Criança

De Dicionrio de Potica e Pensamento

1

"O tempo (Aión) é uma criança, criando, jogando o jogo de pedras, vigência da criança" (1).
Referência:
(1) HERÁCLITO. Fragmento 50. In: Os pensadores originários - Anaximandro, Parmênides, Heráclito. Trad. Emmanuel Carneiro Leão. Petrópolis: Vozes, 1991, p. 73.

2

"Atentemos para o que nos diz a palavra infantil, uma vez que falar de literatura é lutar com palavras. Infantil compõe-se do prefixo in- e de -fantilis. A forma fantilis tem sua origem no verbo for, fatus sum, fari, que significa: dizer, predizer e celebrar em poesias. Ora, se observarmos a palavra infantil superficialmente, chegamos a uma conclusão, até de certa maneira cômica, pois, olhando o dicionário, o prefixo in- indica a negação. Logo, literatura infantil é a literatura que não fala ou a literatura para o homem enquanto não fala. Este aparente paradoxo pode ser resgatado. Se a criança ainda não exercita o sistema de signos, não quer dizer que ela não more, não se movimente na luz da Linguagem. E uma constatação nos confirma isto. Podemos afirmar que a criança ainda não fala, mas efabula, faz suas fabulações. O verbo fabular ou efabular tem o mesmo radical da palavra infantil, o verbo fari. Logo, o sentido profundo do verbo fari não se confunde com o simples falar ao nível da língua, mas remete para a Linguagem, onde a criança eclode no que é e a realidade se manifesta" (1).


CASTRO, Manuel Antônio de. "Ficção e literatura infantil". In: ---. Tempos de Metamorfose. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1994, p. 132.

3

"Escrever para crianças e adolescentes é muito difícil. Em primeiro lugar há o desafio de seduzir leitores inexperientes. A linguagem deve ser rica, sem ser inacessível; formativa e informativa, sem parecer uma dissertação. Deve ter humor e poesia. O escritor precisa recuperar o olhar inaugural das crianças, ou seja, precisa voltar a ver o mundo como se fosse pela primeira vez. Em segundo lugar, crianças estão atentas aos detalhes e não perdoam erros. Se gostam de um livro irão lê-lo, ou obrigar os pais a lê-lo, até saberem de cor parágrafos inteiros" (1).


Referência.
(1) AGUALUSA, José Eduardo. "Escrever a partir dos sonhos". In: O Globo, "Segundo Caderno", sábado, 13-4-2019, p. 8.

4

"Também melhor se entende a ficcionalidade se atentarmos para o terceiro significado do verbo latino fingere: imaginar. O imaginar é o contraponto do formar. O contraponto indica a presença da tensão do limite e do ilimitado, da diferença e da identidade, da língua e da Linguagem. O formar sem o imaginar origina os formalismos, provocando equívocos sobre o fazer literário. Já o literário se realiza quando o imaginário irrompe em produções. É isto o que caracteriza fundamentalmente a literatura infantil: uma presença marcante e irrefreável do imaginário. Porque a criança é mais sensível ao imaginário. Nela, o sonho é realidade e a realidade é sonho. Nela, o imaginário é realidade e a realidade é imaginário. Ainda não sofreu o processo de formação que a deforma para o real-imaginário e a deseduca para a humanização. Pelo imaginar, o homem consuma a sua humanização, na medida em que manifesta o sentido do que ele é. Isso se chama libertação. Na realidade ficcional-literária o imaginar é o real vigorando" (1).


Referência:
CASTRO, Manuel Antônio de. "Ficção e literatura infantil". In: ---. Tempos de Metamorfose. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1994, p. 134.
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