Princípio

De Dicionrio de Potica e Pensamento

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1

"Arcaica, no sentido etimológico, leva-nos à ideia de arkhé. Um princípio inaugural, constitutivo e dirigente. Arkhé significa o que está à frente e por isso é o começo ou princípio de tudo. A Noite está à frente, nasce de Kháos. O que está à frente tem o comando de todo o restante. É também arkhé: o fundamento, a origem, o que está no começo de modo absoluto, o ponto de partida de um caminho, o fundamento das ações. Como tem comando, tem o poder, é a autoridade" (1).
Como a autora torna claro, a compreensão de arkhé como princípio e origem só é princípio porque, por estar à frente e comandar é que é inaugural, originário. Por isso reina vigorosamente da origem ao fim. Princípio diz, então, o estar sempre principiando como tempo originário.


- Manuel Antônio de Castro
Referência:
(1) GROETAERS, Elenice. A poética da noite em Vinicius de Moraes. São Paulo: Scortecci, 2007, p. 72.

2

"Só é possível pensar em princípio, porque a realidade (physis) não é estática, é dinâmica. Só é possível pensar em princípio, porque a dinâmica da realidade não é linear, é circular. Só é possível pensar em princípio, porque a circulação da realidade não é finita, é infinita. Só é possível pensar em princípio, porque a finitude da realidade não é de exclusão, é de inclusão. Assim não é possível não pensar em princípio, quando a realidade faz pensar, em profundidade, a realização (ousia) do real (on)" (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "A luz na arte grega". In: -------. Filosofia grega - uma introdução. Teresópolis: Daimon, 2010, p. 89.

3

"Início não é princípio. Início é alavanca. Remete-nos ao empuxo e arranque com que uma coisa começa. Enquanto princípio é origem. Remete-nos à fonte de onde uma coisa brota. O início, mal inicia e já está superado. Desaparece e fica para trás nas peripécias do processo de criar e produzir. O princípio, ao contrário, surge e se impõe ao longo de todo o processo, pois só alcança a plenitude no fim. Início é o princípio em busca de realização, fim é o princípio plenamente realizado como princípio" (1).
O início se dá sempre enquanto técnica, já o princípio é o vigorar da poíesis. Por isso é que não se pode ler uma obra de arte apenas atentando para o início, isto é, apenas para a técnica ou forma, mas é necessário ver e compreender que o início já é uma doação da poíesis ou princípio. Toda técnica se move no agir causal, já a poíesis vigora no agir originário, isto é, no que se denomina princípio ou arkhé, em grego. A história da arte no ocidente nunca se mede pela poíesis, mas tão-somente pela tekhné, daí ser uma concepção retórica e formal da arte, pois nela sempre fica esquecido o princípio.


- Manuel Antônio de Castro
Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Arte e filosofia". In: ------. Aprendendo a pensar II. Petrópolis: Vozes, 1972, p. 241.

4

"Ora, um princípio constitui algo inato, pois é a partir de um princípio que necessariamente assume existência tudo aquilo que existe, ao passo que o princípio não provém de coisa alguma, pois, se começasse a ser partindo de qualquer outra fonte, não seria princípio" (1).


Referência:
(1) PLATÃO. Fedro. 5. e. Trad. Pinharanda Gomes. Texto grego estabelecido por Léon Robin, Paris, Les Belles Lettres, 1966. Lisboa: Guimarães Editores, 1994, p. 57, 245d.

5

"Os princípios, confundidos com as leis, acabam por se deixar arbitrar, desde uma espácio-temporalidade arbitrária. Os princípios, para serem, enquanto tais, não se deixam arbitrar nem tampouco arbitram. Para serem princípios, o que eles só não podem ser é, de modo nenhum, a determinação de 'um caminho, de uma verdade e de uma vida'. Princípios não determinam nem são determinados, apenas se apresentam para que sejam ou não percebidos, considerados e estabelecidos efetivamente enquanto princípios" (1).


Referência:
(1) JARDIM, Antonio. Música: vigência do pensar poético. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 206.

6

"Princípios são apenas a vigência das possibilidades para que algo seja viável, isto é, para que algo possa percorrer vias, os caminhos em trânsito, possa, enfim, transitar. O que não tem origem ou não começa, não pode transitar. Transitar diz do que vai sempre além, do que, portanto, não se deixa determinar desde sua origem até a sua possibilidade de ser sem fim" (1).


Referência:
(1) JARDIM, Antonio. Música: vigência do pensar poético. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, pp. 206-7.

