Descaminhos

De Dicionário de Poética e Pensamento

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Para compreender e apreender o que é o olhar, o melhor caminho é pensar a diferença ontológica entre olhar e ver. Concretamente, um exemplo clássico pode nos fazer pensar essa diferença: quando Édipo, o famoso personagem do mito de Édipo, pensado por Sófocles em sua famosa obra Rei Édipo, tinha olhos não penetrara e nem vira os caminhos de seu destino. É que o olho é funcional, faz parte do nosso organismo que diz respeito ao olhar, não necessariamente ao ver, pois foi quando arrancou os olhos que passou a ver na luz da verdade os caminhos e descaminhos do seu destino. O olho diz respeito aos sentidos, a visão diz respeito ao sentido. Não basta olhar, é necessário ver. E é nesta distinção fundamental que os gregos pensaram a essência da aletheia, desvelamento ou verdade. Por isso, este diz respeito à manifestação do sentido do destino. E é nesse horizonte que se diferencia radicalmente a verdade da obra de arte e a verdade funcional da lógica, que fundamenta a ciência fundada na razão. Essencialmente, como vemos, há um só caminho, uma só travessia: a da ausculta do destino. Por isso, a ciência e sua verdade nos conduz a muitos descaminhos, porque são caminhos que não nos conduzem para a plenitude do que somos e recebemos para ser: nosso destino. A vida de Édipo nos mostra de uma maneira exemplar os seus descaminhos até se auscultar e enveredar pelo único caminho: ser o que recebeu para ser, ser o que lhe foi destinado pela Moira.


- Manuel Antônio de Castro.
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