Não-causalidade
De Dicionrio de Potica e Pensamento
1
- O mais belo da vida é sempre o imprevisível, o sem-causa, o sem-por quê. Ou como nos diz Rosa no conto “Reminisção”: “E há os súbitos, encobertos acontecimentos, dentro da gente” (1). O súbito de todo instante poético acontecendo eis a memória originária, poética. Sem esta não há cronologia e causalidade nem a realidade tem sentido.
- Referência:
- (1)ROSA, João Guimarães. Tutameia. Rio de Janeiro: José Olympio, 1967, p. 81.
2
- Para se entender a diferença entre causalidade e não-causalidade, que é difícil, é bom apelar para o Pensador Rosa. Causalidade indica a essência do agir baseado nas causas e Rosa o sintetiza no verbo consertar. Neste não só o agir visa a um efeito, mas também o sujeito do agir se localiza, se funda no agir do homem. Já a não-causalidade é indicada por Rosa com outro verbo: concertar. Por este, o ser humano realiza o seu télos deixando-se tomar pelo vigor do Ser. Aí não pode haver causalidade, mas vigora a não-causalidade.
3
- "O princípio, arkhé, advindo à sua plenitude] é o télos. É a não-causalidade. Guimarães Rosa comemorando no poético a memória enquanto unidade do acontecer, denominou poeticamente a não-causalidade como sendo o concertar" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Telos e sentido", ensaio ainda não publicado.
4
- "Guimarães Rosa comemorando no poético a memória enquanto unidade do acontecer, denominou poeticamente a não-causalidade como sendo o concertar. É que neste nenhum sujeito age e produz efeitos. O concertar não se transforma em ação por dele emanar um efeito ou por vir a ser aplicado. O concertar age enquanto concerta. Concertar é poietizar" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Telos e sentido", ensaio ainda não publicado.