Caos

De Dicionrio de Potica e Pensamento

1

"Kháos é a potência que preside à procriação por cissiparidade" (1). "Kháos origina-se de khaíno ou khásko: abrir-se, entreabrir-se, abrir a boca ou bico" (2).


Referências:
(1) TORRANO, Jaa. "Introdução". In: Teogonia: A origem dos deuses - Hesíodo. São Paulo: Iluminuras, 1992, p. 43.
(2) Idem, p. 45.

2

"Ninguém nunca consegue pensar sobre o caos, por mais que se deseje e se empenhe. Quem o pretendesse nem mesmo saberia o que estaria fazendo, i.e., que não estaria pensando sobre o caos, mas sobre uma coisa. Pois só é possível pensar sobre o que tem sentido, nunca sobre o princípio de ordem e articulação da possibilidade de haver sentido" (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "O sentido grego do cáos". In: ---. Filosofia grega - uma introdução. Daimon Editora: Teresópolis/RJ: 2010, p. 37.

3

"O caos é sobretudo o princípio da possibilidade de tudo. Trata-se de uma experiência de ser e de realidade tão rica e inaugural que dela se origina tudo, o que é e não é , nela se nutre toda a criação em qualquer área ou nível, seja do real ou irreal, seja do necessário ou contingente" (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. O "sentido grego do cáos". In: ---. Filosofia grega - uma introdução. Daimon Editora: Teresópolis/RJ: 2010, p. 38.

4

"A palavra caos, to khaos, tem o mesmo radical do verbo khasko que nos envia para a experiência de manter-se continuamente abrindo-se, de estar, portanto, sempre em aberto. É o princípio de todo cindir e separar, de todo distinguir e discriminar, e por isso mesmo gerador e constitutivo de todo bico e qualquer bifurcação. Diz, portanto, o hiato do ser, o abismo hiante que a realidade é, no sentido transitivo de fazer ser e realizar" (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "O sentido grego do cáos". In: ---. Filosofia grega - uma introdução. Daimon Editora: Teresópolis/RJ: 2010, p. 38.

5

"Do caos provém, para o caos remete, no caos se mantém e de volta ao caos retorna toda ordem e toda desordem, o mundo e o imundo, tudo que está sendo como tudo que não está sendo" (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "O sentido grego do cáos". In: ---. Filosofia grega - uma introdução. Daimon Editora: Teresópolis/RJ: 2010, p. 38.

6

"Não tem cada um o seu código genético e dentro deste a sua história, a sua travessia? A medida de nosso destino, de nosso próprio, de nossa identidade, é o princípio, ou seja, o vigorar da dobra de caos e cosmo" (1).


Referência:
CASTRO, Manuel Antônio de. “Aprender com a dança: fluxos e diálogos poéticos”. In: TAVARES, Renata (org.). O que me move, de Pina Bausch – e outros textos sobre dança-teatro. São Paulo: LibersArs, 2017, p. 82.

7

"Os caminhos a tomar não estão fora, estão dentro do que está em crise. Achar os caminhos que estão dentro é trazer para cena a interdisciplinaridade, onde as disciplinas devem se abrir para o vigor que vigora no prefixo da interdisciplinaridade: o “inter-”, o “entre”. Este não é um mero prefixo gramatical. Que “entre” é este? Ele traz o apelo da liminaridade de todo humano do homem, porque traz a possibilidade do vazio que une e reúne todos os fios e nós em que se entretecem as disciplinas como rede de conhecimentos e destino do humano do homem. A princípio, esse vazio causa estranheza e perplexidade. Como pode haver ciência do vazio, do silêncio? Mas inevitavelmente os cientistas já se defrontam com ele, embora lhe deem outro nome: caos" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Apresentação". In: Manuel Antônio de Castro, (org.). Arte: corpo, mundo e terra. Rio de Janeiro: 7Letras, 2009, p. 12.


8

"Os textos egípcios afirmam que o caos anterior à criação possuía características que se identificavam com quatro pares de forças/poderes primordiais. Cada par representa os gêmeos primitivos de gêneros dualistas - o aspecto masculino/feminino. Os quatro pares equivalem às quatro forças do Universo (a força fraca, a força forte, a gravidade e o eletromagnetismo)" (1).


Referência:
(1) GADALLA, Moustafa. "A Estabilidade dos Quatro". In: ------. Cosmologia egípcia - o universo animado. Trad. Fernanda Rossi. São Paulo: Madras Editora, 2003, p. 47.

9

"A vigília do Homem que, refletindo, vem a ser poeta e artista, o leva a defrontar-se com sua trilogia: Esquecimento, Sono e Morte, por intermédio do dom da Poesia, a ele outorgado pelas Musas, filhas da Memória. A deusa Memória, ordenadora do Caos, preservando a Verdade do eixo sagrado, surgirá como a medida ontológica do Cosmos, posto que seu atributo é reter o desvelado do qual o Homem participa, dirigindo-o rumo à recordação do essencial, continuamente à espera de ser repensado" (1).


Referência:
(1) BEAINI, Thais Curi. A Memória, Medida Ontológica do Cosmos. São Paulo: Palas Athena, 1989, p. 15.


10

Kaos é o que em si se abre, se fende, doando-se como cosmos, mundo, sentido, luz. Algo o “precede” e “sucede” (palavras impróprias porque já se trabalha com uma certa “experienciação” de “tempo”): o impensado e o impensável, embora vigorando em tudo que se pensa ou pode pensar. Por isso o genos do cosmos/kaos se dá por cissiparidade. Isso é muito importante, porque mostra que mythos, kaos/cosmos e aletheia não são um princípio do outro. Não há princípio. Há o “uno diferente de si mesmo”.


- Manuel Antônio de Castro.

11

"O rito, em sua etimologia, está ligado ao sagrado e expressa nas religiões o advento da ordem do que, em princípio, é caótico, encantador e misterioso. Caos não é desordem. É fonte inesgotável de toda ordem. Os ritos concretizam a cultura enquanto culto" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Ulisses e a Escuta do Canto das Sereias”. In: -----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 155.
Ferramentas pessoais