Complexidade

De Dicionário de Poética e Pensamento

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A trajetória do Ocidente é extremamente complexa. Ele vive sempre o entre-cruzar-se do real como questão e conceito. A tentativa, depois do mito e dos pensadores originários, é determinar o real como conceito, tendo subjacente a questão. Todo dizer é conceitual. Todo escutar o dizer é questionante. O mito, a poesia e o pensamento se abrem para a escuta do dizer (lógos) sempre como questão. A incidência na fala (daí análises) re-inaugura o conceito e formula os sistemas - sejam filosóficos, sejam científicos. O questionamento provoca a fala da escuta ou a escuta da fala. O questionamento inerente ao mito, à poesia, ao pensamento (sagrado) provocam a escuta da fala (questões). O questionamento inerente à filosofia e à ciência provoca a fala da escuta (conceitos). Por isso, como falas da escuta, também mudam. O que temos no Ocidente é uma grande influência da fala na escuta. E assim a escuta se vê a priori circunscrita pelos conceitos. Primeiro foi a fala filosófica. Depois a fala teológica e, finalmente, a fala científica. Esta fica bem nítida - nos jargões conceituais das ciências do espírito e nas teorias das artes - a partir do Iluminismo (Kant, Hegel). Depois, toda a ciência positivista e experimental. Isso provocou uma grande mistura conceitual, que hoje entrou em crise, porque os novos rumos da ciência, seja física seja biológica, puseram em crise todos os jargões conceituais filosófico-científicos (representação, conhecimento, matéria, sujeito, objeto, experimento). Por isso, hoje a genética se expande como teoria do conhecimento e da linguagem (numa interdisciplinaridade epistemológica). A física como física da complexidade, de flecha do tempo, da narração, do caos. Será que tudo isso aponta para um encontro da escuta? Do questionamento enquanto escuta da fala? Ou seja: do mito, da poesia, do pensamento? Numa palavra: do nada?


- Manuel Antônio de Castro
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