Paixão

De Dicionrio de Potica e Pensamento

1

"A memória de um peixinho dourado só dura três segundos. Então, depois de uma volta pelo aquário tudo é novidade. Cada vez que dois peixinhos se veem é como se fosse pela primeira vez. É como nós humanos. Cada nova paixão é como se fosse a primeira. Uma reação química apaga a lembrança da última dor de amor e nós pensamos: "Puxa, isso é maravilhoso... isso é novo, é diferente!" " (1).


Referência:
(1). Fala inicial do filme Todas as cores do amor. Direção de Elizabeth Gill, 2003.

2

"A excessividade do ser no amar é para todo sendo um mistério. Por isso o amante tende para a excessividade da paixão, que se torna fatal quando não tem como medida o ser, mas o sendo" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Amar e Ser". In: ---. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 316.

3

"Amar é Eros, porque sempre se dá obliquamente, dissimulando-se. Sem amar nada somos e como amar é o nada do que já somos e não somos, em seu dar-se dissimulando ele sempre se retrai e mais nos atrai e arrasta na paixão amorosa. É que em toda paixão amorosa só amamos ao outro quando acontece a unidade e vigor das diferenças: o amar" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Amar e Ser". In: ---. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 293.

4

"Quando eu voltar ao mar absoluto,
meus átomos irão resplandecer.
Eu ardo como a vela da paixão.
Hei de viver o instante para sempre" (1).


Referência:
(1) RÛMI. "O canto da unidade". In: -----. A flauta e a lua - Poemas de Rûmi. Trad. de Marco Lucchesi e Rafî Moussavî. Rio de Janeiro: Bazar do Tempo, 2016, p. 99.

5

A palavra paixão formou-se do verbo grego pascho. O seu significado geral diz do experienciar uma afeição, sensação ou sentimento, o estar aberto e disposto para, estar em disposição. Significa, pois, uma abertura para o sentido do que somos e podemos ser. Esta disposição varia e pode ter o sentido de experienciar dor e sofrimento, chegando à morte. Paixão significa então morte. Mas, por outro lado, tal disposição pode se voltar para alguém. A paixão exige necessariamente os outros. A paixão como morte tem então o significado de sacrifício pelos semelhantes. E só se sacrifica quem ama. E para amar tem que ser algo arrebatador. É a paixão amorosa transformada na doação silenciosa, o amor. Isso não quer dizer nem pena nem anulação do outro, mas diz do sofrer com, do compartilhar dores e alegrias. A paixão aparece então como compaixão. Finalmente paixão nos remete para a disposição pela qual nos transformamos e buscamos o outro. É o transformar-se o amador na pessoa amada, gerando uma profunda e essencial identificação.


- Manuel Antônio de Castro.

6

"Vivendo, os homens vão experimentando a paixão de viver e aprendendo com esta experiência. Pensar é a disciplina, a ascese e o ordenamento desta paixão" (1).
"Pensar é cuidar da paixão de viver, é sentir o sentido da paixão de viver. Lançados no rio da vida, esta se torna questão, pois é no pensar que a questão se torna o desafio do pensar, do experienciá-la enquanto paixão. Cuidar é, essencialmente, deixar eclodir no pensar apaixonado um figurar da vida" (2).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Definições de filosofia". In: Revista Tempo Brasileiro, 130/131, 1997, p. 145.
(2) CASTRO, Manuel Antônio de. "O mito de Cura e o ser humano". In: ---. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 229.

7

"Assim numa definição real poder-se-ia definir a filosofia como o esforço do pensamento de questionar tudo que nos vem ao encontro, tanto o que somos, como o que não somos, pela radicalização da paixão de viver. Dando sentido a todas as coisas, a paixão de viver torna a vida digna de ser vivida. Destarte a definição nos diz duas coisas fundamentais: primeiro, que filosofia é questionar e ser questionado pela paixão de viver, e, segundo, ser filósofo equivale a ser homem também discursivamente apaixonado, i. é, num discurso agente e paciente daquela paixão" (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Definições da filosofia". In: Rio de Janeiro: Editora Tempo Brasileiro. Revista Tempo brasileiro, 130 / 131, jul.-dez., 1997, p. 149.

