Facticidade

De Dicionrio de Potica e Pensamento

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Facticidade é o que distingue os seres humanos de todos os outros sendos (entes). Por isso ele é nomeado por Heidegger como Entre-ser (Da-sein). Essa diferenciação consiste em que o Entre-ser é um sendo intramundano (In der Welt sein), o que lhe permite ser capaz de se compreender como sendo possibilidades de e para possibilidades. Essa abertura de horizonte acontece porque compreende o ser sendo que funda seu mundo. Isso o diferencia dos outros sendos (entes) e também dos próprios fatos como o já feito e determinado. O estar jogado no mundo é um outro nome para dizer a facticidade e caracterizar o ser humano naquilo que o faz humano. Mas a facticidade do Entre-ser também faz com que ele seja ontologicamente um Mit-sein (um ser-com os outros Entre-seres), horizonte de sua essência político-social e histórica.


- Manuel Antônio de Castro

2

A necessidade do livre-ser está ligada à facticidade e não a qualquer outra necessidade como outros fatos: um incidente, um acidente, algo passado, um encontro, a necessidade de comer, o fato de que o dia nasce, morre, se manifesta, enfim, qualquer fato. Estes fatos só podem ser lidos e compreendidos como fatos porque há a facticidade. A facticidade do ser-humano diz radicalmente que ele é Cura, é entre-ser (diz Heidegger: Da-sein), é liminaridade, é abertura ao ser, é entre-compreensão, é livre-ser para apropriar-se do que é próprio. E o que é próprio é o que somos a partir do acontecer da clareira do ser, do ser do não-ser, do Tudo de Nada. Enfim, é ec-sistir / ek-sistir, ou seja, existência.


- Manuel Antônio de Castro

3

"Heidegger referindo-se ao mesmo “entre” nas três dimensões (acima citadas), assim caracteriza a terceira: “Devemos saber que ... este “entre” não se estende, como uma corda, entre a coisa e o homem, mas que este “entre”, como captação prévia, capta para além da coisa e, ao mesmo tempo, por detrás de nós” (Heidegger, 1992: 231)(2). Tão importante como a intuição originária é nossa facticidade. Esta diz da nossa condição de estarmos lançados no mundo. Não é uma escolha nossa. Isto diz algo muito simples: o que é mundo não nos é dado pela consciência. O seu sentido é prévio a todo ato racional. Nesse sentido, o mundo é a própria intuição originária" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Interdisciplinaridade poética: o entre". Rio de Janeiro: Revista Tempo Brasileiro: Interdisciplinaridade: dimensões poéticas, 164, jan.-mar., 2006, p. 31.
(2) HEIDEGGER, Martin. Que é uma coisa? Lisboa: Edições 70, 1992.
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