Rosa

De Dicionrio de Potica e Pensamento

Tabela de conteúdo

1

O mais belo da vida é sempre o imprevisível, o sem-causa, o sem-por quê. Ou como nos diz Rosa no conto “Reminisção”:
"E há os súbitos, encobertos acontecimentos, dentro da gente" (1).
O súbito de todo instante poético acontecendo eis a memória originária, poética. Sem esta não há cronologia e causalidade nem a realidade tem sentido.


- Manuel Antônio de Castro
Referência:
(1) ROSA, João Guimarães. Tutameia. Rio de Janeiro: José Olympio, 1967, p. 81.

2

Para se entender a diferença entre causalidade e não-causalidade, que é difícil, é bom apelar para o Pensador Rosa. Causalidade indica a essência do agir baseado nas causas e Rosa o sintetiza no verbo consertar. Neste não só o agir visa a um efeito, mas também o sujeito do agir se localiza, se funda no agir do homem. Já a não-causalidade é indicada por Rosa com outro verbo: concertar. Por este, o ser humano realiza o seu télos deixando-se tomar pelo vigor do Ser. Aí não pode haver causalidade, mas vigora a não-causalidade.


Manuel Antônio de Castro.

3

"Riobaldo, como imagem, não é, porque Riobaldo é personagem-questão. Perguntar se ele é real ou fictício é sem sentido, pois não é uma coisa nem outra. Enquanto imagem-poético-manifestativa de questões, é imagem-personagem-questão" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Obra de arte e imagem-questão". In: ---. Leitura: questões. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 235.

4

O que é o sagrado? Não podemos confundir o sagrado com o religioso. Ele é mais. Ele é um mistério. Ele é o próprio Ser-tão. O homem ocidental experienciou de sete modos diferentes o sagrado: na arte, no mito, no religioso, na poesia, no místico, no pensamento, na metafísica. Essas seis facetas do sagrado percorrem profundamente Grande sertão: veredas, a obra-prima do escritor e pensador João Guimarães Rosa.


- Manuel Antônio de Castro.

5

"Cada dia é um dia. E o tempo estava alisado. Triste é a vida do jagunço - dirá o senhor. Ah, fico me rindo. O senhor nem não diga nada. "Vida" é noção que a gente completa seguida assim, mas só por lei duma ideia falsa. Cada dia é um dia" (1).


Referência:
ROSA, João Guimarães. Grande sertão: veredas, 6. e. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1968, p. 301.

6

" : - "Mano velho, tu é nado aqui ou de donde? Acha mesmo assim que o sertão é bom? ..." Bestiaga que ele me respondeu, e respondeu bem; e digo ao senhor:
" : - Sertão não é malino nem caridoso, mano oh mano!: - ... ele tira ou dá, ou agrada ou amarga, ao senhor, conforme o senhor mesmo" (1).


Referência:
(1) ROSA, João Guimarães. Grande sertão: veredas. 6. e. Rio de Janeiro: José Olympio, 1968, p. 394.

7

"O mal ou o bem, estão é em quem faz; não é no efeito que dão" (1).
"O que há é uma certa coisa - uma só, diversas para cada um - que Deus está esperando que esse faça. Neste mundo tem maus e bons - todo o grau de pessoa. Mas então todos são maus. Mas mais então, todos não serão bons?" (2).


Referência:
(1) ROSA, João Guimarães. Grande sertão: veredas. 6. e. Rio de Janeiro: José Olympio, 1968, p. 77.
(2) ROSA, João Guimarães. Grande sertão: veredas. 6. e. Rio de Janeiro: José Olympio, 1968, p. 237.

8

"... Apenas na solidão pode-se descobrir que o diabo não existe. E isto significa o infinito da felicidade. Esta é a minha mística" (1).


Referência:
(1) Entrevista com Guimarães Rosa, conduzida por Günter Lorenz no Congresso de Escritores Latino-Americanos, em janeiro de 1965 e publicada em seu livro: Diálogo com a América Latina. São Paulo: E.P.U., 1973. Acessada no site: www.tirodeletra.com.br/entrevistas/Guimarães Rosa - 1965.htm, p. 10.

9

“O senhor sabe o que o silêncio é? É a gente mesmo, demais” (1).


Referência:
(1) ROSA, João Guimarães. Grande sertão: veredas, 6 e. Rio de Janeiro: José Olympio Editora, 1968, p. 319.

10

"... toda ação principia mesmo é por uma palavra pensada" (1).


Referência:
(1) ROSA, João Guimarães. Grande sertão: veredas, 13.e. Rio de Janeiro: José Olympio, 1979, 137.

11

"... para cada dia, e cada hora, só uma ação possível da gente é que consegue ser a certa. Aquilo está no encoberto; mas, fora dessa consequência, tudo o que eu fizer, o que o senhor fizer, o que o beltrano fizer, o que todo-o-mundo fizer, ou deixar de fazer, fica sendo falso, e é errado" (1).


Referência:
(1) ROSA, João Guimarães. Grande sertão: veredas, 13.e. Rio de Janeiro: José Olympio, 1979, 366.

12

"Um vive, e muito se vê... Reperguntei qual era o mote. - Um outro pode ser a gente: mas a gente não pode ser um outro, nem convém..." (1).


