Psicanálise

De Dicionário de Poética e Pensamento

Tabela de conteúdo

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Geralmente emprega-se a palavra numinoso quando se quer nomear algo referente ao sagrado. Numinoso origina-se da palavra latina: Numen, numinis. Tem diversos significados (1). Exemplos: ordem, vontade, permissão, vontade divina, onipotência divina, divindade, estátua de uma divindade, poder divino, inspiração divina, oráculo, majestade. Num ditado famoso fica bem evidente o poder e a vontade divinos: " Nihil sine Dei numine geritur: Nada se faz sem a vontade divina. Vontade implica poder. Porém, não podemos confundir o poder e a vontade das forças divinas com o poder e a vontade da razão humana, da consciência humana. Essa diferença é essencial para compreender todo o poder do Destino e a impotência humana diante dele. Este jamais significa uma força cega e do acaso. Acontece que o alcance do poder da vontade humana fundada na razão é impotente para alcançar o âmbito do poder e da vontade divinos. Na literatura, um exemplo clássico é o personagem Édipo, da tragédia de Sófocles: Rei Édipo. Estas observações são importantes para compreendermos o alcance e limites da psicanálise, sobretudo a freudiana, que se fundamenta no poder da razão humana somente. Por isso Jung, mais aberto ao mistério da alma humana ou psique, criará o conceito de arquétipo. Diante disso tudo, só podemos afirmar o poder das obras de arte e o seu mistério. Qualquer teoria racional que as queira abarcar, classificando-as, se torna limitada e insuficiente. Por isso, é essencial se pensar uma Poética, no lugar de uma mera Estética racional e conceitual, que se mova somente nas questões e não nos conceitos racionais.


- Manuel Antônio de Castro.
Referência:
(1) KOEHLER, Pe. H., S.J. Dicionário Escolar Latino - Português. Porto Alegre, Editora Globo, 1957, p. 543.

2

"Há, pois, duas possibilidades, que brotam, se complementam e se integram na estrutura do pensar: o pensamento irrequieto, que calcula, e o pensamento sereno, que pensa o sentido. É da angústia deste pensamento do sentido que estamos fugindo hoje e na fuga lhe sentimos a falta. Por isso, procuramos preencher o vazio com discussões sobre filosofia e psicanálise" (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Filosofia e psicanálise". In: ------. Aprendendo a pensar. Petrópolis/RJ: Vozes, 1977, p. 52.

3

O ser humano vive sempre na angústia do nada, pois, de um lado, se descobre sempre, em sua finitude, diante do infinito externo e, de outro, do infinito interno. Só aparentemente estes dois infinitos se opõem, mas se diferenciam. E assim o ser humano vive o dilema, melhor, a angústia de uma eterna aprendizagem de procura de si mesmo. Eis sua riqueza maior: sua finitude como destino de procura até a morte. Neste sentido, a morte é uma necessidade ontológica e jamais o término de tudo. Não será pelo contrário o começo permanente de tudo? Nesse horizonte tanto a psicologia e a psiquiatria quanto toda e qualquer cosmologia se experienciam como sendo as mesmas questões. Daí o enigma e mistério em que vive todo ser humano desde que nasce. Para muitos o difícil é seguir permanentemente esse caminho. Procuramos desesperadamente a resposta dessas questões. E o que aí a ciência pode fazer? Se for verdadeira ciência, pôr-nos a caminho de nos pensarmos.


- Manuel Antônio de Castro.

4

"O que Freud descobriu não foi uma nova hipótese dentro do universo de discurso da medicina de seu tempo, para explicar a origem e o desenvolvimento das neuroses. Não se tratava de uma nova etiologia que explicasse a neurose pela frustração sexual. Com uma tal explicação, a psicanálise não teria mobilizado tanta resistência e ansiedade, nem ontem nem hoje. O que Freud descobriu foi um novo universo de discurso. Neste novo universo todo discurso era revolucionário, por mais comuns que fossem a gramática e o vocabulário utilizados, por mais correntes que tenham sido os modelos e as regras empregadas. É este novo universo que lhe possibilitou formular, com a língua vigente na ciência de seu tempo, as ideias revolucionárias sobre a dinâmica do inconsciente" (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Filosofia e psicanálise". In: ------. Aprendendo a pensar. Petrópolis/RJ: Vozes, 1977, p. 59.
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