Ilimitado

De Dicionário de Poética e Pensamento


Tabela de conteúdo

1

Ilimitado é o que não tem limite. Compreende-se melhor o alcance do ilimitado quando se apreende o âmbito do que denominamos limite. E apreendemos este no jogo com o que diz a palavra horizonte e com aquilo que os gregos de uma maneira densa e rica denominavam telos. De alguma maneira também a forma e o organismo e/ou corpo se afirmam em tensão com o não-limite, ou seja, o ilimitado. Remete ainda o limite para a condição humana em sua finitude e não finitude. Mas temos de compreender que finitude e limite nunca dizem somente fim. Apreender o jogo de finitude e não finitude na condição humana é apreender e pensar o mistério e enigma do que denominamos Eros e Thanatos, vida e morte na medida em que são. Somente o ser dá a medida de Eros e Thanatos.


- Manuel Antônio de Castro

2

Tanto externa como internamente sempre e sempre nos projetamos numa linha de horizonte para além da qual sabemos nada, pois está para além do limite, ou seja, torna-se o ilimitado, e que, no entanto, é o horizonte de toda procura e cuidado: a terceira margem do horizonte. Um horizonte onde procuramos ver tanto e contraditoriamente não vemos nem podemos ver o que precede todo o olhar do próprio olho. Tão distante e insondável o horizonte e, misteriosamente, esse é sempre o limite do que não tem limite, ou seja, do ilimitado, um limite que sempre está próximo, tão próximo que não o podemos ver. Como nossa razão, tão brilhante, potente e deslumbrante é limitada, pois não nos pode oferecer o ilimitado. Na verdade, a luz da razão é um limiar, um entre, diziam os gregos logos, de abertura para as possibilidades que fundam todo ilimitado.


- Manuel Antônio de Castro.

4

"A mente permanece instável no grande Vácuo.
Aqui, o saber mais elevado
É ilimitado. O que concede às coisas
Sua razão de ser, não pode limitar-se pelas coisas.
Assim, quando falamos em 'limites',
Ficamos presos às coisas delimitadas.
O limite do ilimitado chama-se 'plenitude' " (1).
(xxii, 6)


Referência:
(1) MERTON, Thomas. "Onde está o Tao?". In: A via de Chuang Tzu, 9.e. Petrópolis/RJ: Vozes, 1999, p. 159.

5

"J - A amplidão é aquela falta de limite que se mostrou na palavra ku, o vazio do céu.
P - Assim, enquanto andarilho da mensagem de desvelamento da duplicidade, o homem seria também o andarilho dos limites do ilimitado.
J - Nestas andanças, ele procura o mistério do limite...
P - mistério que não se pode guardar senão no termo que determina sua essência" (1).


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. "De uma conversa sobre a linguagem...". In: ----. A caminho da Linguagem. Trad. Marcia Sá Cavalcante Schuback. Petrópolis (RJ): Vozes. Bragança Paulista (SP): Editora Universitária São Francisco, 2003, p. 107.
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