Infinito

De Dicionário de Poética e Pensamento

Tabela de conteúdo

1

"O homem não é só um ser simplesmente finito. O homem é o mais finito dos seres, porque, na finitude, ele sente sempre o infinito do nada, mesmo em toda pretensão, escamoteada, de ser infinito. É na finitude sem fim do nada que afirma, em tudo que faz e/ou deixa de fazer, o infinito. Por isso, todo nome, que dá, é sempre um pseudônimo" (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "O sentido do pseudônimo". In: -----. Aprendendo a pensar III. Teresópolis/RJ: Daimon Editora, 2017, p. 121.

2

"A angústia nos corta a palavra. Pelo fato de o ente em sua totalidade fugir e, assim, justamente, nos acossar o nada, em sua presença, emudece qualquer dicção do "é". O fato de nós procurarmos muitas vezes, na estranheza da angústia, romper o vazio silêncio com palavras sem nexo é apenas o testemunho da presença do nada. Que a angústia revela o nada é confirmado imediatamente pelo próprio homem quando a angústia se afastou. Na posse da claridade do olhar, a lembrança recente nos leva a dizer: Diante de que e por que nós nos angustiamos era "propriamente" - nada. Efetivamente: o nada mesmo - enquanto tal - estava aí" (1).
De alguma maneira a angústia está ligada à nossa condição humana de finitos, ou seja, à nossa finitude, pois nesta nos defrontamos com o nada que elimina quaisquer limites e então surge a angústia diante do infinito. É que a finitude se faz presente em todo o nosso caminhar, em todo o nosso querer, em todas as nossas ações em sua essência. Como fica a nossa liberdade e o nosso conhecer? Devemos seguir Sócrates quando diz que só sei que nada sei? Certamente somente o ser humano é tomado pela angústia, pois só ele é finito e sabe que é finito diante do infinito. Como fica diante da finitude a nossa plenitude e felicidade?


- Manuel Antônio de Castro
Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. "Que é metafísica?". In: ------. Heidegger. Coleção Os pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1979, p. 40.

3

O ser humano vive sempre na angústia do nada, pois, de um lado, se descobre sempre, em sua finitude, diante do infinito externo e, de outro, do infinito interno. Só aparentemente estes dois infinitos se opõem, mas se diferenciam. E assim o ser humano vive o dilema, melhor, a angústia de uma eterna aprendizagem de procura de si mesmo. Eis sua riqueza maior: sua finitude como destino de procura até a morte. Neste sentido, a morte é uma necessidade ontológica e jamais o término de tudo. Não será pelo contrário o começo permanente de tudo? Nesse horizonte tanto a psicologia e a psiquiatria quanto toda e qualquer cosmologia se experienciam como sendo as mesmas questões. Daí o enigma e mistério em que vive todo ser humano desde que nasce. Para muitos o difícil é seguir permanentemente esse caminho. Procuramos desesperadamente a resposta dessas questões. E o que aí a ciência pode fazer? Se for verdadeira ciência, pôr-nos a caminho de nos pensarmos.


- Manuel Antônio de Castro.

4

No filme 2001: uma Odisseia no espaço, de Stanley Kubrick, temos uma experienciação do infinito externo e do infinito interno. Do Monólito encontrado uns quinze metros abaixo da terra, vem um sinal desconhecido que aponta para Júpiter. Uma expedição é organizada que se dirige a Júpiter de onde parece vir o estranho sinal, através da Nave Espacial Discovery. Na Nave temos: dois astronautas que comandam a Nave Espacial, três astronautas hibernando e o Super-Computador: Hall 9.000, aparelhado com a mais avançada tecnologia da Inteligência artificial. No meio da viagem, este Super-computador se revolta e provoca a morte de quatro dos cinco astronautas. O que restou continua a viagem para Júpiter. Próximo ao Planeta a Discovery reencontra no céu o Monólito. E para o astronauta atônito se abre o infinito externo, numa sucessão belíssima de cores até ... que ele faz um mergulho no infinito interno, como se estivesse no seu inconsciente, ele retorna a um passado não identificável numa sala ... Então depois de algum tempo, ele se vê envelhecendo deitado numa cama e ao mesmo tempo aparece uma criança preste a nascer, mostrando o renascer infinito da vida. Aí morrer é renascer ... mas agora no infinito interno/externo, externo/interno...E assim o filme termina diante do nada, do mistério do universo e da vida. E o sinal do Monólito, através do qual o ser humano se distingue dos outros animais e seres vivos? Eis o grande mistério até hoje, eis a grande questão que o filme coloca de uma maneira viva e fascinante. Uma coisa fica clara: diante do infinito do nada, a distinção entre externo e interno passa a ser insignificante.


- Manuel Antônio de Castro.

5

"Desta finitude do espírito humano nasce a tensão típica do homem. O homem tem sede do infinito, embora nunca possa superar totalmente sua finitude. O espírito finito, enquanto é espírito, exerce a si mesmo e ao outro sob a luz e no horizonte do ser infinito, o qual lhe está fundamentalmente aberto e lhe dá precisamente o ser espírito, o condiciona como espírito. Mas como finito, o espírito humano deve sempre de novo recomeçar em direção ao infinito, deve perguntar sempre mais avante pelo sentido de ser ilimitado e por isto também pelo sentido dos entes finitos e de si mesmo, pois somente se fosse capaz de atingir plena e perfeitamente o sentido do ser ilimitado poderia através dele determinar plena e perfeitamente o sentido dos entes, pois estes recebem todo o seu sentido a partir do sentido do ser ilimitado. Todavia, o ser ilimitado é infinito e por isto, como tal, inacessível totalmente ao espírito finito. Temos, portanto, os termos da tensão existencial humana: de um lado, o homem foi criado para o infinito porque ele é espírito e espírito significa exercer-se e exercer os outros sob a luz e no horizonte do infinito. E, de outro lado, este infinito, nunca lhe é dado totalmente, porque ele mesmo não é infinito, mas apenas tem uma abertura ao infinito" (1).


Referência:
(1) HUMMES, o.f.m. Frei Cláudio. Metafísica. Mimeo. Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963. Depois tornou-se Bispo e hoje é Cardeal. Já faleceu.

6

"Todavia, o ser ilimitado é infinito e por isto, como tal, inacessível de modo total ao espírito finito. Temos, portanto, os termos da tensão existencial humana: de um lado, o homem foi criado para o infinito porque ele é espírito e espírito significa exercer-se e exercer os outros sob a luz e no horizonte do infinito. E, de outro lado, este infinito, nunca lhe é dado totalmente, porque ele mesmo não é infinito, mas apenas tem uma abertura ao infinito. O homem tende para o infinito, mas nunca poderá identificar-se com o infinito" (1).


Referência:
(1) HUMMES, o.f.m. Frei Cláudio. Metafísica. Mimeo. Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963. Depois tornou-se Bispo e hoje é Cardeal. Já faleceu.
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