Causalidade

De Dicionrio de Potica e Pensamento

1

"De acordo com Jung os sonhos não obedecem somente ao princípio da causalidade, mas apresentam também um aspecto de finalidade, através do qual observa-se para onde a libido tende a ir" (1).


Referência:
(1) FRANZ, Marie Louise von. A interpretação dos contos de fadas. Rio de Janeiro: Achiamé, 1981, p.79.

2

A causalidade surge através da proposta do sujeito/sub-iectum, em latim, (sub=su, iectum=lançado) ou em grego, hypo-keimenon (lançado sob). Neste e por este o agir é sempre do fundamento ou sujeito, nas diferentes interpretações dominadas pela Lógica. E a unidade mínima do enunciado verdadeiro é a pro-posição (krisis/juízo, não moral ou ético, a não ser implicitamente como determinante de tudo o que pode ser aceito como verdadeiro. E todo verdadeiro é moralista, mas não e jamais ético ou poético). Todo ente, toda “coisa” da realidade (kata physin), seria composta de um núcleo em torno do qual se agregam as suas características, os atributos, as qualidades que lhe são próprias. O núcleo é o sujeito e as características são os predicativos. A estrutura da “coisa” seria equivalente à estrutura da proposição e esta àquela, num processo de verdade por adequação, onde quem mede é a Lógica. Esta é a representação em que surge o círculo vicioso, ainda que lógico e, portanto, verdadeiro: coisa é proposição e esta é coisa. Fora da lógica, ninguém sabe o que é a “coisa”.


- Manuel Antônio de Castro

3

"Na causalidade, embora se fale e se estabeleça o fundamento, o tempo se torna refém da cronologia, da sucessividade, estanque e sem dinâmica de sentido, sem o vigorar da linguagem. Ela é apenas uma faceta da questão do tempo, jamais a sua essência. Tempo é questão e jamais redutível a conceitos. Cronologia e causalidade são um e o mesmo. A causalidade é sempre otimista, pois se funda no tempo enquanto sucesso. A cronologia causal abrange todos os conhecimentos científicos, e quatro ideias básicas lhe são correlatas: desenvolvimento, evolução, progresso e eficiência" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Época e tempo poético". In: ---------. Leitura: questões. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 287.

4

Não é tão fácil apreender a essência da causalidade. Ela fica bem evidente quando se pensa a cissiparidade. Nesta é impossível estabelecer um fundamento, pois nela não age um fundamento que explique como acontece a cissiparidade. Aí o surgimento de algum ser não se dá nem pelo agir do masculino nem pelo agir do feminino, embora ambos estejam presentes. Não há, portanto, uma causa explicativa.


- Manuel Antônio de Castro.

5

"Misteriosamente, a memória é a morte se dando em vida, manifestando-se nos viventes. Ela é muito mais do que a cronologia e a causalidade. Ela é o acontecer poético, que é sem por quê. Este não é o acaso. Na verdade, só se fala em acaso porque a causalidade, isto é, a racionalidade, não pode explicar tudo. O acaso é a negatividade inerente à razão e não indica jamais as possibilidades da realidade, da morte" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A gota d’água e o mar". In: -----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 249.

6

"A causalidade não pode ter o fim em si. Ela deve nos doar a confiabilidade do viver" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Liberdade, vontade e uso de drogas". In: ----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 277.

7

"O ordinário da estética não me dá jamais o extraordinário do ético-poético, da liberdade e da necessidade essencial do agir. A estética não passa de uma modalidade da causalidade subjetivo-racional na qual se fundamenta a vontade de quem se lança nas vivências subjetivas, dando a falsa impressão de uma liberdade que responde e corresponde à necessidade de ser" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Liberdade, vontade e uso de drogas". In: ----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 278.

8

Para se entender a diferença entre causalidade e não-causalidade, que é difícil, é bom apelar para o Pensador Rosa. Causalidade indica a essência do agir baseado nas causas e Rosa o sintetiza no verbo consertar. Neste não só o agir visa a um efeito, mas também o sujeito do agir se localiza, se funda no agir do homem. Já a não-causalidade é indicada por Rosa com outro verbo: concertar. Por este, o ser humano realiza o seu télos deixando-se tomar pelo vigor do Ser. Aí não pode haver causalidade, mas vigora a não-causalidade.


Manuel Antônio de Castro.

9

"O pensador Guimarães Rosa denomina a causalidade a pretensão do sujeito de consertar a realidade" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Telos e sentido", ensaio ainda não publicado.
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