Zeus

De Dicionrio de Potica e Pensamento

1

"O indivíduo vale e se define pelo seu génos, de tal maneira que “todas as ações, decisões, falhas e êxitos do indivíduo têm fonte não na individualidade dele, mas nessa natureza supra-individual que caracteriza o génos” (Torrano: 1992, 78) (1). Entendido o agir de cada um nesse horizonte, pode-se compreender o que significa propriamente o destino no pensamento mítico. Cada génosorigem a uma linhagem. Por exemplo, a linhagem de Zeus. Esta, por sua vez, se estrutura em grupos familiares menores, mas estes compartilham a natureza comum da linhagem, enquanto origem, génos. Por sua vez, cada grupo menor também tem a sua natureza própria e peculiar, embora inscrita na natureza da linhagem, circunscrevendo esta e determinando supra-individualmente “... as ações e caracteres dos indivíduos circunscritos por esse grupo” (Torrano, 1992: 79) (2). Nessa perspectiva “a descendência é sempre uma explicitação da natureza dos indivíduos” (Torrano: 1992, 79) (3). Esta possibilidade de continuidade e unidade é dada pela própria presença de Zeus e Mnēmosýnē, ou seja, a memória. Por isso fala-se de uma maneira, até certo ponto ingênuo, em código genético, memória genética. A ciência reduz tudo de uma maneira assombrosa, pois lhe falta a dimensão do sagrado. A dessacralização é proporcional ao avanço da ciência" (4).


Referência:
(1) TORRANO, Jaa. "O mundo como função das Musas". In: ----. Teogonia. São Paulo, Iluminuras, 1992, p. 78.
(2) TORRANO, Jaa. "O mundo como função das Musas". In: ----. Teogonia. São Paulo, Iluminuras, 1992, p. 79.
(3) TORRANO, Jaa. "O mundo como função das Musas". In: ----. Teogonia. São Paulo, Iluminuras, 1992, p. 79.
(4) CASTRO, Manuel Antônio de. "Ulisses e a Escuta do Canto das Sereias”. In: -----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 166.

2

"Desse modo o esquecimento do ser se dá num caminho duplo e ambíguo, na caminhada do Ocidente: esqueceu-se o vigorar do mítico e do pensamento. Nesse sentido, devemos ter sempre em mente que não devemos procurar Platão, mas o que ele procurava. Nenhum mito, nenhuma obra de pensamento dá conta do que já o pensador Heráclito, no fragmento 16, propôs como questão para o pensar:
Face ao que nunca declina ninguém pode manter-se encoberto”.
Não há doutrina ou teoria ou conhecimento que dê conta do “que nunca declina”. E jamais poderemos diante desse acontecer incessante e sempre inaugural manter-nos “encobertos”. Para nós não há outro destino senão procurar o que todos os grandes pensadores e poetas procuraram em tudo que pensaram e poetaram. Isso exige de nós o termos de nos defrontar com nosso destino, com o que em nós, em cada um, acontece inauguralmente. É o mesmo, é a unidade das diferenças, pois, não podemos esquecer, só há uma Lei e um Saber, a unidade da memória que a todos reúne e dá sentido. Essa unidade é Zeus, a Luz irradiante que congrega luminosidade e obscuridade, noite e dia, Eros e Thánatos. Eis nossa moira" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Ulisses e a Escuta do Canto das Sereias”. In: -----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 170.
Ferramentas pessoais