Inconsciente

De Dicionrio de Potica e Pensamento

Tabela de conteúdo

1

A realidade em suas realizações nos oferta o real. Como a realidade é um acontecer incessante, não é só real o que se manifesta e oferta, mas também o que se vela; não é apenas real o que se fala, mas também o silêncio; não é real apenas o que se vê, mas também o que não se vê. Se vemos tão pouco que nem podemos ver o fundo de nossas retinas, tão próximas, como ainda querer reduzir tudo – o que é e o que não-é – ao conhecer epistemológico, prisioneiro da coesão e coerência de uma lógica do dito na proposição? E o que não cabe na proposição como o silêncio, a morte, o não-ser? Não é real o irreal, o ilógico e o inconsciente? Feitos por Cura, temos que fazer de nossas pro-curas o cuidar poético do que somos e não somos. Falar de consciente e inconsciente já é se reportar à realidade. E esta é mais do que aquilo que a razão concebe e abarca, enfim, mais do que o racional. Nesse horizonte do questionar, do pensar, coloca-se a complexa e importante questão da consciência e do inconsciente em seu misterioso existir.


- Manuel Antônio de Castro
Ver também
* Psykhé.
* razão.
* Arquétipo.

2

Dissimulação é jogo de ser e não-ser, enquanto consciente e inconsciente, pois este é o que sabemos dissimulando-se: em atitudes, em jogos de palavras, gestos, trocadilhos. A realidade em sua essência originária é dissimulação, manifestação e velamento. Os gregos usavam uma palavra rica de sentidos: aletheia.


- Manuel Antônio de Castro

3

"Mistério vem do verbo grego myo. E myo diz: trancar-se no centro, concentrar-se; diz: encerrar-se no âmago, recolher-se ao íntimo. Aqui, centro, âmago, íntimo, evocam a raiz da intensidade, o sumo da plenitude. Mistério não diz uma coisa, diz um movimento, o movimento de con-sumar, de concentrar-se na origem, de recolher-se à natividade da raiz, de retornar ao sem fundo e fundamento, ao a-bismo de ser. As palavras: Deus, Absoluto, Transcendência, Inconsciente, Espírito, Matéria, Psique, Estrutura, Ser são outras tantas redes em cujas malhas o poder do saber ocidental na teologia, na filosofia, na ciência, sempre de novo tentou, mas nunca conseguiu, prender e segurar a natividade do mistério" (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. “Heidegger e a modernidade: a correlação de sujeito e objeto”. In: ------------. Aprendendo a pensar II. Petrópolis / RJ: Vozes, 1992, p. 180.

4

"Corpo de animal, cabeça de homem, a Esfinge é toda a condição humana do homem: ser fronteiriço entre nesciente, inconsciente e consciente, tanto no não saber obscuro do mineral, vegetal e animal, como no saber diáfano do pensamento, da fantasia, da percepção" (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "O Édipo em Píndaro e Freud". In: -----. Filosofia contemporânea. Teresópolis/RJ: Daimon Editora, 2013, p. 66.

5

"O homem gosta de acreditar-se senhor da sua alma. Mas enquanto for incapaz de controlar os seus humores e emoções, ou de tornar-se consciente das inúmeras maneiras secretas pelas quais os fatores inconscientes se insinuam nos seus projetos e decisões, certamente não é seu próprio dono. Estes fatores inconscientes devem sua existência à autonomia dos arquétipos" (1).


Referência:
(1) JUNG, Carl G. "A alma do homem". In: JUNG, Carl G e Outros. O homem e seus símbolos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, Tradução Maria Lúcia Pinho, s/d, p. 83.

6

"Num primeiro contato, a diferença entre um e outro estaria na distinção entre consciência-inconsciente de um lado e a existência e referência de outro. A comunhão entre ambos estaria na maneira de lidar no procedimento com que se trataria a consciência e a existência num e noutro caso" (1). (Observação: "... entre um e outro..." refere-se a Binswanger e Freud)


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Análise da Existência humana em Binswanger". In: -----. Filosofia contemporânea. Teresópolis/RJ: Daimon Editora, 2013, p. 70.

7

"Se o passado fosse só o passageiro, o que em um tempo foi, depois desapareceu e não é mais, não haveria memória nem a possibilidade de inconsciente. Este também não pode ser confundido com a vigência do passado, porque não se pode reduzir o ser ao conhecer ou não conhecer, isto é, daquilo que ainda não se tem consciência" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Passado". In: -----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 255.

8

"O mesmo acontecimento, visto por pessoas diferentes e ao mesmo tempo, tem leituras-versões diferentes. E mais. Esse mesmo acontecimento age dentro de nós e sofre uma estranha ação da memória, de tal maneira que, tempos depois, esquecemos alguns aspectos e, por outro lado, os reinventamos de maneira diferente. Ou fica de vez jogado para o sótão do inconsciente da memória. É que a memória não é só o consciente, mas também o inconsciente. E do inconsciente quem fala não somos nós, mas a memória enquanto linguagem, projetando-se em nossa consciência como imagens-questões, que muitas vezes advêm como sonhos, imaginações, ficções" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Obra de arte e imagem-questão". In: ---------. Leitura: questões. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 232.
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