Relógio

De Dicionrio de Potica e Pensamento

Tabela de conteúdo

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A prática vai levar a metáfora do relógio/tempo para todas as esferas da realidade/natureza. Temos de ficar atentos às reduções que se vão operando. A mais complexa é aí o abandono da preocupação ontológica com o que é e o foco único no como é, mas não mais relacionado a o que é. Agora o como é diz respeito a o como se conhece. É este em última instância que determina tudo, pois tudo será objeto do conhecimento que se torna o verdadeiro sujeito, o verdadeiro criador. E vamos ter as seguintes reduções:
Ente > obra > relógio/organismo>corpo. Por isso não se fala mais em ente nem em obra nem em corpo, mas se falará sempre e para tudo em objeto. No lugar da Ontologia vamos ter na Modernidade a Epistemologia. E no lugar da Poética vamos ter a Estética. E cada objeto/corpo/máquina/organismo é objeto de um conhecimento, submetido à razão crítica, que fundamenta o como se conhece. Surgem as disciplinas e seus objetos de conhecimento. Isso tanto no plano singular quanto no plano das entidades coletivas, como o Estado, a Sociedade, as Épocas. Daí a história estar submetida radicalmente à cronologia. Aliás, tudo ficará submetido à cronologia/tempo. Conhecer a partir do tempo/cronologia é uma questão de medição/cálculo. No fundo, tudo estará submetido ao tempo. Mas este passa a ser o que é acessível à medição/cálculo. Disso se encarregam as diferentes disciplinas que para tal são criadas. Porém, o princípio de medição que dará o verdadeiro conhecimento será o efetuado a partir do que se opera pela matemática, base de todo cálculo, a possibilidade de aprender e ser ensinado.

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O homem moderno, opondo-se ao homem medieval, que concebia a criação por um Deus Criador, partindo do Nada, criará a partir da imaginação. Contudo, para isto haverá uma profunda transformação. E a grande metáfora para indicar e conduzir esta mudança será o universo como um gigantesco relógio. Nesta, o Ser é substituído pelo Tempo, mas agora um tempo que pode ser conhecido, medido e até efetuar intervenções. Conferir para isto o filme, fundamentado na obra de Fritjof Capra: O ponto de mutação.


- Manuel Antônio de Castro.

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As seguintes distinções são ontológicas. Estas sofrem uma transformação profunda com o advento da Modernidade. Conforme é tratado por Fritjof Capra no filme O ponto de mutação/O caminho do pensamento, vamos ter uma profunda transformação com o advento da Modernidade, porque se parte para uma outra concepção do universo. Este deixa de ser uma criação divina, sujeita às suas leis. Há leis, sim, mas de outra natureza. Como elas são enigmáticas trata-se de descobrir essas leis da natureza, para dominá-la, submetê-la ao fazer do ser humano e sua vontade. Surge aí a ideia de possibilidade de intervenção do ser humano. Não é que ele queira ser um criador, embora esta ideia depois se torne a dominante na arte, através da imaginação, falando-se, então, em imaginação criadora, introduzindo-se também a denominação: gênio, para o que se mostrava com grande poder de invenção ou criação. Mas esta já pressupõe a concepção que dá partida a tudo isso e se opõe sobretudo à concepção medieval, teológica. Porém, o que esta significava e como se diferenciava da antiga, da grega? Por detrás destas havia sempre a ideia de Deus criador, isto é, de um criador, que cria do Nada. O homem moderno criará a partir da imaginação. Contudo, para isto haverá uma profunda transformação. E a grande metáfora para indicar e conduzir esta mudança será conceber o universo como um gigantesco relógio. Nesta, o Ser é substituído pelo Tempo, mas agora um tempo que pode ser conhecido, medido e até se efetuarem intervenções.
A prática vai levar a metáfora do relógio/tempo para todas as esferas da realidade/natureza. Temos de ficar atentos às reduções que se vão operando. A mais complexa é aí o abandono da preocupação ontológica com o que é e o foco único no como é, mas não mais relacionado a o que é. Agora o como é diz respeito a o como se conhece.


- Manuel Antônio de Castro.


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Sendo tudo objeto, também o será a obra de arte e o próprio ser humano, porque este será seu corpo ou organismo concebido como um “relógio”/organismo. As possibilidades de intervenção no ser humano/corpo serão as mesmas da intervenção e controle do funcionamento de um relógio/organismo. Tendo como horizonte sempre esta metáfora, tanto o corpo ou os corpos bem como as próprias obras de arte e todos os sistemas são considerados no seu funcionamento. Disto se deduz que para conhecê-los é necessário que se proceda a aná-lises explicativas. Em última instância, estas devem levar à razão daquilo que constitui cada organismo/relógio. Mas esta não é mais o que é em sua essência. É o que é em seu funcionamento.


- Manuel Antônio de Castro.
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