Referência:
ROSA, João Guimarães. Grande sertão: veredas, 6. e. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1968, p. 347.

13

"Que o que gasta, vai gastando o diabo de dentro da gente, aos pouquinhos, é o razoável sofrer. E a alegria de amor..." (1).


Referência:
(1) ROSA, João Guimarães. Grande sertão: veredas. 6. e. Rio de Janeiro: José Olympio, 1968, p. 12.

14

"A noite é uma grande demora" (1).


Referência:
(1) ROSA, João Guimarães. Grande sertão: veredas, 6. e. Rio de Janeiro: José Olympio, 1968, p. 157.

15

"O pensador Guimarães Rosa denomina a causalidade a pretensão do sujeito de consertar a realidade" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Telos e sentido", ensaio ainda não publicado.

16

"O princípio, arkhé, advindo à sua plenitude] é o télos. É a não-causalidade. Guimarães Rosa comemorando no poético a memória enquanto unidade do acontecer, denominou poeticamente a não-causalidade como sendo o concertar" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Telos e sentido", ensaio ainda não publicado.

17

"Ah, porque aquela outra é a lei, escondida e visível, mas não achável, do verdadeiro viver: que para cada pessoa, sua continuação, já foi projetada, como o que se põe, em teatro, para cada representador - sua parte, que antes já foi inventada, num papel..." (1).


Referência:
ROSA, João Guimarães. Grande sertão: veredas, 6. e. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1968, p. 366.

18

"Ler Primeiras estórias é tocar a linguagem do silêncio: é lançar-se ao mistério do ser" (1).


Referência:
(1) CARVALHO, Taís Salbé. "João Guimarães Rosa e a criação poética". In: ---. Viajar e existir em Primeiras Estórias, de João Guimarães Rosa. São Carlos - SP: Editores Pedro & João, 2022, p. 95.

19

"E para que possamos fazer da arte, vida, é preciso fazer o jogo: nos lançarmos em viagem ao círculo hermenêutico da escuta pelas estórias primeiras presentes na criação poética doada por Rosa, tendo em mente que será pela leitura de Primeiras Estórias que as questões originárias nos chegam, partem de nós e, em nós, se manifestam" (1).


Referência:
(1) CARVALHO, Taís Salbé. "João Guimarães Rosa e a criação poética". In: ---. Viajar e existir em Primeiras Estórias, de João Guimarães Rosa. São Carlos - SP: Editores Pedro & João, 2022, p. 96.

20

"Pensar é necessário, pois é ao pensar que procuramos por nós mesmos, buscando conhecer nossa humanidade. Logo, cabe nos interrogar por meio da concretude da paideia poética, a qual a obra presentificada por Guimarães Rosa manifesta. Tenho em mente que essa questão do educar poético, como acontecimento apropriante que se dá no humano, ilumina, originariamente, o conjunto das obras do autor mineiro" (1).


Referência:
(1) CARVALHO, Taís Salbé. "João Guimarães Rosa e a criação poética". In: ---. Viajar e existir em Primeiras Estórias, de João Guimarães Rosa. São Carlos - SP: Editores Pedro & João, 2022, p. 97.

21

"Nesse sentido, esclareço: cada um dos textos literários escritos por Rosa torna-se "uma" aprendizagem que move, promove e comove ao educar poético originário. Melhor dizendo: os textos de Rosa são faces da aprendizagem poética, na medida em que revelam ficcionalmente dimensões diferentes de uma mesma questão: o "pensar" enquanto dimensão do humano" (1).


Referência:
(1) CARVALHO, Taís Salbé. "João Guimarães Rosa e a criação poética". In: ---. Viajar e existir em Primeiras Estórias, de João Guimarães Rosa. São Carlos - SP: Editores Pedro & João, 2022, p. 97.

22

"O artista, escritor, poeta, Guimarães Rosa jamais será a origem da obra de arte, i.é, não é ele o autor de sua obra, mas as questões que a ele se doaram no momento em que se entregou à escuta do ser da obra" (1).


Referência:
(1) CARVALHO, Taís Salbé. "João Guimarães Rosa e a criação poética". In: ---. Viajar e existir em Primeiras Estórias, de João Guimarães Rosa. São Carlos - SP: Editores Pedro & João, 2022, p. 98.

23

"Primeiras Estórias foi criada a partir de narrativas que tratam das questões originárias, como vida, morte, verdade, arte, linguagem, amor, memória, tempo, e que nos jogam em travessia" (1).


Referência:
(1) CARVALHO, Taís Salbé. "João Guimarães Rosa e a criação poética". In: ---. Viajar e existir em Primeiras Estórias, de João Guimarães Rosa. São Carlos - SP: Editores Pedro & João, 2022, p. 98.

24

A Professora Ângela Guida fez um excelente levantamento de Sentenças Poéticas na Obra de Guimarães Rosa, publicada em sua obra: A Poética do Tempo (1).


Referência:
(1) GUIDA, Angela. "Guimarães Rosa: o tempo em sentenças poéticas". In: ---. A Poética do Tempo. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, Coleção Pensamento Poético, 5, 2013, p. 165.
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