Código

De Dicionrio de Potica e Pensamento

Tabela de conteúdo

1

Se o tempo fosse apenas movimento cronológico não haveria a menor possibilidade de o movimento e as suas imagens fazerem sentido para nós, pois haveria um contínuo aparecer e desaparecer, ou seja, a imagem, a representação e o tempo pressupõem a memória, isto é, a unidade ou identidade das diferenças. O mesmo se aplica à tensão de língua e linguagem, de fala e silêncio. Sem identidade, tempo e memória não há código e comunicação. O código é a identidade e o tempo da memória transformados em sistema de representações. Nenhum sistema opera sem o vigorar da realidade physis e sua verdade (aletheia).


- Manuel Antônio de Castro

2

Na comunicação, tanto o emissor como o receptor devem anular ao máximo suas singularidades, o que cada um tem de próprio, em favor da objetividade das informações e dos conhecimentos conceituais. Disso decorre que eles se põem de fora e sempre falam sobre o que se informa ou comunica. Isto é possível porque tudo está centralizado no instrumento comunicativo enquanto código, pois a linguagem é reduzida a um meio. Mas será que o diálogo se reduz a isso? Não. Neste caso, vamos ter o que se denomina código, algo comum tanto ao emissor quanto ao receptor, pelo qual os dois estão inseridos e imersos no que se denomina contexto ou conjuntura, algo funcional do ponto de vista da necessidade de comunicação. O essencial do código é a impessoalidade, o funcional e abstrato. E, claro, todo código já pressupõe linguagem e língua. Por isso mesmo, a linguagem é reduzida a meio e a língua a mensagens.


- Manuel Antônio de Castro

3

"O código não dá conta de tudo que acontece no círculo da comunicação, porque no código não se pensa o vazio das redes, embora estes sejam a condição daquele. Não se pensa propriamente a linguagem, mas só o código como estrutura de possibilidades delimitadas pelo sistema estrutural da língua e não a língua como algo vivo e atuante, que acontece pelo vigor da linguagem. Como podemos ver a comunicação é algo complexo e implica muitas dimensões. Nesse horizonte da comunicação todo diálogo essencial, de alguma maneira, é um círculo da comunicação.


- Manuel Antônio de Castro

4

"A palavra código provém de um modo lingüístico de entender a linguagem. É o código genético linguagem? O que é linguagem? Como saber o que é língua e seu código sem saber o que é linguagem?" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Poético-ecologia". In: Manuel Antônio de Castro, (org.). Arte: corpo, mundo e terra. Rio de Janeiro: 7Letras, 2009, p. 26.

5

"Pode a atual globalização realizar as obras de arte e pensamento numa língua meramente comunicativa? É o a-ser-pensado, pois a obra de arte por operar na vigência da linguagem, inclui, mas não se limita a ser comunicação. O código-língua opera como uma sintaxe ou rede, constituída de linhas e nós, expandindo a noção tradicional de oração constituída de sujeito e predicado para a de rede comunicativa. No código-língua o poder verbal poético da palavra se perde, pois nele domina o poder funcional da comunicação em rede" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A globalização e os desafios do humano". In: Rio de Janeiro, Revista Tempo Brasileiro, 201/202 - Globalização, pensamento e arte, abr.-set., 2015, p. 16.

6

"Sendo o ser humano o sujeito e não mais o logos que reúne, a razão fundamenta os conhecimentos e a linguagem os comunica funcionalmente. Porém, como só há comunicação quando há um código, a linguagem ficou reduzida ao código língua. O mundo que o logos funda como reunião de diferenças ficou prisioneiro ou do conjunto de significados articulados pelo código ou então dependente do mundo social, enquanto conjunto funcional da estrutura social. Tal estrutura funcional é o conjunto ou rede de conhecimentos e informações. São estas o que constituem o mundo das diferentes culturas. É o que se procura hoje estudar sob o nome de inter-culturalidade, onde o entre só diz respeito ao entre de cada cultura, à identidade de cada cultura, sem se voltarem para o logos de Heráclito, no qual e a partir do qual: “tudo é um”"(1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Interdisciplinaridade poética: o "entre" " : In: Rio de Janeiro: Revista: Tempo Brasileiro: Interdisciplinaridade: dimensões poéticas, 164, jan.-mar., 2006, p. 39.

7

"Tanto os nós como as ligações precisam do “entre” enquanto identidade das diferenças. Uma tal faceta do “entre” aparece bem claramente na imagem-questão: rede. Uma tal faceta é o vazio, o silêncio. A rede sem o vazio/silêncio não se pode constituir como rede, ou seja, como “fios” e “nós”. A rede é uma doação do vazio e do silêncio. O vazio é o não-limite do silêncio e seu sentido. A língua enquanto código é a rede enquanto fios e nós. Mas assim como a rede precisa do vazio/silêncio, a língua precisa da linguagem. Por isso, a linguagem é a mãe de todas as línguas, assim como o vazio é a origem de todas as redes, de todos os códigos. E o silêncio é a origem de todas as falas e escutas, enquanto energia de sentido, verdade e mundo" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Interdisciplinaridade poética: o entre": In: Rio de Janeiro: Revista Tempo Brasileiro: Interdisciplinaridade: dimensões poéticas, 164, jan.-mar., 2006, p. 33.
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