhecimento humano entre ratio [ razão ] e intellectus [ intelecto ]. A ratio [ razão ] é o poder da discursividade do raciocínio que busca e investiga, que abstrai e argumenta, que define e conceitua. O intellectus [ intelecto ] é o simplex intuitus [simples intuição ], a força de acolhimento que recebe o real em sua realidade. O conhecimento humano é a integração de ambos, tanto da ratio [ razão ] como do intellectus [ intelecto ]" (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Ócio e negócio". In: Revista Tempo Brasileiro - Caminhos do pensamento hoje: novas linguagens no limiar do terceiro milênio, 136, jan.-mar., 1999, p. 75.


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O homem moderno criará a partir da imaginação. Contudo, para isto haverá uma profunda transformação. E a grande metáfora para indicar e conduzir esta mudança será o universo como um gigantesco relógio. Nesta mudança o Ser é substituído pelo Tempo, mas agora um tempo que pode ser conhecido, medido e até se podem efetuar intervenções, fundamentadas, claro, desde então, nesse novo conhecimento que passou a ser denominado científico, porque objetivo. E desde então só será verdadeiro o que for científico. A prática vai levar a metáfora do relógio/tempo para todas as esferas da realidade/natureza. Temos de ficar atentos às reduções que se vão operando. A mais complexa é aí o abandono da preocupação ontológica com o que é e o foco único no como é, mas não mais relacionado a o que é. Agora o como é diz respeito a o como se conhece. É este em última instância que determina tudo, pois tudo será objeto do conhecimento que se torna o verdadeiro sujeito, o verdadeirocriador”. Um tal conhecimento é exercido pela razão crítica, que se fundamenta na Razão Crítica de Kant.


- Manuel Antônio de Castro.

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A prática vai levar a metáfora do relógio/tempo para todas as esferas da realidade/natureza. Temos de ficar atentos às reduções que se vão operando. A mais complexa é aí o abandono da preocupação ontológica com o que é e o foco único no como é, mas não mais relacionado a o que é. Agora o como é diz respeito a o como se conhece. É este em última instância que determina tudo, pois tudo será objeto do conhecimento que se torna o verdadeiro sujeito, o verdadeiro criador. E vamos ter as seguintes reduções:
Ente > obra > relógio/organismo>corpo. Por isso não se fala mais em ente nem em obra nem em corpo, mas se falará sempre e para tudo em objeto. E cada objeto/corpo/máquina/organismo é objeto de um conhecimento, submetido à razão crítica, que fundamenta o como se conhece. Surgem as disciplinas e seus objetos de conhecimento. Isso tanto no plano singular quanto no plano das entidades coletivas, como o Estado, a Sociedade, as Épocas. Daí a história estar submetida radicalmente à cronologia. Aliás, tudo ficará submetido à cronologia/tempo. Conhecer a partir do tempo/cronologia é uma questão de medição/cálculo. No fundo, tudo estará submetido ao tempo. Mas este passa a ser o que é acessível à medição/cálculo. Disso se encarregam as diferentes disciplinas que para tal são criadas. Porém, o princípio de medição que dará o verdadeiro conhecimento será o efetuado a partir do que se opera pela matemática, base de todo cálculo, a possibilidade de aprender e ser ensinado.


- Manuel Antônio de Castro.


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"Ainda que as verdades da não sejam demonstráveis, isto é, passíveis de prova, é possível demonstrar o acerto de se crer nelas, e essa tarefa cabe à razão. A razão relaciona-se, portanto, duplamente com a : precede-a e é sua consequência. É necessário compreender para crer e crer para compreender (Intellige ut credas, crede ut intelligas) (1).


Referência:
(1) PESSANHA, José Américo Motta (Consultor). Santo Agostinho - Vida e Obra. Confissões - De Magistro. Coleção: 'Os Pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1980, p. XIV.

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"Com a razão inaugura-se o conhecimento consciente e racional do real. E com ele e a partir dele um novo sistema de valores morais, sociais, políticos e econômicos. É a partir deste novo sistema que procura inaugurar uma nova Paideia, a Paideia Humanista" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Metamorfose da narrativa". In: ..... Tempos de metamorfose. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1994, p. 66.

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"A medida da razão não pode nos determinar o caminho do ser feliz. A razão é o saber do ente esquecido do sentido do ser. A sabedoria e felicidade só podem doar-se no ente a partir do ser" (1).


Referência bibliográfica:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O mito de Midas da morte ou do ser feliz". In: -------. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 202.

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"A Idade Média também era já regida por um sistema funcional altamente centralizador e autoritário: o teológico. Tudo e todos eram submetidos ao poder teológico, seja o povo, seja a hierarquia religiosa, seja o poder dos reis. O que a modernidade acrescenta a esse cerne medieval? Algo novo para continuar a mesma coisa, isto e, o mesmo fundamento: Ao poder autoritário da teologia sucede o poder autoritário da razão. E o poder desta provém de um atributo explicitamente novo, pois, desde os sofistas, já imperava a medida da razão, ou seja, o homem como medida. E qual é esse atributo? A razão passa a ser crítica. Na modernidade tudo é regido pela Crítica. Só a crítica estabelece a verdade, daí a leitura passar a ser regida pela explicação, isto é, pelo que a crítica realiza através da análise" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Leitura e Crítica". In: ---------. Leitura: questões. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 127.
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