8

"Diálogo entre os personagens Marie e Henrik:
- Como é?
- O quê?
- Disse que está apaixonado.
- Sinto uma paixão no peito, no estômago. Meu joelho fica como uma maçã esmagada e meus dedos se desequilibram, mas é mais forte no peito.
- No peito?
- No coração?
- Eu não sei. E você?
- Quem disse que eu estou apaixonada por ti?
- Ah, está bem...
- Acho que a paixão está na pele. Quero que você me toque, acaricie a minha pele com suas mãos. Está nos meus ombros e nos meus cotovelos.
- Nas palmas das minhas mãos. Dá cócegas em todo corpo " (1).


Referência:
(1) Filme Juventude. Roteiro de Ingmar Bergman e Herbert Greveniu. Direção de Ingmar Bergman. As personagens Marie e Henrik são os personagens principais.

9

"Viver é nascer, crescer, amadurecer e morrer a todo instante. Vivendo, os homens vão experienciando a paixão de viver e aprendendo com esta experienciação. Pensar é a disciplina, a ascese e o ordenamento desta paixão" (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Definições de filosofia". In: Rev. Tempo Brasileiro, Rio de Janeiro, 130 / 131, jul.-dez., 1997, p. 145.

10

"Não há amante sem o amar. Eros é a grande paixão que move o ser. O ser vigorando na paixão de Eros é o amar" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Amar e Ser". In: -------------. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 294.

11

"A sabedoria de Sileno se distingue porque ele foi o sábio preceptor de Dioniso. Esse deus-homem, homem-deus está ligado tanto à phýsis como à zoé (vigor e fulgor do viver) e também a Eros, sempre no limiar de Thánatos. A paixão pela vida como Eros-Dioniso é o que dá o alcance do que os gregos experienciavam como zoé (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O Mito de Midas da morte ou do ser feliz". In: -------------. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 189.

12

Um índice que mostra o homem para além do racional é o eros/amor. Há uma relação racional no comportamento amoroso, mas o amor propriamente dito é aquilo que ultrapassa e está além dessa mera relação racional. Daí as variáveis de amor e paixão, onde esta é marcada por um arrebatamento próximo da loucura e que nada tem de racional.


- Manuel Antônio de Castro.

13

"... viver, mais do que deixar correr a vida, deixar se levar pelas vivências e se deixar, enfim, levar por um querer da vontade, se torna uma tarefa poética incessante (tautologia) cuja dobra do que já desde sempre somos se desdobra e o ser humano se torna humano. É o pensar como experienciação da paixão de viver. Por isso, já nos disse Caeiro que “pensar é amar” (1) (2004, 98)" (2).


Referência:
(1) CAEIRO, Alberto. Poesia. In: PESSOA, Fernando. São Paulo: Cia. das Letras, 2004, p. 98.
(2) CASTRO, Manuel Antônio de. "Liberdade, vontade e uso de drogas". In: ----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 278.

14

A palavra paixão formou-se do verbo grego pascho. O seu significado geral diz do experienciar uma afeição, sensação ou sentimento, o estar aberto e disposto para, estar em disposição. Significa, pois, uma abertura para o sentido do que somos e podemos ser. Esta disposição varia e pode ter o sentido de experienciar dor e sofrimento, chegando à morte. Paixão significa então morte. Mas, por outro lado, tal disposição pode se voltar para alguém. A paixão exige necessariamente os outros. A paixão como morte tem então o significado de sacrifício pelos semelhantes. E só se sacrifica quem ama. E para amar tem que ser algo arrebatador. É a paixão amorosa transformada na doação silenciosa, o amor.


- Manuel Antônio de Castro.

15

Finalmente paixão nos remete para a disposição pela qual nos transformamos e procuramos o outro. É o transformar-se o amador na pessoa amada, gerando uma profunda e essencial identificação.


- Manuel Antônio de Castro.

16

"A felicidade, para ser saber, tem de se mover na luz da clareira de Apolo e mergulhar como sabor na dimensão de dzoé-Dioniso, tornando-se a sabedoria da phýsis, dando-se na luz como sentido do ser. Esta é a medida do ser feliz. O sabor do saber jamais é irracional, o sabor da felicidade jamais é irracional. É apaixonado pela proximidade. Nele vigem Apolo e Dioniso, e faz de tal saber a paixão da sabedoria. A paixão e a sabedoria como Penhor dos empenhos é a felicidade. Esta não pode ser tentada, buscada, procurada a partir do saber da razão e muito menos ser julgada no seu tribunal, pelo qual tudo que não for de seu âmbito e delimitação cai na vulgaridade e superficialidade do irracional, o que não é próprio nem alcançado pela luz da razão" (1).


Referência bibliográfica:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O mito de Midas da morte ou do ser feliz". In: -------. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 201.
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