7

"Começo não é princípio. Começo é alavanca. Remete-nos ao empuxo e arranque com que uma coisa começa. Enquanto princípio é origem. Remete-nos à fonte de onde uma coisa brota. O começo mal começa e já está superado. Desaparece e fica para trás nas peripécias do processo de criar e produzir. O princípio ao contrário surge e se impõe ao longo de todo o processo, pois só alcança a plenitude no fim. Começo é o princípio em busca de realizar-se, fim é o princípio plenamente realizado como princípio" (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. Filosofia grega - uma introdução. Teresópolis: Daimon Editora, 2010, p. 23.

8

"O que significa princípio? Seu nome grego é arche, isto é, o primeiro a partir do qual começa algo com referência a seu ser, seu vir-a-ser, sua cognoscibilidade. Esta "a partir de" domina, determina e conduz o que começa" (1).


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. Seminários de Zollikon - Protocolos - Diálogos - Cartas. 2. e. revista. Petrópolis: Vozes, 2009, p. 114.

9

"Como princípio de tudo, gerou-se o caos, a seguir, então, a terra de amplo seio acolhedor, sede para sempre inabalável de tudo que é imortal..." (1).


Referência:
(1) Versos 116 e seguintes da Teogonia de Hesíodo, citados e traduzidos por Emmanuel Carneiro Leão no ensaio "O sentido grego do caos", que faz parte de seu livro: Filosofia grega - uma introdução. Teresópolis/RJ: Daimon Editora, 2010, p. 39.

10

" O autêntico princípio é sempre como salto um salto-prévio, no qual tudo que está por vir, ainda que velado, já se acha traspassado. O princípio já contém velado o fim" (1).


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. A origem da obra de arte. Trad. Idalina Azevedo da Silva e Manuel Antônio de Castro. São Paulo: Edições 70, 2010, p. 195.

11

"A fonte de um rio não se esgota em ser começo: é como correnteza que permanece e se atualiza em todo o curso, deixando o rio riar, correr, chegar ao mar. Este lhe é o sentido: a plena realização do princípio como princípio" (1)


Referência:
(1) FAGUNDES, Igor. "A experiência ioruba do sagrado - Provocações para um rito de raspagem do Ocidente". In: Revista Tempo Brasileiro, 194, Dialética em questão II. Rio de Janeiro,jul.-set., 2013, p. 142.

12

"Princípio são as possibilidades de tudo que é e acontece. Sem princípio não há dialética verbal" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Dialética e diálogo: A verdade do humano". In: Revista Tempo Brasileiro, 192, Dialética em questão I. Rio de Janeiro, jan.- mar., 2013, p. 11.

13

"No mundo animado do Antigo Egito, os números não designavam apenas quantidades, pelo contrário, eram considerados definições concretas de princípios energéticos que formavam a natureza. Os egípcios chamavam esses princípios energéticos de 'neteru (deuses)" (1).


Referência:
(1) GADALLA, Moustafa. "Tudo é número". In: -----. Cosmologia egípcia - o universo animado. Trad. Fernanda Rossi. São Paulo: Madras Editora, 2003, p. 29.

14

"É a realidade enquanto princípio que de-termina o horizonte, ou seja, aquilo que se vê. De-terminar é pôr limite, término. Porém, o princípio é sem limite, embora o possibilite e o inclua. O que é princípio? Princípio é o que vigora como universal, ou seja, aquilo que se verte e realiza como identidade das diferenças. Sem princípio não há diferenças. Desse modo o princípio é medida enquanto a unidade da multiplicidade" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O ser humano e seus limites". In: MONTEIRO, Maria da Conceição e Outros (org.). Além dos limites - ensaios para o século XXI. Rio de Janeiro: EDUERJ, 2013, p. 231.

15

"Princípio e fim se reúnem na circunferência do círculo" (1).


Referência:
(1) HERÁCLITO. Fragmento 103. In: Os pensadores originários - Anaximandro, Parmênides, Heráclito. Trad. Emmanuel Carneiro Leão. Petrópolis: Vozes, 1991, p. 87.

16

"A característica essencial da dicotomia é que parte sempre de oposições excludentes. Mas desde a formulação lapidar de Aristóteles do que seja princípio (arché) em sua consumação (telos) somos convocados a pensar a realidade sem exclusões, pois afirma na Metafísica: “Só é possível pensar em princípio porque physis, a realidade, não é estática, é dinâmica. Só é possível pensar em princípio porque a dinâmica da physis não é linear, é circular. Só é possível pensar em princípio porque a circulação da physis não é finita, é infinita. Só é possível pensar em princípio porque a infinitude da physis não é de exclusão, mas de inclusão” (In: Leão, 2010, 89 (1))" (2).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. Filosofia grega - uma introdução. Teresópolis/RJ: Daimon Editora, 2010, p. 89.
(2) CASTRO, Manuel Antônio de. "Educar poético: diálogo e dialética". In: ..... e outros. O educar poético. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2014, p. 16.
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