Ouvir
De Dicionário de Poética e Pensamento
1
- "Como princÃpio de ordem e força de organização do real em sua realização, o logos é linguagem ontológica da vida, no mais elevado grau de sua explosão na história humana, por isso, a vigência criadora do logos revoluciona não apenas a fala e o discurso, mas também o ouvido e o ouvir. Nas peripécias da criação, ouvir é escutar o logos, seguindo o advento de sua dinâmica de reunião no curso da história. O simples ouvir palavras se dispersa na variedade múltipla dos discursos. Quem só ouve, por esticar as orelhas e divulgar o ouvido, permanece sempre um aksinetos, alguém que não com-preende" (1).
Referência:
- (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Uma leitura órfica de uma sentença grega". In: -------. Aprendendo a pensar, volume II. Petrópolis (RJ): Vozes, 1991, p. 139 / 140.
2
- "Ouve-me. Ouve o meu silêncio. O que falo nunca é o que falo e, sim, outra coisa. Capta a outra coisa porque eu mesmo não posso" (1). Como nos diz a pensadora-poeta Clarice, a escuta real pressupõe também silêncio. Quando tal acontece, temos o auscultar, a ausculta. Mas toda escuta do silêncio, ou ausculta, é pensar. Mais: o que nela acontece não depende de nossa vontade. Temos, sim, que nos predispor, abrir para o possÃvel acontecer.
- Referência:
- (1) LISPECTOR, Clarice. Texto publicado numa montagem artÃstica de fotos com textos de Clarice, sem indicação da fonte.
3
- "Respondeu-lhe Confúcio: O objetivo do jejum é a unidade interior. Isto significa ouvir, mas não com os ouvidos; ouvir, mas não com o entendimento; ouvir com o espÃrito, com todo o seu ser. Ouvir apenas com os seus ouvidos é uma coisa. Ouvir com o entendimento é outra. Mas ouvir com o espÃrito não se limita a qualquer faculdade, aos ouvidos ou à mente. Daà exigir o esvaziamento de todas as faculdades. E quando as faculdades ficam vazias, então todo o ser escuta" (1).
- Referência:
- (1) MERTON, Thomas. "Quando o sapato se adapta". In:A via de Chuang Tzu 9.e. Petrópolis/RJ: Vozes, 1999, p. 71.